MULHERES INDÍGENAS: RASTROS DA OPRESSÃO E SUBMISSÃO

Publicado em 21/06/2022 - ISSN: 2179-8389

Título do Trabalho
MULHERES INDÍGENAS: RASTROS DA OPRESSÃO E SUBMISSÃO
Autores
  • Shyrley de Almeida Alves
  • Tainá Cunha de Aguiar
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
GT - Políticas Públicas, Ações Afirmativas e a Política de Cotas (Linha 2: Políticas e Gestão Educacional)
Data de Publicação
21/06/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xseminarioeduca/437933-mulheres-indigenas--rastros-da-opressao-e-submissao
ISSN
2179-8389
Palavras-Chave
Amazônia, Psicologia, Educação, Mulher Indígena.
Resumo
MULHERES INDÍGENAS: RASTROS DA OPRESSÃO E SUBMISSÃO1 INDIGENOUS WOMEN: TRAILS OF OPPRESSION AND SUBMISSION MUJERES INDÍGENAS: SENDAS DE OPRESIÓN Y SUBMISIÓN Introdução “Ao escrever, dou conta da ancestralidade, do caminho de volta, do meu lugar no mundo”. Graça Graúna Este resumo está alinhado à temática de políticas públicas educacionais para mulheres indígenas amazônidas. É na inspiração das frases, discussões e debates, orientados pelas leituras disponibilizadas na disciplina de Gênero e Políticas Públicas na Amazônia, da Pós-graduação em Psicologia, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), que buscamos a reflexão inicial dessa proposta. Ao estudar as relações de gênero uma primeira ponderação é reconhecer as conexões e aproximações desse tema com nosso cotidiano. Assim, uma breve reflexão sobre a trajetória das mulheres no Brasil nos leva a apreender sua trajetória, seu processo de submissão perpetuada até os dias atuais. Trata-se de um caminho marcado por estereótipos, opressão, e invisibilidades, mas também, impregnada de resistência, avanços e retrocessos. O percurso das mulheres brasileiras é atravessado pelas classes sociais, etnia e raça numa relação interseccional, submersa na macroestrutura do modelo patriarcal. O gênero, como categoria de análise, é desenvolvida pelas bases teóricas do feminismo, que vem pretendendo problematizar a situação de desigualdade entre os sexos, bem como levantando discussões de como essa estrutura opera e interfere no conjunto das relações sociais. Nesse sentido, as mulheres vêm remando na contramão do machismo, seguindo suas incansáveis tentativas de transformação do modelo de sociedade misógina e sexista. 3 Esse estudo tem como objetivo principal realizar um levantamento bibliográfico das pesquisas realizadas nos estados que compreendem a Amazônia brasileira, tangenciando a temática de mulheres indígenas na Amazônia. Como perguntas norteadoras elencamos: Quais as temáticas mais abordadas nos programas de pós-graduação em psicologia, realizadas com mulheres indígenas amazônidas? Quais as atuais discussões levantadas nas pesquisas sobre mulheres indígenas? Quais suas particularidades e singularidades dentro das políticas públicas? Destaca-se que, embora este estudo evidencie o campo de atuação da psicologia dentro dos estudos de gênero, o tema tem amplitude para fomentar o debate sobre a situação das mulheres, numa perspectiva inter, multidisciplinar e educacional. Construção Metodológica Esse estudo analisa a Gestão de Políticas Públicas e a condição das mulheres na Amazônia, bem como a compreensão do papel feminino nesse contexto. Aplicamos o recorte de mulheres indígenas, para avaliar as produções que retratam o protagonismo feminino dentro do cenário amazônico. Trata-se de uma revisão de literatura, de natureza descritiva, sobre mulheres indígenas. O procedimento metodológico para coleta de informações foram: seleção da temática e elaboração dos problemas de pesquisa, busca na literatura e delimitação dos descritores, busca nas bases de dados, extração dos artigos de acordo com os critérios de inclusão e exclusão, análise dos relatórios de pesquisa, produção/descrição dos resultados na forma de textos. Para buscar as respostas elaboradas neste estudo, essa metodologia, qualitativa, foi