A NOSTALGIA TELEVISIVA EM ICARLY I: ANÁLISE DOS ELEMENTOS ESTÉTICOS

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
A NOSTALGIA TELEVISIVA EM ICARLY I: ANÁLISE DOS ELEMENTOS ESTÉTICOS
Autores
  • Rafael Barbosa Fialho Martins
  • Ana Júlia Soares Coelho
  • Mariana Xavier
  • Caroline Del Piero Gama
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 32 - Estudos interdisciplinares de televisão
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437486-a-nostalgia-televisiva-em-icarly-i--analise-dos-elementos-esteticos
ISSN
Palavras-Chave
televisão, nostalgia, iCarly, qualidade no audiovisual, ficção seriada
Resumo
Introdução O presente trabalho propõe a realização de um exercício analítico da série iCarly Revival (2021) pela plataforma de streaming Paramount+, um reboot da produção original Nickelodeon. Segundo o ator Nathan Kress (Freddie), o objetivo é alcançar o público que cresceu nos dez anos de hiato da série original, mas mantendo as referências ao universo criado ainda na Nick. Partindo da obra original e com consolidado sucesso, a série busca uma vinculação nostálgica, resgatando não apenas o universo narrativo e estético da série anterior, mas também o público adulto. Esse contexto evoca o problema de pesquisa: como o revival de iCarly (2021) mobiliza estratégias para promoção de vínculos nostálgicos com a série original (2007-2012)? No presente resumo, aprofundaremos na dimensão estética do Revival, entendendo como os elementos expressivos atuam na construção da nostalgia. Metodologicamente, este primeiro exercício colocará em prática a primeira dimensão da metodologia de observação da qualidade em produtos audiovisuais ficcionais como proposta por Borges (2014) – o Plano da Expressão. Ela nos permitirá descrever os elementos estéticos e, futuramente, avaliarmos a qualidade da proposta de resgate nostálgico. Analisaremos os episódios 1 (Recomeçando), 5 (O casamento robô) e 10 (A viagem das meninas) da série, corpus que possibilita observar os parâmetros de qualidade no início, meio e fim da temporada. 1. Fundamentação teórica Acreditamos que o revival de iCarly desponta como um exemplo de mercantilização da nostalgia – qualificada como um sentimento de tentar reviver algo que tenha sido significativo para os sujeitos. Castellano e Meimaridis (2017), retomando outros autores, demonstram que a acepção do termo nostalgia surge atrelada a um contexto negativo, de saudades da pátria de origem durante a guerra, mas que vai aos poucos sendo expandido, se descolando da conotação negativa, patológica, para rumar a um uso cultural. No contexto televisivo, Castellano e Meimaridis (2017) destacam que reviver, retomar e dar nova roupagem a produções já conhecidas do público é um expediente comum na indústria audiovisual norte-americana. Podem ser consideradas nostálgicas, aquelas obras que apostam em ambientações em períodos passados, buscando (re)construir uma “atmosfera” passada. Corrobora nesta percepção a análise de Ribeiro (2018), que enxerga no audiovisual um terreno fértil para a construção da nostalgia enquanto verdadeiro mercado. Ela mostra como a estratégia pode acenar com potencialidades e evidencia sua relação com a realidade atual e suas implicações nas experiências de temporalidade vivenciada dentro e fora das mídias. Contudo, as autoras destacam que a nova ambiência televisiva, cada vez mais estruturada pela lógica do streaming, aumenta exponencialmente as produções com algum resgate do passado, seja na retomada de narrativas, na ambientação da história e no público almejado. Em seu trabalho (2017), elas abordam a instrumentalização da nostalgia especificamente pela Netflix, que se utiliza bastante do recurso, com novas séries advindas dos originais: “[...] apontamos a instrumentalização da nostalgia como um importante recurso de aquisição e manutenção de espectadores a partir da apropriação do passado como um expediente rentável” (p. 74). Anos após a análise, a tendência permanece e se expande, quando pensamos na “explosão” de streaming que vemos nos mercados nacionais e mundial. A Paramount+ – a “casa” da nova versão de iCarly – é mais um agente nesse cenário de disputas pela audiência e engajamento, e só confirma a tese das autoras: o apelo ao passado é uma estratégia mercadológica. Portanto, o revival de iCarly parece ter como premissa o vínculo nostálgico ao investir em uma “[...] retomada de um passado próximo, possível de ser relembrado pelo espectador como parte de sua própria memória afetiva” (CASTELLANO; MEIMARIDIS, 2017, p. 63). Como dito, a série busca, preferencialmente, as audiências construídas nos anos da primeira exibição. Neste trabalho, objetivamos analisar qualitativamente esta proposta, no intuito de entender as potencialidades, acertos e inadequações da aposta em “reviver” iCarly. 2. Resultados alcançados O Revival mantém o mesmo estilo da abertura do iCarly. A mesma música e o mesmo universo cibernético com diferentes players e janelas, sendo moderna e contendo cenas dos novos episódios. No trabalho de câmera, mantém-se um padrão da câmera objetiva sobre todas as cenas e os cenários. Além disso, ela é fixa e no modelo panorâmico. Os ângulos variam de cena para cena, mas são sempre os mesmos: ângulos normal, frontal e lateral; e o contra-plongée sobre o prédio Bushwell, em Washington D.C, EUA. Já os planos variam de: médio, geral, de conjunto, americano e meio primeiro plano. Em relação à cenografia, os cômodos das casas têm extrema semelhança visual com a série original (móveis, os adereços de cena, objetos e os demais elementos). Houve pequenas adaptações necessárias nos tipos de enfeites, estampas, papéis de parede e outros elementos, consequência do atual alto status social do Spencer (dono do local). Permanecem ainda o estilo excêntrico, descontraído e jovial que remete ao original e há elementos que migraram para o Revival. Por exemplo, são mantidos objetos de cena como o “robô de garrafas pet” na sala de estar do Spencer; os enfeites de cachorrinhos salsicha, apoiados próximo ao teto da sala de gravações do “iCarly”; os adesivos de “iCarly.com” espalhados pela sala de gravações. Outros elementos resgatam a nostalgia do original, mas com modificações: os celulares possuíam o formato de uma pera e, no Revival, eles são retangulares com o símbolo pequeno de uma pera na parte traseira; se no original, Freddie usava uma câmera e um notebook para fazer as gravações, no reboot ele usa seu peraphone para gravar e transmitir a live do novo iCarly. Esses exemplos mostram o quanto a série resgata vínculos afetivos em detalhes cenográficos, que atuam como “easter eggs” para reconhecimento dos fãs mais ardorosos. A caracterização da protagonista, Carly Shay, tem relação com a série original: desde o modo de andar, agir, reagir e até falar. Cooperam nisso os elementos de figurino e maquiagem, que são joviais no Revival e, apesar de 14 anos de diferença, são simples e nada extravagantes. A transformação no estilo e na aparência da Carly ocorreu de forma moderada, mantendo a essência de sua personalidade, mesclando com as tendências atuais da moda — simbolizando o equilíbrio entre o “antigo” e o “novo” — exprimindo seu romantismo e casualidade através do figurino, composto por tons escuros e estampas menos extravagantes, consequência das experiências vividas em outro continente no intervalo de quase dez anos. Da mesma forma, houve alterações mínimas na caracterização dos personagens coadjuvantes que retornaram para a nova temporada do iCarly. No caso de Freddie, após dois divórcios e a paternidade surgindo, seria inevitável uma mudança em sua aparência, assim, a adição da barba em sua caracterização acrescenta um visual mais maduro ao personagem, que também permanece com suas preferências anteriores por vestimentas de estampas clássicas e casuais. Enquanto para Spencer, sua jovialidade e carisma ainda são perceptíveis nas características de seu vestuário, porém com uma expressão mais sofisticada e moderna que representam seu crescimento financeiro. As performances dos personagens seguem os mesmos traços marcantes apresentados na série original, havendo apenas eventuais modificações comportamentais que refletem a maturidade deles. Os diálogos são simples, de fácil entendimento para adultos e crianças e ricos em piadas e trocadilhos banais, característica do sitcom original. Além deles, encontramos efeitos sonoros de risadas como reação às piadas dos personagens. Também há novos termos no roteiro dos personagens que remetem à atual era tecnológica das redes sociais retratando a rapidez e o tempo de vida dos conteúdos na internet, algo novo, mas necessário para a série que trata situações contemporâneas. Outra inovação nos diálogos são as piadas com teor sexual ditas algumas vezes pelos personagens de Spencer e Harper, Freddie, Carly e Brooke. Reflexo de um público-alvo mais adulto. Conclusões Comparativamente, concluímos que no primeiro episódio do novo iCarly, a presença de elementos estéticos nostálgicos é persistente ao compará-lo com os episódios cinco e dez. Acreditamos que isso se deu pelo fato dele ser o primeiro contato do público consumidor do iCarly original com a volta do programa repaginado, necessitando mais atenção para as lembranças estéticas do mesmo. No entanto, analisando as questões do Plano de Expressão nos três episódios, como as questões técnicas das câmera, os cenários, a atuação dos personagens, o figurino, a maquiagem, a edição de áudio e a vinheta de abertura; percebemos que, apesar dos episódios cinco e dez se passarem em ambientes inéditos, ainda há a nostalgia dentro dos quesitos citados. Ou seja, se a premissa do revival é reviver o universo original de iCarly, a dimensão expressiva é importante para “embalar” e constituir esteticamente a proposta nostálgica, ora reproduzindo fielmente elementos da série original, ora atualizando-os. Referências bibliográficas BORGES, Gabriela. Qualidade na TV pública portuguesa. Análise dos programas do canal 2. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2014. CASTELLANO, Mayka; MEIMARIDIS, Melina. Produção televisiva e instrumentalização da nostalgia: o caso netflix. Revista GEMInIS, São Carlos, UFSCar, v. 8, n. 1, pp.60-86, jan. / abr. 2017. RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Mercado da nostalgia e narrativas audiovisuais. Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.3, set/dez. 2018.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MARTINS, Rafael Barbosa Fialho et al.. A NOSTALGIA TELEVISIVA EM ICARLY I: ANÁLISE DOS ELEMENTOS ESTÉTICOS.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437486-A-NOSTALGIA-TELEVISIVA-EM-ICARLY-I--ANALISE-DOS-ELEMENTOS-ESTETICOS. Acesso em: 13/06/2025

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