FESTA DE SANTA CRUZ EM TERRA ANCESTRAL: TURI VIMBA - TERRA DE NEGRO

Publicado em 23/12/2021

DOI
10.29327/154029.10-133  
Título do Trabalho
FESTA DE SANTA CRUZ EM TERRA ANCESTRAL: TURI VIMBA - TERRA DE NEGRO
Autores
  • Andreia Aparecida de Oliveira
  • Geraldo Tadeu Souza
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 08 - Memória, Narrativas e Discursos
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437461-festa-de-santa-cruz-em-terra-ancestral---turi-vimba---terra-de-negro
ISSN
Palavras-Chave
Quilombo, Festa de Santa Cruz, Mulher Negra
Resumo
Festa de Santa Cruz em Terra Ancestral: Turi Vimba - Terra de Negro OLIVEIRA, Andréia Aparecida de. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Condição Humana, Universidade Federal de São Carlos-Campus Sorocaba andreiaoliveira@estudante.ufscar.br SOUZA, Geraldo Tadeu. Professor Associado do Departamento de Ciências Humanas e Educação, Universidade Federal de São Carlos-Campus Sorocaba geraldo-souza@ufscar.br Introdução A Centenária Festa da Santa Cruz, no Quilombo Cafundó, foi documentada pela primeira vez em 1978, momento em que a mídia e a academia se interessaram pelo pequeno vilarejo de negros que, de repente, viraram notícia espetacular pela peculiaridade da língua falada em seu cotidiano, "língua africana”, como os próprios moradores designavam a cupópia. O bairro de pretos, até então desconhecido e invisível pelos poderes e interesses locais, tornou-se motivo de matéria de página inteira nos jornais locais e nacionais. E pela primeira vez é registrado para a história, vivências e origens do povo negro Turi Vimba de Salto de Pirapora. Nosso objetivo é apresentar o território como terra sagrada na celebração da tradicional e centenária festa, que ocorre sempre no mês de maio de cada ano. Para isso, apoiamo-nos na pesquisa documental, subsidiada pela Coleção Projeto Cafundó disponível na Plataforma de Documentos Sonoros do Centro de Documentação Alexandre Eulálio da UNICAMP e no Arquivo do Jornal Cruzeiro do Sul, que apontam para a possível reconstituição de um passado quase que invisibilizado, e que podem nos proporcionar referências culturais e algumas pistas de como esse território e seus simbolismos foram se constituindo ao longo da história. Esses documentos sonoros e impressos (ou digitais) nos chama a atenção por perpassar o tempo e compor memórias e narrativas orais da festa pelos seus e suas moradores e moradoras, demarcando sua importância histórica e, principalmente, por a Festa de Santa Cruz estar ligada a história da matriarca deste espaço, Dona Ifigênia, a pioneira dessa manifestação cultural e religiosa. 1. Fundamentação teórica Adotamos o termo escrevivências de Conceição Evaristo (EVARISTO, 2021), compreendido como a possibilidade de reescrevermos nossa história, enquanto vozes negras, para, a partir das reflexões de autoras negras, tratar e pontuar a importância da vida e das ações que as mulheres negras do Quilombo Cafundó constróem a partir da matriarca Dona Efigênia. Acreditamos que essas pesquisadoras podem contribuir com a análise para resgatar a tradição cultural e religiosa na história desse grupo, como constituição do seu território, a compreensão de seu lugar na sociedade e ressignificação do quilombo como espaço de sociabilidade, resistência e existência livre (NASCIMENTO, 1979 apud RATTS, 2006). Com Beatriz Nascimento (NASCIMENTO,1979 apud RATTS, 2006, p. 48), pensamos o conceito de quilombo como território de liberdade, espaço em que a história é construída e não está apenas relacionado com o espaço territorial geográfico, mas com o território simbólico: “A Terra é meu quilombo. Meu espaço é meu quilombo. Onde eu estou, eu estou. Quando eu estou, eu sou”. Dessa forma, presumimos que a territorialidade e o sagrado estão ligados ao sentido de pertencimento à terra ancestral, ou seja, à construção de uma narrativa simbólica e religiosa. Lélia Gonzalez (GONZALEZ, 2020), na perspectiva de associar de forma figurada os quilombos contemporâneos com suas reflexões sobre a importância da mulher negra e quilombola na constituição da própria cultura brasileira, afirma a presença da mulher negra: [...] Enquanto escrava ela foi dirigida para diferentes tipos de trabalho, que iam desde aquele no campo (plantação de cana, café etc) até o trabalho doméstico. No primeiro caso, enquanto escrava do eito, ela estimulou os companheiros para revolta, a fuga e formação de quilombos. Enquanto habitante desses últimos, ela participou, como em Palmares, das lutas contra as expedições militares destinadas a sua destruição, nunca deixando de educar seus filhos dentro do espírito antiescravista, anticolonialista e antiracista. (GONZALEZ, 2020, p. 198) E, finalmente, com Glória Moura (MOURA, 2012), ao observar as Festas dos Quilombos nas comunidades negras rurais, é possível apontar que nessas comunidades rurais a dimensão do modo de vida e sua maneira de existência em um território ancestral e a religiosidade relacionada com as festas são substanciais para a garantia da história cultural e territorial de tais comunidades: Resgatar e/ou preservar a base territorial dos grupos é condição para eles manterem memória, patrimônio cultural e identidade. As comunidades têm em comum a doação das terras, mas diferem quanto à capacidade ou possibilidade de preservá-las. (MOURA, 2012,p.65) 2. Resultados alcançados Até o momento, nossas buscas pelo tema da Festa de Santa Cruz nos depoimentos da Coleção Projeto Cafundó da Plataforma de Documentos Sonoros do Centro de Documentação Alexandre Eulálio da UNICAMP e nos arquivos do Jornal Cruzeiro do Sul, apontam para um conjuntos de narrativas e reportagens sobre a festa no de 1978, escolhido para esta apresentação. Nas narrativas que coletamos em conversas com moradoras(es) do Quilombo Cafundó, a matriarca Dona Ifigênia aparece como mentora da construção da capela da comunidade a partir de uma promessa, assim como a festa de Santa Cruz também teria início com a sua devoção. As entrevistas para o Jornal Cruzeiro do Sul e os depoimentos dos documentos sonoros analisados indicam direções para compreensão desse passado e reconstrução da memória, apresentando elementos que demonstram identidades individuais e coletivas de vivências nesse quilombo rural, que se apegava na fé como alternativa para se constituírem de forças e, assim, continuar resistindo a toda forma de opressão e injustiças. De acordo com Glória Moura (MOURA, 2012, p. 70-71), As práticas religiosas, inseparáveis das festas, revelam uma dinâmica cultural que se pode observar nas comunidades negras rurais. O ritual aparece aqui como o modo que tem essas comunidades de apresentar para si mesma a sua organização social, como ela se desmonta e remonta ciclicamente. Através das constantes que se repetem no tempo, pode-se perceber a estrutura que articula essas celebrações festivas, e, quanto mais elas são insistentes, mais se vê quanto são semelhantes. Em toda comunidade que conheci, a fé é uma fator de resignificação, mas com a maneira mestiça de ser, mesclando elementos católicos e africanos. Como podemos notar a permanência das festas nas comunidades negras rurais tem sua importância como prática cultural religiosa, mas também como forma do reencontro com os que deixam a comunidade, em especial jovens mulheres na luta pela sobrevivência buscando trabalho na cidade. Sobre o retorno, encontramos registro da fala de Ana em reportagem em que o jornalista narra os acontecimentos da festa: Tenho 21 anos. Sou do Cafundó mesmo. Saí daqui há 4 anos e fui morar na cidade. Por que? Ora, aqui não tem o que fazer, nem como viver… Ela ainda está falando quando os primeiros rojões começam a ser ouvidos. Sinal que o primeiro grupo já se encontrou com o festeiro. E que está na hora de sair a Santa. Agora todos correm. Uma senhora grita com uma menina: Arruma a saia melhor. Outra quer saber quem se encarregará de levar a Santa. Uma terceira começa a formar a fila: - Corre, Ana. Você vai na frente. Formado o grupo a procissão sai. Ana na frente. Atrás, a Santa. As outras pessoas seguem atrás, todos com velas nas mãos. (CRUZEIRO DO SUL, 1978, p.7) O retorno ao território sagrado se presume estar ligado ao sentido de pertencimento à terra ancestral quando retornam para o dia da festa e participam de todo o processo de preparação e andamento, “desempenhando nelas o seu papel habitual” (MOURA, 2012, p. 71). 3. Conclusões Algumas considerações preliminares indicam, através da pesquisa documental com documentos sonoros e impressos (digitais) um caminho que poderá construir uma visão mais concreta da dinâmica histórica e da trajetória nessa luta da permanência em Terra de Pretos - “Turi Vimba” -, por parte dos moradores dessa pequena comunidade rural de descendentes de povos escravizados. Percebemos que, apesar do processo de construção da história de identidade da mulher negra ser complexa, um trabalho artesanal, uma colcha de retalhos pela ausência quase total de registro da existência desse cotidiano dessa comunidade negra, elas estão presentes em todos os movimentos do território. Resgatar e ressignificar essa construção identitária, principalmente com a tomada de consciência e valorização de suas referências culturais, de seu universo sociocultural e simbólico em relação com o território ancestral, está sendo a principal contribuição desta pesquisa para a comunidade do Quilombo Cafundó. 4. Referências bibliográficas CRUZEIRO DO SUL. Cafundó mantém tradição da festa em Salto de Pirapora, Jornal Cruzeiro do Sul, Sorocaba, 16 maio 1978. Seção Região, p. 7. Disponível em: <Jornal Cruzeiro do Sul - Jornal Cruzeiro do Sul> Acesso em: 21 set. 2021. EVARISTO. Conceição. Conceição Evaristo: a escrevivência das mulheres negras reconstrói a história brasileira. Entrevista por Morgani Guzzo. Catarinas. Florianópolis, Santa Catarina, 28 jul. 2021. Disponível em: <https://catarinas.info/conceicao-evaristo-a-escrevivencia-das-mulheres-negras-reconstroi-a-historia-brasileira/>. Acesso em: 1 out. 2021. GONZALES, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios , intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. MOURA, Gloria- Festas dos Quilombos. Brasília : Editora Universidade de Brasília, 2012. E-book. RATTS, A. Eu sou Atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo: Instituto Kuanza; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
DOI

Como citar

OLIVEIRA, Andreia Aparecida de; SOUZA, Geraldo Tadeu. FESTA DE SANTA CRUZ EM TERRA ANCESTRAL: TURI VIMBA - TERRA DE NEGRO.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437461-FESTA-DE-SANTA-CRUZ-EM-TERRA-ANCESTRAL---TURI-VIMBA---TERRA-DE-NEGRO. Acesso em: 27/05/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes