LABORATÓRIO DE IDEIAS: THINK TANKS E O DISCURSO DE EXPERTISE NEUTRAL PARA POLÍTICAS PÚBLICAS

Publicado em 23/12/2021

DOI
10.29327/154029.10-57  
Título do Trabalho
LABORATÓRIO DE IDEIAS: THINK TANKS E O DISCURSO DE EXPERTISE NEUTRAL PARA POLÍTICAS PÚBLICAS
Autores
  • Janikelle Bessa Oliveira
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 09 - Organizações, Desenvolvimento e Políticas Públicas
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/438741-laboratorio-de-ideias--think-tanks-e-o-discurso-de-expertise-neutral-para-politicas-publicas
ISSN
Palavras-Chave
Think tanks; Institucionalismo Discursivo; Políticas Públicas; Organizações
Resumo
Introdução O ensaio teórico tem como escopo analisar as possibilidades que o novo institucionalismo discursivo traz para a pesquisa em políticas públicas no primeiro momento, identificando suas limitações analíticas e como a teoria do discurso pode contribuir para uma observação mais ampla da vida social, e fazer pensar possíveis saídas para uma análise simbólica na ciência política. No segundo momento busca relacionar as condições de aplicação do institucionalismo discursivo nos chamados Think Tanks, identificados enquanto laboratórios de ideias e enquanto ator político, para assim localizar e caracterizar os seis think tanks com maior influência no Brasil com base nos relatórios Global Go To Think tanks Report produzidos pela Universidade da Pensilvânia nos Estados Unidos entre os anos de 2009 e 2019. A discussão está dividida em duas partes, na primeira seção apresenta-se a relação das ideias e mais particularmente o institucionalismo discursivo no contexto de produção de agendas e formulação de políticas públicas como um caminho teórico ainda em construção (com dilemas e lacunas) na ciência política. E a segunda seção debate o conceito de think tanks e a posição brasileira no ranqueamento da Universidade da Pensilvânia buscando mesmo que limitadamente, indicar a trajetória e os mecanismo de difusão de ideias das seis organizações selecionadas questionando a posição de atuações neutras e racionais por parte desses think tanks. 1. Fundamentação teórica A mudança institucional e política na ótica do institucionalismo discursivo são explicadas através do entendimento das instituições como memória coletivas que são contrapostas continuamente por atores com ideias diferentes. A possibilidade de mudança enseja sobre como as ideias são construídas, difundidas para o público através do discurso, com a possibilidade de formação de coalizões discursivas. A teoria do discurso de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe (2015) pode contribuir no debate das lacunas do institucionalismo discursivo, com possíveis caminhos para a análise discursiva. Mendonça (2009) evidencia que a teoria do discurso de Laclau centra nas categorias poder e discurso que se desdobra em outros ramos como pontos nodais, antagonismo, articulação, hegemonia, significantes vazios, populismo, dentre outros. A perspectiva discursiva de Laclau difere da condução do institucionalismo discursivo de Schmidt (2008) que circunscreve o discurso ao conteúdo das ideias, a forma e a posição dos atores na propagação, em síntese, os aspectos da interação das ideias na órbita institucional. Enquanto em Laclau percebe-se a articulação entre as palavras e a ação de natureza material e não ideal, essa diferença marcante tem como base as influências marxistas, e mais, a crítica ao marxismo e seu entendimento essencial da sociedade da luta entre capital e trabalho. (MENDONÇA, 2009) Rich (2004) inicia sua obra Think Tanks, public policy and the politics of expertise com o questionamento acerca da capacidade de produção de agendas ideológicas com impacto de longo alcance pelos think tanks, e se essa capacidade existe, quais as consequências da influência de seus produtos: expertise e ideias, para a produção de política? Existe uma diferença considerável entre a capacidade de produção de estudos e pesquisas acerca de um tema e a difusão desse conhecimento no Estado, por isso, quando se trata de think tanks pode-se defini-las como organizações independentes, sem fins lucrativos que balizam-se na produção de conhecimentos e ideias para influenciar a formulação de políticas públicas. (RICH, 2004) Para McGann (2011) os think tanks representam um espaço social de produção de opções políticas que se revestem do papel de produção de pesquisa em políticas públicas, fornecimento de assessoria, análises e informações que se constituem como arcabouço na tomada de decisão dos dirigentes políticos. O que evidencia a necessidade entre articulação da produção de ideias e da forma de constituição de seu discurso no espaço público. O discurso dos think tanks reside em sua atuação e articulação política, que para Rich está imbuída de agressividade no intento de procurar ativamente maximizar a credibilidade pública e construir o acesso nos espaços de decisão governamental. Esse tona-se o caminho para que ocorra a transição de uma ideia para o fazer político, e, a categoria que diferencia os think tanks de outras organizações que podem ser confundidas pela intenção de produção de ideias e conhecimento. 