NAS AREIAS QUENTES DE COPACABANA: UMA PRAIA EM DISPUTA – APROXIMAÇÕES, CONTRASTES E TENSÕES ENTRE 1940 E 1980.

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
NAS AREIAS QUENTES DE COPACABANA: UMA PRAIA EM DISPUTA – APROXIMAÇÕES, CONTRASTES E TENSÕES ENTRE 1940 E 1980.
Autores
  • Luzimar Soares Bernardo
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 12 - Outros olhares sobre o turismo: resistências possíveis a práticas hegemônicas
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437593-nas-areias-quentes-de-copacabana--uma-praia-em-disputa--aproximacoes-contrastes-e-tensoes-entre-1940-e-1980
ISSN
Palavras-Chave
Copacabana, Turistas, Pescadores Artesanais, Vendedores, Esportistas
Resumo
Nas areias quentes de Copacabana: uma praia em disputa – aproximações, contrastes e tensões entre 1940 e 1980. Luzimar Soares Bernardo Mestre em História – PUC - SP luzimarsb@hotmail.com Introdução Historicamente, as áreas costeiras sempre foram utilizadas por trabalhadores que tiraram do mar, além de sua alimentação, seu meio de subsistência em grande parte do litoral brasileiro. Na cidade do Rio de Janeiro, há, ainda hoje, alguns pontos de pesca artesanal instalados “no meio da cidade”, um deles é objeto de estudo desta comunicação. Para compreender os usos desse espaço, será lançado mão da História Oral, sabendo que o turismo é uma das atividades praticadas nas areias de Copacabana por sujeitos diversos, e que os turistas dividem com pescadores artesanais, vendedores ambulantes e esportistas (profissionais com seus alunos), diariamente, o espaço de areia bem como de mar; haja vista, com exceção dos vendedores ambulantes, todos os demais atores adentram o mar em algum momento. A pesquisa tem por objetivo trazer à baila como se dão as disputas e sociabilidade naquela localidade. A pesquisa será dividida pelos sujeitos nela inseridos, o que a torna mais especial. Cada ator que figura nesta pesquisa tem seu peso e sua importância para desvendar aquele espaço singular e, assim, compreender o papel de cada um. 1. Fundamentação teórica Para a análise documental da Colônia (atas de assembleias, registros de pescadores, estatuto interno e termo de posse) será feito o uso teórico de autores como Edward P. Thompson, que revelou aspectos da vida dos trabalhadores ingleses até então ignorados, em A formação da Classe Operária. O mesmo historiador, a partir das notícias das vendas das esposas publicadas em jornais, expôs a crueldade de um sistema que, ao negar o direito do trabalhador de se divorciar, obrigava-o a encontrar uma solução fora dos padrões comportamentais das elites em Costumes em Comum. Por sua vez, Jesús Martín–Barbero, em Dos Meios as Mediações: Comunicação, Cultura e Hegemonia, mostra a diferença entre trabalhar a história da cultura e a história cultural. Carlo Ginzburg, com O queijo e os vermes, O Cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição, examinou a importância da classe operária através do estudo sobre um moleiro; enquanto Walter Benjamin, na obra Magia e Técnica, Arte e Política, Obras Escolhidas, ressaltou a necessidade urgente de buscar a exposição da história da classe trabalhadora, de modo a dar visibilidade a esses sujeitos, ou seja, contar a história a contrapelo. Para concluir, novas entrevistas com outros pescadores artesanais serão realizadas, bem como se pretende realizar entrevistas com trabalhadores ambulantes e praticantes de esportes que frequentam o Posto 6 da praia de Copacabana, nas proximidades da Colônia de Pescadores. A metodologia empregada seguirá a historiografia já consagrada sobre o tema, em especial a de Verena Alberti, de Maurice Halbwachs e de Ecléa Bosi. Além disso, o levantamento de filmes e documentários existentes poderá contribuir com a pesquisa, trazendo algumas questões relacionadas à historiografia. Neste sentido, os estudos de Ismail Xavier, de Walter Benjamin e de André Bazin possibilitam compreender como a filmografia pode contribuir para o desenvolvimento da pesquisa. Acredita-se que a pluralidade de fontes trará um enriquecimento na composição da pesquisa, uma vez que há escassa produção historiográfica a respeito da presença desses sujeitos em Copacabana. Além da heterogeneidade do bairro e, também, da complexidade que envolve a existência e a resistência desses sujeitos naquela localidade. 2. Resultados alcançados Como se trata de uma pesquisa ainda incipiente, ou seja, é um trabalho no seu início, ainda não é possível mostrar nenhum resultado alcançado. Todavia, o que se busca com esta pesquisa é compreender as disputas e sobreposições de usos do lugar. Na historiografia contemporânea, destacam-se autores como Walter Benjamin, Raymond Williams, E. P. Thompson, dentre tantos outros, e, com o auxílio teórico a partir deles, é possível fazer um levantamento histórico de uma comunidade tradicional com embasamento. Além de, neste caso, ter contado com o uso da História Oral, muito bem balizada por Verena Alberti. A construção e as disputas que envolvem esse espaço territorial serão parte integrante da nova pesquisa, buscando um olhar sobre os outros dois grupos de trabalhadores, e os turistas, bem como se pretende alargar para outros que compõem a vida naquele