Título do Trabalho
ALMA, AMOR E ARTE NA GAROTA DINAMARQUESA
Autores
  • Andréa Hamminni Pires da Silva Avila Franquetto
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 22 - Estudos de gênero, feminismos e interdisciplinaridade.
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437874-alma-amor-e-arte-na-garota-dinamarquesa
ISSN
Palavras-Chave
Gênero, cultura, cinema, A Garota Dinamarquesa, Lili Elbe.
Resumo
INTRODUÇÃO Este artigo realiza uma discussão teórica acerca do filme A Garota Dinamarquesa (2015), busquei analisar como as questões de gênero, relacionamentos e cultura foram abordadas na cinematografia. Argumentei, nas intimidades de Lili Elbe, através dos materiais escolhidos, para tal, na tentativa de realizar uma análise mais íntima sobre a personagem. Além disso, cabe questionarmos a existência de respeito às diferenças quando percebemos que muito da nossa cultura ocidental, ainda, encontra-se imersa em seus complexos e projeções, mantendo-se ignorantes da sua própria identidade e pouco sabendo a respeito do seu próprio gênero. Encobertos em seus véus de maia, ignorando que nascemos tanto com características femininas e masculinas (homem/mulher), ou, para além, o psiquiatra Carl Gustav Jung no seu renomado “Livro Vermelho”, menciona que “a pessoa masculina e feminina, não é só homem ou só mulher. Nossa alma não sabe dizer de que gênero ela é. Essas são questões que apreciamos ao ler a obra de Jung e pós junguianos. Os arquétipos da Anima e do Animus, norteiam eternamente a nossa existência. Para a pesquisa acerca de Lili Elbe, me embasei em materiais tais como: A Garota Dinamarques, filme de 2015, pinturas de Gerda Gottlieb, ex-esposa de Lili, fotografias e o livro “Man Into Woman: A Comparative Scholarly Edition”. Outrossim, para um estudo mais profundo, me apoiei em artigos que abordam questões de corpo, gênero e identidade e em conceitos do psiquiatra Carl Gustav Jung. 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Este artigo teve como objetivo analisar aspectos que tivessem alguma ligação ao psicológico das artistas. Para tanto, teve-se como fundamentação teórica, temas desenvolvidos pelo psiquiatra suíço, Carl Gustav Jung. Utilizo de conceitos como o arquétipo da anima, complexo do ego, teoria dos complexos e arquétipos que tangem o feminino, ao penetrar o íntimo sobre Lili Elbe. A respeito de Gerda Wegener, abordarei o arquétipo da grande mãe e traços marcantes de um Animus que se manifesta na artista, em seu comportamento, forte e determinado, para além dos padrões do seu tempo. Todos esses temas fazem parte das obras de Jung. A análise a partir de elementos do diário de Lili Elbe, que foi utilizado no recorte do filme A Garota Dinamarquesa. Nesta forma de escrita de si, integra-se a discussão no âmbito da análise da arte. Assim como, para um estudo mais profundo do diário de Lili Elbe, utilizou-se de conceitos do autor Maurice Blanchot. O diário íntimo, que parece tão livre de forma, tão dócil aos movimentos da vida e capaz de todas as liberdades, já que pensamentos, sonhos, ficções, comentários de si mesmo, acontecimentos importantes, insignificantes, tudo lhe convém, na ordem e na desordem que se quiser, é submetido a uma cláusula aparentemente leve, mas perigosa: deve respeitar o calendário. Esse é o pacto que ele assina (BLANCHOT, 1959/2005, p. 270). Dessa forma, para a escrita de um diário, de acordo com o autor faz-se preciso identificar em que dia tal escrita foi realizada, contando com uma certa periodicidade. Os diários, assim como as cartas de Elbe possuem esta configuração e desta maneira, por conta de detalhes como data, conseguimos nos aprofundar mais neles. 2. ALMA, AMOR E ARTE NA GAROTA DINAMARQUESA A garota dinamarquesa, apresenta ao espectador Einar Wegener, um famoso pintor dinamarques do ano de 1928 que apoia a sua esposa, Gerda Wegener, a ser pintora como ele, ele a apoia e incentiva. Porém sua esposa não consegue expressar totalmente o que ela sente na pintura. Em determinada ocasião, ela decide fazer o retrato de uma bailarina com vestido longo. Entretanto, a modelo não comparece para ser retratada e a pintora decide pedir a ajuda do seu marido para fazer a pose para que ela consiga fazer o retrato. Naquele momento, Einar aparenta estar desconfortável, mas é perceptível que esse momento provoca a ascensão de uma faísca interna no personagem e um brilho diferente no olhar. Logo após essa cena, uma amiga do casal entra no estúdio com um buquê de lírios, ela sorrindo diz para o Einar que seu nome agora seria Lily (Lírio em inglês). Um acontecimento posterior a este foi a presença de Einar, como Lili, em um evento. Lili foi apresentada como uma prima de Einar. Entretanto, não é a partir deste momento que Lili é considerada como transgênero. Segundo Arán, podemos definir a transexualidade como o “sentimento intenso de não pertencimento ao sexo anatômico, sem a manifestação de distúrbios delirantes e sem bases orgânicas (como o hermafroditismo ou qualquer outra anomalia endócrina)” (ARÁN, 2006, p. 50). Com isso, infere-se que este acontecimento foi um gancho que a personagem precisava, um despertar