Ô TIA, ELES NÃO SÃO ÍNDIO NÃO! A PRODUÇÃO DO OLHAR SOBRE OS INDÍGENAS NA ESCOLA

Publicado em 11/11/2021 - ISBN: 978-65-5941-410-9

DOI
10.29327/140280.1-4  
Título do Trabalho
Ô TIA, ELES NÃO SÃO ÍNDIO NÃO! A PRODUÇÃO DO OLHAR SOBRE OS INDÍGENAS NA ESCOLA
Autores
  • Maria Martinha Barbosa Mendonça
  • Pâmela Cristina Tavares
  • PRISCILA MARQUES MATEUS DA SILVA
  • Raquel Maria Araujo Pinto
Modalidade
Sessões de Diálogos - Resumo Expandido
Área temática
EDUCAÇÃO DAS SENSIBILIDADES E NARRATIVAS: O MUNDO NA ESCOLA E A ESCOLA NO MUNDO
Data de Publicação
11/11/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xfalaoutraescola2021/374682-o-tia-eles-nao-sao-indio-nao-a-producao-do-olhar-sobre-os-indigenas-na-escola
ISBN
978-65-5941-410-9
Palavras-Chave
Temática Indígena na Escola; FALE; Educação Antirracista;
Resumo
Ô tia, eles não são índio não! A produção do olhar sobre os indígenas na escola Eixo Temático: Educação das sensibilidades e narrativas: o mundo na escola e a escola no mundo Maria Martinha Barbosa Mendonça friduxa13@gmail.com FFP – UERJ Pâmela Cristina Tavares pamelasalvatt@gmail.com FFP – UERJ Priscila Marques Mateus da Silva primarkes@yahoo.com.br FFP – UERJ Raquel Maria Araujo Pinto raquelaraujo234@hotmail.com FFP-UERJ Este trabalho é fruto do diálogo entre uma graduanda de Pedagogia e três professoras das redes municipais de Maricá, São Gonçalo e Rio de Janeiro inseridas no Programa de Pós-Graduação processos formativos e desigualdades sociais, da Faculdade de Formação de Professores, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – PPGEDU. Trazemos aqui experiências docentes atravessadas pelos debates sobre representações indígenas nas salas de aula, tema do 46º Fórum de Alfabetização Leitura e Escrita de São Gonçalo – FALE/SG. O fórum é um projeto de extensão promovido pelo Grupo de Pesquisa Alfabetização, Memória, Formação Docente e Relações Etnicorraciais – ALMEFRE, que visa o diálogo universidade - escola básica, em busca da construção de um apropriar-se da leitura e da escrita como um exercício de autoria e pensamento crítico. A tecitura do diálogo entre as componentes do ALMEFRE, ocorreu através da interação virtual devido a Pandemia por COVID19, assim como a troca de experiências com as/os professoras/es que participavam do FALE pelos comentários postados no Facebook. O 46º FALE/SG trouxe como tema: Que índio é esse que pintam por aí? Alfabetização e educação para as relações etnicorraciais indígenas, tendo como convidadas para alimentar/problematizar a roda de conversa as professoras Mônica Rosa, Etnoeducadora da Rede Municipal do Rio de Janeiro e Sandra Benites, liderança indígena da etnia Guarani Nhandeva e curadora do Museu de Arte de São Paulo. Os primeiros fios da conversa foram puxados pelas convidadas que problematizaram como a escola produz e reproduz práticas que perpetuam um imaginário estereotipado sobre o modo de vida e identidades dos povos originários brasileiros. A professora Rosa começou sua intervenção lembrando que antes de se pensar em comemorar o “Dia do Índio” [...] a gente tinha que pensar em como viver a identidade étnica [...] como trazer essa raiz indígena para dentro da minha sala de aula? [...] Eu comecei a estabelecer esse diálogo do chão... Que som é esse? Que textura é essa? E que lugar é esse? Que território? Rosa, (2020). Desse modo, nos levava a pensar sobre as tantas possibilidades e diversidades das culturas indígenas e as formas delas estarem presentes no currículo escolar. Seguindo o mesmo fio, Sandra Benites, nos provocou a pensar que o orgulho ancestral é parte do mesmo problema quando diz que [...] muitas pessoas têm orgulho de ser italiano, [...] ou qualquer coisa de fora do país, mas não tem orgulho [...] de ser