ABORDANDO A PESQUISA FEMINISTA DENTRO DA UNIVERSIDADE

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
ABORDANDO A PESQUISA FEMINISTA DENTRO DA UNIVERSIDADE
Autores
  • Bruna Samel Rocha Tostes
  • Giselle Picorelli
  • Juliana Barbosa Torres
  • Letícia de Andrade Costa
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 22 - Estudos de gênero, feminismos e interdisciplinaridade.
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437107-abordando-a-pesquisa-feminista-dentro-da-universidade
ISSN
Palavras-Chave
Pesquisa, feminismo, estudos feministas, interseccionalidade
Resumo
Introdução Considerando, dentro da academia, a perspectiva do estudo teórico sobre gênero e conflitos advindos do tema, o presente trabalho tem como principal objetivo apresentar o grupo de pesquisa desenvolvido junto à Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF) no segundo semestre de 2020 e no ano de 2021, intitulado Conflito, gênero e teoria social. Além disso, tal apresentação oportuniza o debate acerca da elaboração de pesquisa partindo de epistemologia feminista dentro da Universidade. O grupo de pesquisa se formou a partir de um grupo de estudos organizado pelo Coletivo Cirandeiras, coletivo feminista das estudantes da Faculdade de Direito da UFF de Niterói, denominado Grupo de Estudos Esperança Garcia. O grupo foi coordenado pelas alunas participantes do Coletivo em conjunto com quatro professoras da graduação: Carla Appollinario, Fernanda Pimentel, Giselle Picorelli, e Wanise Cabral. No âmbito deste, foram realizados encontros presenciais quinzenais no segundo semestre de 2019, com o objetivo de discutir a obra “O feminismo é para todo mundo”, da autora bell hooks1. Já no primeiro semestre de 2020, tendo em vista o contexto da pandemia da COVID-19, foram realizados dois módulos online, que contaram com encontros quinzenais na plataforma Google Meet. Os textos discutidos conjugaram os temas de raça e gênero, buscando estabelecer um alicerce teórico para discussões futuras, por meio da definição de conceitos fundamentais e da análise de obras pioneiras a respeito da temática. Foram estudados os trabalhos de Grada Kilomba, Djamila Ribeiro, Lélia Gonzales, Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya e Nancy Fraser. O referido grupo de pesquisa foi, então, composto em caráter formal junto ao Departamento de Direito Processual como fruto dos trabalhos realizados no Grupo de Estudos Esperança Garcia, sendo coordenado por uma professora interna, uma professora externa e uma aluna da graduação, tendo contado no período mencionado com seis alunas de graduação. A metodologia de trabalho consiste no estudo prévio dos textos e obras com posterior debate e problematização das questões apresentadas pelo grupo, relacionando, quando possível, com a prática diária. O grupo mantém como principais objetivos o debate teórico e epistemológico do tema gênero no contexto dos conflitos e da teoria social dentro da vivência social e a ampliação deste debate dentro da academia, em especial na esfera do Direito. 1. Fundamentação teórica Ao desenvolver a perspectiva crítica e teórica sobre o estudo de gênero, criou-se um cronograma dividido por módulos. Em cada um deles foi escolhido um tema e uma perspectiva teórica para ser dado destaque, sem, no entanto, deixar de lado temas complementares ao assunto. Do início do grupo de pesquisa, em outubro de 2020, até outubro de 2021 foram trabalhados dois módulos: • Módulos de 2020: No módulo I, foi trabalhada a sensibilização do tema e ocorreu a leitura coletiva do livro Insubmissas lágrimas de mulheres, da autora Conceição Evaristo. No segundo módulo, ocorreu a leitura, estudo e debate do livro Breve história do feminismo da autora Carla Cristina Garcia e dos textos Descolonizando o conhecimento - Uma Palestra-Performance, de Grada Kilomba, e Racismo e sexismo na cultura brasileira, de Lélia Gonzalez. Em complemento às obras, foram indicados determinados vídeos do curso Feminismos - algumas verdades inconvenientes organizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ao final desse módulo, foi estipulado que as integrantes do grupo escrevessem um artigo, em formato de resenha, utilizando os textos abordados, de maneira a fomentar a escrita acadêmica. • Módulos de 2021: O primeiro módulo foi dividido em duas partes, tendo sido estudadas e discutidas, na primeira parte, as obras Interseccionalidade, de Carla Akotirene; Demarginalizing the Intersection of Race and Sex e Mapeando as Margens, de Kimberle Crenshaw e Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro. Ao final, o estudo foi complementado com o vídeo em que Djamila Ribeiro entrevista Carla Akotirene acerca do livro Interseccionalidade2. Na segunda parte do módulo, foram trazidas as literaturas de Simone de Beauvoir – O Segundo Sexo –; Judith Butler – Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade –; Teresita Barbieri – Sobre a categoria de gênero: uma introdução teórico-metodológica –; Heloísa Buarque de Hollanda – Pensamento feminista brasileiro –; Karine Nascimento Silva – A inquisição do gênero e das sexualidades nas políticas públicas de educação – e Mary Garcia Castro – Questionando gênero como ideologia: juventudes no Brasil e direitos sexuais reprodutivos. No segundo módulo de 2021, serão utilizados o livro de Flávia Biroli e Luis Felipe Miguel, Feminismo e política: uma introdução; os artigos de Mary Garcia