NARRATIVAS AUDIOVISUAIS E LUTAS INDÍGENAS CONTEMPORÂNEAS: MAPEANDO EXPERIÊNCIAS NO NORDESTE

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
NARRATIVAS AUDIOVISUAIS E LUTAS INDÍGENAS CONTEMPORÂNEAS: MAPEANDO EXPERIÊNCIAS NO NORDESTE
Autores
  • Karliane Macedo Nunes
  • Vinícius Silva Dórea
  • Wilson Carvalho Silva
  • Marcelo de Campos
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 08 - Memória, Narrativas e Discursos
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437387-narrativas-audiovisuais-e-lutas-indigenas-contemporaneas--mapeando-experiencias-no-nordeste
ISSN
Palavras-Chave
narrativas audiovisuais indígenas; memória; interculturalidade; descolonização; indígenas do Nordeste
Resumo
Introdução A apropriação e os usos das tecnologias audiovisuais por povos indígenas, configuram-se, na atualidade, como um potente instrumento de organização social, ferramenta política de luta por direitos e forma de comunicação entre os diferentes grupos e a população não-indígena. A partir dos anos 1990, o acesso crescente às novas tecnologias de comunicação e à internet tem colaborado de modo significativo para a ampliação e a diversificação da produção audiovisual indígena nas diferentes regiões do país e esse protagonismo tem se configurado como um espaço importante de elaboração e circulação de narrativas em favor das lutas políticas por garantia de direitos, do fortalecimento das culturas e da elaboração de memórias. Este artigo traz algumas questões presentes em nossa pesquisa, ainda em andamento, e que tem como objetivo realizar um mapeamento e análise das experiências audiovisuais indígenas do Nordeste, através da identificação dos coletivos atuantes na região e de seus acervos audiovisuais, bem como dos principais festivais de cinema indígena na atualidade. Os vídeos estão sendo identificados e classificados com as seguintes informações: etnia, coletivo, direção, título, sinopse, gênero, ano, duração, temas e links de acesso. Espera-se, a partir do levantamento e da sistematização desses dados, desenvolver uma reflexão sobre os modos de engendramento entre as produções audiovisuais e as narrativas indígenas na atualidade, com destaque para o tema das lutas indígenas contemporâneas, da elaboração de memórias e da autorrepresentação. 1. Fundamentação teórica Para discutir essas questões, a perspectiva teórico-metodológica aqui adotada parte da abordagem descolonizadora da intelectual indígena Linda Smith (2018) e dos estudos culturais de corte decolonial a partir de pesquisadores como Catherine Walsh (2008, 2009), Aníbal Quijano (2005) e Santiago Castro-Gomez (2005), que vem empreendendo grandes esforços para – em diálogo com os grupos subalternizados pelo discurso dominante, as minorias e os movimentos sociais – fomentar vias de descolonização do pensamento dentro e fora das Universidades. A abordagem dos estudos culturais chamam a atenção para as condições sociais e institucionais nos quais os sentidos são produzidos, operando também no sentido de abrir espaço para vozes marginalizadas e grupos sub-representados, a partir de pesquisas que incluem análises de representações de minorias e que situam o audiovisual no espectro mais amplo das práticas culturais, considerando-o enquanto sistema de representação e significação, de onde expressam-se várias vozes sociais e diferentes perspectivas culturais. Como destaca a intelectual maori Linda Smith (2018), “as comunidades indígenas têm lutado desde a colonização para serem capazes de exercer o que é visto como um direito fundamental, que é o de se autorrepresentarem”. A noção de representação é entendida como um conceito político e como uma forma de voz e expressão. (SMITH, 2018, p. 175). Catherine Walsh (2008), por sua vez, desenvolve a noção de “interculturalidade crítica”, entendida como um projeto político que possibilita o diálogo sincero e horizontal entre as culturas na busca da construção de uma sociedade mais justa e plural. A interculturalidade crítica configura-se como um instrumento de descolonização, uma ferramenta pedagógica de questionamento das ausências e dos processos de subalternização, que busca tornar visíveis outros modos de saber e viver, e promover condições de articulação das diferenças. São “projetos, processos e lutas que se entretecem conceitualmente e pedagogicamente, que incentivam uma força, iniciativa e agência ético-moral que fazem questionar, transformar, sacudir, rearmar e construir”. (WALSH, 2008). 