SUBJETIVIDADES SURDAS: TECENDO POSSIBILIDADES DE ENSURDECER E DENEGRIR A EDUCAÇÃO BILÍNGUE

Publicado em 11/11/2021 - ISBN: 978-65-5941-410-9

Título do Trabalho
SUBJETIVIDADES SURDAS: TECENDO POSSIBILIDADES DE ENSURDECER E DENEGRIR A EDUCAÇÃO BILÍNGUE
Autores
  • Aline Gomes da Silva
  • Sheila Martins dos Santos
  • Tiago Ribeiro da Silva
Modalidade
Sessões de Diálogos - Resumo Expandido
Área temática
EDUCAÇÃO DAS SENSIBILIDADES E NARRATIVAS: O MUNDO NA ESCOLA E A ESCOLA NO MUNDO
Data de Publicação
11/11/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xfalaoutraescola2021/373606-subjetividades-surdas--tecendo-possibilidades-de-ensurdecer-e-denegrir-a-educacao-bilingue
ISBN
978-65-5941-410-9
Palavras-Chave
Palavras-chave: educação de surdos; raça; surdez; Interseccionalidade.
Resumo
Neste trabalho, compartilhamos ressonâncias, sentidos e ideias que temos tecido na construção coletiva de um projeto pedagógico no cotidiano escolar de uma instituição pública centenária especializada na educação de surdos, na cidade do Rio de Janeiro. A proposta tem como nutriente algumas experiências singulares vivenciadas com jovens e adultos surdos, no contexto da educação bilíngue; experiências que convidam a pensar acerca do ser e estar sendo sujeito surdo em um mundo estruturado pelo ouvintismo (ou seja: a imposição do modelo ouvinte como forma única e normal de ser e existir, a ser difundido e perseguida). Assim, nosso ponto de partida é o reconhecimento de que o ouvintismo, assim como o racismo, é estrutural em nossa sociedade e precisa ser combatido cotidianamente, nas relações mínimas e corriqueiras. Por esta razão, estamos desenvolvendo uma proposta que visa, com estudantes surdos de uma escola pública, investir na literatura, nas rodas de conversa e na educação sensível como possibilidade de afirmar vidas plurais nos cotidianos escolares. E por quê? A compreensão do racismo e do ouvintismo como estruturais em nossa sociedade nos sinaliza a importância de abordagens, propostas e ações pedagógicas que interseccionalizem raça e surdez, além de outras traços culturais e identitários, de modo a afirmar os corpos – dos surdos, dos não surdos, de todos e de qualquer um – como territórios onde brotam, florescem e polinizam-se narrativas, histórias, memórias, violências, políticas, discursos, desejos... Pensando em especial nas corporalidades surdas, entendemos que o corpo surdo enfrenta diferentes regimes anormalizadores que transbordam os limites do não ouvir, materializando-se através de distintas formas de violência: ouvintismo, racismo, machismo, homofobia, transfobia, gordofobia, xenofobia, preconceito de classe etc. Quiçá, por nossas próprias histórias de vida e atuação profissional, cremos na potencialidade da educação pela via do sensível, da fruição, da experienciação e da partilha estética como mobilização das compreensões, contribuindo, portanto, para um processo de subjetivação afirmativo do sujeito. Cabe pontuar que vivemos a escola bilíngue a partir de diferentes lugares de fala: como pofessores bilíngues, dois de nós, e como intérprete de Libras/Língua Portuguesa, uma de nós. As experiências vividas têm nos ensinado que, como qualquer pessoa, o surdo é um sujeito plural, múltiplo, isto é, a surdez não é uma marca identitária solitária; muito pelo contrário, o corpo surdo é lugar caleidoscópico, aí se interseccionam e pulsam diferentes “identidades” e sentidos: o corpo surdo é uma constelação de forças, narrativas, discursos e significados. Pode a educação de surdos negligenciar outras diferenças e questões que constituem esse corpo surdo plural, criado e difusor de culturas ecológicas e múltiplas? Na busca pela “normatização da pessoa surda”, não foi sendo negada a esses sujeitos a constituição de sua própria identidade, da sua língua, da sua cultura etc.? E a educação de surdos não teve e ainda tem um papel importante na base dessa colonização? Mas, sabemos, o cotidiano é território complexo e a escola, espaço-tempo do isso, do aquilo e do contrário de tudo. Em outras palavras, podemos dizer que a escola é complexa e que, se é verdade que ajuda a reproduzir processos de colonização e colonialidade do ser e do saber, também é verdade que, a todo momento, ajuda a transgredir tais regimes e processos. A escola é também nascedouro, sementeiro onde são semeados sonhos im-possíveis, saberes plurais, histórias locais e singulares. Instigados por essas questões, narramos nossos processos e caminhadas entrecruzadas na educação com pessoas surdas, destacando encontros-acontecimentos educativos que nos deslocam de nossos territórios epistêmicos, éticos, estéticos e políticos, pluralizando e espichando nossos modos de ver, sentir e narrar o mundo. Para tal, lançamos mão da memória, recuperando e inventariando guardados que engravidam nossas narrações e relatos com detalhes, texturas e matizes cuja potência está em plasmar imagens possíveis de ser e estar na educação (com surdos). Lembramos e convidamos para a conversa o estudante surdo que sublinha a Libras como condição de vida, a estudante negra surda que afirma ser calada por ter educação, como se silenciar-se e ter educação fosse sinônimos, o estudante negro surdo que se assusta ao ver uma estagiária, futura professora, negra e surda, porque “negro não dá aula”... Muitas histórias nos convidam... tantas outras nos emudecem... Seguimos narrando, porque narrar deixa os mundos um pouco menos pobres, porque narrar requer também escuta, cuidado e atenção... O que essas histórias de encontro/ deslocamento com estudantes surdes negres contam? Que afetamentos suas narrativas visuais nos provocam? Conseguimos escutar visualmente os ecos de seus corpos reverberando e convidando a ensurdecer e denegrir a escola e seus currículos? O que entendemos como ensurdecer e denegrir a escola ea educação? Vamos conversar? Um Fala, Outro Fala, tela, internet e chá... Vamos lá? Falar outra escola? Com que língua? Com que línguas? Quais cores tem nossa escola? Quantas línguas falam e se falam em nossas escolas? Que corpos a povoam? Que lugares ocupam? E na nossa isntituição: quem são os surdes negres? Onde estão? O que fazem? Narrar histórias vividas na relação com estudantes surdes negres é também rememorar vivências pessoais, (auto)biográficas, passagens de dor, de luta, de afeto, de solidariedade, de conquista. A narrativa como forma de pesquisa, de escrita e de voz afeta, porque tem um compromisso com a vida, com a afirmação da liberdade, da boniteza, do mundo em sua pluralidade ecológica inapreensível e insumariável. Em outras palavras: a narrativa tem o compromisso com a denúncia, sim, porém, também, com a esperança, com o enxergar a potência, a latência, aquilo que vai sendo tecido e, no miúdo das relações, vai germinando mundos. Disso se trata este texto; isto temos percebido até aqui em nossas andanças educativas e pedagógicas. Como concluir o que está brotando? Como dar palavras finais a um diálogo cujo fluxo nos banha e começa a fazer nascer ideias? Denegrir e ensurdecer são convites a viver a educação de surdos como experiência antirracista, ecológica, feminista, afirmativa, anti-ouvinstista. Educação como prática de gente, na inspiração freireana, a qual nos convida a aposta na vida, na liberdade, no diálogo. Insistimos nos convites: Vamos conversar? Um Fala, Outro Fala, Dez Falas... tela, internet e chá... Vamos lá? Falar outra escola? Librar?
Título do Evento
X FALA Outra ESCOLA
Título dos Anais do Evento
Anais do Seminário Fala Outra Escola
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SILVA, Aline Gomes da; SANTOS, Sheila Martins dos; SILVA, Tiago Ribeiro da. SUBJETIVIDADES SURDAS: TECENDO POSSIBILIDADES DE ENSURDECER E DENEGRIR A EDUCAÇÃO BILÍNGUE.. In: Anais do Seminário Fala Outra Escola. Anais...Campinas(SP) UNICAMP, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xfalaoutraescola2021/373606-SUBJETIVIDADES-SURDAS--TECENDO-POSSIBILIDADES-DE-ENSURDECER-E-DENEGRIR-A-EDUCACAO-BILINGUE. Acesso em: 25/05/2025

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