CAROLINA MARIA DE JESUS: DA ESCREVIVÊNCIA À RESISTÊNCIA

Publicado em 11/11/2021 - ISBN: 978-65-5941-410-9

Título do Trabalho
CAROLINA MARIA DE JESUS: DA ESCREVIVÊNCIA À RESISTÊNCIA
Autores
  • warlen fernandes soares
  • CAROLINA DA silva COSTA
Modalidade
Sessões de Diálogos - Resumo Expandido
Área temática
LINGUAGENS NOS COTIDIANOS EDUCATIVOS: CULTURAS E ARTES
Data de Publicação
11/11/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xfalaoutraescola2021/382837-carolina-maria-de-jesus--da-escrevivencia-a-resistencia
ISBN
978-65-5941-410-9
Palavras-Chave
literatura; educação antirracista; resistência feminina
Resumo
A literatura periférica participa há tempos do processo de dar voz a variados grupos sociais, fazendo emergir uma linguagem coletiva sob a qual os aspectos sociais e políticos, predominam sobre os individuais. O presente estudo objetiva apresentar a forma como Carolina Maria de Jesus (1914-1977), foi apresentada aos alunos do Ensino Fundamental da “EMEFEI/EJA Raul Pila”, na cidade de Campinas, SP. Pode-se demonstrar através desta autora, a poesia como forma de resistência e o o diário como um importante portador de textos; bem como o papel da mulher nas causas de subsistência e luta. A obra aqui referenciada será “Os Feijões” , escrita por Carolina Maria em 1940. Buscamos através deste poema explorar a riqueza metafórica do texto e relacioná-lo à luta antirrascista presente nos dias atuais. A vida e obra da autora despertou o interesse dos educandos, principalmente pelo fato da autora ter passado por vários empregos informais, entre os quais, catadora de papel, que lhe garantiu acesso a cadernos e livros, nos quais escrevia seus diários. O ano de 2020 foi bastante desafiador para as instituições escolares devido à adaptação ao ensino remoto. Os noticiários nos trouxeram eventos de cunho racista no Brasil e no mundo e estes precisavam ser discutidos com os alunos em aulas síncronas e assíncronas. Em nossa escola, desde o inícios da suspensão das aulas presenciais, causadas pela pandemia, os Cadernos de Aprendizagem impressos, escolhidos pelo coletivo escolar como forma de atender a todos os alunos, foi portador de várias temáticas interdisciplinares. A escolha do poema acima mencionado, para o trabalho com alunos dos terceiros anos do Ensino Fundamental 1, deu-se por entendermos que a autora traz um olhar de dentro e de perto para o desenvolvimento de um debate que não ficasse atrelado apenas ao Caderno de Atividade, no qual o tema fora tratado. Um dos pontos trabalhados com o grupo de alunos foi o fato de a autora não escrever dentro da "norma culta" de sua época, esta ruptura com os padrões foi amplamente discutida com as crianças. Trazer tais aspectos aos alunos, aludiu à criticidade e evocou reflexões sobre o que temos atualmente dentro do movimento hip hop, por meio de suas expressões culturais e artísticas, representando grupos e vozes excluídas. O trabalho com a biografada, suscita a discussão do como e do onde no espaço da coletividade. Tensiona fazeres que estimulam a criticidade tecendo experiências, valores, saberes, intenções e conflitos que nos aproximam de sua obra. Carolina Maria de Jesus traz à luz dos dias atuais a hierarquização das relações sociais. Com a promulgação da Lei 10639/2003, que tornou obrigatório o ensino de História da África e das culturas africanas e afro-brasileiras, no ensino básico, o debate em torno da temática identitária afrodescendentes e as questões raciais, têm-se ampliado tanto no meio acadêmico, como nas escolas. Assim, um novo significado, com a perspectiva de aprofundar a reflexão nestes espaços e ampliá-las para outros. Aos professores, coube. Dentre outros aspectos, buscar estratégias para o desenvolvimento destes temas com vistas a desconstruir as abordagens baseadas nas culturas eurocêntricas e identidade monocultural. Com a proposta do estudo do poema “Os feijões”, os alunos puderam refletir coletivamente, as relações étnico raciais, pluralizadas e que deram visibilidade à mulher. Carolina Maria de Jesus, nos potencializou a elencar outros personagens de narrativas pessoais do alunos e suas ancestralidades. O poema se coloca como uma voz que passou por dificuldades por ela vividas e por todos as pessoas que se depararam com tal situação. Apresentamos o poema Os Feijões (ipsis litteris) que revela a percepção do racismo e sobre o qual os nossos alunos puderam refletir: Será que entre os feijões Existem o preconceito Será que o feijão branco, Não gosta do feijão prêto? Será que o feijão preto é revoltado? Com seu predominador Preçebe que é subjugado O feijão branco será um ditador. Será que existem rivalidades? Cada um