RELAÇÕES DE GÊNERO E A PEDAGOGIA FEMINISTA NO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA INGLESA

Publicado em 23/12/2021

DOI
10.29327/154029.10-30  
Título do Trabalho
RELAÇÕES DE GÊNERO E A PEDAGOGIA FEMINISTA NO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA INGLESA
Autores
  • Wellington Ruan Correa Oliveira
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 22 - Estudos de gênero, feminismos e interdisciplinaridade.
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437791-relacoes-de-genero-e-a-pedagogia-feminista-no-livro-didatico-de-lingua-inglesa
ISSN
Palavras-Chave
Gênero, Pedagogia Feminista, Livro Didático, Ensino de Língua Inglesa.
Resumo
Wellington Ruan Correa Oliveira Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Cidades: Territórios e Identidades pela Universidade Federal do Pará wellington_ruan07@hotmail.com Introdução No Brasil, atualmente, há um crescente número de pesquisadores/as investigando os livros didáticos de língua inglesa na área da linguística aplicada, como pontua Ferreira (2014) em seu artigo. Muitas dessas pesquisas têm apresentado como os livros didáticos são responsáveis pela produção e reprodução de estereótipos de gênero e sexualidades, com pouquíssimas representações de gênero, raça, sexo e classe social, que na sua maioria é heterossexual, branco e de classe média alta, onde homens assumem posições de destaques e mulheres são quase esquecidas, restando a cozinha e os afazeres domésticos. Além das ideologias hegemônicas responsáveis por essas representações, raramente os livros trazem consigo temas que são considerados polêmicos, ou seja, vozes subalternas, críticas e/ou radicais geralmente sofrem censuras ou são mitigadas (MC HOUL, 1986 apud DIJK, 2018). Essa prática também está presente no agir pedagógico, onde muitos/as professores/as mantém um discurso de neutralidade para alhear-se de questões sociais nas aulas de idiomas. A presente pesquisa discute questões de gênero e sexualidade, e a presença da pedagogia feminista no livro didático de língua inglesa do PNDL 2020, mais exatamente da coleção Way to English da editora ática, utilizando como metodologia a Análise Crítica do Discurso e mostrando resultados satisfatórios ao identificar uma preocupação maior em levar essas discussões para as aulas de língua inglesa através do material didático. 1. Fundamentação teórica Há um discurso muito característico em meio aos/as professores/as de inglês da Educação Básica que parece ser utilizado para adentrar em questões político-sociais, como as relações de gênero, na aula de língua estrangeira, para além de aspectos linguísticos do idioma. Contudo, segundo Moita Lopes (2002 apud SOUTO JUNIOR, 2013, p. ?) a aula de língua é um espaço privilegiado para que haja a problematização de questões de gênero e sexualidade, pois nela “os significados são negociados e as identidades (re)construídas nas interações discursivas, nas quais os sujeitos se engajam”, sendo assim, nada mais coerente do que esse privilégio ser utilizado por professores/as de forma consciente. A escola foi e continua sendo um espaço de ajustamento (LOURO, 2001), onde se define o que é considerado natural e normal. Nossas práticas pedagógicas ainda estão impregnadas por uma ideologia hegemônica que é heterossexual, masculina, branca e cristã, o que é, por vezes, visto como o padrão a ser seguido. Silva (2014, p. 83) explica que normalizar uma identidade é atribuir a ela características positivas e, consequentemente, as outras identidades só podem ser vistas como negativas, “a identidade normal é “natural”, desejável, única”, isto é, normatizar é construir e manter relações de poder. Sobre isso, Guacira Lopes Louro (2014, p. 67) pontua que “A tarefa mais urgente talvez seja exatamente essa: desconfiar do que é tomado como “natural”” e esse “natural” se refere a toda prática pedagógica que quase sempre não é problematizada por já estar internalizada como comum e corriqueira. O poder que circula em nossas práticas pedagógicas e materiais didáticos pode ser questionado; ele próprio pode provocar a resistência e o nascimento de um contrapoder (DIJK, 2018, p. 83), mas essa oposição ao poder feita por professores/as e alunos/as “requer um amplo conhecimento sobre as informações, um acesso a outras fontes de informação e uma liberdade (geralmente limitada) de desviar-se do currículo estabelecido e da tradição”, isto é, ensino exige pesquisa e estudo, e uma atitude de transgressão do currículo por parte dos professores/as. Não há como manter uma atitude neutra na educação e fingir que nossas práticas nada têm a ver com política ou com a sociedade. Freire (202, p. 109) é categórico ao dizer que lavar as mãos “em face da opressão é reforçar o poder do opressor, é optar por ele. Como posso ser neutro diante da situação, não importa qual seja ela, em que o corpo das mulheres e dos homens vira puro objeto de espoliação e de descaso?” O objetivo deste trabalho é discutir como as relações de gêneros são representadas no livro didático de língua inglesa, apontando como os/as professores/as podem utilizar o livro didático para discutir a igualdade de gênero nas aulas de língua inglesa. Como uma pesquisa qualitativa, a análise terá uma função interpretativa socioeducacional do objeto em questão, o livro didático, através da Análise Crítica do Discurso. A partir disso, explora-se o livro do 9º ano do Ensino Fundamental Way to English (PNDL), com maior foco na unidade 2, intitulado Equal rights for all, por este ser um capítulo que tem como principal temática a igualdade de gênero, apontando as ideologias por trás das atividades e textos apresentados em consonância com a pedagogia feminista. 