Título do Trabalho
SE TUDO DER ERRADO, EU CRIO UM ONLYFANS
Autores
  • Isabela Graton
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 03 - Gênero, Violências, Cultura – Interseccionalidade e(m) Direitos Humanos
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437361-se-tudo-der-errado-eu-crio-um-onlyfans
ISSN
Palavras-Chave
Pornografia; internet; sexagem; interseccionalidade; indu´stria do sexo.
Resumo
INTRODUÇÃO O presente trabalho apresenta uma análise da banalização da indústria pornográfica atual, mais especificamente da venda de conteúdos eróticos no site OnlyFans*, que é retratado na mídia como uma carreira supostamente lucrativa e fácil. Nos últimos dois anos, o OnlyFans tem registrado um aumento exponencial de usuários, principalmente durante a pandemia do Coronavírus. Além disso, é possível constatar que o site se popularizou de uma forma tão intensa que seu nome passou a fazer parte do imaginário coletivo. Hoje não é raro ver o compartilhamento de memes na internet sobre como "se tudo der errado na sua vida você pode criar um OnlyFans". Ele foi parar até em uma música da cantora Beyonce e artistas, como a brasileira Anitta e a estadunidense Cardi B., também criaram contas na plataforma gerando ainda mais publicidade para o site. Dessa forma, utiliza-se a análise de conteúdo, feita com algumas matérias de jornais e publicações nas redes sociais, e a revisão bibliográfica, utilizando teorias feministas, para levantar pontos importantes sobre a popularização da plataforma e como essa normalização da venda de conteúdos pornográficos é prejudicial para as mulheres. *O site OnlyFans foi criado em 2016 pelo britânico Tim Stokely supostamente com o objetivo de aproximar artistas de seus fãs, por ser uma plataforma que permite oferecer conteúdos pagos e exclusivos. Porém, a sua popularidade aumentou em 20201 devido à utilização para venda de vídeos e fotos pornográficas.  1. Fundamentação teórica Para analisar este fenômeno, serão utilizados os conceitos de sexagem, do feminismo materialista francês, e de interseccionalidade, para mostrar como uma análise sobre a indústria do sexo precisa levar em consideração as dimensões de sexo, raça e classe e como a banalização do OnlyFans pode impactar ainda mais as mulheres racializadas e de classes mais baixas. As teóricas do feminismo materialista francês, que se desenvolveu a partir dos anos 1970, analisaram como a dominação masculina se expressa também através da apropriação dos corpos e da sexualidade das mulheres e da imposição da heterossexualidade. A autora Monique Wittig, por exemplo, analisa a heterossexualidade como um sistema político e como um poderoso dispositivo ideológico (o qual nomeia “pensamento straight”), base da apropriação das mulheres e de sua situação de classe (CURIEL E FALQUET, 2014). Para a autora materialista Colette Guillaumin (2014), a relação que existe entre a classe dos homens e a classe das mulheres é de apropriação e dominação, tanto ideológica quanto material. Assim, ela utiliza o conceito de sexagem para descrever como o corpo das mulheres é apropriado pelos homens, através de instituições como o matrimônio e a prostituição. Guillaumin compara essa apropriação de um sexo pelo outro com o conceito de escravidão fazendo um paralelo entre a situação das mulheres e dos escravos e escravas das plantações [plantations] do século XVIII, também apropriados e apropriadas como ferramentas de produção e de reprodução (CURIEL E FALQUET, 2014). Ou seja, a autora mostra que o corpo das mulheres é tratado como uma coisa, um objeto que deve sempre estar à disposição dos homens. Os altos índices de violências sexuais, como assédio e estupro, mostram que os corpos das mulheres não pertencem a elas, ele é apropriado pela classe masculina, tanto de forma privada (no casamento) quanto pública (na prostituição e nas violências sofridas em ambientes públicos). A banalização da venda de conteúdos pornográficos na internet está inserida, então, nesse contexto em que as mulheres já têm seus corpos dominados e regulados pelos homens em todas as instâncias. Além disso, ao analisar a indústria pornográfica (mesmo os sites mais modernos, como o OnlyFans) é necessário empregar o conceito de interseccionalidade, para entender como mulheres racializadas e de classes mais baixas são afetadas de forma desproporcional. Patricia Hill Collins (1990), mostra como as mulheres negras estadunidenses tiveram seus corpos completamente objetificados e mercantilizados, de tal forma que são tratadas não como seres humanos, mas como animais. Ela faz uma conexão, então, entre a forma em que as mulheres são retratadas na pornografia contemporânea e como as mulheres negras foram tratadas nos EUA durante a escravidão. Em ambos os casos, elas são utilizadas para o prazer masculino, são violentadas e desumanizadas. Percebe-se, então, que a pornografia funciona como um lugar de interseccionalidade, assim como a prostituição e a indústria do sexo como um todo. Nela, todas as opressões estão expressas tanto na sua produção quanto nos seus conteúdos. Até hoje, a pornografia sexualiza esterótipos racistas e enquadra mulheres negras, asitáticas e latinas em "categorias" específicas dos sites pornográficos. 