BOI PINTADINHO, BOI MALHADINHO E BOI DE SAMBA: EXPRESSÕES DO PATRIMÔNIO IMATERIAL DO NORTE FLUMINENSE

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
BOI PINTADINHO, BOI MALHADINHO E BOI DE SAMBA: EXPRESSÕES DO PATRIMÔNIO IMATERIAL DO NORTE FLUMINENSE
Autores
  • WILSON DOS SANTOS SOUZA
  • Giovane do Nascimento
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 35 - Cultura e Desenvolvimento
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437884-boi-pintadinho-boi-malhadinho-e-boi-de-samba---expressoes-do-patrimonio-imaterial-do-norte-fluminense
ISSN
Palavras-Chave
Patrimônio imaterial; políticas culturais; interculturalidade; música
Resumo
BOI PINTADINHO, BOI MALHADINHO E BOI DE SAMBA: EXPRESSÕES DO PATRIMÔNIO IMATERIAL DO NORTE FLUMINENSE Wilson dos Santos Souza Doutorando do Programa de Políticas Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF wilsonreg53@gmail.com Giovane do Nascimento Doutorado em Políticas Públicas e Formação Humana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil(2010) giovane@uenf.br Introdução . O presente trabalho consiste em um projeto de Doutorado, cuja pesquisa está em processo de construção, na qual se pretende apresentar uma possibilidade de desvelamento das práticas culturais do “boi” no Norte Fluminense, de forma específica, nos municípios Macaé, Quissamã e Campos dos Goytacazes, colocando em destaque os aspectos musicais. Como metodologia, destacamos que se trata de pesquisa qualitativa, etnográfica, no sentido da “descrição densa”, utilizando-se de técnicas, processos e instrumentos da Etnomusicologia, considerando a “bimusicalidade”, no âmbito da observação participante, que consiste na aprendizagem de instrumento musical por parte do pesquisador junto aos interlocutores/músicos. O objetivo geral é investigar as expressões culturais de Bois Pintadinhos, Malhadinhos e Boi de Samba principalmente no que ser refere às práticas musicais intrínsecas a essa manifestação. Como objetivos específicos buscamos: descrever semelhanças e diferenças das práticas musicais nas diversas configurações de bois nos três municípios, bem como as formas de transmissão de saberes nos diversos grupos; transcrever em forma de partitura o repertório dos grupo/coletivos de bois, de modo a destacar as peculiaridades estilísticas de cada um; explicitar as políticas culturais de proteção e/ou patrimonialização; discorrer sobre os processos de construção e composição dos bois e mapear os grupos existentes. 1. Fundamentação teórica Os “Bois”, tais quais se apresentam na região, correspondem a um artefato em forma de boi, conduzido internamente por um dançador, que se movimenta ao som de canto e percussão. É uma prática cultural presente de norte a sul do território brasileiro, com diferentes configurações de região para região. Em trabalhos anteriores nossos, pudemos discorrer de forma exploratória sobre os mais diversos aspectos atinentes à cultura dos Bois Pintadinhos no município de Macaé (SOUZA, 2020), dando ênfase às questões ligadas práticas musicais. A expressão do Boi nesses três municípios aponta, portanto, que são diferentes tradições unidas musicalmente por uma mesma raiz rítmica, o samba, que nasceu afro-brasileiro e tem na sincopação uma de suas características mais marcantes. Makl (2011) chamou atenção para as políticas de síncope e táticas de dupla voz, como um elemento de resistência do negro na diáspora. Segundo Sodré (1998), é na hibridação melódica europeia com a síncope negra que o samba vai se estruturar. A estrutura musical da música na diáspora africana reúne alguns elementos estruturantes, como a síncope, a antífona e chamada-e-resposta, a improvisação, polirritmia e tempo/movimento espiralar (GILROY; MAKL). No Brasil, essa estrutura está presente, com suas peculiaridades, nas várias expressões de músicas afro-brasileiras, dentre as quais pode-se destacar: os vários tipos de samba, o maracatu, coco, afoxé, ijexá, jongo, congada, candombe de Minas, tambor de crioula, entre tantos outros. A presença da dança é outro fator essencial: música e dança são indissolúveis. As práticas musicais afro-diaspóricas, além dos elementos supracitados, possuem formas de organização em performance que se constituem como contra hegemônicas ao projeto de “modernidade musical”, os que lhes confere uma força política de resistência (SODRÉ, 1998; MAKL, 2011). Neste sentido, o presente projeto se apresenta também em uma perspectiva decolonial e intercultural crítica, cujo escopo vai muito além do reconhecimento da diversidade cultura e da inclusão de culturas tradicionais invisibilizadas no sistema capitalista. Ao contrário, “Como processo e projeto, a interculturalidade crítica, [...] questiona profundamente a lógica irracional instrumental do capitalismo”, e aponta para “a construção de sociedades diferentes [...], a outro ordenamento social” (WALSH, 2012, p. 65. Tradução nossa). Consideramos importante, a partir disso, investigar também as ações concretas de proteção e salvaguarda para as expressões culturais acima, bem como compreender as leis municipais existentes para isso e verificar se as mesmas, de fato, encontram ressonância nas políticas culturais locais. Se a interculturalidade questiona e se insurge contra as assimetrias impostas por uma cultura excludente e elitista, é necessário verificar se as ações do poder público caminham ou não nesta direção. 2. Resultados alcançados Como se trata de uma pesquisa em andamento, não temos condições de enumerar quais os resultados alcançados. Em pesquisa nossa anterior, foi possível entabular alguns resultados relativos à música, ao desenvolvimento das práticas de confecção, aos cortejos de bois, à importância de que práticas educativas em espaços formais possam dialogar com aquelas produzidas em espaços informais dos Bois Pintadinhos de Macaé. De fato, verificamos a presença dos Bois em uma escola do Ensino Fundamental, e verificamos que esta presença está para além de um simples evento performativo. Ao contrário, constitui, de fato, uma prática intercultural. Podemos, por ora, apontar alguns resultados esperados: poder estabelecer uma análise comparada das práticas musicais dos Bois em Macaé, Quissamã e Campos dos Goytacazes, partindo da hipótese que o samba é o fio condutor, guardando sotaques específicos em cada localidade; obter um retrato das políticas culturais da região em relação aos Bois e se elas resultam em ações concretas de apoio à sua continuidade e se, em algum nível, tais políticas alteram (ou alteraram), de alguma forma, as configurações das práticas culturais analizadas. Conclusões O Norte-Fluminense é uma região rica em expressões culturais afro-diaspóricas. Nestas terras, secularmente ligadas à economia agrária, sobretudo ao ciclo do açúcar, utilizou-se amplamente da mão-de-obra escrava na geração de riqueza. Campos dos Goytacazes foi o último município fluminense a abolir a escravidão. Denúncias de pessoas em situação de vida análoga à escravidão não são raras. Conhecer as práticas culturais dos “bois” no Norte Fluminense nos leva a compreender o que essas culturas ensejam de resistência à opressão e como os saberes e viveres intrínsecos a elas, uma vez desvelados, podem contribuir para uma sociedade intercultural. Referências bibliográficas GILROY, Paul. “Jóias trazidas da servidão”: música negra e a política da autenticidade. In: O Atlântico Negro: Modernidade e dupla consciência. 1. ed. São Paulo: 34, 2001. p. 157-221. MAKL, Luis Ferreira. Artes musicais na diáspora africana: improvisação, chamada-e-resposta e tempo espiralar. Outra travessia, Florianópolis, n. 11, p. 55-70, jan. 2011. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/Outra/article/view/2176-8552.2011n11p55. Acesso em: 20 nov. 2019. SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. Rio de Janeiro: Mauad X, 2015. SOUZA, Wilson dos Santos. Parem o trânsito que o boi vai passar: Etnografia dos Bois Pintadinhos no município de Macaé - RJ. Orientador: Giovane do Nascimento. 2020. 131 p. Dissertação (Mestrado em Políticas Sociais) - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes - RJ, 2020. WALSH, Catherine. Interculturalidad y (de)colonialidad: Perspectivas críticas y políticas. Visão Global, [s. l.], v. 15, n. 1-2, p. 61-74, jan./dez 2012. Disponível em: https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/visaoglobal/issue/view/123. Acesso em: 14 nov. 2020.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SOUZA, WILSON DOS SANTOS; NASCIMENTO, Giovane do. BOI PINTADINHO, BOI MALHADINHO E BOI DE SAMBA: EXPRESSÕES DO PATRIMÔNIO IMATERIAL DO NORTE FLUMINENSE.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437884-BOI-PINTADINHO-BOI-MALHADINHO-E-BOI-DE-SAMBA---EXPRESSOES-DO-PATRIMONIO-IMATERIAL-DO-NORTE-FLUMINENSE. Acesso em: 04/07/2025

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