2. Resultados alcançados Utilizou-se a Análise Crítica do Discurso (ACD) por esta ser uma abordagem crítica utilizada nas ciências sociais como um tipo de pesquisa analítica do discurso com várias abordagens que provêm de diversas disciplinas, tendo por objetivo principal estudar a maneira como o abuso, a desigualdade do poder social e a dominância são representadas, reproduzidas e resistem no texto e/ou na fala dentro de um contexto social e político (DIJK, 2001, p. 352; DIJK, 2018; 2019). Portanto, a ACD compreende que as relações de poder são discursivas e o discurso, além de constituir a estrutura social, é também constituído por ela, ou seja, é parte da sociedade e da cultura, além de ser histórico, realizar um trabalho ideológico e ser uma forma de ação social (FAIRCLOUGH; WODAK, 1997, p. 271-280 apud DIJK, 2018, p. 115) Ao abordar o livro didático, procurou-se identificar os elementos textuais e imagéticos responsáveis pela representação da pedagogia feminista por trás da discussão das desigualdades de gênero, mostrando como os gêneros são construídos e representados no material didático, apontando possíveis caminhos para trabalhar questões sociais nas aulas de língua inglesa. Identificou-se durante as análises uma grande preocupação dos autores do material didático em utilizar textos autênticos, como o discurso da atriz Emma Watson na ONU, onde ela discursa sobre questões de gênero e desigualdades, o que expõe a intenção do autor do material didático em levar essa reflexão para as aulas de inglês. É uma oportunidade de questionar práticas dos/as próprios/as alunos/as e fazê-los/las então refletirem sobre elas. Também é possível notar a provocação da reflexão sobre afazeres domésticos, um assunto já anteriormente discutido em outras pesquisas, como a de Ferreira e Araújo (2014) que notaram em sua pesquisa no livro de língua inglesa que a figura feminina ainda era representada com a dona de casa a quem cabe os serviços domésticos e o cuidado com os filhos e filhas. No recorte textual utilizado no livro em análise, é notável proposição de uma discussão que contemple as relações de gênero, problematizando o trabalho doméstico que é culturalmente visto como um trabalho para mulheres. Sobre isso, o texto deixa bem claro que os afazeres domésticos são para as pessoas que convivem no mesmo lar, independente do gênero, oportunizando aos/as alunos/as a reflexão e expressão de suas ideias, além da atividade prezar pela pluralidade de pensamentos que podem ser expostos e discutidos em sala sob a orientação do/da professor/a. Dessa forma, as atividades propostas a partir do texto demonstram uma preocupação em contrapor práticas tradicionais, o que reflete uma pedagogia feminista, que está na mesma perspectiva das pedagogias emancipatórias, isto é, “que pretendem a “conscientização”, a “libertação”, ou a “transformação” dos sujeitos e da sociedade” (LOURO, 2014, p. 118-119). De acordo com Silva (2005) a pedagogia feminista preocupa-se com o desenvolvimento de formas de ensino que refletem os valores feministas e que, dessa forma, atuem em contramão às práticas tradicionais, ou seja, que carregam valores masculinos e patriarcais. Conclusão É perceptível que houve algum avanço quanto a representação do gênero feminino nos livros didáticos de língua inglesa do PNDL 2020 quando comparados com livros de épocas anteriores, como do PNDL 2011, ano em que o livro de língua inglesa passou a fazer parte do programa ¬— e de editais posteriores: PNDL 2014 e 2017. No material didático analisado nota-se que há uma preocupação em não reproduzir estereótipos ou ideologias hegemônicas que representem a mulher em uma posição inferior ao homem, notando-se a presença da pedagogia feminista, que exige de professores e professores atitudes que vão além do mero ensino de gramática da língua estrangeira. Além disso, o material preza pelo desenvolvimento do pensamento crítico dos/das alunos/as, os/as levando, por vezes, a uma reflexão de cunho sociopolítico. Referências DIJK, Teun A. van. Discurso e Poder. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2018. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis: vozes, 2014. SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Editora Vozes, 2014. SOARES, Maria Lúcia Fabiano. O papel do autor de livro didático de língua inglesa como uma língua estrangeira: um estudo de identidade autoral. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
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Como citar

OLIVEIRA, Wellington Ruan Correa. RELAÇÕES DE GÊNERO E A PEDAGOGIA FEMINISTA NO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA INGLESA.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437791-RELACOES-DE-GENERO-E-A-PEDAGOGIA-FEMINISTA-NO-LIVRO-DIDATICO-DE-LINGUA-INGLESA. Acesso em: 11/05/2025

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