no seu lugar O feijão branco é da alta sociedade. Na sua casa o feijão preto não pode entrar Será que existem desigualdades Que deixa o feijão preto lamentar Nas grandes universidades feijão preto não pode ingressar Será que existem as seleções Prêto pra cá e branco pra lá E nas grandes reuniões O feijão prêto é vedado a entrar? Crêio que no núcleo dos feijões Não existem as segregações. Cabe-nos destacar que o desenvolvimento desta proposta em tempos de distanciamento social, necessitou de contatos síncronos com os alunos, sendo que alguns, por falta de recursos para o uso da internet, foram contemplados com o nosso material impresso. Lembramos que a interdisciplinaridade foi um conceito construído e desenvolvido no coletivo docente. Neste aspecto, os nossos alunos viram a temática do racismo sob variadas formas (aulas de Inglês, Artes, Cultura, Identidade e Lugar, Educação Física), sendo o poema uma das interações. Entendemos que ao receberem os Cadernos de Atividades, os alunos expandem estas questões para o núcleo familiar. Reside neste fato um fator de suma importância para nós, educadores frente à comunidade à qual trabalhamos. Considerações quase finais: No poema trabalhado com os alunos, a voz poética reforça e denuncia, em vários versos, o preconceito contra os afrodescendentes. A autora inscreve a necessidade de repensarmos as relações raciais e sociais; revela como percebe o mundo que faz do seu não lugar, um lugar de onde precisa falar. Com o poema “Os Feijões” Carolina Maria de Jesus abre portas, barragens e deixa escoar em sua poesia uma reelaboração de um "eu" que se sabe coletivo. Ela assume a identidade negra; registra os seus sentimentos e expande aos nossos dias, a realidade por ela vivenciada e ainda tão presente. De maneira crítica, ressignifica o seu lugar de marginalidade e torna-se porta voz dos silenciados. Não está presente no poema o compromisso de denunciar o preconceito, de levantar uma bandeira de luta, Carolina Maria assim o faz, mesmo assim. Enfim, a proposta desenvolveu-se questionando, apresentando e relacionando lutas de classe e favorecendo uma educação antirracista. Em nosso contexto histórico, há tempos as mulheres de todas as etnias seguem lutando para serem sujeitos políticos e terem voz dentro da sociedade da qual participam. A história do nosso país é constituída por várias dessas mulheres: Aqualtune, fundamental para a consolidação da República de Palmares. Dandara, símbolo de resistência do Quilombo de Palmares. Maria Firmina dos Reis, a primeira a escrever um romance abolicionista. No entanto, o protagonismo dessas mulheres nunca teve visibilidade na nossa história. Evaristo (2018) destaca que na memória ancestral brasileira, por exemplo no candomblé, as grandes guardiãs foram as mulheres, as grandes mães-de-santo, as grandes cuidadoras de orixás são mulheres. Então, me parece que essa movimentação, essa atuação, essa procura de formas defensivas, de formas de resistência e também de formas de ataque, as mulheres negras construíram isso ao longo dos séculos. E hoje esse protagonismo é reconhecido através da nossa própria imposição. De um modo geral, o que nós conquistamos não foi porque a sociedade resolveu nos abrir a porta. Foi porque realmente forçamos a passagem. E assim, segue a nossa fala, nesta em outras escolas. Que possamos ser portadores de vozes que lutaram e continuam lutando por visibilidade e que as instituições escolares sejam palco deste e de outros movimentos. REFERÊNCIAS EVARISTO, Conceição. Conceição Evaristo: “O que conquistamos não foi porque a sociedade abriu a porta, mas porque forçamos a passagem”. Marie Claire, São Paulo, 25 maio 2018. Entrevista concedida a Kamille Viola. Disponível em: <https://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2018/05/conceicao-evaristo-o-que-nos-conquistamos-nao-foi-porque-sociedade-abriu-porta-mas-porque-forcamos-passagem.html>. Acesso em: 04 de maio de 2021. FERNANDEZ, Raffaella Andréa. Negritude Obliterada nos poemas e na obra de Carolina Maria de Jesus. Revista Estudos Linguísticos e literários. N. 59, jan-jun. 2018, Salvador, Ba: 381 -393.
Título do Evento
X FALA Outra ESCOLA
Título dos Anais do Evento
Anais do Seminário Fala Outra Escola
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SOARES, warlen fernandes; COSTA, CAROLINA DA silva. CAROLINA MARIA DE JESUS: DA ESCREVIVÊNCIA À RESISTÊNCIA.. In: Anais do Seminário Fala Outra Escola. Anais...Campinas(SP) UNICAMP, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xfalaoutraescola2021/382837-CAROLINA-MARIA-DE-JESUS--DA-ESCREVIVENCIA-A-RESISTENCIA. Acesso em: 08/06/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes