A LINGUAGEM DO GRAFITE COMO FORMA DE INTERAÇÃO COM O TERRITÓRIO NO BAIRRO DO CAMBUCI- ZONA CENTRAL DE SP.

Publicado em 11/11/2021 - ISBN: 978-65-5941-410-9

DOI
10.29327/140280.1-8  
Título do Trabalho
A LINGUAGEM DO GRAFITE COMO FORMA DE INTERAÇÃO COM O TERRITÓRIO NO BAIRRO DO CAMBUCI- ZONA CENTRAL DE SP.
Autores
  • Natalia MIACI NOGUEIRA LIMA E SILVA
Modalidade
Sessões de Diálogos - Resumo Expandido
Área temática
EDUCAÇÃO DAS SENSIBILIDADES E NARRATIVAS: O MUNDO NA ESCOLA E A ESCOLA NO MUNDO
Data de Publicação
11/11/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xfalaoutraescola2021/368997-a-linguagem-do-grafite-como-forma-de-interacao-com-o-territorio-no-bairro-do-cambuci--zona-central-de-sp
ISBN
978-65-5941-410-9
Palavras-Chave
interação; território; grafite; multidisciplinaridade; formação de educadores.
Resumo
Educação Artística na rua: a linguagem do grafite como forma de interação com o território no bairro do Cambuci- Zona Central de SP. Educação das sensibilidades e narrativas: o mundo na escola e a escola no mundo Natalia Miaci Nogueira Lima e Silva - nmiacci@gmail.com - PPGEAHC-UPM O presente ensaio, parte do trabalho final da disciplina A Cidade como Arquivo, componente curricular do Programa de Pós Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, parte da ideia inicial de compreender a influência de haver nascido e/ou crescido em um determinado local, neste caso o bairro do Cambuci- zona central de São Paulo, sobre as preferências artísticas do morador local. Mais especificamente expõe-se aqui a arte do Grafite como forma de expressão, assim como traçam-se interpretações entre a importância histórica do próprio bairro no crescimento da metrópole da qual faz parte, entendendo que todos estes elementos expostos estão conectados: história da cidade (coletiva), história de cada ser (individual) e história da arte do grafite. Através desta compreensão do coletivo e do individual, da investigação da história do próprio território, tem-se como objetivo incentivar processos de aprendizagem do reconhecimento e da valorização de patrimônios materiais e não-materiais locais, interconectando conhecimentos de diferentes áreas: arte, geografia, história e linguagens. Cabe aqui mencionar a importância do elemento da interação neste processo educativo artístico de valorização da arte urbana: é na rua que o grafite se encontra, é na interação entre grafiteiros que os grandes painéis são produzidos, é na interação entre estudiosos, artistas, moradores de todas as idades que a compreensão do grafite como arte e não como poluição visual é obtida. Tal colocação é necessária pelo discurso instaurado de que a tecnologia é sinônimo de boa educação. Analisemos, por exemplo, as chamadas metodologias ativas: originalmente centradas essencialmente no aluno, atualmente deturpadas por conceitos mercadológicos que sempre carregam a associação a algum aparelho, aplicativo ou plataforma, como se estes fossem os responsáveis por melhorar a qualidade dos processos de aprendizagem. Eis um paradoxo: em tempos de incentivo cada vez mais intenso ao uso de tecnologias, a internet nos dá liberdade, porém nos individualiza; nos oferece acesso a múltiplas informações, mas, por outro lado, tende a enclausurar nossos estudantes aos muros virtuais das redes sociais. Vê-se de extrema importância, como educadores, saber utilizar a tecnologia a favor da interação (com o próximo, com o conhecimento e com o meio), com o fim de alcançar o que YOUNG (2007) nomeia Conhecimento Poderoso, aquele capaz de gerar uma nova forma de ver o mundo. O bairro do Cambuci foi considerado durante a década de 90 um polo produtor de grafite, sendo referência na cidade de São Paulo para artistas urbanos nacionais e internacionais. Ainda nos dias atuais, caminhando pelas ruas do bairro, pode-se observar que muitos muros, de propriedades privadas a unidades básicas de saúde, sem