DO DIREITO À LITERATURA E DOS DIREITOS NEGADOS: ENSINO DE LITERATURA NEGRO-BRASILEIRA

Publicado em 23/12/2021

DOI
10.29327/154029.10-27  
Título do Trabalho
DO DIREITO À LITERATURA E DOS DIREITOS NEGADOS: ENSINO DE LITERATURA NEGRO-BRASILEIRA
Autores
  • NATHALIA AUGUSTO PEREIRA
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 16 - Educação, Memória, História
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437149-do-direito-a-literatura-e-dos-direitos-negados--ensino-de-literatura-negro-brasileira
ISSN
Palavras-Chave
Literatura, Ensino, Negritude, Pandemia, Direitos Humanos
Resumo
Nathália Augusto Pereira[1] Mestra pelo Programa de Mestrado Profissional em Letras (Profletras), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) ap.nathalia@yahoo.com.br Introdução Este artigo é parte da dissertação de mestrado pelo Programa de Mestrado Profissional em Letras (Profletras), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que compreendia o projeto de leitura compartilhada do romance O crime do Cais do Valongo, de Eliana Alves Cruz, na turma 1901 da Escola Municipal Ginásio Emilinha Borba, na cidade do Rio de Janeiro. Elaborado no ano de 2019, o projeto se desvirtuou na medida em que determinadas etapas sofreram mudanças impostas pelo fechamento das escolas no ano de 2020. Planejar uma pesquisa para o ensino de leitura de textos literários na escola pública é pensar a literatura como um direito humano. O acesso à literatura de qualidade para todos pode ajudar a quebrar certo paradigma da sociedade de classes, na qual apenas poucas são as que possuem o monopólio dos bens culturais e simbólicos de prestígio. Conforme Antonio Candido, acerca da literatura como um direito humano, é preciso “reconhecer que aquilo que consideramos indispensável para nós é também indispensável para o próximo” (2011, p. 239). 1. Fundamentação teórica Sob o título Para que nunca se esqueçam: leituras compartilhadas de O crime do Cais do Valongo, de Eliana Alves Cruz, a pesquisa se estrutura no trânsito de teorias e práticas da educação e da literatura e das sabedorias populares e ancestrais construídas pela diáspora negro-brasileira, a partir dos Historiadores Luiz Antonio Simas e Luiz Rufino (2018). Sob contexto epistemológico de encruzilhada metodológica, trata-se do cruzo de teorias e de práticas pluriversas[2], como diz Renato Noguera (2012), Professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Inicialmente classificada como pesquisa-ação, no decorrer do estudo a dissertação assume caráter de etnografia e escrita de si, como crônica do momento atual. Destaco da dissertação o capítulo “Pedra no caminho”, em cuja seção relato as experiências com as atividades desenvolvidas (as satisfatórias e as nem tanto) e as dificuldades encontradas durante a pesquisa descritas no subcapítulo “Do direito à literatura e dos direitos negados”. Esse estudo está em consonância com Antonio Cândido (2011), Professor Universitário e Crítico Literário. Ainda, mais uma vez de modo a conjugar teoria e prática, cruzando educação, literatura e direitos humanos, tenho como referencial textos e palestras virtuais de Maria Amelia Dalvi (2020), Professora da Universidade Federal do Espírito Santo.   A simbologia de uma cidade dividida pela pedra pode estreitar as relações entre a escola, o romance, o projeto de ensino de literatura e as desigualdades aprofundadas com a pandemia. As pedras da cidade são tomadas por metáforas. Por um período compreendida como divisora da “Cidade Partida”[3], ideia proposta pelo Jornalista e Escritor Zuenir Ventura (1994) e depois reformulada, pelo Professor Universitário Bruno Carvalho (2019), enquanto pedra simbólica da “Cidade Porosa[4]”, proponho a ideia de uma outra pedra. E esta pedra é o racismo estrutural, proposto por Silvio Luiz de Almeida (2018), Advogado, Filósofo e Professor Universitário . 2. Resultados alcançados A atividade de leitura compartilhada de um texto literário (a partir do contato com diversas realidades, vozes e discursos) se apresenta, não como uma medida salvacionista, mas como uma das práticas sociais capazes de organizar o conhecimento e o reconhecimento, a construção e a reconstrução do ser humano e do mundo que o cerca (CANDIDO, 2011). A expressão e o conhecimento da arte produzida pelos povos nos lembram da nossa humanidade  ?  a qual encontra-se esgarçada pela expropriação capitalista e ainda mais fragilizada agora durante a pandemia. Neste contexto de desigualdades, cabe pensar qual o papel do trabalho com literatura em escolas periféricas? E por qual motivo é difícil realizar este trabalho? Com o fechamento das escolas, no ano de 2020, atividade de leitura remota na minha escola dava sinais de diferença de outras escolas na mesma cidade. Afinal, a crise pandêmica, que atinge a todos, afeta alguns de modo mais contundente. O resultado do questionário social realizado nas turmas de 9° ano, nos mostrou que nem todos têm condições de acessar as conversas virtuais ou baixar os materiais enviados. Este questionário social elaborado para observar os alunos foi enviado pelo googleforms. E para esta pesquisa foi tomado como amostra. Não poderia considerar o resultado como preciso, pois a quantidade de alunos participantes foi bastante reduzida. De fato, o objetivo do formulário não era computar e observar estritamente as respostas, mas pensar onde estão aqueles que não responderam e quais os motivos que os impossibilitaram de participar. A participação reduzida atrapalha uma pesquisa quantitativa, mas ajuda a refletir sobre as lacunas deixadas. A pedra no meio caminho da qual falo se ergue pelo racismo e se alimenta hoje da negação de direitos.  