CÁPSULA PARA O PASSADO: MEMÓRIAS DE UMA BICHA CRIANÇA

Publicado em 23/12/2021

DOI
10.29327/154029.10-120  
Título do Trabalho
CÁPSULA PARA O PASSADO: MEMÓRIAS DE UMA BICHA CRIANÇA
Autores
  • Douglas William Oliveira Knop Vicentin
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 08 - Memória, Narrativas e Discursos
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/439154-capsula-para-o-passado--memorias-de-uma-bicha-crianca
ISSN
Palavras-Chave
Memória, Infância, Brincadeira, Criança.
Resumo
CÁPSULA PARA O PASSADO: MEMÓRIAS DE UMA BICHA CRIANÇA Douglas William Oliveira Knop Vicentin Mestrando em Estudos da Condição Humana Universidade Federal de São Carlos Campus Sorocaba Douglasknop7@gmail.com Resumo Este é um ensaio sobre memórias de uma criança bicha. Diante do processo de consciência de la Mestiza de Anzaldua (2000; 2005) como método utilizaremos a auto história num processo brincante de escrita. Entendo esse processo como politico, de resgate da potência e resistência de corpos atravessados por processos de sofrimento, silenciamento e apagamento de nossas formas de brincar, imaginar e de contar a própria história e produzir conhecimento que permita (re)imaginações de tempo e de construção de conhecimento não hegemônicos. É uma carta enviada para o passado como processo alquímico, como possibilidade de ressignificação da fragmentação multidimensional no corpo/mente, da própria memória de uma história (re)contada e (re)significada para o passado e futuro, é um artesanato da simplicidade, do singelo, que não oferece resposta. É um resgate do intimo do processo de des(aprendizagem) do silenciamento, de recuperação do próprio corpo, da (re)imaginação, que possa ensaiar parar, aqui e agora, nesse último corpo, para que possamos sonhar, sentir e (in)ventar outras possibilidades, outras rotas de fuga, de ser, estar e brincar no mundo. Palavras-Chave: Memória; Criança; Brincadeira; Mestiza; Introdução Lembro-me de quando criança ter visto algo muito incrível no programa de fantástico que passava aos domingos. Era uma reportagem sobre uma cápsula que seria enviada para o futuro. O objetivo dessa cápsula era enviar ao futuro objetos, figuras, diários, enfim, algo memorável para o seu “eu” do futuro ou para outras gerações dentro de uma espécie de cápsula que conservaria e poderias ser vista depois de alguns anos. Senti que era possível brincar com o tempo e até fazer magia. Mas e se ao invés de uma cápsula para o futuro, enviássemos uma para o passado, contendo dentro dela, uma carta para a criança que fomos? Então, é disto que este ensaio/carta se trata: de poder olhar para as próprias memórias e contas histórias outras. Como começar uma carta para uma bichinha de Sorocaba, do interior de São Paulo, para uma criança bicha, ou seria bicha criança? Gata, a senhora é uma bichinha cheia de vida, mas enfrentará alguns desafios num país como Brasil, numa cidade de Sorocaba e no Sul do mundo. Escrevo essa carta sentada numa cadeira gamer, em frente a uma pequena mesa cheios de coisas sobre ela: uma garrafinha de água, um copo com giz de cera, canetas e lápis jogados despretensionamente. Estou sentado com a perna direita sobre a esquerda, com as mangas da camisa literalmente dobradas e me esforçando para fugir da escrita formal e sem corpo como desafio metodológico da autohistoria. Não é fácil, sabe? Me pergunto: quantas vezes e de quantas maneiras sentimos que nossos corpos e subjetividades precisam obedecer regras, normas e receber autorização para poder escrever, dançar, brincar e falar durante nossa vida? Fecho os olhos, sinto fralda branca ao colo, sentado no corredor de casa com piso vermelhão e esperando para a retirado do produto de piolhos. Não estava sozinho, mas não recordo quem era, poderia ser um amigo ou meu irmão caçula, não me recordo ao certo. Estava tão animado e com pressa de brincar que decidi ali mesmo começar a brincadeira. Com a cabeça em direção a fralda para não cair piolhos mortos, gritei rapidamente – pois nessas brincadeiras quem fala primeiro tem o direito de escolher seu personagem - sou o ranger vermelho! Subitamente minha cabeça se enche de vergonha e tristeza, pois fora a primeira vez que tive de escolher 1. Fundamentação teórica Esta é uma carta de memórias de uma criança bicha do interior. Trata-se de uma carta para a criança que fui, propondo um processo de escrita rumo a uma consciência Mestiza (Anzaldua 2000; 2005) como método de produção de conhecimento em critica aos modos epistemicidas ocidentais de fazer ciência/brincar e situar as subjetividades. Escrever sobre si é resistência epistêmica, é ato politico, é individual, mas também social, é produzir memórias, pois: A memória do indivíduo depende do seu relacionamento com a família, com a classe social, com a escola, com a igreja, com a profissão, com os grupos de convívio e os grupos de referências peculiares a esse indivíduo”. Nessa perspectiva, lembrar-se é uma ação coletiva, pois, embora o indivíduo seja o memorizador, a memória somente se sustenta no interior de um grupo (Bosi, 1983: 17). São memórias da infância que nos permite compreender como a criança desenvolve formas de brincar de gênero, mas também começa a introjetar, produzir e reproduzir performances de gênero cisheteronormativas (Bento, 2017), que muitas vezes levam ao sofrimento e silenciamento ao expressar formas de ser e brincar diferentes. No entanto, está carta não tem a premissa de caminhar em direção a verdades, conclusões ou respostas universais, mas de brincar, um compartilhar experiências afeto-politico, inventar as possibilidades de potência da vida, de rememorar e resgatar a experiência artesanal e utilizá-la como barricada, como aprender a respirar (Mendonça, 2020). Assim, construiremos um contar de uma bicha criança, na verdade uma “princesa”, com olhares do presente, dialogando de forma crítica com as múltiplas estruturas de opressão: do capitalismo neoliberal, heterocisnormatividade, racismo e classe e adultocentrismo. É uma forma de produção de conhecimento-intervenção de elaborando e estratégias, rotas de fuga, inventidades e possibilidades de cura na escrita, na memória e na ressignificação que possibilite retirar sentidos que traduzem a autoviolência através da autodeterminação em direção a geração de vida (FERREIRA, 2019). Referências bibliográficas ANZALDUA, G. Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo. Tradução Édna de Marco. Estudos Feministas, p. 229- 236, 1 sem, 2000. ANZALDUA, Glória. La consciência de la mestiza/ Rumo a uma nova consciência. Estudos Feministas, Florianópolis, 13(3): 704-719, setembro-dezembro/2005. BENTO, Berenice. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual / Berenice Bento. 3ª ed. Salvador, BA. Editora devires,2017. FERREIRA da Silva, Denise. A dívida impagável. São Paulo: Oficina de Imaginação Política e Living Commons, 2019. MENDONÇA, Viviane. Um dia você vai sentir na própria carne: Afeto, memória, gênero e sexualidade/ Viviane Melo de Mendonça. – 1. Ed. –Jundiaí [SP] : Paco, 2020.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
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Como citar

VICENTIN, Douglas William Oliveira Knop. CÁPSULA PARA O PASSADO: MEMÓRIAS DE UMA BICHA CRIANÇA.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/439154-CAPSULA-PARA-O-PASSADO--MEMORIAS-DE-UMA-BICHA-CRIANCA. Acesso em: 07/05/2025

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