O COTIDIANO VISTO POR ENTRE FRESTAS E JANELAS: O PAPEL DA FOTOGRAFIA NAS AULAS DE ARTE DURANTE O TRABALHO REMOTO.

Publicado em 11/11/2021 - ISBN: 978-65-5941-410-9

Título do Trabalho
O COTIDIANO VISTO POR ENTRE FRESTAS E JANELAS: O PAPEL DA FOTOGRAFIA NAS AULAS DE ARTE DURANTE O TRABALHO REMOTO.
Autores
  • Xênia Froes da Motta
  • Graziela Ferreira de Mello
Modalidade
Sessões de Diálogos - Resumo Expandido
Área temática
LINGUAGENS NOS COTIDIANOS EDUCATIVOS: CULTURAS E ARTES
Data de Publicação
11/11/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xfalaoutraescola2021/366385-o-cotidiano-visto-por-entre-frestas-e-janelas--o-papel-da-fotografia-nas-aulas-de-arte-durante-o-trabalho-remoto
ISBN
978-65-5941-410-9
Palavras-Chave
pesquisa (auto)biográfica, fotografia, fazer docente.
Resumo
Apresentamos neste texto um olhar acerca do fazer pedagógico a partir da narrativa de uma professora de arte que acompanhou seu grupo de estudantes do segundo ciclo do ensino fundamental, nos anos de 2019 e 2020, na cidade São Gonçalo/RJ. Para isso, trazemos o relato da docente: Depois que visitei a exposição do fotógrafo German Lorca, no Itaú Cultural, em São Paulo, no ano de 2018, identifiquei diversos elementos que faziam parte da minha infância e da prática fotográfica de meu avô, que era fotógrafo, e pude me encantar com o trabalho do artista. Lorca entrelaçou ao longo de sua carreira fotografias de campanhas publicitárias com sua produção autoral. Na mostra vista por mim, havia cerca de 150 obras do artista, grande parte reveladas em preto e branco. Eu já havia visitado diversas exposições de fotografia durante minha vida adulta, mas nenhuma me capturou e me encantou como a de German Lorca. Propus aos meus alunos que realizassem uma experiência fotográfica. A primeira etapa consistiu na observação de fotografias do artista. Após isso, eles deveriam escolher um dos temas por mim selecionados, que se dividiam em música, religião, efeito macro, elementos da natureza, emoções, comida e movimento. Solicitei, então, que usassem sua criatividade, procurando fazer uma foto em preto e branco que fugisse do óbvio, e que buscassem registar várias imagens para que ao final pudessem escolher a que me enviariam. Quando estávamos em aulas presenciais, este trabalho foi feito em uma visita ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Com a pandemia veio a questão de propor a mesma experiência, mas agora tendo suas casas e janelas como locais para realizarem a proposta. Sendo assim, realizei este trabalho de forma remota, e o contato com os alunos foi limitado pelo uso do Google Classroom. As fotografias que eles me encaminharam ficaram boas e corresponderam ao que lhes foi solicitado. O grande desafio que lhes foi imposto era ver com olhos sensíveis o que está ali o tempo todo à vista, já que com o isolamento social a casa tornou-se mais do que nunca seu mundo. As fotografias foram grandes aliadas dos professores de arte neste trabalho remoto, pois através delas é registrado tudo o que os estudantes fazem e, em seguida, o material é enviado a seus professores. Mas como ir além do registro? Como fomentar o olhar sensível de estudantes em aulas remotas? Como propor experiências artísticas aos estudantes que têm recursos restritos, usando somente um celular? Entendendo a importância do ato de criar e da pesquisa para a docência, lanço-me neste caminho. Se pretendo ser uma professora que valoriza o sensível na vida dos estudantes, preciso cultivar o sensível e a criação na minha. Puxo as mangas da camisa e vou procurar aplicativos de celular gratuitos, de fácil funcionalidade, com comandos intuitivos. Antes de pensar qualquer proposta para os estudantes, aventuro-me a experimentá-las, vejo quais são as minhas dificuldades. Quando consigo o resultado esperado, vou para o próximo desafio que diz respeito a encontrar a melhor maneira de filmar a tela do celular de forma que eles possam ver o passo a passo. Como indicou Albano (1991, p. 38): “Criar é o ato de juntar, de conviver com os conflitos e expressá-los. […] O adulto criativo altera o mundo que o cerca, o mundo físico e psíquico, em suas atividades produtivas ele sempre acrescenta algo em termos de informação e sobretudo em termos de formação”. Diante deste pensamento, vou ampliando minha percepção sobre a minha prática de arte-educadora, atuando na rede pública de ensino. A escola pública, e o compromisso que estabeleço com ela, impõe que eu seja criativa, tanto por conta das inúmeras dificuldades relacionadas aos materiais e aos espaços necessários para trabalhar com arte, quanto pelas questões sociais e econômicas de meus estudantes. Em um ano como o de 2020, no qual me encontrei distante deste espaço por conta da crise de saúde mundial causada pela covid-19, percebo o quanto ele é importante e potente. Ao mesmo tempo que me detenho no presente, busco inspiração no vivido. Volto às lembranças de uma vida pré-pandemia, na qual podíamos caminhar livremente. Para isso, recorro às imagens eternizadas em fotografias, registros e documentações de minha prática. As memórias da professora surgem como flashes em que se visualizam os recortes das aulas, que a levam a reflexões no momento presente. A fotografia é a mediadora das lembranças, um revirar por dentro, um olhar para si. Fica uma interrogação sobre essa “arqueologia de si”, o que teria a memória esquecido. Trazendo a visibilidade das importâncias, sensações de dias felizes e de um trabalho instigador, os detalhes que a fotografia oferece são evocados: Uma arqueologia de si por imagens, EXÍLIOS / REMINISCÊNCIAS é uma busca profunda no que foi enterrado, um ingresso nos mistérios da memória, em que se misturam imagens re/fotografadas, vindas de arquivos pessoais ou históricos, fotografias encontradas em passeios errantes, em antiquários, livrarias de livros antigos e fotografias recentes (DELORY-MOMBERGER, 2018). A proposta de pensar a fotografia ora como dispositivo para a rememoração, ora como forma de aguçar o olhar, a criatividade, a sensibilidade e a imaginação dos estudantes, torna-se o elo que une a formação das duas pesquisadoras que estão a escrever estas linhas. Nós duas encontramos na fotografia uma forma de documentar nossa prática de modo poético e estético. Ela funciona como forma de recordar os caminhos que fizemos, e como registro para avaliação do que deu certo ou não ao longo do processo, além de se configurar como o exercício de uma outra linguagem que se desenvolve na prática artística. Segundo Samain, “toda imagem é portadora de um pensamento, isto é veicula pensamentos” (2012, p.22). Neste sentido, a fotografia orienta a relação que criamos com o mundo e nos ajuda a pensar na relação do fotógrafo, enquanto artista, com os elementos que compõem a sua produção. Mais ainda: a fotografia nos impulsiona a pensar sobre o que as imagens nos dizem. Mesmo a fotografia sendo uma espécie de registro, fragmento da realidade, ela passa por um processo de criação da pessoa que aperta o botão da máquina, quando ela seleciona um instante e não outro, aquele ângulo e não este, uma incidência da luz específica e assim por diante. Há uma seleção impregnada de intenção no ato de se apertar o botão que dispara o obturador. O produto final desta ação comunicará ideias e informações, e revelará com o passar dos anos seu valor epistêmico para a história. A imagem obtida por meio da câmera fotográfica, assim como as realizadas por outros meios, como a pintura ou o desenho, nos apresenta a relação estabelecida entre o tempo, a linguagem e o espaço. Uma fotografia fez reviver memórias que estavam em algum lugar. O mundo visível veio pelo olhar investigativo, um olhar de dentro que se direciona para o fora. Freire (2003), é destacado para tornar mais acessível a relação dialógica em que a fotografia media os idos do esquecimento, onde este canal é acionado através de uma perspectiva desafiadora. Ao revisitar essa experiência lançando para ela outros olhares, outras perspectivas e até mesmo indagações, que agora se tornam mais provocativas, intenta-se iluminar instantes, pensamentos, reflexões que estiveram presentes ou que acenderam a subjetividade do fazer docente. Neste sentido, trazemos a fotografia como dispositivo de diálogo entre nossos estudantes e o mundo, entre a arte e nossos estudantes. Para isso, recorremos a Freire (2003) para abordar tal questão dialógica; à Delory-Momberger (2018), para pensarmos os relatos através de memórias; e às reflexões de Samain (2012), Albano, (1991) e Barthes, (2015). Em suma, a narrativa de professores de arte pode oferecer uma argumentação para o trabalho com as imagens. Neste resumo, pontuamos a reinvenção, o olhar para si e para o outro, o diálogo, a criatividade e por fim sugerimos que as imagens/fotografias nos oferecem algo a pensar no que diz respeito ao fazer docente. REFERÊNCIAS ALBANO, Ana Angélica. O espaço do desenho: a educação do educador. 16 ed. São Paulo: Loyola, 2013. BARTHES, Roland. A câmara clara: notas sobre a fotografia; Trad. Julio Castañon Guimarães. - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. DELORY-MOMBERGER, Christine. EXÍLIOS / REMINISCÊNCIAS ou a odisseia da memória.Tradução, Maria da Conceição Passeggi, 2018 (não publicado). FREIRE, Paulo. Política e educação: ensaios, 7.ª ed. São Paulo: Cortez, 2003. PASSEGGI, Maria Conceição. Narrar é humano! Autobiografar é um processo civilizatório in Passeggi, Maria da Conceição, e Silva, Vivian Batista da (orgs.), Invenções de vida, compreensão de itinerários e alternativas de formação, São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. SAMAIN, Etiene. (Org.). Como pensam as imagens. Campinas: Editora da Unicamp, 2012.
Título do Evento
X FALA Outra ESCOLA
Título dos Anais do Evento
Anais do Seminário Fala Outra Escola
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MOTTA, Xênia Froes da; MELLO, Graziela Ferreira de. O COTIDIANO VISTO POR ENTRE FRESTAS E JANELAS: O PAPEL DA FOTOGRAFIA NAS AULAS DE ARTE DURANTE O TRABALHO REMOTO... In: Anais do Seminário Fala Outra Escola. Anais...Campinas(SP) UNICAMP, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xfalaoutraescola2021/366385-O-COTIDIANO-VISTO-POR-ENTRE-FRESTAS-E-JANELAS--O-PAPEL-DA-FOTOGRAFIA-NAS-AULAS-DE-ARTE-DURANTE-O-TRABALHO-REMOTO. Acesso em: 27/05/2025

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