E com a pandemia tal negação está ainda mais evidente. Para transgredir ao menos a lógica da distância simbólica, faz-se necessária a educação pública presencial, democrática e igualitária, com acesso aos bens culturais de prestígio e com ampla divulgação de informações para os responsáveis. E ler a obra de Eliana Alves Cruz, aprofundou as reflexões. Cheguei às vias de conclusão da pesquisa com a sensação de que pouco avançamos desde “O direito à literatura”, de Antonio Candido. Durante a maior crise vivenciada por nossa geração, entrelaçam-se desigualdades raciais, sociais, econômicas e de gênero. Se estivermos certos de que pandemia vivida em escala global não é vivenciada de forma igual, o estado geral de precariedade no qual muitos se encontram revela, entre outras coisas, que o modo de enfrentar a crise deveria ser diversificado com base nas diferentes camadas sociais. Conclusões Consideremos ser um dos objetivos centrais da escola, sem negar o de capacitar o aluno para o mercado de trabalho atual, o de colaborar com a formação humana e com a convivência democrática. Uma de suas tarefas seria a de ofertar literatura de qualidade e fazer a curadoria e a mediação das leituras. No entanto, como reivindicar o direito à literatura no momento no qual outros direitos são negados? Quem reclama a literatura como direito humano deve saber que ainda estamos num momento em que se faz necessário lutar pelo óbvio. Considerando que minha dissertação não principia ou acaba nenhuma discussão, não apresentei proposta de ensino de literatura como caminho pré-determinado ou sequência didática para a leitura literária. Entretanto, quem busca por pesquisa em estudos literários que alie teoria e prática no contexto da educação pública e periférica, talvez encontre no resultado da minha pesquisa algumas brechas para refletir um pouco mais acerca da desigualdade social que se ergue pelo racismo, dele se alimenta e atinge escola, formação de professores e educação literária. Referências bibliográficas ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018. BAJOUR, Cecília. Ouvir nas entrelinhas: o valor da escuta nas práticas de leitura. Trad. Alexandre Morales. São Paulo: Editora Pulo do Gato, 2012. CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: Vários Escritos. 5 ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul/ São Paulo: Duas Cidades, 2011. CRUZ, Eliana Alves. O crime do Cais do Valongo. Rio de Janeiro: Malê, 2018. DALVI, Maria Amelia. Democracia e pobreza em pesquisas brasileiras sobre educação literária. Revista Graphos, vol. 22, nº 2, 2020. Disponível em:  <https://literaturaeeducacao.ufes.br/sites/grupoliteraturaeeducacao.ufes.br/files/field/anexo/2020_democracia_e_pobreza_em_pesquisas_brasileiras_sobre_educacao_literaria.pdf>. Acessado em Janeiro de 2021. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 14. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. hooks, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. Trad. Marcelo Brandão Cipolla. 2ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2017. SIMAS, Luiz Antonio e RUFINO, Luiz. Fogo no mato: a ciência encantada das macumbas. 1. Ed. Rio de Janeiro: Mórula, 2018. [1] Bolsista do Programa Anual de Bolsas de Estudos de Mestrado e Doutorado da Secretaria Municipal de Educação da Cidade do Rio de Janeiro. [2] Palavra escolhida em contraponto à dualidade da palavra diversificada, que abarcaria dois pontos de vista. Verificar em: Denegrindo a Educação: Um Ensaio Filosófico Para uma Pedagogia da Pluriversalidade. Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação, CidadeRio de Janeiro, n. 93 18, p. 62-73, mai-out 2012. Disponível em                                                                                                 <file:///C:/Users/apnat/Downloads/4523-Texto%20do%20artigo-8067-1-10-20171004.pdf>. Acessado em Outubro de 2020. [3] VENTURA, Zuenir. Cidade partida. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. [4] CARVALHO, Bruno. Cidade Porosa: dois séculos de história cultural do Rio de Janeiro. Trad. Daniel Estill. 1ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2019.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
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Como citar

PEREIRA, NATHALIA AUGUSTO. DO DIREITO À LITERATURA E DOS DIREITOS NEGADOS: ENSINO DE LITERATURA NEGRO-BRASILEIRA.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437149-DO-DIREITO-A-LITERATURA-E-DOS-DIREITOS-NEGADOS--ENSINO-DE-LITERATURA-NEGRO-BRASILEIRA. Acesso em: 01/05/2025

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