“Agradeço, Em Primeiro Lugar, A Deus”: The Voice Kids E A Igreja Como Espaço De Formação Musical No Brasil

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DOI

10.29327/154029.10-59

Título do Trabalho

“AGRADEÇO, EM PRIMEIRO LUGAR, A DEUS”: THE VOICE KIDS E A IGREJA COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO MUSICAL NO BRASIL

Autores

Wilson Madeira Filho
Ivan Ignácio Pimentel

Modalidade

Resumo Expandido e Trabalho Completo

Área temática

GT 31 - Não vai ter Golpe, Vai ter Luta!

Data de Publicação

23/12/2021

País da Publicação

Brasil

Idioma da Publicação

Português

Página do Trabalho

https://www.even3.com.br/anais/xc22021/438686-agradeco-em-primeiro-lugar-a-deus--the-voice-kids-e-a-igreja-como-espaco-de-formacao-musical-no-brasil

ISSN

Palavras-Chave

Religião. Música popular brasileira; Televisão; The Voice Kids; Formação musical

Resumo

O recorrente agradecimento a Deus pelas crianças no reality televisivo The Voice Kids, exibido pela Rede Globo, soando praticamente como um bordão, aponta para uma importante questão que fica subtendida, mas também explicitada nos testemunhos de trajetória: a igreja enquanto espaço de formação musical no Brasil. Se os espaços dos conservatórios de música, os cursos universitários, as sinfônicas ou mesmo as populares “escolas de samba” foram os locais primordiais para iniciação e profissionalização musical, uma alteração estrutural forte parece estar a se fazer presente, com a formação musical nas igrejas, em especial nos cultos evangélicos. Perscrutar esse tema num país onde outro bordão, “Deus acima de todos” é utilizado de forma populista por setores de extrema direita, amparado justamente por blocos de pastores evangélicos, significa também buscar modos alternativos para se avaliar a autocracia nacional e seus modelos derivados. Esse trabalho, através da autoetnografia e trajetória de seus autores, pretende levantar algumas questões que podem auxiliar em análises sociológicas e antropológicas sobre a questão. Quando Deus virou música? Independente do viés da igreja evangélica, ao ser constituída por famílias dispostas a seguirem uma proposta de vida com Cristo, a relação entre igreja e casa torna-se muito estreita, e a criança passa a receber todos os ensinamentos para que a “raiz” religiosa se fortaleça e dê frutos. Em outras palavras, observa-se que a influência religiosa realizada no campo evangélico, por parte da família, começa ainda na fase infantil, pois os laços entre famílias e igrejas evangélicas contribuem para que as crianças sejam estimuladas a participarem das propostas construídas nestas instituições. Ao visitarmos as igrejas evangélicas de diferentes denominações durante os trabalhos de campo, observamos aspectos em comum em todos os cultos. Uma oração inicial na abertura do culto, a ministração de cânticos e louvores pelos jovens do ministério de louvor com diferentes instrumentos musicais, a realização do sermão pelo líder religioso ou convidado, o apelo para a conversão dos “ímpios” e por último a benção apostólica. Durante o culto dos adultos, no momento do sermão, as crianças realizam o seu “culto infantil”, momento em que orientadas pelas “tias” cantam músicas evangélicas infantis e ouvem algumas histórias bíblicas voltadas para crianças. Destacar esses momentos foi importante para que observássemos que a liturgia do culto permanece a mesma, entretanto as músicas tocadas são diferentes, os tempos mudaram. A entrada de novos ritmos e danças, tornando os cultos mais animados, possibilita o maior envolvimento da juventude e faz da vida religiosa algo mais atraente. Ao questionar nosso interlocutor João sobre as mudanças em relação a época que éramos adolescentes, prontamente ele respondeu “que a igreja está se transformando para renovação da sua mente, que o momento hoje era outro e que a música era mais valorizada do que no nosso tempo”. As mudanças apontadas na música evangélica a partir da década de 1990 permitiram que as músicas metricamente escritas nos hinários utilizados pelos membros da igreja deram lugar a músicas mais animadas, com ritmos contextualizados e mais alinhados com a juventude. Ao voltar a igreja como pesquisadores, também pudemos contemplar algumas mudanças minuciosas na parte instrumental. Antigamente, os toques dos instrumentos eram limitados somente ao momento do louvor, atualmente os músicos fazem parte de todo o ritual religioso, uma vez que o teclado fora tocado durante o sermão pastoral e o apelo de conversão. Para o nosso interlocutor Lucas, de 49 anos, pastor e evangélico, desde que nasceu “o teclado tocado durante a sermão traz o céu para a Terra e cria uma atmosfera constante de adoração ao Senhor”. No final do culto, muitas crianças se aproximam dos instrumentos e fazem questão de dialogar com os músicos destacando momentos do culto que eles consideraram importantes e imitando os gestos realizado pelo tecladista durante o culto. As têm que segurar os filhos para que não façam barulho ou desafinem a bateria. Sonho recorrente para a criança com vocação musical no espaço evangélico era tocar na igreja e poder ser chamado de Levita, descendentes de Jacob e responsáveis pelo louvor da igreja. Esse grupo considerado seleto, era respeitado e ocupava uma posição de destaque entre os membros daquela coletividade. Além disso, constantemente visitavam outras igrejas, conheciam outros músicos e porque não dizer que também eram admirados pelas meninas, já que estavam em evidência e eram populares, principalmente se fossem considerado bons músicos. A música pode ser considerada uma estratégia que, baseada na tradição, possibilitava o envolvimento do adolescente com o templo religioso. Como em qualquer setor da sociedade, as relações entre os membros da igreja são estabelecidas a partir de um sistema de valores que dão significado a essas interações. Esse sistema de valores estabelece seus próprios critérios de verdade, fé e moral, que orientam as práticas sociais. Não bastava simplesmente ser um baterista e tocar o que chamávamos na época de “chá com bolo” (tocar o básico, com pouca técnica musical), era necessário estudar e aperfeiçoar o dom que nos fora dado por Deus e buscar mais intimidade com o Pai através de uma vida consagrada. A segunda parte era mais fácil, mas como estudar música sendo de uma família pobre da Baixada Fluminense ou de São Gonçalo? Considerações finais The Voice Kids representa a entrada no Céu da multicultura, após o aprendizado purgatorial nas bases religiosas. O canto de louvor se consagra agora em bossa nova, em jazz, em pagode, em sertanejo e em samba, sob o olhar atento de orientadores com ouvidos atilados. Entre melismas refinados, compreensão teatral do espaço de palco, compreensão do valor da banda e dos arranjos enquanto moldura e, aos poucos, a noção de que mesmo Deus plasma-se em espetáculo. Referências BENJAMIM, C. D. Louvor, comércio ou ministério? Recife: Speedgraf, 2001. CLAVAL, P. A. Geografia Cultural. Tradução: Luiz Fugazzola Pimenta; Margareth Afeche Pimenta. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1999. DAMATTA, R. A Casa e a Rua: Espaço, Cidadania, Mulher e Morte no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1987. GONÇALVES, R. B; PEDRA, G. M. 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Título do Evento: 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora: Even3
Meio de Divulgação: Meio Digital
DOI

Como citar

FILHO, Wilson Madeira; PIMENTEL, Ivan Ignácio. “AGRADEÇO, EM PRIMEIRO LUGAR, A DEUS”: THE VOICE KIDS E A IGREJA COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO MUSICAL NO BRASIL.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/438686-AGRADECO-EM-PRIMEIRO-LUGAR-A-DEUS--THE-VOICE-KIDS-E-A-IGREJA-COMO-ESPACO-DE-FORMACAO-MUSICAL-NO-BRASIL. Acesso em: 22/05/2025