UM EXERCÍCIO DE ANÁLISE ESTILÍSTICA A PARTIR DA OBRA DE ALBERTO CAEIRO

Publicado em 23/12/2021

DOI
10.29327/154029.10-10  
Título do Trabalho
UM EXERCÍCIO DE ANÁLISE ESTILÍSTICA A PARTIR DA OBRA DE ALBERTO CAEIRO
Autores
  • Monique Balan Sobreira
  • Joao Paulo Lopes de Meira Hergesel
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 34 - Estudos dialógicos do discurso e Ensino da Língua Materna e Estrangeira
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437685-um-exercicio-de-analise-estilistica-a-partir-da-obra-de-alberto-caeiro
ISSN
Palavras-Chave
Literatura portuguesa, Estilística, Alberto Caeiro
Resumo
Introdução O presente trabalho, estruturado em forma de ensaio, consiste em apresentar um estudo semântico-estilístico da obra de Alberto Caeiro, com foco no poema intitulado VIII (presente no segundo bloco do livro Poemas Completos, de Alberto Caeiro), trazendo aspectos relevantes para realizar uma leitura afetiva das obras desse autor. Constituiu-se um corpo teórico com autores como João Paulo Hergesel (2021), Gilvan Fögel (2004), Cláudio Cezar Henriques (2017), entre outros. Mediante pesquisas acadêmicas sobre elementos prosódicos e linguísticos, além de análises semânticas, fez-se uma análise do poema de Caeiro por meio de recursos estilísticos. Fundamentação teórica Fernando António Nogueira Pessoa (1888-1935) foi um ícone na literatura portuguesa. Além de poeta, foi filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, crítico literário e comentarista político. Seu prestígio se consolidou a partir de sua maneira singular de escrever: por meio de heterônimos — isto é, autores fictícios que possuem personalidades individuais —, configurando Fernando Pessoa um autor de fácil identificação no meio literário. Além disso, Pessoa foi fundamental para a solidificação do movimento Modernista em Portugal no século XX. Junto das vanguardas europeias, movimentos literários revolucionários, o autor se manifestava contra o Simbolismo (o qual ainda tinha traços românticos e nacionalistas), o Parnasianismo (o qual tinha preocupação com objetividade e cientificismo) e o conhecimento científico. Dessa forma, vê-se que o autor possui uma notável relevância tanto socioeducacional quanto científico-acadêmica: no campo pedagógico, há contribuições linguísticas, literárias, semânticas e históricas; no campo científico-acadêmico, há contribuições estilísticas, interdisciplinares e filosóficas, mostrando-se significativo como objeto de pesquisa. Dentre tantos heterônimos, o que compete aqui enfatizar é Alberto Caeiro, o mais conhecido na literatura portuguesa. De acordo com a teoria literária de Massaud Moisés (1975), a poesia de Caeiro inicialmente se mostra simples, sem rebuscamento e sem complicações sintáticas; no entanto, é uma poesia de base filosófica e metafísica, tendendo a abordar complexas reflexões. Nesse sentido, Caeiro se embasa no paradoxo do pensamento: a não filosofia a partir da filosofia, o não pensar a partir do pensar e o não desejar a partir do desejar; isso marca um dualismo de ideias, no qual duas ideias opostas dependem uma da outra para existir, completando-se. Também é caracterizado como um poeta sensacionista, ou seja, aquele que acredita que os sentidos humanos (sensoriais) fundamentam todos os processos cognitivos humanos; na poesia, materializa os aspectos sensoriais por meio do bucolismo moderno e do pensamento mítico. À vista disso, foi selecionado um poema de Alberto Caeiro para ser analisado neste texto, o qual se intitula como VIII e pertence ao segundo bloco do livro Poemas Completos de Alberto Caeiro. O livro apresenta obras de 1914 a 1930, distribuídos em 144 páginas, e está dividido em três blocos de poemas: O Guardador de Rebanhos, O Pastor Amoroso e Poemas Inconjuntos. Por conseguinte, a obra abrange temas de caráter bucólico que se constroem em torno da natureza, espontaneidade, naturalidade e, também, são poemas que tecem a biografia do autor. Resultados alcançados A exposição aqui apresentada pode ser dividida em quatro partes: estilística fônica, estilística léxica, estilística sintática e análise linguística. Todos esses aspectos estão diretamente relacionados com a Estilística Literária, que é, de forma geral, a expressividade da língua na escrita; pode ser tanto afetiva (elementos emocionais do enunciado) quanto idealista (elementos que derivam da linguagem comum), desde que contribua para a construção do enunciado (HERGESEL, 2021). Inicialmente se tem a análise fônica (HENRIQUES, 2017) do poema VIII. Ao ler o poema completo, é possível perceber que existe uma melodia formada em alguns versos por meio de repetições de palavras e/ou termos; por exemplo: “Tenho alegria e pena porque perco o que sonho / E posso estar na realidade onde está o que sonho", “Não sei o que hei de fazer das minhas sensações. / Não sei o que hei de ser comigo sozinho.” (PESSOA, 1930, p. 88), constituindo uma condição de musicalidade poética. Além disso, os versos são soltos (não possuem rimas), livres (não possuem métrica regularizada) e não estabelecem um ritmo muito definido - a partir do tamanho dos versos, pode-se dizer que são longos e, por isso, são lidos com mais velocidade e menos pausas entre si. Inclusive, pelo ritmo não se acentuar tão concretamente neste poema, seu formato se aproxima muito de um texto em prosa, como se a intenção do autor fosse a de contar uma história. Por fim, através desses elementos prosódicos citados, a impressão emotiva que se dá na leitura é a de angústia. Progredindo, tem-se a análise léxica do poema. Inicialmente, observa-se antítese em alguns versos, estabelecendo uma relação dinâmica entre palavras com sentidos opostos; por exemplo, as palavras alegria e pena no verso “Todos os dias agora acordo com alegria e pena”. Ainda também é retratado um paradoxo no seguinte verso “E posso estar na realidade onde está o que sonho” (PESSOA, 1930, p. 88), já que os significados de sonho e realidade se contrastam entre si, advertindo os princípios básicos do pensamento humano - ou é sonho ou é realidade. Em questão da análise sintática do poema, em algumas passagens, há elipses de sujeito, já que os determinados verbos conjugados já indicam por si próprios os sujeitos referentes - em termos gramaticais são chamados de sujeitos ocultos; tal como se vê em “(...) acordo com alegria e pena”, “Tenho alegria e pena”, “perco o que sonho” (PESSOA, 1930, p. 88). Por último, é notável o uso de anáfora em dois versos, “Não sei o que hei de fazer das minhas sensações. / Não sei o que hei de ser comigo sozinho” (PESSOA, 1930, p. 88); de anadiplose em “Quem ama é diferente de quem é. / É a mesma pessoa sem ninguém” (PESSOA, 1930, p. 88) e de símploce em “Tenho alegria e pena porque perco o que sonho / E posso estar na realidade onde está o que sonho” (PESSOA, 1930, p. 88). Na última parte do estudo, tem-se a análise linguística do poema, no qual persiste intensa afinidade com a teoria Pragmática de Émile Benveniste (FIORIN, 2001). Em síntese, a teoria se consiste na enunciação, que é colocar em funcionamento a língua por um ato individual de utilização; no discurso, que é a relação eu-tu na conversação, ou seja, a interação entre os locutores presentes, e no signo, que é a relação tempo-espaço-pessoa responsáveis por criar a enunciação. Além do poema de Caeiro se apresentar como uma situação comum de diálogo, estabelecendo todos os signos necessários para criar enunciação, também determina os verbos de maneira que estabelece o jeito como o poema deve ser lido. Como exemplo disso, têm-se as referências verbais em 1ª pessoa, estabelecendo que o eu-lírico faz parte do diálogo; a referência à mulher amada pelo pronome “ela”, definindo que a pessoa amada é uma não-pessoa do discurso, ou seja, não faz parte da interação entre os locutores. Além disso, o tempo também é marcado por advérbios e conjugações verbais, como em “todos os dias agora acordo”, que marcam o presente. Considerações finais À vista deste estudo, é possível perceber que é muito comum a realidade em que o autor vive influenciar suas obras, principalmente os temas propostos. Pode-se dizer que é difícil separar o autor da obra. Além disso, as escolhas estilísticas são fatores fundamentais para produzir uma criação literária, pois são tópicos que trabalham a expressividade e a função da linguagem. Referências FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à linguística II: princípios de análise. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2003. FÖGEL, Gilvan. Apontamentos para uma leitura de Alberto Caeiro. Terceira Margem, Rio de Janeiro, v. 8, n. 11, p. 41-55, 2004. HENRIQUES, Cláudio Cezar. Semântica e estilística. Curitiba: IESDE, 2017. HERGESEL, João Paulo. Análise estilística: o que é e como realizá-la? – com aplicabilidade na obra de Bruno Molinero. Caxangá: revista de arte e crítica, Poços de Caldas, v. 3, p. 237-249, 2021. MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 1975.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
DOI

Como citar

SOBREIRA, Monique Balan; HERGESEL, Joao Paulo Lopes de Meira. UM EXERCÍCIO DE ANÁLISE ESTILÍSTICA A PARTIR DA OBRA DE ALBERTO CAEIRO.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437685-UM-EXERCICIO-DE-ANALISE-ESTILISTICA-A-PARTIR-DA-OBRA-DE-ALBERTO-CAEIRO. Acesso em: 10/05/2025

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