isentar paróquias ou viadutos, basicamente qualquer espaço vazio segue recebendo intervenções artísticas de variados estilos, fazendo do grafite parte da identidade visual da região. Alguns levam assinaturas, outros a são por si só. Ainda que o grafite não seja reconhecido como arte por moradores do próprio bairro, alguns artistas reconhecidos internacionalmente pela sua arte são nativos desta região da cidade; nasceram e/ou viveram nas ruas do Cambuci por toda a vida e têm suas histórias entrelaçadas à história do grafite na capital paulista. Gustavo e Otávio Pandolfo, mais conhecidos como Os gêmeos, Viché, Jana Joana, xGuix (Gui Matsumoto) são alguns nomes. Os três últimos, inclusive, têm depoimentos transcritos no ensaio completo e seus codinomes são respeitados a pedido dos artistas. Ninguém passa ileso ao lugar onde nasce ou cresce. Os valores culturais, hábitos, as influências artísticas e o posicionamento sociopolítico, todos estes são alguns itens que sofrem influência direta do território ao qual pertencemos. Através da coleta de registros históricos e depoimentos de artistas locais, pretende-se, através do presente material, propor à comunidade escolar uma investigação do próprio bairro e de seus traços históricos e artísticos, valorizando assim todo o patrimônio imaterial que percorre as pequenas ruas de um determinado espaço. Em suma: Grafite é arte? Arte de quem e para quem? Por que esta linguagem não é popularmente valorizada? A quem convém perpetuar a imagem do grafite como manifestação artística de baixa qualidade? A investigação do grafite como linguagem e de seus elementos-chave nos leva a outros questionamentos, desde conceitos como classe dominante e seus ideais (MARX,1998) a análise de desigualdades sociais diretamente relacionadas ao território onde se nasce ou vive e como elas podem ser interpretadas ao longo dos anos (SANTOS, 2011). O bairro do Cambuci ficou conhecido na história de São Paulo como um bairro de operários em meados dos séculos 19 e 20. Existem registros de que a região seria, inclusive, berço de protestos e greves trabalhistas que buscavam assegurar melhores condições de trabalho e direitos que protegessem a classe trabalhadora, formada em partes por imigrantes italianos, espanhóis, entre outros povos que, passando por tempos de crise política, viam na imigração uma possibilidade de fugir da guerra e, por consequência, fugir da fome e da miséria, uma maneira de “recomeçar” a vida. Com o passar do tempo, no final do século 20 o bairro passa por um processo de transformação em uma potência da indústria gráfica, chegando a ser considerado o maior polo gráfico da América Latina. Concomitantemente, entre as décadas de 80 e 90, surgem os movimentos do hip-hop e do break, seus festivais semanais na estação São Bento, no parque da Aclimação, trazendo aos jovens uma forma alternativa e intensa de interação que já era conhecida no exterior: o grafite. Relatos registram que a interação entre crianças, adolescentes e jovens ocorria massivamente na rua nesta época. Como não havia internet, mal havia telefone fixo disponível de maneira financeiramente acessível, os hábitos relacionados a lazer eram, de fato, conviver nas calçadas, brincar, dançar break e, como já mencionado aqui, grafitar. Relacionando as afirmações, podemos afirmar que, ainda que haja grafites em todo o bairro, os mesmos se encontram mais concentrados justamente na parte mais baixa, e menos privilegiada, do bairro. Não há, por exemplo, nenhuma praça neste quadrante desde a Rua José Bento até a Rua Luis Gama. Existem evidências, através das manifestações dos artistas, que esta expressão artística dos mesmos tenha, de fato, uma conexão com o local e que nasceram e cresceram. Para Marx, a classe dominante cumpria seu papel de ser dominante não apenas através da posse dos meios de produção, ou seja, dos meios de poder financeiro, mas também através da