NEFRITE MULTIFOCAL SECUNDÁRIA À APITOXINA EM EQUINO QUARTO DE MILHA

Michele Cristina da Paz Carvalho; Thais Poltronieri dos Santos; Veridiana Maria Brianezi Dignani de Moura; Moema Pacheco Chediak Matos; LUCIANA BRANDSTETTER

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Trabalho

DOI

10.29327/xi-simcav-304492.623908

Título do Trabalho

NEFRITE MULTIFOCAL SECUNDÁRIA À APITOXINA EM EQUINO QUARTO DE MILHA

Autores

Michele Cristina da Paz Carvalho
Thais Poltronieri dos Santos
Veridiana Maria Brianezi Dignani de Moura
Moema Pacheco Chediak Matos
LUCIANA BRANDSTETTER

Modalidade

Resumo Expandido

Área temática

Relato de Casos

Data de Publicação

01/08/2023

País da Publicação

Brasil

Idioma da Publicação

Português

Página do Trabalho

https://www.even3.com.br/anais/xi-simcav-304492/623908-nefrite-multifocal-secundaria-a-apitoxina-em-equino-quarto-de-milha

ISBN

978-85-5722-852-8

Palavras-Chave

abelha, cavalo, lesão renal, rabdomiólise

Resumo

Multifocal nephritis secondary to apitoxin in a quarter mile equine RESUMO Os acidentes por múltiplas picadas de abelha em equinos são infrequentes. As abelhas africanizadas se destacam por sua agressividade em ataques massivos, o que requer atendimento emergencial a fim de maximizar a sobrevida desses pacientes. O presente trabalho visa relatar um caso de nefrite multifocal secundária à apitoxina em um equino de raça Quarto de Milha, de cinco anos, após um ataque de abelhas. PALAVRAS-CHAVE: abelha, cavalo, lesão renal, rabdomiólise ABSTRACT Accidents due to multiple bee stings in horses are infrequent. Africanized bees stand out for their aggressiveness in massive attacks, which requires emergency care in order to maximize the survival of these patients. The present work aims to report a case of multifocal nephritis secondary to apitoxin in a five-year-old Quarter Horse, after a massive bee attack. KEYWORDS: bee, horse, kidney injury, rhabdomyolysis INTRODUÇÃO Os acidentes por picadas de abelha em equinos são infrequentes e há escassos relatos a respeito. De acordo com Lewis e Racklyeft (2014), o veneno de abelha atua de forma complexa. Ele é composto principalmente pela melitina, a qual tem efeito citotóxico e ativa a cascata inflamatória. Outros compostos importantes incluem a fosfolipase A2, uma das enzimas mais letais por lisar membranas de eritrócitos, leucócitos, plaquetas, miócitos e endotélio, e também a hialuronidase, responsável por acelerar a dispersão do veneno. Ambas têm alto potencial alergênico e estão associadas às reações de hipersensibilidade (Lewis e Racklyeft, 2014). As manifestações clínicas dependem da quantidade de picadas e da sensibilidade individual, variando de uma reação alérgica local até uma reação tóxica sistêmica (Fonteque et al., 2018), uma vez que a dose de apitoxina é diretamente proporcional à letalidade. É comum observar sinais neurológicos, hemólise e rabdomiólise, as quais resultam em hemoglobinúria e mioglobinúria, desencadeando necrose tubular e injúria renal aguda (Lima et al., 2020). O presente resumo visa relatar um caso de nefrite multifocal secundária à apitoxina em um equino da raça Quarto de Milha. RELATO DE CASO Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás (HV-UFG), um equino, macho, com cinco anos de idade, 420 quilos e histórico de ataque por abelhas africanizadas ocorrido três dias antes. O animal apresentava dor, inapetência, edema generalizado e apatia. Ao exame clínico, identificou-se frequência cardíaca de 36 bpm, frequência respiratória de 8 mpm, mucosas róseas, tempo de preenchimento capilar menor que dois segundos, hipomotilidade nos quatro quadrantes abdominais e temperatura retal de 37,8 °C. Foram identificadas centenas de ferrões de abelhas pelo corpo do animal. Exames laboratoriais revelaram anemia normocítica normocrômica (5,76 tera/L de hemácias, 9,0 g/dL de hemoglobina e 28% de hematócrito), discreta leucocitose (14.400/µL) por neutrofilia, aumento da atividade de creatinina sérica (15,80 mg/dL) e ureia (270 mg/dL). À urinálise observou-se presença de sangue oculto, hemácias (2-5/campo) e leucócitos (1-4/campo). Uma fluidoterapia de manutenção com ringer lactato foi iniciada, além de dexametasona 0,05 mg/kg, IV, SID, durante três dias e remoção dos ferrões identificados. Com o decorrer dos dias, observou-se emaciação muscular. Novo exame bioquímico indicou elevação sérica de aspartato aminotransferase (AST: 809 UI/L), de creatinaquinase (CK: 2574 U/L) e dos triglicerídeos (178 mg/dL) Após seis dias de internação, com piora do quadro clínico e agravamento dos achados laboratoriais (17,11 mg/dL de creatinina sérica), o proprietário optou pela eutanásia. À avaliação necroscópica, observou-se edema generalizado e alterações