para algo que já era inerente a ela, a sua sexualidade. Além disso, é válido pontuar que não foi o pedido de sua mulher que fez com que Einar “alterar” o seu sexo, mas sim um sentimento interno em seu ser. Mesmo após a separação do casamento entre os personagens e ressigificação do sexo de Lili, ela e Gerda mativeram-se unidas, como amigas. Gerda passa a levar Lili em médicos, ajuda com a situação da ressiginificação de sexo, demonstrando seu amor incondicional pela personagem, podemos identificar nesta relação o Complexo da Grande Mãe. Samuels (1989) nos explica que estar inserido no domínio da Grande Mãe, mesmo depois de adulto, traz “o agradável e liberador sentimento de não ter responsabilidades.” (SAMUELS, 1989, p.94) Gerda possui um amor, cuidado muito especial por Lili, até mesmo após a separação e cirurgia de ressiginificação, ela continua nutrindo uma amizade e amor incondicional pela amiga. Os arquétipos, sob uma visão de Jacobi (2016), representam um profundo enigma que ultrapassa nossa capacidade de apreensão racional. Na interpretação de Jacob, Jung entende que um conteúdo arquetípico sempre expressa uma metáfora. Jacobi considera que o arquétipo: contém sempre algo que permanece desconhecido e informulável. Por isso, toda a interpretação, necessariamente, não poderá ir além do “como se...” Não se pode diretamente responder de onde vem o arquétipo se ele foi adquirido ou não (JACOBI, 2016 p.43). Sob esse prisma, além do arquétipo da Grande Mãe, podemos encontrar no filme conceitos que circundam o arquétipo da anima, complexo do ego, e os complexos e arquétipos do feminino ao penetrarmos à intimidade de Lili Elbe. Jung apresenta-nos uma definição valiosa para este estudo. Para ele: Os arquétipos são, por definição, fatores e temas que ordenam elementos psíquicos, formando determinadas imagens (a ser designadas como arquetípicas) mas de uma maneira que só podem ser reconhecidos pelos efeitos que produzem. Eles existem pré-consciente e, supostamente, formam os dominantes estruturais da psique em geral [...]. (JACOBI, 2016, p.44). A cultura do século passado, momento vivido por Lili, e até mesmo hodiernamente, acredita em causas, e em uma concepção de normalidade. Uma pessoa transexual, pode se importar por anos para descobrir porque ela é assim, e até procurar por médicos e psiquiatras, como a própria personagem no filme o fez, para tentar “consertá-la”. Entretanto, a solução para este problema está ao entender que ninguém pode curá-los a não serem eles próprios, e que a aceitação do seu eu interno é a saída que trará regozijo para a alma. Pollack (1995) sugere que “quando a imagem muda, o corpo muda”. Com isso, podemos inferir que quando Einar muda seu corpo, ela (Lili) vê nesta mudança um caminho para o preenchimento de uma imagem interna do seu Self. CONCLUSÃO Pollack (1995) sugere que “quando a imagem muda, o corpo muda”. Com isso, podemos inferir que quando Einar muda seu corpo, ela (Lili) vê nesta mudança um caminho para o preenchimento de uma imagem interna do seu Self. A realização de diferentes leituras de uma mesma obra favorece a elaboração de perspectivas, conjecturas, amplia a capacidade de empatia e escuta. A literatura, a história e a psicologia têm, juntas, mais similaridades do que divergências, sobretudo quando “observamos” os produtores de seus conteúdos: literatos, historiadores, artistas e psicólogos. Todos, absolutamente todos, artífices de um mesmo ofício. Esta reflexão não encerra, certamente, as leituras possíveis dos objetos discursivos apresentados, mas apresentam luz e caminhos interdisciplinares da arte, das letras e da psicologia analítica de Jung. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: A GAROTA DINAMARQUESA. Direção de Tom Hooper. Estados Unidos: Universal Pictures, Distribuidor, 2015. 1 DVD (120 minutos): son., color. Legendado, português. ARÁN, M. A transexualidade e a gramática normativa do sistema sexo-gênero. Ágora, 2006. AUMONT, Jacques e MARIE, Michel. A Análise do Filme. Tradução de Marcelo Felix. Rio de Janeiro: Texto e Grafia. 2010 BLANCHOT, M. (1959). O diário íntimo e a narrativa. In: BLANCHOT, M. O livro por vir. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 270-278. JACOBI, J. Complexo, arquétipo e símbolo na psicologia de C.G. Jung / Jolande Jacobi; com prefácio de C.G. Jung e 5 ilustrações; tradução de Milton Camargo Mota. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2016. – (Coleção Reflexões Junguianas). JUNG. C. G. Arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes. (Originalmente publicado em 1951). JUNG, C. G. O livro vermelho: Liber Novus. Editado por Sonu Shamdasani. Ia reimpressão; Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. POLLACK, R. Aphrodite – transsexual goddess of passion. Spring Journal (1995), v. 57, p. 1-16.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

FRANQUETTO, Andréa Hamminni Pires da Silva Avila. ALMA, AMOR E ARTE NA GAROTA DINAMARQUESA.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437874-ALMA-AMOR-E-ARTE-NA-GAROTA-DINAMARQUESA. Acesso em: 11/05/2025

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