construída em dois momentos. Inicialmente, realizou-se um levantamento das produções sobre mulheres indígenas amazônidas, nos programas de pós-graduação em psicologia. Entretanto, notamos a necessidade de ampliarmos essa busca, devido a incipiente produção da psicologia. Dessa forma foi realizada uma busca exploratória na plataforma Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e Portal de Periódicos Capes. Para compreender o volume e a temática das produções realizadas pelos programas de pós-graduação em psicologia na região amazônica, foram realizadas buscas nos repositórios institucionais das Universidades Federais, incluindo apenas aquelas pertencentes aos estados que compreendem a Amazônia Legal Brasileira. Esse recorte foi realizado no intuito de visibilizar as produções realizadas na região, já que o enfoque desta pesquisa seria as mulheres indígenas amazônidas. Segundo a Lei complementar nº 124, de 2007, em seu Artigo 2º, a amazônia legal compreende a totalidade dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do estado do Maranhão, o que corresponde a 61% do território brasileiro. Assim, as buscas foram realizadas nos repositórios da Universidade Federal do Acre (UFAC), do Amapá (UNIFAP), do Amazonas (UFAM), do Mato Grosso (UFMT), do Pará (UFPA), de Rondônia (UNIR), de Roraima (UFRR), de Tocantins (UFT) e do Maranhão (UFMA). No entanto, não foram encontradas nenhuma pesquisa sobre mulheres indígenas nos cursos de pós-graduação em Psicologia. Destacamos que a UFT e a UNIFAP não possuem Pós-graduação em Psicologia. Assim, devido à inexistência de estudos na psicologia e a interdisciplinaridade do tema, as buscas foram ampliadas aos demais Repositórios Institucionais vinculados aos cursos de pós-graduação na área de Ciências Humanas, onde encontramos apenas 5 estudos, sendo 1 tese e 4 dissertações da UFAM. Já na Scielo existem 4 artigos, na BDTD 5 trabalhos, sendo 4 dissertações e 1 tese. O descritor e operador booleano utilizado em ambos levantamentos foram: “Mulher indígena”. Como critério de inclusão, consideramos artigos, dissertações e teses que apresentassem estudos empíricos, publicados no período de 2015 a 2020, em língua portuguesa. Excluíram-se livros e outras publicações que não estavam disponíveis na íntegra ou em outra língua, bem como estudos que não envolviam as produções científicas que se aproximavam das discussões sobre políticas públicas. A partir desse extrato, surgiu a categoria de análise “Gênero, Educação e sociedade”, discutida na sequência. Mulheres Indígenas: Gênero, Educação e Sociedade Os trabalhos agrupados discutem educação, violência, trabalho, cultura, trajetórias e identidade das mulheres indígenas. A análise desse agrupamento permite inferir, a partir do nome dos autores e da estrutura da escrita dos relatórios, que 4 são homens e 7 são mulheres. Com destaque ainda para os artigos com três autores, onde apenas uma é mulher. Ressaltamos que a transversalidade do tema “mulheres indígenas" converge para diferentes áreas das ciências humanas, onde etnia e gênero se interseccionam. Durante a leitura dos estudos, o eixo de análise que se destaca, é as mulheres indígenas e suas lutas para ter acesso à educação. Se para os povos indígenas este caminho só foi aberto por meio de muitas reivindicações, as mulheres indígenas enfrentam problemáticas ainda mais específicas. Segundo Brito (2016), a mulher mãe indígena, na universidade, se depara com os desafios da democratização do acesso ao ensino superior. As reflexões dispostas em seu trabalho revelam a aproximação das estudantes com a universidade, conectando suas origens, cursos que escolheram e os desafios que se põem a partir deste encontro. As entrevistas revelaram uma dificuldade de adaptação ao mundo eurocêntrico da universidade, a saudade e as dores da separação dos filhos, as estratégias que as mantiveram estudando e os maridos que passaram a assumir outras atividades