2. Resultados alcançados A presente pesquisa foi feita através de uma análise de conteúdo de matérias de jornais, e memes compartilhados nas redes sociais. Também foi utilizada uma revisão bibliográfica de textos e livros das feministas materialistas francesas, de feministas que se posicionam contra a indústria do sexo e de feministas negras, como bell hooks, Patricia Hill Collins e Lélia Gonzalez, para compreender de que forma a indústria pornográfica afeta mulheres de outras raças e classes sociais. Durante a análise, constatou-se que há sim uma banalização e normalização da venda de conteúdos pornográficos e que esse fenômeno tem se intensificado nos últimos anos. Matérias de jornais que abordam a popularização do site OnlyFans, por exemplo, raramente comentam sobre os aspectos negativos de se tornar um “produtor de conteúdo” da plataforma, focando na glamourização desse suposto trabalho. As celebridades que entraram para a plataforma também ajudam a popularizar o nome do site e inseri-lo no imaginário coletivo. A indústria pornográfica atual, representada por sites como o OnlyFans e as plataformas de camming, está sendo exposta na mídia como uma opção viável de trabalho para as pessoas, principalmente para as mulheres jovens. Isso é preocupante, afinal esse tipo de conteúdo muitas vezes dissemina ideias errôneas sobre a venda de conteúdos pornográficos online. Através desta análise, que incorporou conceitos do feminismo materialista francês, do feminismo radical antipornografia e de feministas negras, percebe-se que a situação é muito mais complexa e envolve mais fatores do que a simples "escolha" de entrar para a indústria do sexo. O fato do OnlyFans ter se tornado tão conhecido a ponto de fazer parte da cultura pop normaliza, sobretudo para as garotas jovens, a mercantilização do corpo e da sexualidade. É claro que essa normalização já ocorria mesmo antes da ascensão dessa plataforma, porém não é possível negar que o OnlyFans tornou a produção de conteúdos pornográficos ainda mais fácil e acessível para qualquer um. Se, na visão liberal, isso significa que ele democratizou a indústria pornográfica e deu mais liberdade e poder para quem quer fazer parte dela, uma análise materialista mostra que, na verdade, essa banalização pode ser prejudicial para as mulheres. Isso porque não aborda os pontos negativos da indústria e pode influenciar meninas a entrarem nela sem antes analisar os riscos. CONCLUSÃO Nós, mulheres, aprendemos desde pequenas que o nosso corpo é público e não nos pertence. Como as feministas materialistas francesas expuseram de forma brilhante, a classe sexual das mulheres é apropriada pela classe sexual dos homens e essa apropriação se dá, também, através da sexualidade e do corpo. A indústria pornográfica reforça essa lógica mostrando que nós somos objetos sexuais que servem apenas para serem utilizados pelos homens. Também reforça os estereótipos racistas, desumanizando ainda mais as mulheres não brancas. Portanto, este trabalho busca levantar questionamentos para que possamos analisar melhor os impactos que a popularização da indústria pornográfica tem na vida das mulheres e meninas. Referências bibliográficas COMBES, Danièle & HAICAULT, Monique. “Produção e reprodução. Relações sociais de sexos e de classes”. In: A. Kartchevsky-Bulport (org.). O Sexo do Trabalho, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, pp.:23-44  DINES, Gail. Pornland: how porn has hijacked our sexuality. Boston: Beacon Press, 2010.  GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais  Hoje. Anpocs. p.223-244. 1984.  GUILLAUMIN, Colette. Prática do poder e ideia de natureza. In: FALQUET, Jules (et. al.). O patriarcado desvendado: teoria de três feministas materialistas. Recife: SOS Corpo e Cidadania, 2014.  HILL COLLINS, Patricia. Pensamento feminista negro. Boitempo, 2019.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

GRATON, Isabela. SE TUDO DER ERRADO, EU CRIO UM ONLYFANS.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437361-SE-TUDO-DER-ERRADO-EU-CRIO-UM-ONLYFANS. Acesso em: 14/05/2025

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