LIVES E FANDOM NO CONTEXTO DA PANDEMIA: UMA ANÁLISE DE TRANSMISSÕES AO VIVO APÓS UM ANO DA COVID-19

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
LIVES E FANDOM NO CONTEXTO DA PANDEMIA: UMA ANÁLISE DE TRANSMISSÕES AO VIVO APÓS UM ANO DA COVID-19
Autores
  • Vanessa Coutinho Martins
  • Pedro Augusto Silva Miranda
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 28 - Informação, Educação e Tecnologias
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437354-lives-e-fandom-no-contexto-da-pandemia--uma-analise-de-transmissoes-ao-vivo-apos-um-ano-da-covid-19
ISSN
Palavras-Chave
live, pandemia, fandom, midiatização
Resumo
Introdução A partir do acontecimento da pandemia, vários aspectos de nossas vidas tiveram que ser adaptados em uma nova configuração de habitar na rede. O ano de 2020, marcado pela pandemia da COVID-19, contou com um elemento específico que proporcionou sociabilidades na ambiência digital: as lives. De aulas de yoga a eventos musicais, as transmissões ao vivo tomaram conta da Internet e proporcionaram encontros sem aglomerações presenciais. Dito isso, a proposta deste artigo baseia-se na análise de três lives que tiveram como público alvo o fandom de Harry Potter. Duas dessas transmissões ocorreram no segundo semestre de 2020, período em que o coronavírus se alastrava e as vacinas ainda estavam em fase de desenvolvimento e a outra ocorreu no segundo semestre de 2021. Buscamos, com auxílio da metodologia de Análise da materialidade audiovisual (COUTINHO, 2016), identificar possíveis diferenciações, tanto estruturais quanto interacionais levando em conta dois períodos diferentes da pandemia, em que temos características distintas não apenas de organização das produções, mas dos indivíduos que, no recorte temporal, encontram-se em um período de um ano interagindo por meio das telas em um momento de vulnerabilidade mundial e que, aos poucos, retomam suas interações de forma presencial. 1. Fundamentação teórica A cultura de fãs é uma das bases do presente artigo, levando em conta o recorte e a temática escolhida para tal. Com isso, as referências de Henry Jenkins são essenciais para a construção do conhecimento científico. Suas obras: “Cultura da Convergência” (2006), “Confronting the Challenges of Participatory Culture, Media Education for the 21st Century” (2009) e “Cultura da Conexão” (2014) compõem a estruturação. Ainda, a partir da metodologia Análise da materialidade audiovisual (COUTINHO, 2016), escolhida para o estudo das lives, acrescentamos as teorizações de Genette (2009) a respeito do termo paratexto, importante para o reconhecimento dos sentidos propostos pelos produtos audiovisuais quer para seu público, quer para a própria mídia. Para a fundamentação teórica do presente trabalho acionamos ainda os conceitos de midiatização da cultura e da sociedade (HJARVARD, 2014) e de bios midiático (SODRÉ, 2002) para compreender os processos de virtualização na contemporaneidade intensificados, sobretudo, com o advento da pandemia de Covid-19 a partir de 2020. Essas teorias ao serem tensionadas nos dão pistas para o entendimento de fenômenos midiáticos como as lives e a atuação dos fandoms. Ao propor o conceito de bios midiático, Sodré (2002) reflete sobre o pensamento de Aristóteles, que segundo o autor, conceitua três gêneros de existência na polis grega: modo do conhecimento, do prazer e da sociabilidade política. O termo bios está relacionado à vivência, à sociabilidade na cidade, são as investiduras, onde o indivíduo se aloja para ser social. No sentido em que é empregado na teoria não tem relação direta com o que é biológico, mas sim com questões culturais e sociais. Sodré (2002) propõe a mídia como um quarto bios. Pensando sobre a contemporaneidade, os sujeitos também habitam a mídia. Basta olhar para o fenômeno midiático das lives em tempos de pandemia. No Brasil, peças teatrais, apresentações de músicos, saraus e clubes de leitura, por exemplo, ganharam as telas e a Internet durante o período de isolamento social físico. Portanto, de acordo com Sodré, seria o bios midiático ou bios virtual, outro tipo de forma social. O conceito de Hjarvard (2014) nos parece complementar ao que propõe Sodré com a virtualização. O pesquisador dinamarquês, a partir da midiatização, apresenta uma teoria da influência da mídia em mudanças estruturais na cultura e na sociedade e que não está restrita somente às esferas públicas e políticas. Portanto, a midiatização trata das transformações de longa duração na relação entre a mídia e outras esferas sociais. Diferentemente da mediação, que diz respeito ao uso das mídias para práticas comunicativas específicas, a midiatização abarca os padrões em transformação de interações sociais e relações entre indivíduos e organizações. Sendo fundamental para a compreensão da ambiência instaurada/intensificada pelas transmissões via Internet durante a pandemia. 2. Resultados alcançados Ao compararmos imageticamente as lives presentes no recorte desta pesquisa, obtivemos a constatação de que as duas transmissões do início da pandemia, em 2020, tinham uma ambientação mais caseira e os convidados eram inseridos de forma externa, devido às fortes recomendações de distanciamento social, em uma espécie de “espontaneidade roteirizada”. A transmissão correspondente ao período da pandemia em 2021, após um ano de diferença das duas produções anteriores e já com a vacinação avançando, porém, contou com cenários de estúdio com presença de convidados presenciais. Além disso, levando em conta que lives são conteúdos divulgados amplamente em rede e que não há restrição geográfica para sua disseminação na Internet, a responsabilidade dos produtores de conteúdo em incentivar as medidas de segurança são imprescindíveis, já que a pandemia não chegou ao fim. Mesmo que no recorte temporal desta pesquisa a vacinação já estivesse avançada em diversos países, o cenário do corpus de análise é marcado pela variante Delta se alastrando. Embora diversos países tenham flexibilizado a obrigatoriedade do uso de máscara e do distanciamento social, após um aumento no número de vacinados, o encorajamento à contínua implementação das medidas de segurança, recomendadas pela OMS, é fundamental tendo em consideração o papel influenciador e de responsabilidade social que os veículos de comunicação e influenciadores possuem na disseminação de conteúdo informativo. A primeira live analisada é marcada pela apresentação da estação King’s Cross vazia, sem as tradicionais apresentações de fãs da saga Harry Potter na data de 1º de setembro, data importante para o fandom. Mesmo com o clima de celebração, o tom de prevenção e preocupação com o distanciamento social acompanha a transmissão pelo famoso “be safe, wear your mask”. A segunda live, em ordem cronológica, também segue o padrão de prevenção do coronavírus, a começar na venda de ingressos em que o espectador tinha direito a uma máscara personalizada. Ainda, de uma forma irreverente, ocorreu a exposição de mensagens de prevenção como “stay home, stay safe” com a gravação de convidados ao invés de compartilharem o mesmo ambiente. A terceira live do recorte, já em um contexto de vacinação mundial em andamento, apresentou níveis de conscientização distintos das duas anteriores. Com aproximadamente 29% da população mundial totalmente vacinada no dia da transmissão, o conteúdo não incentivou as medidas de segurança ainda necessárias para evitar a propagação do vírus, mostrando no vídeo a movimentação de parques temáticos e exposições em alguns países, com pessoas usando máscaras de forma inadequada ou não fazendo o uso e não respeitando o distanciamento mínimo. A questão delineada aqui, porém, não está relacionada à reabertura dos estabelecimentos, já que isso vem acontecendo de forma gradual (desde o início da vacinação) e o uso de máscaras vem deixando de ser obrigatório em algumas localidades, com aval das instituições sanitárias e governos, mas sim, do incentivo às precauções ainda necessárias para frequentar instalações com grande número de pessoas de diversos países. Com relação aos níveis de interação e satisfação do fandom, nas transmissões que ocorreram em 2020, foi possível detectar comentários sobre a pandemia e o isolamento social pelos fãs, diferentemente do que aconteceu com a live de 2021, em que o tema não estava em pauta na conversação e nem no conteúdo da transmissão. Conclusões A roteirização parece ser o fio condutor que liga, não apenas os produtos analisados, mas as lives como um todo, numa tentativa de controle de algo que nasceu com a pretensão de mostrar o rotineiro na sua forma crua. Ainda, os níveis de conscientização sobre a pandemia caíram substancialmente e tendem a diminuir. Porém, isso não incomodou o fandom analisado, que não teve como pauta a pandemia na conversação do chat da live de 2021. Frases de conscientização, tão repetidas em 2020, parecem que tiveram seus significados e importância esvaziados após sua tão frequente repetição. Dito isso, mesmo com níveis de visualização e interação das transmissões em queda, é importante pensar no papel conscientizador que esse tipo de conteúdo possui e no poder de influência que os veículos com cunho de entretenimento também apresentam. Vale lembrar que esta produção científica possui um recorte temporal particular e as considerações levam em conta as condições e o contexto sanitário e interacional de momentos específicos da pandemia. Referências bibliográficas COUTINHO, Iluska. O telejornalismo narrado nas pesquisas e a busca por cientificidade: A análise da materialidade audiovisual como método possível, 2016. HJARVARD, Stig. Midiatização: conceituando a mudança social e cultural. In: MATRIZes, São Paulo, nº 1, p. 21-44, jan./jun., 2014. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/82929>. Acesso em: 25 out. 2021. JENKINS, Henry; FORD, Sam; GREEN Joshua E.. Cultura de Conexão: criando valor e significado por meio da mídia propagável. São Paulo: Ed. Aleph, 2014. SHIRKY, Clay. Lá vem todo mundo: O poder de organizar sem organizações. Editora Zahar: Rio de Janeiro, 2012. SODRÉ, Muniz. Antropológica do espelho: uma teoria da comunicação linear e em rede. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2002. 268 p.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MARTINS, Vanessa Coutinho; MIRANDA, Pedro Augusto Silva. LIVES E FANDOM NO CONTEXTO DA PANDEMIA: UMA ANÁLISE DE TRANSMISSÕES AO VIVO APÓS UM ANO DA COVID-19.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437354-LIVES-E-FANDOM-NO-CONTEXTO-DA-PANDEMIA--UMA-ANALISE-DE-TRANSMISSOES-AO-VIVO-APOS-UM-ANO-DA-COVID-19. Acesso em: 16/07/2025

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