anteriormente não lhes atribuídas. A autora reflete sobre o conceito de “bom desempenho acadêmico” que não considera as histórias de vida das alunas, suas trajetórias e desafios (BRITO, 2016). Alves e Medeiros (2016) fazem um estudo sobre as relações de gênero na etnia Arara-Karo em Rondônia, associando as questões culturais existentes entre as mulheres indígenas docentes. As observações são produzidas no âmbito da mulher/professora/indígena submetida a tensões, distanciamentos e dificuldades para atravessar os desafios históricos e “caros”, negados às mulheres em geral. Há um destaque para os poucos estudos voltados às questões de gênero na formação de professores/as. Para sustentar o debate a autora e o autor, recorrem a questões de Identidade e Diferença para discutir a educação no contexto indígena, baseando-se em revisão bibliográfica e entrevista narrativa, onde a comunidade indígena se identifica como “guerreira”, tendo consciência de seu passado oprimido, mas heroico. Assim, se dão conta que nos dias atuais a invasão não é mais territorial, e sim, cultural, em um processo de resistência às transformações sociais impostas. Em todas essas falas não é observado o posicionamento feminino, muito menos a participação feminina nessa nova guerra. Santos (2017), aborda a temática da violência física e simbólica, contra as mulheres indígenas da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Partindo de entrevistas, busca compreender como essas mulheres concebem as práticas de violência, partindo das narrativas que versam sobre suas próprias experiências ou sobre situações vivenciadas por outras mulheres. A autora descreve as violências sofridas pelas mães ao entregarem suas filhas para “estudar” na cidade, dificultando a forma de manter a cultura como, o uso da língua Macuxi e de outras práticas culturais. No que concerne a violência física, a análise da participação de mulheres em movimentos e organizações sociais de militância, tem intensificado as práticas de violência dos homens contra as mulheres. Assumindo posições de liderança política, as mulheres mudaram sua atuação familiar, o que passou a incomodar os maridos, além de interferir nas relações familiares fora de seu espaço doméstico, tentando impedir que outros maridos agridam suas esposas (SANTOS, 2017). Ainda nesse sentido, buscando valorizar as experiências de participação social de mulheres indígenas, Miranda (2015), analisa a criação da Associação de Mulheres Indígenas Sateré-Mawé, no período de 1995 a 2014. A autora aponta este espaço como próprio de resistência e organização pela conquista de seus direitos à educação, cultura, saúde e trabalho na cidade de Manaus, partindo de documentos escritos e registros fotográficos. As diversas etnias da Amazônia tem evidenciado o aspecto multicultural que relacionam indígenas e não indígenas. Esta realidade compreende homens e mulheres com culturas distintas, suas próprias línguas, crenças e modos de ser. Entretanto, mesmo com essas diferenças, existe uma solidariedade entre os povos indígenas, pois compreendem que sua luta e sua força está na união para enfrentar os desafios, principalmente na área urbana. As lideranças indígenas das cidades constituem-se um marco na movimentação e lutas sociais, reacende a esperança de homens e mulheres indígenas que buscam o fortalecimento político de seus povos (ARRUDA, 2016). Dessa forma, é preciso reconhecer que as representações femininas são silenciadas na nossa sociedade. Os estudos decoloniais apontam que a invenção do conceito de raça, atuam como instrumento de dominação, favorecendo um distanciamento radical entre os gêneros. As mulheres, sobretudo as não brancas (indígenas e negras), são inseridas em espaços marcados por uma violência física, simbólica e epistêmica, potencializada em suas intersecções e especificidades. Assim, as abordagens feministas indicam um reexame crítico das premissas existentes, incluindo e