espaço, ou seja: os compradores (clientes da Colônia e dos vendedores), os vizinhos (Clube Marimbá, Corpo de Bombeiros e direção do Forte e Copacabana) e os donos da peixaria. Partindo da dominação através da cultura, e sabendo que aconteceu uma desagregação através da expulsão, o que realmente restou de cultura daquela comunidade do princípio de sua formação documental em 1923? No entanto, o local de pertencimento, de convivência, de construção da vida em sociedade e comunidade, que é definido como “sítio” por Hassan Zaoual (2006, p. 88) pode não necessitar da unidade territorial. O sítio é antes de tudo um imaginário social moldado pelas contingências e pela trajetória da vida comum dos atores considerados. Esquematicamente, ele contém uma caixa preta que o torna espaço cognitivo de pertencimento. As crenças e os mitos dão sentido e direção aos aderentes do sítio. O sítio supõe também cumplicidade e proximidade. Assim sendo, ele é singular, mas também plural, devido a sua abertura ao meio circundante, então, à mudança. Analisando o que foi colocado pelo autor, o espaço de se impender, não essencialmente, é físico. Portanto, é possível pensar que a eliminação das moradias não desagregou o sentimento de vínculo existente entre o grupo, especialmente no tocante à cultura material e ao saber tradicional, haja vista que, até hoje, existe um sentimento forte de transmissão dessa sapiência de pai para filho e de respeito pela experiência dos mais velhos. A atividade de vendedores ambulantes tem como prática, justamente, sua mobilidade. Na cidade do Rio de Janeiro, esta atividade tem, como herança, a exploração do trabalhador, seja na precariedade da sua atividade, seja na aplicação de multas ou confisco de mercadorias pelo poder público. Os vendedores ambulantes movimentam cifras consideráveis. Por esta razão, são considerados um contingente de trabalhadores importante. Além disso, contribuem com uma significativa fonte de renda para o município, como bem salientou Poliana dos Santos (2018, p. 232): Embora os dados sejam esparsos, pode-se ter uma ideia da produção da riqueza que o trabalho ambulante significava para a municipalidade, visto que se arrecadavam com alvarás, multas, impostos, taxas sanitárias, tomadas de gêneros negociados e vendas em hasta pública. Portanto, os volantes se tornaram um mal necessário. E, nesse sentido, o que buscava era remediar ou disciplinar aquilo que se via como impertinente (SANTOS, 2018, p. 232). Possivelmente, o aumento do desemprego em níveis galopantes seja um dos fatores que conduziu, para as areias, os profissionais da educação física que levam seus alunos para praticarem suas atividades. Ou seja, os esportistas profissionais que transformam as areias e as águas do mar em espaço para treinarem seus alunos sem o pagamento de um aluguel e, também, sem o empregador. E, quanto aos turistas, sabendo que se trata de uma praia urbana, quem são os que escolhem o espaço do Posto Seis, e o fazem, por qual razão? Realmente interagem com os trabalhadores, e como se dá essa interação? Desse modo, acredita-se que a História Oral tenha relevância no âmbito desta pesquisa por trazer a possibilidade de contar a história a contrapelo, e buscar aclarar as necessidades, lutas, resistências e pertencimentos dos grupos estudados. Conclusões O intuito maior da pesquisa é levantar o papel do turista na cotidianidade de uma comunidade de pescadores artesanais, bem como decifrar as camadas sobrepostas por cada ator nas disputas diárias e nas convivências em um lugar que se tornou símbolo da cidade do Rio de Janeiro, bem como do país. A presença de uma Colônia de Pescadores Artesanais no calçadão de Copacabana a torna paradoxal, ao mesmo tempo que é cosmopolita, é também bucólica. Por esta e outras razões é que identificar o papel do turista naquela localidade se torna tão importante. Referências bibliográficas ALBERTI, Verena. Manual da História Oral. Rio de Janeiro: FGV, 2004. BAZIN, André. O que é o cinema? São Paulo: Ebu, 2018. BENI, Mario Carlos. Colecionando Destinos: Viagens – Percepção, Imaginário e Experiências. São Paulo: Senac, 2007. BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica. Porto Alegre: Zouk, 2014. SANTOS, Poliana. O povo e o paraíso dos abastados: Rio de Janeiro 1900/1920. (Crônicas e outros escritos de Lima Barreto e João do Rio). Tese de doutorado, Programa de Pós-Graduação em História, FFLCH, USP, São Paulo, 2018. Disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-27082018-145311/pt-br.php> Acessado em: 10 nov. de 2020. WILLIAMS, Raymond. Cultura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. ZAOUAL, Hassan. Nova economia das iniciativas locais: uma introdução ao pensamento pós global. Rio de Janeiro: DP&A: Consulado Geral da França: COPPE ? UFRJ, 2006.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

BERNARDO, Luzimar Soares. NAS AREIAS QUENTES DE COPACABANA: UMA PRAIA EM DISPUTA – APROXIMAÇÕES, CONTRASTES E TENSÕES ENTRE 1940 E 1980... In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437593-NAS-AREIAS-QUENTES-DE-COPACABANA--UMA-PRAIA-EM-DISPUTA--APROXIMACOES-CONTRASTES-E-TENSOES-ENTRE-1940-E-1980. Acesso em: 03/09/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes