OS SENTIDOS DO TRABALHO INFORMAL PARA MULHERES NA CIDADE DE PELOTAS/RS E A PANDEMIA DA COVID-19

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
OS SENTIDOS DO TRABALHO INFORMAL PARA MULHERES NA CIDADE DE PELOTAS/RS E A PANDEMIA DA COVID-19
Autores
  • Gabriela Pecantet Siqueira
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 24 - "Eu só vou [trabalhar] se o salário aumentar": mas cadê o emprego? Perspectivas e desafios do trabalho no Brasil contemporâneo
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/438176-os-sentidos-do-trabalho-informal-para-mulheres-na-cidade-de-pelotasrs-e-a-pandemia-da-covid-19
ISSN
Palavras-Chave
sentido do trabalho; trabalhadoras informais; Bernard Lahire
Resumo
Introdução O aparecimento de um novo coronavírus (SARS-CoV-2), nunca identificado até então em seres humanos, ao se espalhar rapidamente pelo mundo desencadeando a pandemia da COVID-19 em 2020, fez o Brasil mergulhar em um mar de incertezas que somam-se a instabilidades que vão além das questões relacionadas à saúde, atingindo o contexto econômico, político, trabalhista. As transformações, ainda em curso, modificam as formas de viver e as dinâmicas da vida em sociedade. A partir de então, experienciar a informalidade no mundo do trabalho já não pode ser considerada como antes, pois o “novo normal” afeta profundamente trabalhadores e trabalhadoras, que já enfrentavam, com as mudanças legislativas - como a emenda constitucional do teto de gastos, as Reformas Trabalhista e da Previdência -, um enfraquecimento no que tange a proteção de direitos. Neste quadro, o lugar da mulher no sistema capitalista contemporâneo é colocado ainda mais em xeque. Constituindo maioria em trabalhos informais, as mulheres têm suas trajetórias laborais afetadas, além das várias implicações particulares em suas vidas, que variam conforme marcadores sociais da diferença. Deste modo, esta pesquisa, em desenvolvimento, visa compreender, por uma perspectiva diacrônica, os sentidos do trabalho informal construídos na trajetória de mulheres na cidade de Pelotas/RS, considerando os impactos da pandemia da COVID-19. Para isso, me apoiarei na perspectiva da construção do sentido do trabalho pelo viés da centralidade (TOLFO; PICCININI, 2007) e na sociologia à escala individual de Bernard Lahire (2017), que possibilita compreender e mapear princípios que influenciam na constituição dos sentidos pelas trabalhadoras através de suas experiências, suas práticas (LAHIRE, 2017, p. 359) e disposições incorporadas ao longo de suas trajetórias em diferentes contextos de suas vidas. O planejamento metodológico desta pesquisa tem cunho qualitativo e se centra nas narrativas de mulheres, que estão ou estiveram em algum momento no contexto da pandemia da COVID-19, trabalhando informalmente na cidade de Pelotas/RS. O procedimento adotado para acessar as narrativas é a entrevista em profundidade ou entrevista narrativa (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2019), pois para além do esquema de pergunta-resposta, permite que as entrevistadas tenham liberdade para se expressar e narrar suas experiências sob seus pontos de vista, organizando verbalmente os acontecimento ou experiências de vida conforme tecem os sentidos sobre si mesmas, o que possibilita alcançar e aprofundar as inteligibilidades sobre o que acontece na vida social. Além de permitir contrastar diferentes perspectivas sobre um mesmo fenômeno. 1. Fundamentação teórica Os significados e os sentidos do trabalho são objeto de estudo na Sociologia do Trabalho desde os anos 1970 e 1980, nos quais as principais variáveis adotadas nas pesquisas no Brasil são a centralidade do trabalho, que partem do grau de importância que trabalho ocupa na vida das pessoas; as normas sociais do trabalho, que estudam as normas sociais relativas aos aspectos éticos, recompensas e direitos e deveres relacionados ao trabalho; e os resultados valorizados do trabalho, que visam investigar os motivos que a levam a trabalhar (TOLFO; PICCININI, 2007). Tolfo e Piccinini (2007) destacam estudos que revelam um papel central do trabalho para trabalhadoras e trabalhadores, tanto para quem exerce atividades ou funções intelectualizadas como para quem realiza atividades que exijam algum tipo de esforço físico. Além disso, as autoras compreendem que os sentidos associados ao trabalho estão intimamente vinculados à uma perspectiva estrutural e coletiva, mas também carregam um sentido pessoal e individual. São fruto de construções sociais, mas que dependem da realidade concreta, influenciados pelo contexto no qual as pessoas estão inseridas. Assim, existe uma representação social do trabalho para as pessoas, seja esse significado “individual (a identificação do seu trabalho no resultado da tarefa), para o grupo (o sentimento de pertença a uma classe unida pela execução de um mesmo trabalho), ou social (o sentimento de executar um trabalho que contribua para o todo, a sociedade)” (TOLFO; PICCININI, 2007, p.40). Neste sentido, a análise sociológica à escala individual proposta por Bernard Lahire permite levantar informações detalhadas sobre o impacto das experiências nas trajetórias de indivíduos singulares. Lahire se insere na tradição disposicionalista, com base em Pierre Bourdieu, considerando o passado incorporado pelos atores para analisar as práticas e os comportamentos sociais. A metodologia disposicionalista do autor possibilita uma aproximação a heterogeneidade dos patrimônios individuais de disposições das pessoas - por vezes contraditórias entre si - podendo ser acionadas ou não em determinados contextos de ação, além de serem catalisadoras na formação de sentidos. Assim, a construção de sentidos acerca da informalidade para as mulheres na cidade de Pelotas/RS que pretendo analisar neste estudo advém das experiências de socialização anteriores e das distintas disposições acumuladas ao longo de suas trajetórias de vida. 2. Resultados alcançados A escolha das trabalhadoras para a realização das entrevistas seguiu como critério a diversidade - tanto em relação aos marcadores sociais da diferença quanto às atividades desenvolvidas - tendo em vista que o estudo persegue como uma das hipóteses que a partir de uma multiplicidade de trajetórias e experiências anteriores destas mulheres,surjam variações importantes na atribuição de sentido à informalidade. Outra hipótese levantada aqui é que exista uma construção de sentido diferente em relação ao trabalho formal e ao trabalho informal, mas que devido a pandemia da COVID-19 tenham sido afetadas de alguma forma. Para tal, articulei diferentes redes de contatos, primeiro através dos meus contatos pessoais e para ampliar as possibilidades de alcançar uma diversidade maior (mulheres pertencentes a diferentes classes sociais, por exemplo), busquei contatar com trabalhadoras através de mídias sociais, com a aplicação de questionários via Google Forms. Além disso, também apliquei a técnica Bola de Neve ou Snowball como forma de construir uma cadeia de interlocuções. As entrevistas foram realizadas a partir dos seguintes blocos temáticos: vida escolar, experiências de trabalho (incluindo trabalho formal e informal), trajetória laboral familiar e impactos da pandemia no trabalho. Para cada bloco elaborei uma pergunta gerativa a fim de contemplar a problemática de pesquisa formulada, objetivo geral e objetivos específicos. Além disso, diante do atual contexto de pandemia, visando manter o distanciamento social, realizei as entrevistas através da plataforma Webconf, serviço de webconferências UFPel. Até o presente momento realizei cinco entrevistas, que tiveram uma duração que varia de quarenta e cinco minutos (a mais curta) a duas horas e meia (a mais longa). As perguntas gerativas tem, no geral, suscitado narrativas. Com as primeiras aproximações com o campo de pesquisa e com a realização das primeiras entrevistas foi possível perceber, neste primeiro momento, a presença de duas dimensões importantes para a análise das narrativas. A primeira trata da dimensão social, destacando-se a subdimensão familiar. A segunda dimensão é a individual, sendo a subdimensão afetiva e axiológica a mais destacada nas falas, com associação do valor atribuído ao trabalho fortemente relacionado à família, principalmente à figura de alguma mulher, como a mãe, avó ou tia. Outra dimensão importante, porém nem sempre mencionada, é a da importância da realização de determinada atividade ou do trabalho em si. Além disso, todas revelaram que tiveram algum impacto decorrente da pandemia na sua trajetória laboral, seja no modo de realização, na remuneração ou, em alguns dos casos, com mudanças nestes dois aspectos. Conclusões Apesar da pesquisa estar em andamento, a partir das entrevistas já realizadas e de uma análise parcial dos dados coletados, as narrativas indicam que as hipóteses levantadas podem ser parcialmente confirmadas. Apesar das diferentes trajetórias, contextos sociais, marcadores sociais da diferença, existem vários momentos narrativos comuns, como a associação da importância do trabalho em suas vidas ou da realização de alguma atividade específica à alguma figura feminina da sua família. No que tange a atribuição de diferentes sentidos ao trabalho formal e informal, por ora, não foi verificado. Referências bibliográficas JOVCHELOVITCH, Sandra; BAUER, Martin. W. Entrevista narrativa. In.: Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. BAUER, Martin. W.; GASKELL, George. 13 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019. LAHIRE, Bernard. Aprimoramentos sobre a maneira sociológica de tratar o "sentido". P. 353-371. In.: VISSER, Ricardo; JUNQUEIRA, Lília (Orgs.). Dossiê Bernard Lahire. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2017. TOLFO, Suzana R.PICCININI, Valmíria. Sentidos e significados do trabalho: explorando conceitos, variáveis e estudos empíricos brasileiros. Psicologia e Sociologia; 19, Edição Especial 1, p. 38-46, 2007.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SIQUEIRA, Gabriela Pecantet. OS SENTIDOS DO TRABALHO INFORMAL PARA MULHERES NA CIDADE DE PELOTAS/RS E A PANDEMIA DA COVID-19.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/438176-OS-SENTIDOS-DO-TRABALHO-INFORMAL-PARA-MULHERES-NA-CIDADE-DE-PELOTASRS-E-A-PANDEMIA-DA-COVID-19. Acesso em: 07/06/2025

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