MULHERES NA LUTA POR MORADIA: INSURGÊNCIA E EMPODERAMENTO NA OCUPAÇÃO MARIELLE FRANCO EM FLORIANÓPOLIS/SC.

Publicado em 27/07/2022 - ISBN: 978-65-5941-759-9

Título do Trabalho
MULHERES NA LUTA POR MORADIA: INSURGÊNCIA E EMPODERAMENTO NA OCUPAÇÃO MARIELLE FRANCO EM FLORIANÓPOLIS/SC.
Autores
  • Julia Perin Pellizzaro
  • Francisco Canella
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
GT 08 – Movimentos sociais e as articulações com o direito à cidade e o bem viver
Data de Publicação
27/07/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xicbdu2022/477236-mulheres-na-luta-por-moradia--insurgencia-e-empoderamento-na-ocupacao-marielle-franco-em-florianopolissc
ISBN
978-65-5941-759-9
Palavras-Chave
Ocupações urbanas; luta por moradia; insurgência; empoderamento; mulheres.
Resumo
1 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como tema as trajetórias de mulheres moradoras da Ocupação Marielle Franco em Florianópolis/SC. Considerando a inserção das mulheres na luta por moradia como um marco em suas vidas, os relatos são analisados sob a perspectiva das práticas insurgentes e do empoderamento das mulheres. A metodologia tem como base as histórias de vida, buscando compreender as transformações ocorridas com o ingresso das mulheres na luta. A história de vida é definida, por Meihy (2005), como uma “narrativa da experiência de vida de uma pessoa” (p.147). Acredita-se ser um método de compreensão da sobreposição das trajetórias individuais e dos processos coletivos. Esta forma de abordagem tem grande vínculo à cultura tanto das entrevistadas quanto da entrevistadora e nisso reside um desafio: não partir de generalizações para que não se busque, durante a entrevista, a sua confirmação. 2 METODOLOGIA A abordagem aqui proposta, então, reside na fala e na transcrição fidedigna de relatos para que, somente após a finalização dessa etapa, haja análise e interpretação. Dafne Patai (2010) ressalta que “a preocupação [deve estar] em transmitir algo da riqueza e complexidade da experiência subjetiva”, o que justifica a escolha de uma amostragem diminuída e focada em poucas entrevistadas. Para o presente trabalho, foram selecionadas entrevistas realizadas com quatro mulheres que tem ou tiveram papel protagonista no contexto da ocupação urbana. Além das entrevistas, também se soma ao campo, observações participantes e participação militante junto à moradores da ocupação, as mulheres entrevistas incluídas. Para analisar o material colhido, elencou-se dois eixos analíticos: insurgência e empoderamento. O primeiro eixo, a insurgência, se coloca devido ao caráter disruptivo das ocupações urbanas – enquanto coletiva – e à ruptura pessoal dada a inserção na luta por moradia das entrevistadas – enquanto individual. No âmbito coletivo e espacial, parte-se de Holston (2013) com a caracterização da cidadania diferenciada e a insurgente. Cidadania insurgente para o autor é um conjunto de práticas coletivas que desestabilizar o sistema vigente que, no caso brasileiro, é profundamente diferenciado e excludente. Para empoderamento, parte-se de Berth (2019) que considera que o empoderamento seja, em primeira estância, individual, mas há também de colocar-se que este, quando em coletivo, possibilita a “inversão dos mecanismos de poder patriarcais fundados na opressão” (LAGUARDE, 1996, p.209). Friedmann (1996) afirma, ainda, que o processo de empoderamento é capaz de “aumentar a eficácia do [...] exercício de cidadania” (apud LISBOA, 2000, p.42). Ao usar do material colhido e analisa-lo via os dois eixos, buscou-se identificar como, por exemplo, em suas trajetórias a aproximação com movimentos sociais e rupturas com os papeis de gênero intensificaram seu processo de protagonismo no contexto estudado. 