2. Resultados alcançados O Brasil é o décimo primeiro em número de organizações desse espectro, e houve um salto do ano de 2009 para 2010, de quarenta e oito organizações para oitenta e uma. A construção do painel de think tanks ocorre por meio de indicação por atores entre intelectuais, acadêmicos, jornalistas e instituições e diretores envolvidos em rede dessas organizações no mundo. No ano de 2009, a indicação seguiu critérios e categorias específicas dos think tanks quanto: o ranking mundial; ranking regional; ranking por área de pesquisa e ranking por realização especial. A metodologia utilizada na construção do ranking dos think tanks ressalta a relação entre capilaridade e imagem pública. Rich (2004) afirma que a credibilidade é o atributo que possibilita o uso político das ideias produzidas pelos think tanks, diferentemente dos grupos de interesse, os laboratórios de ideias não tem um eleitorado atrelado que possa interessar aos formuladores de políticas públicas e quanto mais apregoam ‘neutralidade’ mais se revestem de tecnicismo. Por um lado, o tecnicismo possibilita uma redução de barreiras cognitivas por se afastar de visões de mundo extremos, por outro lado, tem maiores dificuldades em atingir grupos com demandas muito claras e ideologicamente organizados. O relatório de 2019 trouxe uma mudança metodológica na esfera de reconhecimento das organizações ranqueadas, em que, qualquer think tank que foi classificada como a principal organização de uma categoria por três anos consecutivos obtém o reconhecimento como ‘Centro de Excelência’, não sendo incluído no ranking dessa categoria nos próximos três anos. Essa mudança alterou o sistema de classificação das organizações, o que no caso da América Central e do Sul ocasionou. Observando a posição dos think tanks brasileiros mais bem ranqueados no mundo, demonstra o crescimento de representação de think tanks com uma atuação ultraliberal calcados no discurso sofisticado de uma governança permeada por responsabilidade. O problema não está no princípio da responsabilidade estatal, mas como essa narrativa produz uma ‘cortina de fumaça’ sobre uma governamentalidade neoliberal, que vem atuando indistintamente nas agendas de políticas públicas, independente do espectro ideológico. Revestindo-se de neutralidade ou assumindo uma posição ideológica, o financiamento é o elemento que pode contribuir na observação dos reais interesses dessas organizações. No sentido, que o financiamento pode indicar interesses pragmáticos de retorno à determinados grupos de interesse em detrimento de resultados eficientes acerca de políticas públicas. O objetivo concreto das organizações de produção de ideia envolve o acesso político como mecanismo discursivo e assim possibilitar a infiltração de uma solução pública entre os tomadores de decisão, mas além disso, tem o interesse de alterar e normalizar socialmente determinados entendimentos públicos e individuais, ultrapassando os contornos do institucionalismo discursivo. Observando a nomeação dos think tanks brasileiros inseridos na categoria regional (América Latina) do Global Go To Think tanks Report, identifica-se seis organizações que aparecem continuamente bem ranqueadas desde o ano de 2009, sendo elas: Fundação Getúlio Vargas (FGV); Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI); Fundação Fernando Henrique Cardoso; Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA); Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP); Núcleo de Estudos da Violência (NEV USP). Conclusões As seis organizações brasileiras temporalmente melhor posicionadas no Global Go To Think tanks Report: Fundação Getúlio Vargas (FGV); Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI); Fundação Fernando Henrique Cardoso; Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA); Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP); Núcleo de Estudos da Violência (NEV USP), demonstram uma capacidade de produção de ideias, confiança e reconhecimento que possibilita justificar a menção enquanto laboratórios de ideias com capacidade de influenciar debates públicos. Mas, torna-se evidente a preocupação com dessas think tanks com as redes internacionais que amplifica o reconhecimento fora do Brasil e corresponde aos critérios de indicação do relatório da Universidade da Pensylvânia. Referências bibliográficas LACLAU, Ernesto e MOUFEE Chantal. Hegemonia e estratégia socialista: por uma política democrática radical. São Paulo: Intermeios; Brasília: Cnpq, 2015. MCGANN, J. Global Go to Think tanks Report. University of Pennsylvania, Philadelphia, edições 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019. Disponíveis em: <http://www.gotothinktank.com/thinktank> Acesso em dezembro, 2018 MENDONC¸A, Daniel de. Como olhar “o político” a partir da teoria do discurso. Revista Brasileira de Cie^ncia Poli´tica, Brasi´lia, nº 1, p. 153-169, janeiro-junho de 2009. RICH, Andrew. Ideas, Expertise, and Think Tanks. In: BÉLAND, Daniel; COX, Robert Henry (eds.) – Ideas and politics in social science research. New York: Oxford University Press, 2011. SCHMIDT, Vivien A. Discursive institutionalism: the explanatory power of ideas and discourse. The Annual Review of Political Science, v. 11, 2008, p. 303-326.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
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Como citar

OLIVEIRA, Janikelle Bessa. LABORATÓRIO DE IDEIAS: THINK TANKS E O DISCURSO DE EXPERTISE NEUTRAL PARA POLÍTICAS PÚBLICAS.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/438741-LABORATORIO-DE-IDEIAS--THINK-TANKS-E-O-DISCURSO-DE-EXPERTISE-NEUTRAL-PARA-POLITICAS-PUBLICAS. Acesso em: 21/06/2025

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