INCORPORAÇÃO DA AUTOVALORIZAÇÃO: RETRATO SOCIOLÓGICO DE UM ESTUDANTE TRABALHADOR DO ENSINO MÉDIO

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
INCORPORAÇÃO DA AUTOVALORIZAÇÃO: RETRATO SOCIOLÓGICO DE UM ESTUDANTE TRABALHADOR DO ENSINO MÉDIO
Autores
  • José Carlos Rocha Junior
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 16 - Educação, Memória, História
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437541-incorporacao-da-autovalorizacao--retrato-sociologico-de-um-estudante-trabalhador-do-ensino-medio
ISSN
Palavras-Chave
Êxito escolar, Estudantes trabalhadores, Patrimônios individuais de disposições
Resumo
INCORPORAÇÃO DA AUTOVALORIZAÇÃO: RETRATO SOCIOLÓGICO DE UM ESTUDANTE TRABALHADOR DO ENSINO MÉDIO José Carlos Rocha Junior Doutorando pelo Programa de Sociologia Política da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro Junior.carlosrocha@gmail.com Introdução O presente trabalho é parte integrante de uma pesquisa de doutoramento em construção, alicerçada no programa da sociologia em escala individual sob a perspectiva disposicionista e contextualista da ação. Apresenta-se o retrato sociológico de um jovem de classe popular que logrou êxito no ensino médio enquanto conciliava os estudos com o trabalho. Trata-se de um estudo baseado na identificação e análise dos patrimônios individuais de disposições do sujeito pesquisado, mais especificamente das disposições individuais identificadas como importantes ao êxito escolar do estudante em questão. As disposições individuais são patrimônios simbólicos, incorporados aos indivíduos no processo de socialização, em outras palavras, do social incorporado ao indivíduo. Significa que os indivíduos, imersos em experiências de socialização mais ou menos precoces, intensas, regulares e diversificadas, incorporariam um conjunto de disposições, mais ou menos fortes, duradouras, transferíveis e coerentes entre si, e que, supostamente, passariam a influenciar em seus modos de crer, agir e sentir. O instrumento metodológico utilizado foi o Retrato Sociológico. Tratar-se de um recurso que, utilizando-se de entrevistas em profundidade, busca reconstruir a biografia de um determinado sujeito social, respeitando sua singularidade, ao mesmo tempo dando ênfase aos seus patrimônios individuais de disposições e como tais disposições. 1. Fundamentação teórica Na perspectiva da sociologia em escala individual, uma questão central é se o indivíduo pode ser um objeto de estudo dessas ciências sociais. Nesse sentido, Lahire (2003, p. 7) argumenta que “[...] é o ponto de vista que cria o objeto e não o objeto esperaria calmamente no real o ponto de vista científico que viria revelá-lo”. O que determina é, portanto, a abordagem, e não o objeto. Assim, Bernard Lahire propõe um tratamento sociológico para a individualidade, também chamada de unidade sociológica. As disposições podem ser entendidas como um conjunto variado e heterogêneo, embora recorrente, de formas de agir, de sentir, de crer, de perceber o mundo, que é são ativadas em determinado contexto e de forma singular em cada indivíduo. Uma força interna continuamente estabelecida como produto dos esquemas de ação incorporadas do passado, acionada nos diversos contextos das relações sociais do presente. Assim, as disposições interferem não apenas nas práticas, mas também nas maneiras de pensar, sentir e perceber o mundo e as situações. Lahire (2004, p. 27-31) enumera alguns princípios que caracterizam as disposições, que podem ser sinteticamente assim apresentados: 1. Toda disposição tem uma gênese que podemos nos esforçar para situar ou reconstruir. Elas são adquiridas em um contexto social específico e em determinado momento da história do indivíduo. 2. A noção de disposição supõe uma série de comportamentos coerentes e recorrentes, nunca uma dedução com base em apenas um comportamento. 3. A disposição é um produto incorporado, só se constituindo com o passar do tempo. Não se realiza de uma só vez, de forma abrupta. Por outro lado, a disposição pode enfraquecer ou diluir-se, caso deixe de ser atualizada com o passar do tempo. 4. As disposições não são obrigatoriamente gerais, transcontextuais, ou seja, que transitem em vários contextos diferentes. A transferência de uma disposição de um contexto a outro é possibilitada quando o contexto em que a disposição é acionada é compatível ao contexto em que foi adquirida. 5. A disposição não é uma resposta mecânica a um estímulo ou situação, mas uma maneira de ver, de sentir e de agir, que se ajusta com flexibilidade às diversas situações. Mas nem sempre a disposição se ajusta a uma determinada situação, podendo ser inibida, transformada ou mesmo geradora de crises. 