Esta edição do ICHS InterAtivo tem
como objetivo politizar os saberes, torná-los ferramenta de luta para acabar
com a desigualdade, o racismo, o machismo e todas as formas de expropriação da
vida. Tarefa certamente árdua e difícil. Mas necessária.
Precisamos politizar os saberes para
escaparmos do sistema de dominação que permeia a sociedade. E agora, mais do
que nunca. A medida de austeridade aplicada pelo atual governo brasileiro tem
acentuado a segregação social e a miséria. Além disso, o fascismo que espreita
o cotidiano produz um cenário aterrorizante para as minorias e para a vida.
No centro desse sistema de dominação
reside racionalidades que lhe servem de sustentação e justificativa. E a universidade,
sem dúvida, é um relé desse sistema de dominação. Como, então, politizar os
saberes dentro dessa instituição?
1) descolonizar a ciência para
produzir uma simetria entre as formas de conhecer. Há muito tempo fizemos da
verdade científica o modelo de ordenação e intervenção no mundo. Mais do que
isso: a ciência, em suas formas tradicionais, tem servido de procedimento de
controle sobre os demais saberes. E não sem pressão, nem sem ao menos uma dose
de violência.
Descolonizar a ciência é dar a ela o
estatuto que lhe cabe: o de um saber como os demais. Isso não significa
rebaixá-la; ao contrário, trata-se de colocá-la lado a lado com outras formas
de conhecer o mundo. Trata-se de destituí-la do seu império que a permite
dominar os outros saberes. Significa, também, reconhecer que na simetria entre
os saberes há intersecções, cruzamentos e modificações conjuntas.
2) instituir uma rede aonde os
conhecimentos subjugados possam se articular de acordo com as suas
características. Afinal, uma rede é sempre simétrica, pois não há exterior
absoluto, nem hierarquia. Só se sustenta no conjunto. O fundamental consiste na
conexão entre os pontos e no caminho que se pode percorrer entre eles. Eis o
subversivo da rede: não requer uma unidade que sirva de pivô.