negro, africano, indígena ... Benites, (2020). Nesse 46º FALE, a professora Martinha, mediadora da roda e uma das autoras desse trabalho, compartilhou a experiência vivida com sua turma Mbya Guarani na Semana de Educação Infantil do município de Maricá. Enquanto seu grupo de crianças descansava das atividades do evento, um menino não-indígena, que aparentava ter uns cinco anos de idade, aproximou-se, observou-as atentamente e concluiu que elas não eram “índios”. De acordo com sua fala, aquele grupo de crianças que não tinha penas na cabeça, não trazia arco e flecha e, além disso, estavam de uniformes e tênis, o levara para a conclusão que lhe parecia óbvia: - “Ah tia, eles não são “índios” não!” Esse evento do cotidiano, trazido para a roda, articulado às falas das professoras convidadas nos deram pistas dos impactos nas crianças sobre a forma de representação dominante na sociedade brasileira sobre povos indígenas, geralmente, ligada a um ideário do “índio genérico” (RIBEIRO, 2017). Uma imagem que circula na sala de aula, muitas vezes, trazida pela/o professora/or apoiada/o no livro didático, e reproduzida pela mídia em que indígenas constituem um bloco único, com a mesma cultura, compartilhando as mesmas crenças, a mesma língua, (BESSA, 2014). Sentindo-se convidada a entrar na roda, uma professora da rede pública de Niterói/Itaboraí perguntou no chat: “Que índio é esse que pintam por aí nos currículos engessados por efemérides sem aprendizagens significativas?” Sua pergunta reforçava a crítica à práticas que reafirmam os estereótipos, enquanto deixava entrever a importância de trazer aprendizagens significativas para o cotidiano escolar relacionadas aos conhecimentos dos povos originários. O diálogo entre pares evidenciava o quanto essa temática ainda é motivo de tensão nas práticas pedagógicas. Se por um lado, a incipiência na formação docente sobre a temática leva a práticas sem sentido e reprodutoras de estereótipos, por outro há também um currículo engessado por um calendário letivo pautado em efemérides que institui “falar das culturas indígenas” somente no dia 19 de abril, muitas vezes colocando esses povos como meros expectadores, passivos diante da invasão do seu território e contando a nossa história do ponto de vista do colonizador. Escapar dessa perspectiva não é fácil, como assinala a professora Pâmela, trazendo a experiência na rede municipal de São Gonçalo. Na contramão de trabalhar o conteúdo das relações etnicorraciais em um dia, a professora planeja o tema ao longo do ano letivo, promovendo momentos de contações de histórias, rodas de conversa, exercitando uma “escuta sensível” às falas das crianças para entender o que trazem de informação ou contrainformação sobre a temática, com intuito de favorecer a construção do diálogo e novos olhares sobre os povos originários. Esse tensionamento entre os pares, provocado pela problematização de trabalhar a partir de efemérides, contudo, tem instigado debates sobre o tema na escola. Em um movimento dialógico, (re)conhecem as formas outras da relação homem-natureza, pautadas nas lutas desses povos, entendendo que a Terra é nossa, e essencial para nossa subsistência, mas, que pela adoção de um modelo capitalista de ser e pensar a vida e a sociedade vem sendo destruída ( KRENAK, 2019). Contudo, mesmo o currículo atual, com suas grades e engessamentos, comporta possibilidades de abordagens que respeitem e aprendem com as tradições culturais dos povos originários. A experiência da professora Priscila, uma das autoras do presente trabalho, mostra isso. Ao perceber o interesse das crianças do 5º ano pelo conto “Mavutsinim e o Kuarup”, que narra a origem do povo Kamayurá, a professora aproveitou o contexto das aulas remotas para fazer uma pesquisa sobre