3 RESULTADOS Como resultado em larga escala, obteve-se um entendimento contextual da ocupação estudada, Marielle Franco, e seu processo de constituição. Essa ocupação localiza-se no Maciço do Morro da Cruz, marco geográfico e social de Florianópolis. É dividida por uma avenida, sendo um lado propriedade privada e o outro público – mais especificamente ZEIS segundo o Plano Diretor vigente. Desde seu surgimento em 2018, já sofreu três despejos e várias investidas policiais e da governança local, inclusive durante a pandemia atual. Em outubro de 2021, conseguiu um recesso depois de uma audiência de conciliação entre partes. No entanto, recentemente, houve uma discussão se a parte do terreno privada teria sido repassada à prefeitura como abatimento das dívidas territoriais do proprietário do terreno. Neste fato, partindo da análise da insurgência que caracteriza a ocupação, já há um elemento que se faz presente na maioria dos casos de ocupações urbanas: privilégios institucionais pautados na legislação que beneficiam os grandes donos de terra. Além disso, a Marielle Franco cresceu demográfica e territorialmente no período pandêmico, exacerbando a crise econômica do país e a falta de investimento do poder público em moradia. Já o resultado focado nas histórias de vidas das mulheres lideranças, exibe-se aqui – a fins parciais – a entrevista de uma delas – que aqui se chamará Gabriela. Esta entrevistada é uma mulher negra de quarenta anos que fez parte da coordenação da ocupação, mas se distanciou por divergências de hierarquia – caráter que pode ser inclusive visto como um empoderamento individual da mesma. Conhecida na ocupação e no asfalto , ela é um exemplo de ressignificação do seu papel enquanto esposa, mãe, moradora de ocupação e cidadã. Na questão relativa à trabalho, Gabriela chegou a Florianópolis ainda adolescente e relembra Uma das coisas que me marcaram muito da minha chegada em Floripa assim foi quando eu passei a ponte assim que era de manhãzinha assim eu olhei pros prédios assim e eu lembro que eu falei, pensei comigo, cara aqui nunca mais eu vou passar fome, eu vi muitos prédios e eu imaginei faxinando todos aqueles prédios, imaginei aqui vou ter muito trabalho, eu acho que é uma imagem que muitas pessoas que vem de fora pensa, que tem muito trabalho (informação verbal) Este trecho de sua trajetória demonstra como, para ela, o trabalho era uma das principais razões para sua migração para a cidade. Mas, para além da busca pelo emprego em si, a busca por um sustento demonstra como o trabalho doméstico é majoritariamente realizado por mulheres negras e há uma normalização deste fator. Isso exacerba como o trabalho enquanto gerador de autonomia e liberação das mulheres ainda é excludente e eurocêntrico visto que, para as mulheres negras, não houve um ganho significativo nessa conquista de direito. No caso dos papeis de gênero, ainda, Gabriela relata embates com seu esposo dado seu papel protagonista nas lutas da ocupação. Na época de sua entrevista, abril de 2021, por exemplo, se referia ao seu esposo como “pai dos meus filhos” e deixava claro como havia um acordo entre ambos de que cada um teria sua casa e que haveria cordialidade devido aos filhos. Em conversas mais orgânicas e recentes – de junho de 2021 em diante -, Gabriela relatou que havia se reconciliado com o “pai dos filhos” porque estava mais afastada da coordenação. Nesse mesmo tema, em outro momento da entrevista, Gabriela diz que sua atividade na luta por moradia e sua atuação de protagonismo dentro da comunidade causavam certo risco a seus filhos devido a presença do tráfico na ocupação. Nesses casos observa-se que havia, e ainda há, um embate pessoal entre o protagonismo na luta - em um âmbito mais público - e sua atuação enquanto esposa e mãe – em um âmbito privado, de sua casa. Enquanto contribuição, ao conferir visibilidade ao papel das mulheres, o estudo desses relatos permitiu uma compreensão da dinâmica interna da luta por moradia e da organização da ocupação. Além disso, a análise da prática insurgente – de âmbito mais coletivo – e o empoderamento – mais individual – garantem um entendimento de suas ações em diferentes escalas.
Título do Evento
XI Congresso Brasileiro de Direito Urbanístico
Cidade do Evento
Salvador
Título dos Anais do Evento
Anais do XI Congresso Brasileiro de Direito Urbanístico
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

PELLIZZARO, Julia Perin; CANELLA, Francisco. MULHERES NA LUTA POR MORADIA: INSURGÊNCIA E EMPODERAMENTO NA OCUPAÇÃO MARIELLE FRANCO EM FLORIANÓPOLIS/SC... In: Anais do XI Congresso Brasileiro de Direito Urbanístico. Anais...Salvador(BA) UCSal, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xicbdu2022/477236-MULHERES-NA-LUTA-POR-MORADIA--INSURGENCIA-E-EMPODERAMENTO-NA-OCUPACAO-MARIELLE-FRANCO-EM-FLORIANOPOLISSC. Acesso em: 02/08/2025

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