ORGANIZAÇÃO DE TRABALHADORES EM TEMPOS DE RECONFIGURAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
ORGANIZAÇÃO DE TRABALHADORES EM TEMPOS DE RECONFIGURAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES
Autores
  • Vanessa Silveira de Brito
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 24 - "Eu só vou [trabalhar] se o salário aumentar": mas cadê o emprego? Perspectivas e desafios do trabalho no Brasil contemporâneo
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437898-organizacao-de-trabalhadores-em-tempos-de-reconfiguracao-do-mundo-do-trabalho--desafios-e-possibilidades
ISSN
Palavras-Chave
Mundo do trabalho, classe trabalhadora, organização coletiva de trabalhadores.
Resumo
Introdução O mundo do trabalho e dos trabalhadores vem sofrendo alterações significativas em escala global e no Brasil, especialmente após a década de 1990, com o avanço do neoliberalismo, o desmonte dos sistemas estatais e a perda de direitos historicamente conquistados através das lutas da classe trabalhadora. Tendo em vista que as transformações ocorridas no interior da dinâmica da acumulação capitalista acabaram por afetar a composição da força de trabalho (incluindo o surgimento de um novo proletariado de serviços, em função da expansão das empresas de tecnologia da informação e, mais recentemente, da superexploração do trabalho decorrente da prestação de serviços através das plataformas digitais) e considerando a heterogeneidade da classe trabalhadora, questionamos se as reconfigurações do mundo do trabalho afetam as relações trabalhistas e outros aspectos da vida dos trabalhadores. Neste sentido, temos como objetivo neste estudo de revisão bibliográfica analisar os impactos das reconfigurações do mundo do trabalho para a organização coletiva de trabalhadores, apresentando os seus desafios e possibilidades no cenário contemporâneo brasileiro. 1. Fundamentação Teórica O estudo utiliza o aporte teórico marxista, trazendo autores que trazem a concepção de luta de classes para entender o modo de produção capitalista e os seus efeitos para a classe trabalhadora e para a sua capacidade de organização coletiva. Referimo-nos a classe trabalhadora como categoria teórica de referencial marxista (denominada também de classe operária) no âmbito da sociedade capitalista e como esta se apresenta no cenário brasileiro. 2. Resultados Alcançados Esta seção trata da categoria trabalho no cenário contemporâneo brasileiro, mencionando as transformações ocorridas nos processos produtivos. Além disso, analisamos os possíveis desdobramentos destas reconfigurações do mundo do trabalho em escala global e nacional, tratando especificamente dos impactos para o conjunto de trabalhadores, com destaque para as possibilidades de resistência e de organização coletiva no seio da sociedade capitalista. Antunes (2011) cunhou o termo classe que vive do trabalho para se referir ao conjunto amplo de trabalhadores, incluindo a totalidade daqueles que vendem a sua força de trabalho em troca de salário e a diversidade de vínculos precarizados que surgiram em decorrência da expansão do mundo do capital, considerando que a dinâmica do padrão de acumulação capitalista está apoiada no processo de superexploração da força de trabalho. E, neste sentido, afirma que: “compreender a classe trabalhadora hoje, de modo abrangente, implica entender esse conjunto heterogêneo, ampliado, complexo e fragmentado de seres sociais que vivem da venda da sua força de trabalho, que são assalariados e desprovidos dos meios de produção” (ANTUNES, 2011, p. 91). Ademais, o autor analisa como fundamental a compreensão sobre a nova morfologia do trabalho e do proletariado, bem como acerca de suas rebeldias e resistências, a fim de que tenhamos possibilidades de apreensão das complexas, contraditórias e múltiplas lutas anticapitalistas contemporâneas. Assim, para tratar dos impactos das transformações no mundo do trabalho para o movimento de trabalhadores e organizações sindicais no cenário contemporâneo, contextualizamos as mudanças ocorridas na sociedade capitalista, especialmente a partir da década de 1980, que inclui os processos de reestruturação produtiva. Aqui, cabe destacar que o capitalismo exerce formas diversas de dominação tendo como base a exploração da força de trabalho e, ao longo do tempo, se reorganiza e se apresenta de diferentes maneiras, tais como o modelo do fordismo nos séculos XIX e XX e do toyotismo, nos meados do século XX. Ambos os modelos representaram novos processos de reestruturação produtiva que estão relacionados às mudanças profundas no mundo do trabalho e dos trabalhadores. Nos últimos anos da década de 1980 e na década seguinte nota-se o avanço do neoliberalismo no Brasil, com o aumento da presença do capital estrangeiro. Contudo, em 1988, no auge do processo de redemocratização do país é promulgada a nova constituinte que, por estabelecer direitos sociais, ficou conhecida como a constituição cidadã. Entendemos que a nova constituinte, de certa forma, entra em conflito com as perspectivas neoliberais. Nesta perspectiva, Antunes (2011) analisa que, no decorrer da década