os inúmeros povos indígenas existentes no Brasil, suas línguas, modos de ser e viver e suas lutas. A partir do gênero textual Conto, Priscila optou por um conto indígena, onde as crianças além de apreender o gênero puderam refletir sobre a visão estereotipada que tinham a respeito dos povos originários no Brasil e assim construíram argumentos críticos para identificar essa visão estereotipada nos livros, nas mídias, buscando romper com esse imaginário cristalizado desde a colonização. A fala de Pedro, -“Tia, eu achava que os “índios” eram todos iguais. Mas eles são iguais a gente, né? Que tem brasileiro, italiano...” As aprendizagens produzidas pelas pesquisas, estudos e debates que ocorreram em sala de aula, possibilitaram que Pedro reavaliasse criticamente o olhar com que até então via “os índios”: todos iguais, uma massa indiferenciada, genérica. Passar a compreendê-los como povos indígenas, em suas diferenças e identificações, abria novas possibilidades de compreensão sobre a nossa história, uma compreensão decolonizada. Apesar da obrigatoriedade da inclusão do ensino das culturas afro-brasileiras e indígenas no currículo pela Lei 11.645/08 ainda são tímidas as iniciativas comprometidas com o debate sobre a diversidade, a contemporaneidade dos modos de ser e de viver dos povos indígenas brasileiros. Romper com uma visão colonial que distorce fatos históricos, subalterniza saberes, modos de ser e estar, diferentes da lógica europeia, masculina, heterossexual, branca, cristã, requer compromisso político e estudos teóricos que possam subsidiar a produção de novas práticas e firmar o compromisso com uma educação antirracista. Os diálogos em nossas rodas do FALE/SG têm nos mostrado possibilidades de romper com o instituído, à medida que as/os docentes são convidadas/os a compartilhar e problematizar suas experiências, a partir do exercício práticateoriaprática que favorece a construção da práxis, como nos ensina Freire, (1987). As autoras trouxeram suas “artes de fazer” mobilizadas pela compreensão de que refletir sobre suas práticas possibilita construir novas “artes de dizer”, de pensar, de agir, de viver o cotidiano escolar. Palavras Chaves: Temática Indígena na Escola; FALE; Educação Antirracista; BIBLIOGRAFIA: BENITES, Sandra. Live 46° FALE. São Gonçalo. Que “índio” é esse que pintam por aí? Alfabetização e Educação para as Relações Etnicorraciais Indígenas. 06/08/2020. BRASIL. Lei 11.645, de 10 de marco de 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm Acesso em: 01/05/2021 FREIRE, Paulo. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013. FREIRE, J.R. Bessa. 2002. Cinco ideias equivocadas sobre índios. Disponível em: https://www.livrariamaraca.com.br/cinco-ideias-equivocadas-sobre-os-indios-de-jose-ribamar-bessa-freire/ Acesso em: 19 de maio de 2021 KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. RIBEIRO, Darcy. Os índios e a Civilização. São Paulo: Editora Global, 2017. ROSA. Mônica. Live 46° FALE. São Gonçalo. Que “índio” é esse que pintam por aí? Alfabetização e Educação para as Relações Etnicorraciais Indígenas. 06/08/2020.
Título do Evento
X FALA Outra ESCOLA
Título dos Anais do Evento
Anais do Seminário Fala Outra Escola
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
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Como citar

MENDONÇA, Maria Martinha Barbosa et al.. Ô TIA, ELES NÃO SÃO ÍNDIO NÃO! A PRODUÇÃO DO OLHAR SOBRE OS INDÍGENAS NA ESCOLA.. In: Anais do Seminário Fala Outra Escola. Anais...Campinas(SP) UNICAMP, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xfalaoutraescola2021/374682-O-TIA-ELES-NAO-SAO-INDIO-NAO-A-PRODUCAO-DO-OLHAR-SOBRE-OS-INDIGENAS-NA-ESCOLA. Acesso em: 16/07/2025

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