O USO DE METODOLOGIAS NO CAMPO DO PATRIMÔNIO CULTURAL: LEVANTAMENTO DE DEMANDAS DOS TERREIROS DE CANDOMBLÉ DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
O USO DE METODOLOGIAS NO CAMPO DO PATRIMÔNIO CULTURAL: LEVANTAMENTO DE DEMANDAS DOS TERREIROS DE CANDOMBLÉ DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO
Autores
  • Otair Fernandes de Oliveira
  • Daniel Lima Teixeira de Menezes Chaves
  • Thayla da Silva de Oliveira
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 35 - Cultura e Desenvolvimento
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437124-o-uso-de-metodologias-no-campo-do-patrimonio-cultural--levantamento-de-demandas-dos-terreiros-de-candomble-da-reg
ISSN
Palavras-Chave
Patrimônio cultural; Terreiros de candomblé; Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana
Resumo
Introdução O presente trabalho se insere no contexto mais amplo de uma investigação sobre o patrimônio cultural afro-brasileiro, com foco nos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana (PCTMA), em particular os terreiros de candomblé da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro (PCTMA-RMRJ). De uma maneira geral, o estudo busca refletir sobre o uso de metodologias participativas na produção de conhecimentos relacionados às referências culturais do universo dos terreiros de candomblé, no âmbito do Programa Institucional de Iniciação Científica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PIBIC/UFRRJ), no ano de 2021. Especificamente, este trabalho apresenta o resultado do levantamento de demandas das comunidades de terreiros sobre a preservação e o papel político-institucional do IPHAN obtido a partir da aplicação da metodologia conhecida como “Café Mundial” ou "World Caffee”. O levantamento consta como parte das atividades denominadas Oficinas para a Salvaguarda das Referências Culturais de Matriz Africana: comunidades e lugares sagrados, no âmbito do estudo “Produção de Subsídios para Identificação de Bens relacionados aos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana no Rio de Janeiro”, fruto de acordo de cooperação técnica celebrado entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), por meio de Termo de Execução Descentralizada (TED 04/2018 IPHAN & LEAFRO/UFRRJ), no período de 2018 a 2020. 1. Fundamentação teórica O uso de metodologias participativas no campo do patrimônio cultural brasileiro se insere no âmbito da educação patrimonial através das experiências acumuladas pelo IPHAN nas últimas décadas, sobretudo, a partir da instituição do Inventário Nacional de Referência Cultural (INRC), com a instituição do Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e a criação do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, através do Decreto nº 3.551/2000. A nova metodologia do INRC inovou a abordagem e a valorização dos bens culturais, tanto os de natureza imaterial quanto os de natureza material, deslocando o foco das ações de salvaguarda e de acautelamento para os portadores de referência cultural, estabelecendo procedimentos para identificar e valorar os bens culturais a partir dos seus processos de produção, dos seus usos e dos significados que adquirem para os grupos sociais envolvidos na sua produção, podendo recomendar, ao final dos levantamentos, o aprofundamento de estudos com a finalidade do registro ou do tombamento. Segundo Fonseca, o uso do termo “referência cultural” advém da concepção antropológica da cultura e enfatiza a diversidade na produção material, sentidos e valores atribuídos a bens e práticas sociais pelos diferentes sujeitos que as produzem. Portanto, “trata-se de “uma perspectiva plural que veio ‘descentrar’ os critérios, considerados objetivos, porque fundados em saberes considerados legítimos, que costumavam nortear as interpretações e as atuações no campo da preservação de bens culturais” (2012, p. 37). Nos processos de preservação e valorização do patrimônio cultural no âmbito do IPHAN, a Educação Patrimonial (EP) se consolida como “prática transversal”, permitindo o diálogo permanente entre os agentes sociais e a participação efetiva das comunidades, contribuindo para construção coletiva e participativa dos demais processos de preservação do patrimônio cultural material e imaterial, preconizados na política nacional de proteção, preservação e salvaguarda. Neste sentido, a EP [...] constitui-se de todos os processos educativos formais e não formais que têm como foco o Patrimônio Cultural, apropriado socialmente como recurso para a compreensão sócio-histórica das referências culturais em todas as suas manifestações, a fim de colaborar para seu reconhecimento, sua valorização e preservação (FLORÊNCIO et al, 2014, p. 19). Na perspectiva da EP, o foco das ações educativas são as interações entre as pessoas e o patrimônio cultural, construídas de forma coletiva e dialogada, permitindo múltiplas abordagens e com o uso de ferramentas e metodologias variadas (rodas de conversa, cartografia social, mapas mentais, debates, filmes, dentre outros). Considerando a política de patrimônio cultural material (PPCM) e diretrizes próprias, a EP tem como instrumentos os inventários participativos, as redes de patrimônio e os projetos integrados de educação patrimonial. Outros instrumentos, ferramentas, procedimentos e metodologias podem ser utilizados em cumprimento aos objetivos da EP, adequados ao objeto ou natureza da ação de preservação a ser executada. Partindo dessa compreensão na busca de atingir os objetivos previstos nas Oficinas para a Salvaguarda das Referências Culturais de Matriz Africana: comunidades e lugares sagrados, no âmbito do TED nº 04/2018 IPHAN&UFRRJ/LEAFRO, em particular o de levantar as demandas dos terreiros de candomblé sobre o tema preservação e papel político-institucional do IPHAN, optou-se pelo uso da metodologia “Café Mundial” conhecida também como “World Caffee” a fim de garantir ampla participação, envolvimento e protagonismo dos representantes dos terreiros de matriz africana mapeados pelo IPHAN no estado do Rio de Janeiro, em conformidade com a política nacional de patrimônio material e as diretrizes e princípios para a preservação do patrimônio cultural dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana vigentes (IPHAN, 2018). O “World coffee” ou “Café Mundial” é uma metodologia de conversação em grupo criada em 1955 por Juanita Brown e David Isaacs na Califórnia/EUA. Adaptável a qualquer contexto e ambiente, ela visa gerar diálogos colaborativos entre os indivíduos que em grupo compartilham seus conhecimentos e descobrem novas oportunidades de ação conjunta, por meio de questões relevantes. Uma técnica de construção coletiva e colaborativa do conhecimento, cuja dinâmica flexível possibilita estimular a criatividade, explorar temas relevantes e criar espaço para que a inteligência coletiva possa emergir (cf. BROWN, 2007). 2. Resultados alcançados A aplicação da metodologia “Café Mundial” proporcionou o Levantamento de Demandas das comunidades sobre preservação e em relação ao IPHAN, a partir de uma dinâmica que pressupõe princípios operacionais e práticos, como (a) criação de um ambiente acolhedor e de aprendizado coletivo, (b) exploração de questões relevantes que instigam os diálogos, (c) conexão de pessoas e de perspectivas diversas proporcionando dinamismo criativo, (d) promoção de escuta compartilhada para sabedoria coletiva; (e) visibilização do conhecimento coletivo para o grupo com a apresentação dos pensamentos gerados por diferentes meios (mapas, diagramas, desenhos, infográficos, etc.), de forma integrar os conhecimentos para o desenvolvimento do pensamento coletivo. Tendo como base esses pressupostos, os representantes dos terreiros de candomblé participantes da atividade, foram divididos em grupos menores e distribuídos em mesas numeradas de 1 a 6, em salas de aula no mesmo corredor, para responder sete perguntas elaboradas previamente pelos organizadores sobre o tema preservação, a partir do universo dos terreiros, a saber: (1) Na perspectiva da comunidade, o que é preservar?; (2) como é feita a preservação?; (3) o que é preciso para preservar as tradições?; (4) o que é mais importante deixar para as gerações futuras?; (5) quem ajuda na preservação?; (6) quem atrapalha a preservação?; (7) como o IPHAN pode colaborar na preservação? A sistematização das respostas à essas questões permitiu a construção de gráficos interpretativos, possibilitando abranger o universo de interações registradas durante a atividade que serviram como ferramenta para quantificar as respostas segundo a natureza de seus conteúdos. Qualitativamente, a sistematização e organização dessas respostas por eixos temáticos foram capazes de fornecer elementos para análises das percepções sobre o tema preservação dos terreiros de candomblé, a partir das falas de seus representantes durante a atividade, constituindo assim um conjunto de informações úteis para identificação de demandas com base nos discursos dos candomblecistas, com a necessária tradução em termos comuns e de forma objetiva. Conclusões O conjunto das respostas sistematizadas nos gráficos consiste em um quadro complexo, mas que levanta inúmeras questões interessantes do ponto de vista das políticas de preservação e de outras áreas cultura e educação, muitas das quais se encontram fora do âmbito de atuação institucional do IPHAN, mas que, na perspectiva dos terreiros, devem estar articuladas. De qualquer forma, a partir dessas demandas levantadas com a oficina do “Café Mundial”, é possível ter uma visão panorâmica quanto ao tema da preservação nas perspectivas dos terreiros de candomblé da RMRJ, de forma a garantir o elenco de um conjunto de proposições associadas também à análise dos bens culturais identificados a partir da oficina dos mapas afetivos. Referências bibliográficas BROWN, Juanita; ISAACS, David. O World Café: Dando forma ao nosso futuro por meio de conversações significativas e estratégicas. Brasil: Cultrix, 2007 FERNANDES, Otair; VIEIRA, Sandra R. F. R.; OLIVEIRA, Vitor G. de; CHAVES, Daniel L. T. M. Dossiê Bens Culturais dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana da Região Metropolitana do Estado Rio de Janeiro (PMAF-RMRJ), IPHAN, 2020 (no prelo) IPHAN. Presidência. Portaria Nº 194, de 18 de maio de 2016. Dispõe sobre diretrizes e princípios para a preservação do patrimônio cultural dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana, considerando os processos de identificação, reconhecimento, conservação, apoio e fomento. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, n.96, p.11, 20 mai.2016(2016c). FLORÊNCIO, Sônia Regina Rampim et al. Educação Patrimonial: inventários participativos: manual de aplicação. Brasília-DF: IPHAN, 2016. FONSECA, Maria Cecília Londres. Referências Culturais: Bases para novas políticas de Patrimônio. In: SANT’ANNA, Márcia G. de. Patrimônio Imaterial: O Registro do Patrimônio Imaterial. 5ª ed, Brasília, DF: IPHAN, 2012 (Edições do Patrimônio)
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

OLIVEIRA, Otair Fernandes de; CHAVES, Daniel Lima Teixeira de Menezes; OLIVEIRA, Thayla da Silva de. O USO DE METODOLOGIAS NO CAMPO DO PATRIMÔNIO CULTURAL: LEVANTAMENTO DE DEMANDAS DOS TERREIROS DE CANDOMBLÉ DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437124-O-USO-DE-METODOLOGIAS-NO-CAMPO-DO-PATRIMONIO-CULTURAL--LEVANTAMENTO-DE-DEMANDAS-DOS-TERREIROS-DE-CANDOMBLE-DA-REG. Acesso em: 18/06/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes