O ENQUADRAMENTO DE MAISA SILVA EM VEJA E NO ESTADÃO

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
O ENQUADRAMENTO DE MAISA SILVA EM VEJA E NO ESTADÃO
Autores
  • Sofia Maciel Pontes
  • Juliana Doretto
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 22 - Estudos de gênero, feminismos e interdisciplinaridade.
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/439041-o-enquadramento-de-maisa-silva-em-veja-e-no-estadao
ISSN
Palavras-Chave
adolescência, jornalismo, Maisa Silva, gênero
Resumo
Introdução Maisa Silva, atriz e apresentadora de 19 anos, foi considerada por veículos da imprensa brasileira a adolescente mais seguida na internet em 2019. No Instagram, ela já acumula 39,5 milhões de seguidores, e no YouTube tem 5,8 milhões. Por conta dessa popularidade e influência entre os jovens, este artigo tem o objetivo de investigar a representação da atriz em veículos jornalísticos generalistas de grande circulação: a revista Veja e o jornal O Estado de São Paulo, em suas páginas on-line. Para a realização desta pesquisa, foi utilizada uma estratégia metodológica de caráter quanti-qualitativo, a partir do conceito de enquadramento, segundo Carvalho (2009). Foram coletadas matérias sobre a atriz nos sites da revista Veja e do jornal O Estado de São Paulo publicadas em 2018 e 2019. O objetivo foi entender como esses veículos reportaram sobre Maisa, buscando compreender se reproduzem estereótipos envolvidos na construção social da adolescência, incluindo as questões de gênero. 1. Fundamentação teórica A adolescência, segundo Becker (2017), é uma fase da vida marcada como um período de moratória: é um treinamento da criança para se tornar adulto. Ao ser proibido de entrar nas arenas dos mais velhos, mesmo já estando apto fisicamente para fazê-lo, o adolescente vive uma fase de conflitos. Além disso, ele por vezes rejeita a forma como a sociedade é organizada pelos adultos (tidos por eles como conservadores, ultrapassados) e deseja construir novas modos de compreender os processos sociais – ainda que por outras vezes reproduza o sistema social vigente. Nesse sentido, Becker afirma que, por isso, o adolescente é compreendido pelos adultos como aquele que está constante fase de rebeldia, ao mesmo tempo em esperam dele atitudes maduras. O jovem, então, segundo Becker, tem a impressão de que a fase adulta que virá será o momento em todos esses conflitos comportamentais serão resolvidos. Essa representação dos adolescentes como seres problemáticos ou que revolucionam o mundo também aparece de modo recorrente na imprensa, mas os jovens reclamam dessas imagens estereotipadas e pedem construções mais ricas da vivência dos jovens (DORETTO, 2019). Nesse contexto, Vizeu Pereira Junior (2008) analisa a importância de se ter uma representação social plural no meio jornalístico. É a partir dela que o indivíduo é capaz de se sentir parte de uma sociedade, e isso o ajuda a entender suas dúvidas e conflitos. Da mesma forma, Carvalho (2009), em seu texto “O enquadramento como conceito desafiador à compreensão do jornalismo”, afirma que a figura do jornalista não age como um porta-voz da realidade, mas sim que ele participa ativamente da construção social dela. Isso ocorre porque, dependendo do veículo jornalístico em que trabalha, e dos interesses e posicionamentos dessa entidade, o enquadramento, ou a moldura do fato noticiado, será diferente. Gutmann (2006) traz outro viés à discussão, tentando entender a relação entre o enquadramento e o público. “[...] por um lado, os veículos de comunicação influenciam na construção da realidade social modelando representações desta realidade de um modo particular, por outro, os efeitos da mídia são mediados por uma interação entre os meios e a audiência (SCHEUFELE, 1999, p. 105 apud GUTMANN 2006. p. 29). Ou seja, segundo a autora, além das visões das empresas jornalísticas, os enquadramentos têm também direta relação com o modo com que o jornalista vê e interpreta o mundo ao seu redor. Carvalho diz ainda que o leitor, por sua vez, carrega em si outra visão de mundo e outras vivências, e por isso interpretará o fato noticiado também a partir do seu próprio enquadramento. Assim, acreditamos que a percepção social sobre a adolescência exerce influência nos modos como os adolescentes são vistos pelos jornalistas. E, por sua vez, essa produção noticiosa também pode influenciar as maneiras como os próprios jovens se veem — ou então eles podem ser contrários a elas. 2. Resultados alcançados Em nossa pesquisa, encontramos ao todo 15 matérias sobre Maisa na revista Veja e 46 no site Estadão no período selecionado. Nos dois veículos, observou-se que não é dada ênfase a notícias que dizem respeito ao namoro da atriz e apresentadora, mas prefere-se noticiar sua carreira e seu impacto na mídia como adolescente celebridade, como podemos ver nas matérias “Maisa Silva é a adolescente mais seguida nas redes sociais no Brasil” (17/9/18) e “Maisa pretende criar iniciativa para ajudar crianças vítimas de abuso” (19/7/19). Em relação ao enquadramento presente nos veículos analisados, em Veja, Maisa sempre é mencionada de maneira positiva: são sete notícias, duas notas e duas reportagens assim. Somente em quatro ocasiões ela é retratada de maneira neutra; casos de textos mais curtos (duas notícias e duas notas), como “Thalita Rebouças estreia como atriz em filme com Maisa; confira vídeo ”, que só menciona Maisa como parte do elenco. Em nenhuma matéria analisada a adolescente foi retratada de forma negativa, e os textos são repletos de pequenos elogios à jovem. Em algumas das reportagens, notam-se termos lisonjeiros, como “Não é à toa que o elenco do SBT abre um sorrisão para receber Maisinha”, e “Maisa Silva mostrou, mais uma vez, que é bastante madura para quem tem 16 anos” . Toda essa contextualização reforça a maneira com que Maisa já é vista pelo público jovem que a viu crescer: como aquela adolescente contemporânea, “descolada” e que todos adoram ter por perto. No caso do jornal O Estado de São Paulo, Maisa não foi alvo de nenhuma reportagem, mas também foi retratada na grande maioria das matérias de forma positiva. Foram 20 notícias e 17 notas passim, contra 7 neutras (sendo seis notas) e 1 notícia que consideramos como negativa. Esta última diz respeito à aparição da atriz no Programa do Silvio Santos, em que o apresentador insinua mais de uma vez um possível namoro entre Maisa e Dudu Camargo, também convidado do programa. Termos presentes no título, como “Maisa ironiza”, e frases como “Essas foram as respostas de Maisa Silva, repletas de ironia” no decorrer da matéria dão a Maisa uma impressão pouco gentil e sarcástica, ainda que também segura (“sem perder a paciência”). Mas de todo modo trata-se de uma representação diferente da imagem de menina comportada e gentil com que o público normalmente convive. Porém a matéria também questiona a ação do apresentador, escolhendo palavras que em frases como “insinuou o namoro” mostram o desconforto que Maisa sentiu no programa. Conclusões Como resultados, nota-se que Maisa é retratada de forma positiva pelos veículos, e que as reportagens noticiam seu sucesso na carreira artística, dando destaque à boa repercussão de produções midiáticas em que está presente. Ela surge como a “Maisinha” que está madura para sua idade, e é uma profissional reconhecida. Um dos textos em que a atriz parece não ser totalmente endossada pelos sites traz a adolescente numa atitude mais hostil, diferente do esperado para uma jovem que desde cedo mostrou doçura e ingenuidade na TV. Assim, o jornalismo representa uma importante “tecnologia de gênero”, pois “ao mesmo tempo em que representa o gênero, institui valores sobre o certo e o errado”, ou sobre o que deve ser seguido como padrão, e o que deve ser rechaçado (MACHADO, 2006, p. 233). Referências bibliográficas BECKER, D. O que é adolescência. São Paulo: Brasiliense, 1999. CARVALHO, Carlos. Sobre limites e possibilidades do conceito de enquadramento jornalístico. Contemporânea, vol. 7, n. 2, dez. 2009. MACHADO, L. M. M. E a mídia criou a mulher: como a TV e o cinema constroem o sistema de sexo/gênero. Tese (Doutorado) – Universidade de Brasília, 2010. Notas: 1. O presente trabalho foi realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), processo nº 20/11769-7. 2. Sofia Pontes é estudante do sexto período da graduação em jornalismo da PUC-Campinas, Bolsista Fapesp de Iniciação Científica. 3. Juliana Doretto é professora doutora no Programa de Pós-Graduação em Linguagens, Mídia e Arte da PUC-Campinas.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

PONTES, Sofia Maciel; DORETTO, Juliana. O ENQUADRAMENTO DE MAISA SILVA EM VEJA E NO ESTADÃO.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/439041-O-ENQUADRAMENTO-DE-MAISA-SILVA-EM-VEJA-E-NO-ESTADAO. Acesso em: 03/07/2025

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