dominância de ideias. Com isso, podemos interpretar que a classe dominante, além de ter posse do maior montante de dinheiro, determina os valores e tendências de comportamento da sociedade como um todo. No tocante à arte, e à sua capacidade de expressão nos parece conveniente, pela ótica marxista, que a arte seja considerada apenas como um elemento distante física e financeiramente, isolada e protegida em grandes museus de arquitetura imponente. À classe operária restaria, portanto, a ilusão de não ter acesso à arte alguma, a falsa ideia de que o grafite, por exemplo, seria pejorativamente uma série de rabiscos em muros ou apenas pinturas sem grande significado ou capacidade comunicativa. Revisitando e aplicando os conceitos de Marx aos muros do Cambuci, e conectando-os à ideia que artistas têm tem do grafite como expressão da indignação sobre o meio, restaria à população comum o silêncio e a não-interação com o meio, uma maneira de ensinar o “não-sentir” social, mantendo assim, cada personagem onde lhe convém dentro de um cenário de produção historicamente capitalista. Neste ponto, como educadores, devemos pensar no quanto o acesso despropositado de nossos estudantes à internet, em especial às redes sociais, mas até dentro do ambiente escolar, é também uma forma de alienação. Não é incomum vermos, por exemplo, diversos estudantes sentados à mesa, cada um “cauterizado” em relação ao mundo real, sem diálogo, com mínimo nível de interação. Conclui-se através do presente ensaio, portanto, que o grafite como texto é uma mensagem anunciada essencialmente, ainda que não seja um pré-requisito, pelas classes economicamente desfavorecidas, uma representação da voz da classe trabalhadora na sociedade. Classe esta que, apesar da falta de perspectiva, se dispõe a enxergar as mazelas do próprio meio e representá-las através da arte urbana. Estas representações urbanas podem ocorrer em diversos espaços e estilos, existe a valorização da liberdade da arte, do artista, da dinâmica da produção artística ainda que fugaz. Não há uma ofensa pelo não-reconhecimento do grafite como arte vindo da população como um todo, porém reconhece-se que as classes dominantes entendem o grafite como uma manifestação da massa, uma espécie de ameaça, o que inclusive explicaria um motivo para apagar determinadas intervenções e perpetuar a ideia de que o grafite não seja necessariamente arte. Que tais conclusões sejam construídas também por nossos alunos em processos de aprendizagem ativos, vivos, interativos, interdisciplinares e poderosos, tendo a tecnologia, principalmente a internet, como meio de comunicação e fonte de conhecimento e não como forma de isolamento. Palavras-chave: grafite; território; investigação; interação; multidisciplinaridade. • YOUNG, Michael. Para que servem as escolas? Educação e Sociedade., vol. 28, n. 101. Campinas: set./dez. 2007. • MARX; ENGELS. Manifesto Comunista. Sa~o Paulo. Ed. Boitempo. (1998) • SANTOS, Milton. O espac¸o da cidadania e outras reflexo~es / Milton Santos; organizado por Elisiane da Silva; Gerva´sio Rodrigo Neves; Liana Bach Martins. – Porto Alegre: Fundac¸a~o Ulysses Guimara~es, (2011) (Colec¸a~o O Pensamento Poli´tico Brasileiro; v.3).
Título do Evento
X FALA Outra ESCOLA
Título dos Anais do Evento
Anais do Seminário Fala Outra Escola
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
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Como citar

SILVA, Natalia MIACI NOGUEIRA LIMA E. A LINGUAGEM DO GRAFITE COMO FORMA DE INTERAÇÃO COM O TERRITÓRIO NO BAIRRO DO CAMBUCI- ZONA CENTRAL DE SP... In: Anais do Seminário Fala Outra Escola. Anais...Campinas(SP) UNICAMP, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xfalaoutraescola2021/368997-A-LINGUAGEM-DO-GRAFITE-COMO-FORMA-DE-INTERACAO-COM-O-TERRITORIO-NO-BAIRRO-DO-CAMBUCI--ZONA-CENTRAL-DE-SP. Acesso em: 01/06/2025

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