6. Não se pode reduzir todo comportamento a uma noção de disposição, porque isso esvazia seu sentido. Portanto é importante distinguir disposição de competência e de apetências. 7. Os patrimônios de disposições devem ser estudados por meio de trabalho empírico. Não se deve supor a existência de um patrimônio de disposições pelo único fato de o indivíduo pertencer a um grupo ou estar alinhado a uma classe social. As disposições são interiorizadas (incorporadas) de diversas formas: por coerção ou obrigação; por paixão, desejo ou cobiça; ou através de rotinas não conscientes, em que não há nem paixão ou mesmo coerção. A incorporação dependerá de como as disposições foram adquiridas, do momento da trajetória de vida do indivíduo em que foram adquiridas e dos contextos atuais em que são atualizadas. Lahire (2002a, p. 173) esclarece que os indivíduos não interiorizam estruturas sociais, mas as maneiras de agir em situações específicas. Os indivíduos incorporam “[...] hábitos corporais, cognitivos, avaliadores, apreciativos, etc., isto é, esquemas de ação, maneiras de fazer, de sentir e de dizer adaptadas (e às vezes limitadas) a contextos sociais específicos”. Portanto, para que haja transferência das disposições, é necessário que elas se atualizem. Para que haja atualização, é necessário que o contexto de mobilização de determinada disposição seja semelhante, no conteúdo e no significado, ao contexto em que a disposição foi formada, ou seja, se atualizam e se transferem sob certas condições no interior dos imprecisos limites de cada contexto social. 2. Resultados alcançados Jonas Firmino estava com 18 anos quando concedeu as entrevistas. Havia acabado de iniciar a graduação em Engenharia de Produção na Universidade Estadual do Norte fluminense Darcy Ribeiro e estava começando a construir perspectivas em prolongar ainda mais os estudos, com o mestrado e, quem sabe, o doutorado. De muitas amizades, comunicativo e simpático. Sua forma respeitosa de conversar faz lembrar aquelas crianças que sempre ouviram reprimendas de pais e avós sobre a maneira “correta” para se dirigir aos adultos. É o filho do meio dentre três. Não conhece o pai e não tem padrasto. Foi criado pela mãe, por quem nutre imensa admiração, e pela avó, em uma casa ainda muito por terminar. Também se referencia de forma significativa em seu irmão mais velho, o mais estudioso da família. Seu percurso de trabalho foi atrelado, desde muito novo, à vida doméstica: primeiro como ajudante de pedreiro e, em seguida, prestando serviços de manutenção de computadores e celulares, ambas as atividades desenvolvidas na própria residência. Suas perspectivas em relação à carreira profissional ainda não estão muito claras. Seu percurso no ensino fundamental foi muito entrelaçado à vida comunitária, coincidindo amizades dentro e fora da escola. No ensino médio começa a estabelecer novos sentidos e compromissos em relação aos estudos e planos para sua vida futura. A reconstrução e interpretação das práticas, trajetórias e contextos de vida de Jonas Firmino conduz a identificação das seguintes disposições que podem estar relacionadas ao seu êxito escolar durante o ensino médio: disposição a autovalorização e disposição a valorização do trabalho. Além disso, o retratado apresentou algumas competências que indicam terem contribuído, de forma complementar, no imbricamento das disposições identificadas com a persistência e o êxito escolar: competência ao bom relaconamento e competência ao autocontrole. Conclusões Procurou-se demonstrar que os retratos sociológicos se configuram em um importante dispositivo metodológico capaz de compreender como as disposições individuais se incorporam aos indivíduos e como se manifestam nas diversas circunstâncias de ação. Referências bibliográficas LAHIRE, Bernard. Do habitus ao patrimônio individual de disposições: rumo a sociologia em escala individual. Revista de Ciências Sociais, v. 34, n. 2, p. 7-29, 2003. LAHIRE, Bernard. Homem Plural: Os determinantes da ação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. LAHIRE, Bernard. Reprodução ou prolongamentos críticos? Educação & Sociedade, ano XXIII, n. 78, abril/2002b. LAHIRE, Bernard. Retratos Sociológicos: Disposições e variações individuais. Porto Alegre: Artimed, 2004.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

JUNIOR, José Carlos Rocha. INCORPORAÇÃO DA AUTOVALORIZAÇÃO: RETRATO SOCIOLÓGICO DE UM ESTUDANTE TRABALHADOR DO ENSINO MÉDIO.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437541-INCORPORACAO-DA-AUTOVALORIZACAO--RETRATO-SOCIOLOGICO-DE-UM-ESTUDANTE-TRABALHADOR-DO-ENSINO-MEDIO. Acesso em: 28/06/2025

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