MUSEU VIRTUAL DE TURISMO DO BRASIL – UMA POSSIBILIDADE EDUCATIVA CONTRA-HEGEMÔNICA – O DIREITO À MEMÓRIA E DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE A HISTÓRIA DO TURISMO NO BRASIL.

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
MUSEU VIRTUAL DE TURISMO DO BRASIL – UMA POSSIBILIDADE EDUCATIVA CONTRA-HEGEMÔNICA – O DIREITO À MEMÓRIA E DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE A HISTÓRIA DO TURISMO NO BRASIL.
Autores
  • Valéria Lima Guimarães
  • Dalila Rosa Hallal
  • Victor Hugo Geovú Esposito
  • Leandra Serrano de Marins Astulla
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 12 - Outros olhares sobre o turismo: resistências possíveis a práticas hegemônicas
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437702-museu-virtual-de-turismo-do-brasil--uma-possibilidade-educativa-contra-hegemonica--o-direito-a-memoria-e-democr
ISSN
Palavras-Chave
Turismo; Museu; Narrativas contra-hegemônicas.
Resumo
Introdução Este artigo tem como propósito analisar uma ação que vem sendo desenvolvida pelo Museu Virtual de Turismo do Brasil MUVITUR – um espaço interativo, colaborativo e educativo da História do Turismo. O projeto “Museu Virtual de Turismo do Brasil” está sob a coordenação da professora Drª Valéria Lima Guimarães do Programa de Pós-Graduação em Turismo – Universidade Federal Fluminense – UFF. A proposição do presente texto é compartilhar as reflexões realizadas no processo do nosso museu. A metodologia consistiu na análise de nossa experiência durante o processo de constituição de um acervo de história oral. O presente relato de experiência busca explorar propostas contra-hegemônicas que podem ser tecidas no espaço museal, no direito à memória e na democratização do conhecimento histórico em turismo no Brasil. 1. Fundamentação teórica A Nova Museologia originou-se na França, ainda nos anos 1970, influenciado pelo processo político e cultural de descolonização, uma forte crítica social ao papel dos museus ditos tradicionais, questionando a sua relação com os públicos, que se oficializou. Seu interesse estava principalmente nos novos tipos de museus concebidos em oposição ao modelo clássico e à posição central que ocupavam as coleções nesses últimos: tratavam-se dos ecomuseus, dos museus de sociedade, dos centros de cultura científica e técnica e, de maneira geral, da maior parte das novas proposições que visavam a utilização do patrimônio em benefício do desenvolvimento local. O termo “ecomuseu” foi cunhado em 1971, pelo então Director do ICOM, Hugues de Varine-Bohan, no contexto da IX Conferência Geral de Museus do ICOM – realizada em Grenoble (França) e dedicada à discussão das funções do museu ao serviço do ser humano. "A inovação decisiva tem que ver com a lógica comunitária do projeto, definida pela territorialidade do campo de intervenção e pela participação da população” (POULOT, 2008, p.178). Entendendo os museus como lugares de memória e de poder, torna-se pertinente questionar a forma como os museus têm atuado junto à sociedade e como suas ações têm garantido ou negligenciado o direito à memória. Neste sentido, entendemos a instituição museal como lugar de memória, criado por e para as sociedades que deles se utilizam. A questão torna-se mais complexa na medida em que os museus são não só lugares de memória, mas também lugares de poder; de disputa pelo poder através da memória. A palavra museu tem sua origem associada às musas, entidades mitológicas gregas concebidas na união entre Mnemosine e Zeus. A elas é atribuída a capacidade de inspirar as criações científicas e artísticas. Por via materna, são concebidas como “lugares de memória” e por via paterna, são entendidas como “estruturas e lugares de poder” (CHAGAS, 2006, p.33). A etimológica é relevante uma vez que levamos em consideração que os museus são “arenas de luta” (CHAGAS, 2006, p.32), onde apenas um recorte é exposto e, ao mesmo tempo, por serem instituições, essa escolha é fruto de um discurso específico e, a maioria das vezes, hegemônico perante outros que foram silenciados. Muitos museus vêm se preocupando com a questão do direito à memória, principalmente dos grupos sociais ditos minoritários. Neste sentido surgiram os ecomuseus, os museus comunitários, a sociomuseologia e outras formas de concepção do campo museal. Mas a falta de comunicação, de trocas de conhecimento entre estas instituições e a comunidade em geral, ainda é um problema. Sima Weingarten (2005), referindo-se ao Museo del Holocausto na Argentina, coloca algumas questões bem próximas das funções que esperamos de um museu comprometido com a preservação da memória: a primeira refere-se ao museu como uma instituição privilegiada para a guarda e disseminação da memória; a segunda dá ao museu o compromisso ético e moral de recuperar a memória dos fatos em nome de questões maiores, como os direitos humanos; a terceira questão colocada é a capacidade dos museus de transformar a memória em história (em que pese a autora recusar a distinção entre memória e história), ou seja, prolongar uma memória que se perderia ao final de uma geração, eternizando sua lembrança para as futuras gerações; por fim, a quarta questão ressalta a capacidade dos museus de influenciar a consciência política e ideológica de uma coletividade, orientando o futuro da mesma. Nesse contexto, pensando em um museu dedicado à história do turismo do Brasil, nos questionamos como pensar e construir um museu e uma educação contra-hegemônica nesse espaço? É imprescindível nos questionarmos que memória e história do turismo queremos lembrar? Quais histórias queremos registrar? Quais histórias contemplam as demandas de uma sociedade cada vez mais fragmentada? Para onde vamos? As respostas eram diversas e complexas passando pela produção científica, pela atuação política, pela concepção de mundo. Desta forma, pensamos em nosso museu não apenas como recinto de construção da memória, mas também como ferramenta educativa. Tais questões, se por um lado demonstram o poder dos museus, também alertam para a enorme responsabilidade de todas as ações museais, cujas consequências refletem diretamente na transmissão das memórias através da história. Neste sentido, os museus são instituições políticas e de poder que constroem narrativas que reforçam muitas vezes o colonialismo. Assim, a irrupção de novos temas, os excluídos, a abordagem da História Social e a Cultural (MENESES, 2013, p.59) requereram repensar a prática e função da História. Noutros termos, e com direta repercussão na concepção museal, novos sujeitos adquirem visibilidade e, com eles, outras narrativas: a chamada “História Oficial” abre passo para uma “História a contrapelo” que parte de uma lógica inversa à do historicismo alemão, ou seja, escrever a história do ponto de vista dos vencidos (BENJAMIN, 2013, p.13) Ancorados no debate historiográfico sobre turismo que construímos até o momento, pensemos em que medida a história do turismo no Brasil vêm desenvolvendo um sistema de permanências em uma perspectiva da História Oficial, uma continuação do projeto historiográfico europeu? Essa perspectiva “colonizadora” de narrar a história do turismo estaria sendo “justa” com uma perspectiva histórica plural? 2. Resultados alcançados A partir do registro das memórias, estamos pensando em nosso museu como um espaço representativo também de pequenas comunidades ou grupos sociais. Nesse sentido o espaço do museu passa a ser resignificado e torna-se um espaço múltiplo de participação popular, envolvendo atividades sociais e recreativas, tão caras àquele grupo, quanto a sua própria memória. São instituições dinâmicas, com seus conflitos de poder e de “incessante metamorfose”, garantindo o direito à memória. Uma memória atualizável, passada entre gerações na medida dos seus interesses. Nos museus comunitários principalmente, o direito à memória é também o direito à liberdade de expressão; de construção de memórias que lhes são convenientes a cada momento. O direito à memória é também direito ao esquecimento e à lembrança daquilo que se quer transmitir às futuras gerações. Portanto, não há neutralidade em nenhuma iniciativa de preservação de memórias, seja ela no campo dos próprios processos museais, seja no campo da pesquisa histórica em turismo. O que temos são “versões sobre um mesmo tema”, tão duvidosos e aparentemente verdadeiros quanto seus pares. Cientes destas questões, estamos analisando algumas possibilidades educativas no Museu Virtual de Turismo que contemple uma multiplicidade de abordagens e vozes e que crie um diálogo com os narradores e com o visitante onde “o significado é construído por meio de um processo ativo de negociação de saberes e experiências, no qual todas as partes trabalham em conjunto para produzir interpretações compartilhadas” (MARANDINO, 2008, p.17). No MUVITUR estamos constituindo um acervo de entrevistas de história oral “Múltiplos olhares do turismo - histórias não hegemônicas”, sendo uma oportunidade de permear outras vozes. No intuito de contribuir com a vertente educacional contra-hegemônica e, consequentemente, colaborar com a descolonização da produção e divulgação de conhecimento histórico em turismo no Brasil dentro de uma instituição museal também serão realizados debates, rodas de conversa com os protagonistas destas narrativas, trazendo um olhar crítico e problematizador, possibilitando uma interlocução comprometida com as problemáticas do turismo e as realidades dos diversos atores sociais, visto enquanto uma ação educativa. Assim sendo, o registro de memórias, os debates, as rodas de conversa, possibilita o conhecimento “a contrapelo” (BENJAMIN, 2012) e, portanto, contra-hegemônico em virtude da democratização de vozes que emergem nas diversas ações, permitindo a elaboração de propostas educativas baseadas em discursos contra-hegemônicos e, portanto, a tentativa de descolonização de saberes na área do turismo. Conclusões Sob a influência da Nova Museologia, durante nossas discussões optamos por uma perspectiva crítica e uma aproximação cada vez maior com os grupos não representados na história do turismo do Brasil e nos museus, e que dessa forma ainda se encontram à margem da história e de uma memória que represente os diferentes grupos presentes no processo histórico. Referências bibliográficas BENJAMIN, Walter. O anjo da história. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. CHAGAS, Mário de Souza. Há uma gota de sangue em cada museu: a ótica museológica de Mário de Andrade. Chapecó: Argos Editora, 2006 MARANDINO, Martha. Educação, comunicação e museus. In: Marandino, Martha (Org.). Educação em museus: a mediação em foco. São Paulo, SP: Geenf / FEUSP,2008. WEINGARTEN, Sima. El Deber de Memoria. In: Revista Nuestra Memoria, ano XI, nº 26. Buenos Aires: Fundación Memoria del Holocausto, 2005.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

GUIMARÃES, Valéria Lima et al.. MUSEU VIRTUAL DE TURISMO DO BRASIL – UMA POSSIBILIDADE EDUCATIVA CONTRA-HEGEMÔNICA – O DIREITO À MEMÓRIA E DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE A HISTÓRIA DO TURISMO NO BRASIL... In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437702-MUSEU-VIRTUAL-DE-TURISMO-DO-BRASIL--UMA-POSSIBILIDADE-EDUCATIVA-CONTRA-HEGEMONICA--O-DIREITO-A-MEMORIA-E-DEMOCR. Acesso em: 27/05/2025

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