Castro, Marxismo, feminismos e feminismo marxista - mais que um gênero em tempos neoliberais; de Adriana Fontes e Bila Sorj, O care como um regime estratificado; de Daniéle Kergoat, Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo; e de Maria Lúcia Silveira, A Mercantilização do Corpo e da Vida das Mulheres. Como afirmado anteriormente, cada módulo procurou destacar um tema. Em 2020, buscou-se focar na história dos feminismos e, em 2021, o grupo de pesquisa passou pelos assuntos de interseccionalidade e gênero, seguindo por temáticas relacionadas a política e trabalho. O desenvolvimento dos debates, após as leituras coletivas e os estudos, demonstrou o aprofundamento das integrantes do grupo no conhecimento literário que partia de pesquisas feitas por feministas. A análise e a reflexão acerca dos eixos teóricos apresentados no grupo de pesquisa são, portanto, de caráter substancial à formação de acadêmicas de Direito, na medida em que permite uma melhor compreensão da origem de certos conflitos e uma perspectiva mais aprofundada das adversidades enfrentadas por determinados grupos sociais. Ademais, pessoas que compõem grupos sociais historicamente oprimidos – mulheres, pessoas LGBTQIA+, pessoas racializadas, pessoas com deficiência – tendem a ter uma experiência diferente com os profissionais do Direito e com os mecanismos por meio dos quais o Direito se opera, o que torna relevante o estudo de suas opressões, sob uma ótica interseccional. 2. Resultados alcançados A formação de um grupo de pesquisa que se propõe a discutir temas concernentes a gênero, feminismo e luta social de mulheres tocadas por diferentes variantes de opressão – como raça, condição socioeconômica, deficiência, religião –, sob a perspectiva dos conflitos e da teoria social, por meio da leitura e análise de obras simbólicas e pioneiras, teve grande repercussão na experiência das participantes do projeto na Universidade. Isso porque há reunião do aprendido durante a Faculdade de Direito – cujo corpo docente se constitui, majoritariamente, por homens brancos, que utilizam doutrinas e legislações elaboradas pensando na universalidade, que é branca3 – com a literatura feminista e crítica debatida nos encontros do grupo. A influência dos debates realizados no âmbito do grupo de pesquisa se deu, por exemplo, em relação à escolha dos temas dos trabalhos de conclusão de curso de diversas alunas, cuja fundamentação teórica decorria de discursos externos à doutrina jurídica entendida como tradicional. Em geral, alguns temas escolhidos foram o racismo e o colorismo na legislação brasileira, os direitos sexuais e reprodutivos de mulheres com deficiência e a mediação em casos de violência doméstica. Outro resultado importante é o incentivo à implementação e ao desenvolvimento da escrita acadêmica com a produção de resumos e artigos, com eventual participação em seminários e eventos afins. Pode-se dizer que os estudos empreendidos inspiraram a investigação acerca de questões sociais para além de tópicos estritamente jurídicos, tendo em vista que as integrantes puderam ampliar suas perspectivas pessoais e concatenar as disciplinas da Faculdade de Direito às teorias analisadas no grupo de pesquisa. Destarte, esta diversificação de interpretações tem o objetivo de ampliar e contrastar o ensino conservador e as concepções tradicionalmente apresentadas às estudantes de Direito durante a faculdade, que frequentemente representam o ponto de vista de homens brancos, heterossexuais, cissexuais e ocidentais. A construção conjunta de uma pesquisa interdisciplinar que parte da epistemologia feminista acrescenta enormemente não só à formação acadêmica das participantes, como também ao estabelecimento de novos enfoques teóricos na academia e nas carreiras jurídicas, por meio da transformação das percepções de futuras juristas. Dessa maneira, a presente pesquisa terá como base a implementação do grupo Conflito, gênero e teoria social, do processo para sua criação dentro da Faculdade de Direito da UFF até os impactos que podem ser observados pelas integrantes. Conclusões A pesquisa com o ponto de vista feminista pode encontrar diversos percalços para sua elaboração e conclusão. No entanto, mostra-se necessária para a construção de uma epistemologia feminista que possa trazer melhor compreensão dos mais variados temas abordados, tradicionalmente, pelo ponto de vista “imparcial” e universalizante – masculino. O grupo de pesquisa Conflito, gênero e teoria social é um exemplo de como a reunião de leituras feministas diversas podem impactar na produção acadêmica de maneira a promover a inclusão de debates sociais essenciais no âmbito da Universidade. Referências bibliográficas AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. 1ª ed. São Paulo: Sueli Carneiro; Editora Jandaíra, 2020. 152 p. HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). Pensamento feminista brasileiro: formação e contexto. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019. 400 p. HOOKS, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. Tradução: Ana Luiza Libânio. 1ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

TOSTES, Bruna Samel Rocha et al.. ABORDANDO A PESQUISA FEMINISTA DENTRO DA UNIVERSIDADE.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437107-ABORDANDO-A-PESQUISA-FEMINISTA-DENTRO-DA-UNIVERSIDADE. Acesso em: 13/06/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes