GUERRILHA DO ARAGUAIA E RESISTÊNCIA CAMPONESA – O TRABALHO SUBVERSIVO DA MEMÓRIA

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
GUERRILHA DO ARAGUAIA E RESISTÊNCIA CAMPONESA – O TRABALHO SUBVERSIVO DA MEMÓRIA
Autores
  • Naurinete Fernandes Inácio Reis
  • Paula Porto Bandeira dos Santos
  • KAROLAINE DE SOUZA SILVA
  • Claudinete Chagas Pereira Rodrigues
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 08 - Memória, Narrativas e Discursos
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437666-guerrilha-do-araguaia-e-resistencia-camponesa--o-trabalho-subversivo-da-memoria
ISSN
Palavras-Chave
Guerrilha do Araguaia, Campesinato, Memória coletiva.
Resumo
Introdução Este trabalho consiste no resultado parcial do projeto de pesquisa intitulado “Campesinato e Guerrilha do Araguaia: saberes e memórias de resistências no Araguaia”, o qual está sendo desenvolvido no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação PIBIC/FAPESPA-2020/2021, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – Unifesspa. O artigo objetiva refletir sobre o envolvimento do campesinato na Guerrilha do Araguaia, ocorrida na região sudeste do Pará, entre os anos de 1972 e 1975. Tendo como fonte principal da pesquisa as narrativas orais dos sujeitos sociais que vivenciaram esse contexto, procuramos aprofundar a compreensão sobre os impactos causados aos camponeses nas estratégias militares de extermínio do movimento guerrilheiro. Partimos do pressuposto de que as experiências e o lugar do campesinato no processo histórico e social tornam-se melhor compreendidos considerando os fatos vividos pela diversidade de sujeitos sociais que o constitui. Nesse sentido, a metodologia de construção desse trabalho se deu por meio da revisão bibliográfica e documental, bem como na análise de entrevistas concedidas por camponeses envolvidos na Guerrilha do Araguaia, à luz do referencial teórico sobre memória social e adotando os procedimentos de pesquisa da história oral. 1. Fundamentação teórica A temática da Guerrilha tem sido abordada por estudiosos e pesquisadores de várias áreas do conhecimento, os quais têm publicado trabalhos jornalísticos ou investigativos, bem como resultados de pesquisas acadêmicas, entre outras. Nesses trabalhos, alguns concentram-se na análise de documentos sigilosos elaborados pelos órgãos de segurança e informação que combateram o movimento guerrilheiro, dentre eles, o Serviço Nacional de Informação (SNI), o Centro de Informações do Exército (CIE) e o Centro de Informação e Segurança da Aeronáutica (CISA) ou na análise de arquivos pessoais de militares que participaram das operações de extermínio aos guerrilheiros; outros, concentram-se na análise dos documentos do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Priorizando as fontes documentais, muitos desses pesquisadores recorreram aos depoimentos dos camponeses envolvidos no conflito, utilizando-os de forma complementar, visando comprovar as hipóteses trabalhadas. No processo de interpretação das experiências vivenciadas pelo campesinato e seus sentidos políticos, partirmos do próprio discurso dos sujeitos sociais, mas também mobilizamos recursos teóricos que nos permitem captar e decifrar o sentido e o significado da fala do camponês, sobretudo “a fala coletiva do gesto, da ação, da luta camponesa” (MARTINS, 1981, p. 17). A fundamentação teórica sobre a constituição social da memória, pioneiramente desenvolvida por Maurice Halbwachs (1990) e problematizada e complementada por outros autores, como Ecléa Bosi (1994), Michael Pollak (1989), Viana (2020), entre outros, embasa a análise aqui desenvolvida. Além disso, recorremos às contribuições de estudiosos que abordaram a temática da Guerrilha do Araguaia priorizando as narrativas orais dos camponeses, dentre eles, Reis (2021), Campos Filho (2013), Mechi (2012), Pereira (2015), Peixoto (2011), Figueira (1986), entre outros. O referencial teórico-metodológico utilizado nos possibilita refletir sobre a dinâmica da memória, no sentido de evidenciar as formas como os sujeitos diferentemente afetados pela repressão militar ao movimento guerrilheiro repensam e reconstituem as compreensões sobre as experiências vivenciadas no passado à luz dos fatos e circunstâncias do contexto presente. A memória que os sujeitos expressam é construída socialmente e atravessada por marcas do lugar social que ocupam e das relações sociais que estabelecem no contexto atual, mas também está ancorada no passado. A produção da memória não se dá sem conflitos, pois ela é perpassada pela luta de classes e veicula interesses dos diferentes grupos que a disputam. As abordagens desenvolvidas pelos autores contribuem para a análise sobre a constituição da memória coletiva do campesinato que, num trabalho de subversão, tem rompido o silêncio e resistido às estratégias de enquadramento da memória oficial ou da memória hegemônica. 2. Resultados alcançados A memória coletiva demonstra as experiências vivenciadas pelos camponeses, os quais desconheciam os propósitos do movimento guerrilheiro, composto pelos militantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), bem como das Forças Armadas Brasileiras, evidenciando que os camponeses foram os mais afetados pelo conflito armado desencadeados no sudeste do Pará. Dentre as atrocidades praticadas pelos militares, os relatos destacam: prisões arbitrárias, torturas, trabalho forçado, estupros, execuções, destruição de meios de produção, expropriações das terras, entre outras. A memória camponesa, por muito tempo silenciada, atualmente veicula lembranças traumatizantes devido as atrocidades cometidas pelos militares, bem como lembranças proibidas, vergonhosas ou mesmo “comprometedoras”. Os estudos e pesquisas desenvolvidas por José de Souza Martins (1981, 1985), Octavio Ianni (1981, 1979), Ariovaldo Umbelino de Oliveira (1988), entre outros, nos permitem afirmar que os militares usaram a violência sistemática contra os camponeses não apenas como estratégia para reprimir a organização guerrilheira, mas também visando atender ao plano do governo militar de controlar político e socialmente um território em que os conflitos pela posse da terra multiplicavam-se. Os autores, assim como a memória coletiva, evidenciam que a repressão militar ao movimento guerrilheiro influenciou na intensificação dos conflitos agrários na região após 1975. O procedimento metodológico adotado nos possibilitou apontar que a memória coletiva do campesinato, ainda que configurada como traumática, é fundamental para aprofundar a compreensão sobre os fatos relacionados ao conflito armado, mas também como importante instrumento de luta com outras classes sociais, no processo de resistência em relação à memória oficial ou hegemônica relacionada à Guerrilha do Araguaia, bem como na reafirmação da resistência e recriação do campesinato regional, no contexto posterior a eliminação dos guerrilheiros por parte das Forças Armadas. Essa memória adquire função de ferramenta de contestação da história contada pelos militares e, ainda que demonstre uma tendência a convergir para a memória hegemônica construída pelo PCdoB, os fatos relembrados reforçam aspectos que contribuem para evidenciar o protagonismo dos camponeses durante a Guerrilha e, principalmente, para o fortalecimento do campesinato regional, que foi submetido a um processo de militarização. Conclusões O processo de evocação de lembranças dos camponeses evidencia os traumas, trazendo consigo relatos de dor e sofrimento, mas também os possibilita reconstituir os acontecimentos do passado como forma de contestação e subversão à memória imposta ou às tentativas de enquadramento, negação ou silenciamento das memórias não-hegemônicas. Dessa forma, esse estudo aponta também que o processo de militarização ao qual a região foi submetida por influência do Estado, deixou ainda mais complexos os conflitos sociais pela posse e permanência na terra, forjando a necessidade de resistência camponesa organizada. Referências bibliográficas BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. HALBWACHS, Maurice. A Memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990. MEIHY, José Carlos Sebe. MANUAL DE HISTÓRIA ORAL. São Paulo: Loyola, 2006. POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Revista de estudos Históricos, Vol. 2, n. 3, Rio de Janeiro, 1989. REIS, Naurinete Fernandes Inácio. Cartografia de Memórias: Guerrilha do Araguaia, campesinato e questão agrária no sudeste do Pará - Amazônia Oriental. 2021. 372f. Tese (Doutorado em Geografia Humana) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2021.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

REIS, Naurinete Fernandes Inácio et al.. GUERRILHA DO ARAGUAIA E RESISTÊNCIA CAMPONESA – O TRABALHO SUBVERSIVO DA MEMÓRIA.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437666-GUERRILHA-DO-ARAGUAIA-E-RESISTENCIA-CAMPONESA--O-TRABALHO-SUBVERSIVO-DA-MEMORIA. Acesso em: 25/09/2025

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