reforçando a categoria de gênero como análise na pesquisa científica (BAPTISTA, WICHERS e BOITA, 2019). Algumas Considerações... No contexto brasileiro, de tamanha diversidade e complexidade, o movimento das mulheres indígenas é múltiplo, assim como suas demandas. A aproximação do movimento indígena com o feminismo, urgente e necessário, vem construindo possibilidades, estratégias de luta e organização. Pensar a causa das mulheres indígenas no contexto Amazônico, atravessado pela violência, exclusão educacional, opressão e exploração contra os povos indígenas (desde o Brasil Colônia) é compreender o tamanho e a gravidade da causa. A produção científica dos últimos cinco anos, vem ouvindo as mulheres indígenas, se pronunciando sobre desigualdade de gênero, falta de prestígio, violência conjugal, desigualdade no trabalho e na educação. Entretanto, este breve levantamento bibliográfico revelou, no âmbito de suas limitações, que a psicologia deve muito às discussões de gênero. A área, nos últimos cinco anos, não produziu, levantou ou discutiu ideias que interseccionam étinia/raça/gênero com processos educacionais. Dessa forma não conseguimos responder a um de nossos questionamentos iniciais: Quais as temáticas mais abordadas nos programas de pós-graduação em psicologia, realizadas com mulheres indígenas amazônidas? Além disso, esse trabalho aponta para a realidade do distanciamento dos homens, com a pauta feminista, sendo maior ainda, a lacuna, com a pauta dos povos indígenas. Corroborando com o disposto nos trabalhos de Costa e Sardenbergrff (2014), encontramos novamente “guetos femininos” nas produções acadêmicas. Ou seja, quem escreve sobre mulheres indígenas, são majoritariamente escritoras mulheres. Refletindo um pouco mais, e diante desse resumo escrito também por duas mulheres, acadêmicas, amazônidas, e avaliando quem seriam os potenciais leitores deste, nos damos conta da possibilidade de ainda sofrermos a “síndrome do umbigo”: Mulheres, escrevendo sobre mulheres, para um público essencialmente composto por mulheres. Precisamos destacar ainda, que até onde nossa busca conseguiu abarcar, no ano de 2020, nenhuma área das ciências sociais produziu trabalhos sobre mulheres indígenas. Entretanto, a universidade que mais produziu sobre o assunto, estando dentro da região amazônica, foi a Universidade Federal do Amazonas. Dessa maneira, chegamos ao final desse ensaio, avaliando que mesmo passados cinco séculos de história de repressão colonial, em um longo processo de imposição da concepção ocidental, as mulheres indígenas resistem, insistem e enfrentam a lógica patriarcal. Esses povos, em especial as mulheres, jamais deixaram de estar ligados à sua ancestralidade construindo uma relação própria, com o mundo e com sua comunidade por meio dos processos educacionais (BRITO, 2016). Referências ALVES, Maria Isabel Alonso; MEDEIROS, Heitor Queiroz de. Gênero e educação em contextos indígenas na Amazônia: as relações que constituem a produção identitária das mulheres professoras Arara-Rondônia. Interações (Campo Grande), CKaamrop od oG Erasntaddeo, dve. 17, n. 2, p. 257- 266, Jun. 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518- 70122016000200257&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 25 Nov. 2020. ARRUDA, Angela Rebelo da Silva. 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Acesso: 20 set. 2020.
Título do Evento
X SEMINÁRIO NACIONAL EDUCA
Título dos Anais do Evento
Anais do X Seminário Nacional EDUCA PPGE/UNIR
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

ALVES, Shyrley de Almeida; AGUIAR, Tainá Cunha de. MULHERES INDÍGENAS: RASTROS DA OPRESSÃO E SUBMISSÃO.. In: Anais do X Seminário Nacional EDUCA PPGE/UNIR. Anais...Porto Velho(RO) UNIR, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/XSEMINARIOEDUCA/437933-MULHERES-INDIGENAS--RASTROS-DA-OPRESSAO-E-SUBMISSAO. Acesso em: 02/08/2025

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