HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA FORMAÇÃO DE LEITORES CRÍTICOS À LUZ DA PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA FORMAÇÃO DE LEITORES CRÍTICOS À LUZ DA PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA
Autores
  • Ana Carolina Langoni
  • Robson Loureiro
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 34 - Estudos dialógicos do discurso e Ensino da Língua Materna e Estrangeira
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437536-historias-em-quadrinhos-na-formacao-de-leitores-criticos-a-luz-da-pedagogia-historico-critica
ISSN
Palavras-Chave
histórias em quadrinhos, formação de leitores, pedagogia histórico-critica
Resumo
HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA FORMAÇÃO DE LEITORES CRÍTICOS À LUZ DA PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA Ana Carolina Langoni Professora da Secretaria do Estado da Educação do Espírito Santo e da Prefeitura Municipal de Cachoeiro de Itapemirim/ Mestre em Letras (Ifes) carollangoni@hotmail,com Robson Loureiro Professor Associado da Universidade Federal do Espírito Santo/ Doutor em Educação (UFSC) robbsonn@uol.com.br Introdução A 5ª edição da pesquisa Retratos do Brasil (FAILLA, 2020) revelou que de 2015 para 2019 o número de leitores diminuiu e também que o índice de pessoas que leem tende a diminuir a partir dos 14 anos. Ou seja, os estudantes leem bastante até os 13 anos, depois vão, cada vez mais, abandonando a leitura, e isso nos mostra que a escola não tem, de fato, formado leitores. Diante disso, percebemos que as escolas necessitam rever as práticas de ensino da leitura, para que os conteúdos trabalhados em sala de aula não sejam distantes da prática social. Sendo assim, as Histórias em Quadrinhos (HQs) demonstram ser uma opção viável, por serem atrativas, por mesclarem linguagem visual e verbal e por geralmente retratarem situações comuns do dia a dia. Além disso, os quadrinhos são muito lidos nas séries iniciais, por isso os estudantes já têm familiaridade com eles e tendem a participar mais ativamente das atividades nas quais eles são utilizados. O objetivo dessa pesquisa é compreender como a utilização sistematizada de HQs à luz da Pedagogia Histórico-Crítica (PHC) pode contribuir com a formação de leitores críticos. Optamos por utilizar a PHC como aporte teórico-metodológico, por compreendermos a educação como mediadora da prática social, visando a contribuir com a emancipação humana dos alunos, criando condições para que transformem sua realidade. 1. Fundamentação teórica Para Bakhtin (1997, p. 313), “a experiência verbal individual do homem toma forma e evolui sob o efeito da interação contínua e permanente com os enunciados individuais do outro”. Partimos da concepção bakhtiniana de linguagem como forma de interação social e compreendemos a leitura como prática social, a qual contribui para desenvolver o senso crítico do leitor, e o texto como um tecido no qual podemos identificar várias vozes, discursos ou textos. O aluno é considerado, nesse contexto, um sujeito ativo que dialoga com o interlocutor e interage com a realidade, e o ensino de leitura precisa contribuir com a consciência crítica desse aluno, considerando que o sentido do texto será construído de forma dialógica. Silva (2011) corrobora essa visão, pois compreende a leitura como forma de encontro entre o homem e a realidade sociocultural. Para o autor, ler é um caminho para a tomada de consciência e um meio por meio do qual passamos a nos compreender no mundo. A educação é entendida por ele como transformação do homem e do mundo, mas ela só ocorre por meio do “exercício dialético da libertação”, e nessa libertação o ato de ler ganha significado. “A leitura crítica é condição para a educação libertadora, é condição para a verdadeira ação cultural que deve ser implementada nas escolas” (SILVA, 2011, p. 93). A leitura deve ser trabalhada por meio da interação, considerando o leitor um sujeito ativo, que se posiciona diante do que lê, de acordo com o contexto em que vive; e o texto é visto como ponto de partida para a formação da consciência crítica. Há uma relação de dependência entre o texto e o contexto em que ele se insere; o texto pode adquirir sentido diferente do original no contato com o interlocutor. Por se tratar de outro contexto e outra consciência, o discurso passa a ser visto pela consciência do interlocutor, que certamente não é a mesma do locutor; é constituída de outros discursos e vozes. O sentido é construído na troca, por meio do dialogismo, do diálogo entre duas consciências; “temos o texto virtual ou real e a compreensão que ele requer. O estudo torna-se interrogação e troca, ou seja, diálogo” (BAKHTIN, 1997, p. 341). Essa relação dialógica precisa ser compreendida e considerada pelo professor nas práticas de leitura, pois o contexto em que os alunos se inserem afeta a forma como compreendem os textos e discursos. É preciso partir da prática social deles, imersa no sistema capitalista, refletir e problematizar sobre essa prática nas atividades de leitura, para que, por meio desse processo, eles comecem a questionar os valores transmitidos por esse sistema. Assim, cabe ao professor o papel de mediador nesse processo, colocando desafios para a compreensão, ao mesmo tempo em que fornece condições para que o aluno possa assumi-los. Nesse sentido, “o professor, enquanto alguém que, de certo modo, aprendeu as relações sociais de forma sintética, é posto na condição de viabilizar essa apreensão por parte dos alunos, realizando a mediação entre o aluno e o conhecimento que se desenvolveu socialmente” (SAVIANI, 2011, p. 122). A mediação do professor é de fundamental importância nesse processo, pois o aluno consegue, com a ajuda de alguém mais experiente, realizar reflexões e atividades que não conseguiria sozinho naquele momento, porém adquire autonomia para desempenhar as mesmas tarefas após o processo de apropriação do conhecimento (VIGOTSKI, 2003). Para desenvolver esse trabalho de formar leitores críticos que questionam os valores que lhes são impostos, optamos por utilizar as HQs, por serem atrativas, possuírem linguagem simples e abordarem situações comuns do cotidiano, mesmo nos quadrinhos mais críticos e reflexivos. Precisamos destacar, entretanto, que ainda que os quadrinhos estejam sendo cada vez mais utilizados em livros didáticos, avaliações externas, vestibulares e concursos, ainda hoje existem críticas quanto ao uso das HQs no ensino de leitura, e a maior parte delas deve-se ao fato de elas serem produto da indústria cultural, que promove a alienação da população. O termo “indústria cultural”, foi criado por Adorno e Horkheimer, substituindo “cultura de massas”, devido à padronização dos produtos e também para evitar o pensamento de que se trata de uma cultura produzida pela massa, já que se tratava de algo produzido para o povo, reproduzindo os valores do sistema capitalista, com o objetivo de tornar a massa alienada, para que não se revoltasse com sua condição de explorada. As HQs surgiram como produto dessa indústria, a fim de reforçar os valores dominantes. Todavia, assim como ainda temos quadrinhos que seguem essa padronização, temos aqueles que subvertem o contexto de sua criação e buscam refletir criticamente sobre os valores da indústria cultural. As HQs “assim como qualquer forma de comunicação humana, têm servido ao longo da história tanto à reprodução da ideologia das classes dominantes quanto à sua denúncia, o que significa dizer que elas em si, não são boas nem más, mas sim o uso que fazemos delas” (SILVA, 2011, p. 69). Por isso, pretendemos estabelecer um contraponto com HQs que promovem essa padronização e internalização dos valores dominantes com aquelas que questionam esses valores, buscando uma reflexão sobre eles e uma ação transformadora da prática social. 2. Resultados alcançados Trata-se de uma pesquisa de doutorado em andamento, inserida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), cujo objetivo é compreender como a utilização sistematizada de HQs à luz da PHC pode contribuir com a formação de leitores críticos. Ainda não temos resultados produzidos para análise, entretanto esperamos que nossa pesquisa possa contribuir com a formação de professores, para que possam incluir atividades de leitura crítica com HQs em suas aulas, tornando-as mais dinâmicas e atrativas, ao mesmo tempo em que contribuem para elevar o nível de consciência social de nossos estudantes, contribuindo, por meio da mediação, com sua formação crítica e fornecendo meios para sua transformação social. Conclusões O ensino hoje é voltado aos interesses do capitalismo e da formação de mão de obra barata. A mudança desse cenário só será possível por meio de uma prática social crítica, na qual os indivíduos questionem os valores transmitidos pelo atual sistema, por esse motivo acreditamos que as HQs, apesar de serem produto da indústria cultural – a qual busca, de forma implícita, reforçar os valores da classe dominante e do sistema capitalista, impondo padrões de consumo e comportamento –, podem contribuir com a formação de leitores críticos, com atividades sistematizadas e intencionais, se soubermos selecionar aquelas que buscam subverter os padrões da indústria cultural e propor reflexões sobre nossa prática social e se trabalharmos em uma perspectiva dialógica, considerando sempre a troca entre professor e alunos. Referências bibliográficas BAKHTIN, Mikhail. O problema do texto na linguística, filologia e em outras ciências humanas. In: BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad. Maria Ermantina Galvão G. Pereira. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. FAILLA, Zoara (org.). Retratos da Leitura no Brasil 5. Instituto Pró-Livro, 2020. SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 11. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2011. SILVA, Ezequiel T. O ato de ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2011. VIGOTSKI, Liev S. Psicologia pedagógica. Trad. Claudia Schilling. Porto Alegre: Artmed, 2003.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

LANGONI, Ana Carolina; LOUREIRO, Robson. HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA FORMAÇÃO DE LEITORES CRÍTICOS À LUZ DA PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437536-HISTORIAS-EM-QUADRINHOS-NA-FORMACAO-DE-LEITORES-CRITICOS-A-LUZ-DA-PEDAGOGIA-HISTORICO-CRITICA. Acesso em: 23/05/2025

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