2. Resultados alcançados A dimensão exploratória e documental da pesquisa em andamento envolve a realização de um levantamento dos coletivos audiovisuais indígenas, bem como dos principais festivais atuantes no Nordeste a fim de identificar, sistematizar e analisar essa produção audiovisual, buscando compreender, a partir dos dados sistematizados, quais narrativas estão sendo produzidas e postas em circulação e que papel cumprem na agenda das lutas indígenas contemporâneas e na construção da memória dos povos. O levantamento está sendo realizado a partir das redes sociais, sites das associações indígenas e do diálogo (por meio de encontros remotos) com realizadores indígenas Tingui-botó, Xukuru e Pankararu. Com isso, o processo de coleta de dados torna-se intercultural e colaborativo, funcionando como um espaço dialógico de troca de saberes. Até o momento, foram pesquisados mais de 90 vídeos, coletados em acervos audiovisuais localizados em canais dos coletivos audiovisuais no YouTube e no portal Cinema de Índio. Os realizadores indígenas Tingui-botó e Xukuru de Ororubá, parceiros desta pesquisa, são responsáveis pelos canais Tingui Filmes e Ororubá Filmes no Youtube. O primeiro possui um acervo mais discreto, composto por 18 vídeos realizados por Marcelo Tingui, que destaca a importância da visibilidade da cultura de seu povo, localizado no estado de Alagoas, como arma para a luta por direitos. Já o segundo possui um grande acervo audiovisual, construído por meio de diversas oficinas e projetos, e tem como foco a luta do povo Xukuru por seus direitos e o vínculo com os antigos guerreiros, em especial com o ex-cacique Xicão Xukuru, assassinado na década de 1990. Já o portal Cinema de Índio veicula os resultados de um projeto que realizou oficinas de produção audiovisual com diversos indígenas do estado de Pernambuco e que tem, dentre outros objetivos, amplificar as vozes indígenas para todo o país, através dos filmes produzidos por eles mesmos. O acervo do portal conta com mais de 80 vídeos produzidos entre 2018 e 2019 por realizadores Fulni-ô, Xukuru, Kapinawá, Pankararu, Kambiwá, Pipipã, Truká e Atikum. Depois de assistir a esses vídeos (a maioria documentários de curta duração), podemos afirmar que tratam de temas diversos, com destaque para as histórias dos atuais anciãos e dos que já se foram, para questões ambientais e práticas tradicionais (como o artesanato e a pintura cultural), e também para aspectos da cultura cotidiana e da luta contra o preconceito e por garantia de direitos. Chama a atenção nesses vídeos a diversidade étnica e cultural dos indígenas do Nordeste, bem como o modo de produção coletiva nos processos de elaboração de narrativas e memórias dos povos, sem que haja a presença de um discurso autoral que dê destaque a apenas um diretor ou diretora. Conclusões A pesquisa em andamento já catalogou aproximadamente 90 vídeos realizados por indígenas do Nordeste em torno dos mais diversos temas, com destaque para as lutas contra o preconceito e por garantia de direitos, para as histórias dos anciãos e aspectos da cultura cotidiana de cada povo. Esses vídeos são, geralmente, resultado de um trabalho coletivo, que envolve toda a comunidade e busca atender as demandas dos territórios, fortalecendo o diálogo intergeracional, facilitando o diálogo interétnico e abrindo espaços de visibilidade e diálogo com a sociedade não-indígena. Assim, a produção audiovisual indígena promove a interação e a troca de saberes, registra práticas tradicionais, atua como forma de preservação cultural e de construção memória, colaborando com processos diversos nos campos das culturas, das artes e da educação. Referências ARRUTI, José M. A. Morte e vida do Nordeste indígena: a emergência étnica como fenômeno histórico regional. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 8, n. 5, p. 57-94, 1995. CASTRO-GÓMEZ, S. Ciências Sociais, violência epistêmica e o problema da “invenção do outro”. In: Lander, E. (Org.) A Colonialidade do saber: eurocentrismo e Ciências Sociais. Perspectivas latino-americanas. Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad Autônoma de Buenos Aires, Argentina, 2005. QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: Lander, E. (Org.). A Colonialidade do saber: eurocentrismo e Ciências Sociais. Perspectivas latino-americanas. Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad Autônoma de Buenos Aires, Argentina, 2005. SMITH, L. Descolonizando metodologias: pesquisa e povos indígenas. Trad. Roberto Barbosa. Curitiba, Editora UFPR, 2018. WALSH, C. Interculturalidad crítica y pedagogía de-colonial: apuestas (des)de el in- surgir, re-existir y re-vivir. Universidad Andina Simón Bolívar sede Ecuador, Quito, 2008. _________. Hacia una comprensión de la interculturalidad. Tukari, Septiembre-Octubre 2009.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

NUNES, Karliane Macedo et al.. NARRATIVAS AUDIOVISUAIS E LUTAS INDÍGENAS CONTEMPORÂNEAS: MAPEANDO EXPERIÊNCIAS NO NORDESTE.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437387-NARRATIVAS-AUDIOVISUAIS-E-LUTAS-INDIGENAS-CONTEMPORANEAS--MAPEANDO-EXPERIENCIAS-NO-NORDESTE. Acesso em: 05/05/2025

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