de 1980 (e também no cenário contemporâneo) observamos uma redução dos movimentos grevistas, talvez em função da dificuldade dos sindicatos em aglutinar trabalhadores terceirizados ao movimento – o que resultaria numa diminuição da consciência de classe baseada no sentimento de pertença a determinada classe. Em relação a isso, Mota (1995) pondera que o surgimento do novo sindicalismo no cenário brasileiro inaugura a prática das negociações coletivas entre sindicatos e empresas e apresentando como uma de suas principais características a politização das demandas da classe trabalhadora. Para a autora, a emergência deste modelo de sindicalismo consolida o processo de fordicização das relações trabalhistas no país. Antunes (2018) acrescenta que o país passa por uma nova transição do capitalismo, ainda mais agressiva no que se refere à destruição dos direitos dos trabalhadores brasileiros. Como parte deste processo, observa-se a deslegitimação dos sindicatos de classe e outros veículos de reivindicação criados por trabalhadores. Ele afirma que os sindicatos vêm adotando uma postura defensiva se distanciando do sindicalismo e dos movimentos sociais, enquanto os movimentos sociais estão mais conectados com as demandas da classe trabalhadora, mas tem dificuldade de se manter ao longo do tempo. Em relação a isso, Ruy Braga (2014) afirma que os sindicatos estão enfrentando uma série de dificuldades na contemporaneidade e destaca que o fosso entre trabalhadores estáveis e os trabalhadores precarizados ocasiona a segmentação no interior da própria classe trabalhadora e acaba por enfraquecer o movimento sindical. O autor acrescenta ainda que a dificuldade dos sindicatos em aglutinar trabalhadores terceirizados ao movimento tem como efeito a redução da consciência de classe baseada no sentimento de pertença. Contudo, ao analisar os efeitos da crise da globalização nas classes subalternas, o autor observa que seus efeitos são contraditórios. A crise apresenta como tendência a ampliação do precariado – proletário precarizado, excluído do mercado formal de trabalho e tem como característica a inserção laboral em condições degradantes, transitando entre a formalidade e a informalidade e com acesso frágil aos direitos trabalhistas – e a perda de negociação da classe trabalhadora. Em contrapartida, o cenário de destituição de direitos também possibilita a aproximação das classes, favorecendo o surgimento de um proletariado global. Sendo assim, apesar do cenário desfavorável de alijamento de direitos trabalhistas, observam-se possibilidades de resistência. Contribuindo para o debate, Antunes (2012) afirma que o processo de reestruturação produtiva, em função de suas características já mencionadas, dificulta os laços de solidariedade de classe, reforçando a flexibilização e a precarização do trabalho. Em contrapartida, o movimento de resistência a partir da organização coletiva colabora para a construção da identidade de classe, tão necessária em tempos de fragilidade das relações trabalhistas. Neste sentido, destacamos que o trabalho se configura como campo privilegiado para a construção de identidades sociais e os espaços de organização coletiva colaboram para o fortalecimento da classe trabalhadora e do sentimento de pertença a determinado grupo e/ou classe social. Considerações Finais A partir do estudo realizado e considerando a heterogeneidade da classe trabalhadora, ponderamos que as reconfigurações do mundo do trabalho impactam nas relações trabalhistas e na sua capacidade de organização coletiva, atingindo diretamente as representações politicas e sindicais dos trabalhadores, principalmente nos países capitalistas. As transformações vêm ganhando espaço no mundo globalizado, impactando o cenário brasileiro, com as suas especificidades. Para destacar as mudanças significativas para a classe operária, citamos o aumento da terceirização, da desregulamentação dos direitos trabalhistas e o enfraquecimento dos sindicatos. Os efeitos destas transformações na capacidade de organização coletiva da classe trabalhadora nos leva a pensar na necessidade de desenvolvimento de instrumentos que possibilitem a coesão social e a construção de identidades de classe, visando à transformação social. Referências Bibliográficas ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 2011. ANTUNES, Ricardo. A nova morfologia do trabalho no Brasil. Nueva Sociedad, junho de 2012. ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018. BRAGA, Ruy. Precariado e Sindicalismo no Sul Global. Revista Outubro, 22, 2º semestre de 2014. MOTA, Ana Elizabete. Cultura da crise e seguridade social: um estudo sobre as tendências da previdência e da assistência social brasileira nos anos 80 e 90. São Paulo: Cortez, 1995.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

BRITO, Vanessa Silveira de. ORGANIZAÇÃO DE TRABALHADORES EM TEMPOS DE RECONFIGURAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437898-ORGANIZACAO-DE-TRABALHADORES-EM-TEMPOS-DE-RECONFIGURACAO-DO-MUNDO-DO-TRABALHO--DESAFIOS-E-POSSIBILIDADES. Acesso em: 12/06/2025

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