AGRICULTURA FAMILIAR EM CANAÃ DOS CARAJÁS: BREVE REFLEXÃO DA PERCEPÇÃO DE AGRICULTORES FAMILIARES SOBRE SAF

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
AGRICULTURA FAMILIAR EM CANAÃ DOS CARAJÁS: BREVE REFLEXÃO DA PERCEPÇÃO DE AGRICULTORES FAMILIARES SOBRE SAF
Autores
  • ALINI OLIVEIRA DOS SANTOS
  • Andréa Hentz de Mello
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 29 - Diálogos Interdisciplinares em Desenvolvimento e Gestão Territorial na Amazônia.
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437777-agricultura-familiar-em-canaa-dos-carajas--breve-reflexao-da-percepcao-de-agricultores-familiares-sobre-saf
ISSN
Palavras-Chave
Desenvolvimento local, sustentabilidade, sistemas produtivos
Resumo
AGRICULTURA FAMILIAR EM CANAÃ DOS CARAJÁS: BREVE REFLEXÃO DA PERCEPÇÃO DE AGRICULTORES FAMILIARES SOBRE SAF Alini Oliveira dos Santos Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas Territoriais e Sociedade da Amazônia-PDTSA - Bolsista CAPES, alinioliveira06@gmail.com Andrea Hentz de Mello Doutorado em Ciência do Solo, Professora Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, andreahentz@unifesspa.edu.br Introdução O município de Canaã dos Carajás tem passado por significativas mudanças ao longo das últimas décadas, com a implantação das atividades de mineração houve o deslocamento da dinâmica econômica do município que passou da agropecuária para a indústria extrativa mineral, se tornando um dos municípios que mais cresceu economicamente na região e alterando profundamente sua estrutura territorial (CABRAL, ENRÍQUEZ, SANTOS, 2011; CARDOSO, 2018). Além de promover a desestruturação socioeconômica do campo e da cidade e essa dinâmica intensificou os impactos ambientais, tais como, a perda substancial da cobertura vegetal. Diante disso, este trabalho tem por objetivo refletir sobre a percepção de agricultores familiares sobre a implantação de sistemas agroflorestais em uma região marcada historicamente pela implantação de assentamentos agrícolas, expansão da atividade pecuária e o desmatamento. Os resultados aqui apresentados são oriundos de pesquisa bibliográfica e de entrevistas conduzidas com dois agricultores do assentamento Nova Jerusalém, no município de Canaã dos Carajás. As entrevistas foram realizadas no dia 28 de julho de 2021, durante visita a propriedade dos agricultores, foram aplicados questionário semiestruturado e as perguntas direcionadas para a observação e diagnóstico de como os agricultores percebem os sistemas agroflorestais e o ambiente que estão inseridos (FERNANDES et al., 2004). Foi utilizado gravador, além de anotações no caderno de campo e fotografias dos estabelecimentos agrícola familiares. Foi pedido que os agricultores assinassem o termo de livre esclarecimento para a utilização de seus depoimentos. A relevância deste trabalho está na necessidade de compreender a percepção dos agricultores sobre a implantação de sistemas diversificados de produção em um município que passa por significativas transformações na economia devido a atividade de mineração. Fundamentação teórica DINÂMICA DOS SISTEMAS PRODUTIVOS EM CANAÃ DOS CARAJÁS A implantação dos grandes projetos Sudeste Paraense, contou com o apoio ao deslocamento de grupos e empresas capitalistas para a região, causando profundas mudanças no território. Entre as ações de migração estimuladas pelo Governo Federal na região sudeste paraense está a criação do Grupo Executivo de Terras do Araguaia Tocantins (GETAT) que com apoio da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) criaram o Projeto de Assentamento Carajás I, II e III, no ano de 1982, pretendendo assentar 1.551 famílias, para servir como polo agrícola para abastecer a região do Programa Grande Carajás e criou também os Centros de Desenvolvimento Regional – CEDERE (I, II e III) (CRUZ, 2015). O CEDERE II foi uma das principais áreas produtivas do Pará e tinha como principais culturas produzidas o arroz, feijão e milho. O Cedere II, em 1994, se tornaria a cidade hoje sede do município de Canaã dos Carajás, estado do Pará. As áreas destinadas a o cultivo de lavouras temporárias foram gradativamente substituídas pelo capim para a formação de pastagens (CABRAL; ENRÍQUEZ; SANTOS, 2011). No entanto, a substituição da agricultura pela pecuária leiteira resultou na intensificação dos problemas ambientais como a diminuição das florestas, agravado pela falta de tecnologias que substituíssem a pratica de corte e queima e que conservassem a qualidade do solo (CABRAL; ENRÍQUEZ; SANTOS, 2011). O fortalecimento da pecuária como principal ou única atividade, trouxe alguns problemas para os produtores com pequenas parcelas terra a pecuária leiteira não foi capaz de gerar renda suficiente para a manutenção das famílias, gerando ociosidade entre os membros da família e êxodo rural, a pecuária que antes era considerada uma atividade segura e estável para os pequenos produtores rurais de Canaã dos Carajás, aumentou o seu grau de vulnerabilidade, com poucas chances de se sustentar tanto economicamente como socialmente (CABRAL; ENRÍQUEZ; SANTOS, 2011). Resultados alcançados No assentamento Nova Jerusalém, localizado a 40 km de Canaã dos Carajás, região Sudeste Paraense, observa-se a predominância da atividade pecuária entre os agricultores. Nos estabelecimentos agrícolas dos entrevistados a principal atividade desenvolvida é a criação bovina e a renda predominantemente é originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento, dos dois entrevistados, um é beneficiária da Reforma Agrária e outro foi realocado pela Mineradora Vale. Ao descrever como era a vegetação da área no momento que chegaram na terra e se perceberam mudanças na cobertura vegetal ao longo dos anos, os agricultores afirmam: “Aqui era só mata, aqui mesmo era cerrotão e mata aqui (apontando) e aqui também. Não tinha praticamente nada. Aí primeiro foi a represa que eu fiz e depois a casa” (Agricultor familiar, 28 anos). “ (Era) Mata, só mata. Canaã dos Carajás só tinha a Emater e um hospital, era só um núcleo e depois foi crescendo. A outra (terra) era só mata, essa aqui só tinha uma abertura aqui, o resto meu marido destruiu. Sempre foi pastagem, eu até brigava com ele “daqui uns tempos nós vamos comer capim porque não tem banana, não tem mandioca, não tem fava” eu falava para ele. Mas ele foi fazendo pastagem, foi derrubando e fazendo pastagem. Aí vendia comprava uma vaquinha. Aí ele ficava mais feliz ainda, fiz um dinheirão. Comprei uma vaca” (Agricultora familiar, 57 anos). Apesar de atualmente ter como principal atividade produtiva a pecuária, a agricultora afirma que gostaria de implantar um sistema agroflorestal em sua propriedade, sendo seu maior interesse diversificar a produção na sua propriedade: “Com certeza (tem interesse em implantar SAF). Eu vejo na tv. Você ver lá não é como você ter. A gente tem aqui o quintal produtivo, a gente já colheu banana, limão, laranja. E uma coisa que a gente não tinha, a banana de fritar, você entrando no projeto a gente foi contemplado. Então é pra gente ter em casa, pro consumo. Se você vê o tanto de maracujá que eu já colhi aqui, você não vai lá no mercado e comprar de cinco reais o quilo, né? Você vai ali e pega. A gente visou de ter em casa, não é preciso ir no supermercado” (Agricultora familiar, 57 anos). O sistema agroflorestal (SAF) têm se destacado como forma racional do uso e manejo dos recursos naturais, sendo constantemente apontados a utilização de SAF como alternativa sustentável para agricultores familiares pois além de potencializar os sistemas produtivos garante a soberania alimentar por meio da diversificação da produção, sendo um meio capaz de sustentar o processo de transição agroecológica (OLIVEIRA et al., 2010). A implantação deste sistema é frequentemente direcionada para locais cujo modelo de exploração se fez através de práticas de desmatamento. O agricultor entrevistado também afirma conhecer os sistemas agroflorestais e que um gostaria de ter um sistema em seu estabelecimento agrícola, sendo maior interesse diversificar o máximo possível a produtividade em sua terra: “Até nós queremos fazer aqui sabe? Tipo uma reservinha, e para não derrubar (o restante da área de floresta secundária no estabelecimento). Eu acho interessante, e por causa do lote, que é pequeno então a gente tem que diversificar, com esse projeto é mais um para nos ajudar, porque aqui ate agora é o leite, porco e galinha. Aí vem a questão do SAF, é mais uma (possibilidade) ” (Agricultor familiar, 28 anos). É possível perceber as múltiplas funções fazem parte da realidade histórica e social dos agricultores familiares. Além da importante relação com a sustentabilidade, a partir do reconhecimento de que o agricultor familiar observa ambiente não só como base de produção associa a produção agrícola, mas também como ser espaço de reprodução social com potencial de promover a conservação dos recursos naturais. Conclusão A predominância da atividade pecuária por parte dos agricultores no município já é uma realidade, mas nada impede o incentivo de arranjos produtivos com sistemas mais diversificados de produção com incorporação de culturas para o autoconsumo e que garantam o abastecimento do mercado local, é o caso dos sistemas de Integração Lavoura-Pecuária. O interesse em modificar ou diversificar os sistemas produtivos é percebido por parte dos agricultores familiares entrevistados dispostos a adotar SAF no campo de reprodução social em que estão inseridos. Referências CABRAL, E. R.; ENRÍQUEZ, M. A. R. D. S.; SANTOS, D. V. D. (2011). Canaã dos Carajás-do leite ao cobre: transformações estruturais do município após a implantação de uma grande mina. CETEM/MCTI. 2011. CARDOSO, D. M. Mineração e subdesenvolvimento: impactos da atividade mineradora nos municípios de Canaã dos Carajás, Marabá e Parauapebas (2004-2015). Dissertação de Mestrado apresentada. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico, UEC. 139 p. 2018. CRUZ, T. M. Mineração e Campesinato em Canaã dos Carajás: o avanço cruel do capital no sudeste paraense. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia, Unifesspa/PA. 106p. 2015. MATOS, A. S. J.; GARCIA, C. C.; PENA, H. W. A. Estruturas econômicas da região sudeste do estado do Pará, Amazônia-Brasil. Uma abordagem produtiva do município de Canaã dos Carajás. Observatorio de la Economía Latinoamericana, SL n. 201, 2014. OLIVEIRA, V. B. V. D.; DESTÁCIO, M. C.; LOCATELLI, M. Sistemas Agroflorestais-SAF's. Embrapa Rondônia-Documentos (INFOTECA-E), 2010.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SANTOS, ALINI OLIVEIRA DOS; MELLO, Andréa Hentz de. AGRICULTURA FAMILIAR EM CANAÃ DOS CARAJÁS: BREVE REFLEXÃO DA PERCEPÇÃO DE AGRICULTORES FAMILIARES SOBRE SAF.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437777-AGRICULTURA-FAMILIAR-EM-CANAA-DOS-CARAJAS--BREVE-REFLEXAO-DA-PERCEPCAO-DE-AGRICULTORES-FAMILIARES-SOBRE-SAF. Acesso em: 24/05/2025

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