multifocais de coloração nos rins. O exame histopatológico evidenciou acentuada e difusa degeneração e necrose de túbulos contorcidos proximais, aumento do espaço de Bowman, com presença de hemácias, dilatação tubular, com presença de hemoglobina ou mioglobina, debris celulares em luz tubular; acentuado edema intersticial difuso e infiltrado inflamatório linfoplasmocitário multifocal acentuado, associado a fibroplasia. Os achados supracitados foram compatíveis com nefrite multifocal e acentuada. DISCUSSÃO O potencial citotóxico, hipotensor, hemolítico e miotóxico do veneno de abelha gera quadro de rabdomiólise e injúria renal aguda, características que explicam a descrição do caso apresentado. A anamnese, a presença de centenas de ferrões e as manifestações clínicas apresentadas pelo paciente bem como as alterações laboratoriais e achados histopatológicos levaram ao diagnóstico de injúria renal aguda secundária à apitoxina, corroborando com outros casos descritos (Lewis e Racklyeft, 2014; Fonteque et al., 2018; Ribeiro et al., 2020). Os sinais clínicos nos equinos podem incluir edema local ou generalizado, dor, eritema e necrose nas áreas de ferroadas, e é comum observar hemólise intravascular, coagulação intravascular disseminada, sinais neurológicos, hipotensão, além de nefropatia tubular primária e secundária, com evolução para falha renal aguda (Lewis e Racklyeft, 2014). A apitoxina atua lesando diretamente os túbulos contorcidos proximais dos néfrons, ou indiretamente, causando hipoperfusão renal, o que resulta em clássicas lesões difusas macroscópicas nos rins por necrose tubular (Ribeiro et al., 2020). Para Buckley et al. (2017), a injúria renal aguda é ocasionada pelo efeito direto da apitoxina, da hemoglobinúria e da mioglobinúria, fatores que levam à degeneração e necrose tubular, o que resulta nos achados histopatológicos de cilindros acumulados nas células epiteliais dos túbulos, áreas focais de fibrose intersticial e atrofia glomerular. A anemia hemolítica relaciona-se ao efeito do veneno, enquanto que a leucocitose por neutrofilia apresentada pelo animal pode ser explicada pelo dano tecidual e pela inflamação causada pela apitoxina (Ribeiro et al., 2020). Os aumentos séricos de CK e AST indicam lesão muscular ativa e um quadro de rabdomiólise por apitoxina (Fonteque et al., 2018), enquanto os aumentos exorbitantes dos níveis de creatinina urinária demonstram lesão renal aguda grave, provavelmente irreversível. O aumento sérico de triglicerídeos indica dislipidemia, devido ao jejum prolongado, o qual ocorreu em consequência do edema de glote e da apatia do animal. O tratamento com anti-inflamatório esteroidal (dexametasona), é útil para a redução da inflamação, dor e edema (Fonteque et al, 2018). O monitoramento constante do paciente é indispensável, uma vez que se houver o desenvolvimento do choque anafilático ou reação sistêmica, o tratamento deve ser agressivo e imediato. Lewis e Racklyeft (2014) recomendam avaliar a evolução do edema e da coloração da urina, além das manifestações dolorosas e os exames laboratoriais (hematócrito, creatinina e CK). CONCLUSÃO A demora em solicitar atendimento veterinário e na retirada dos ferrões, a quantidade de veneno inoculado e a gravidade da injúria renal existente colaboraram para o prognóstico ruim. O presente relato reforça a importância do atendimento emergencial para maximizar as chances de recuperação diante de ataques massivos por abelhas em equinos. REFERÊNCIAS BUCKLEY, G. J.; CORRIE, C.; BANDT, C.; SCHAER, M. Kidney injury in a dog following bee sting-associated anaphylaxis – Case report. Can. Vet. J., v. 58, p.265-269, 2017. FONTEQUE, J. H.; MENDES, R.P.; SOUZA, A.F; et al. Systemic toxic reaction due to multiple honeybee stings in equine: Case report. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.70, n.3, p.767-772, 2018. LEWIS, N.; RACKLYEFT, D. J. Mass envenomation of a mare and foal by bees – Case report. Aust. Vet. J., v. 92, n. 5, 2014. LIMA, J. C.; MARTINS, M.T.; CATALANO, F. A. Acidente por picada de abelha africanizada em dois equinos – Relato de caso. Revista Acadêmica Ciência Animal, v. 18, e. 18504, 2020.

Título do Evento: SIMCAV 2023
Cidade do Evento: Belo Horizonte
Título dos Anais do Evento: Anais do Simpósio Intenacional do Cavalo Atleta
Nome da Editora: Even3
Meio de Divulgação: Meio Digital
DOI

Como citar

CARVALHO, Michele Cristina da Paz et al.. NEFRITE MULTIFOCAL SECUNDÁRIA À APITOXINA EM EQUINO QUARTO DE MILHA.. In: Anais do Simpósio Intenacional do Cavalo Atleta. Anais...Belo Horizonte(MG) UFMG, 2023. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xi-simcav-304492/623908-NEFRITE-MULTIFOCAL-SECUNDARIA-A-APITOXINA-EM-EQUINO-QUARTO-DE-MILHA. Acesso em: 04/07/2025