ANDROCENTRISMO E MACHISMO CULTURAL: OS ENTRAVES NA PROMOÇÃO DA SAÚDE DO HOMEM EM CONTEXTO PANDÊMICO

Publicado em 23/12/2021

DOI
10.29327/154029.10-117  
Título do Trabalho
ANDROCENTRISMO E MACHISMO CULTURAL: OS ENTRAVES NA PROMOÇÃO DA SAÚDE DO HOMEM EM CONTEXTO PANDÊMICO
Autores
  • João Pedro do Valle Varela
  • Marcos Silva de Almeida Filho
  • Bianca Magnelli Mangiavacchi
  • FERNANDA SANTOS CURCIO
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 18 - Direito, Interdisciplinaridade e o Novo Normal" Pandêmico
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/437051-androcentrismo-e-machismo-cultural--os-entraves-na-promocao-da-saude-do-homem-em-contexto-pandemico
ISSN
Palavras-Chave
Androcentrismo; Direito à saúde; Saúde do Homem; COVID-19
Resumo
Introdução A compreensão do processo saúde-doença-cuidado edifica-se a partir da dinamicidade e da integração dos enlaces e rupturas da vida social, sendo concebido como um produto das relações sociais, históricas, econômicas, culturais, subjetivas e biológicas. Nesse horizonte, estudos têm indicado que as relações de gênero produzem influxos sobre as condições de vida das populações, relevando iniquidades e vulnerabilidades em saúde. Tais movimentos recaem sobre a saúde homem. As ideias de invulnerabilidade masculina e de hipervalorização da virilidade que conformam o ideário social – discriminatório e estereotipado – afetam em ações e condutas relacionadas ao cuidado e à prevenção em saúde, requerendo, portanto, análises e problematizações voltadas ao atual cenário pandêmico. Diante do exposto, sem a pretensão de esgotar a referida discussão, o presente trabalho objetiva refletir sobre os possíveis influxos da socialização masculina cisheteronormativa e sentidos sobre cuidados à saúde em cenário pandêmico. Para tanto, construção do estudo pautou-se no desenvolvimento de pesquisa do tipo exploratória e de natureza qualitativa, tendo como técnica de pesquisa a revisão de literatura, sob o formato narrativo, utilizando as bases de dados da SciELO e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Como complemento e aprofundamento da investigação, foi empregada a pesquisa documental. 1. Fundamentação teórica A cultura machista e heteronormativa enraizada na sociedade relaciona-se diretamente com o distanciamento dos homens ao autocuidado, requerendo a promoção de políticas públicas de saúde, como a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH). Esta, atendo-se a um problema de saúde pública, tem como objetivo a promoção na melhoria do estado de saúde dos homens, contribuindo, efetivamente, para a redução da morbimortalidade dessa população, através do enfrentamento dos fatores de risco e mediante a facilitação ao acesso às ações e aos serviços de assistência integral à saúde (BRASIL, 2009). Destarte, a integralidade em saúde, conformando um dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), está fundada no oferecimento de serviços e práticas de atenção que reconheçam a saúde como um direito da população. A masculinidade sendo entendida como um constructo cultural, advinda de processos de significação e relações de poder (BRASIL, 2009), requer a assimilação da diversidade da existência e estilo de vida do homem, reconhecendo as interseções como classe, geração, localização geográfica, raça/etnia, orientação sexual e identidade de gênero. O ser homem, assim como o ser mulher, são processos de transformação e construção histórico e sociocultural, intrínsecos no imaginário de cada indivíduo. Este fundamento é necessário para a promoção da equidade na atenção a essas populações, que deve ser considerada em suas diferenças de idade, socioeconômicas, étnicas, de moradia urbano ou rural, pela situação carcerária, pela deficiência física e/ou mental e pelas orientações sexuais e identidades de gênero não hegemônicas (BRASIL, 2009). 2. Resultados alcançados Analisando a percepção dos homens sobre os cuidados com a própria saúde, pesquisas mostram diferenças entre os gêneros masculino e feminino (BRASIL, 2009). A construção da masculinidade, nesse horizonte, traz contornos específicos no processo de adoecimento, uma vez que a reprodução de papeis fundados nas relações de gênero influenciam sentidos e percepções que negam as vulnerabilidades físicas e psíquicas. O androcentrismo e o machismo aqui presentes desvalorizam as representações e ideias associados ao sexo feminino, em que “o adoecer é considerado um sinal de fragilidade para homens que não reconhecem esta situação como um processo inerente à sua própria condição biológica” (BURILLE; GERHARDT, 2013, p. 263). Estudos revelam que, na tentativa de demonstrar sua masculinidade, os homens acabam ficando mais propensos a assumirem ideias e comportamentos que ocasionam riscos à saúde, estando menos dispostos a desenvolverem ações voltadas à promoção da saúde e longevidade. Ademais, essa população acaba buscando menos os serviços de saúde para ações preventivas e mais por motivo de doença (BURILLE; GERHARDT, 2013). Diante de abismos de sexo e gênero, pensar na influência desta cultura sob a saúde é algo evidente quando analisado o dia a dia das famílias, afinal, muitos homens se recusam de ir ao hospital para realizar exames, pois defendem que o cuidar da saúde é uma questão feminina e, não obstante, se aproximar de questões femininas é diminuir sua imagem de másculo e intocável (BURILLE; GERHARDT, 2013). Torna-se, portanto, impreterível refletir sobre o processo saúde-doença-cuidado a partir dos aportes teóricos de gênero considerando o contexto pandêmico. Estudos iniciais no campo da saúde coletiva indicam a sobremorbidade masculina frente ao novo coronavírus, sendo explicada por causas genéticas, comportamentais e de estilos de vida. Diante desses últimos fatores, torna-se incontornável estabelecermos a relação entre gênero e saúde, uma vez que a socialização masculina, dentro do viés cisheteronormativo, funda-se em alguns eixos, dentre eles: negação às ações de cuidado de si e dos outros e, pautado na ideia de invulnerabilidade, recusa às práticas preventivas em saúde (MEDRADO et al., 2021). Tal socialização, atravessada por representações, ideais e estereótipos de força e virilidade inatingíveis, exerce sobre os indivíduos um efeito de normalização e controle, cujas consequências complexas – de curto, médio e longo prazo – são observadas. Medrado et al. (2021, p. 181) alertam que os homens se colocam como potenciais vetores de infecção diante de um processo de socialização que estimula a sua ocupação nos espaços públicos, desprovido de restrições, valorizando determinadas “atributos associados a modos de subjetivação masculina, dificultando algumas das principais práticas para evitar à disseminação da COVID-19, que são o isolamento social, o uso de máscaras e a higienização das mãos”. Desta forma, acaba não sendo incomum que muitos homens tendessem a não acreditar no potencial de contração do vírus. Importa, ainda, considerar a intersecções presentes no horizonte ora analisado, revelando vários eixos e vulnerabilidades múltiplas (COUTO; DANTAS, 2016). A compreensão dos marcadores sociais da diferença, portanto, possibilita a ampliação de um olhar qualitativo, em que os recortes de classe, raça/etnia, geração, sexualidade, localização geográfica, dentre outros, devem ser considerados ao se observar a processo saúde-doença-cuidado em contexto pandêmico. Conclusões Diante do exposto, compreende-se que a construção de estratégias de contenção da pandemia causada pela COVID-19 deve estar atenta à organização social e às questões sociais complexas. Nesse horizonte, as relações de gênero revelam feminilidades e masculinidades produzidas e reiteradas, que funcionam como marcadores relevantes na análise do processo saúde-adoecimento-cuidado. Em cenário de SARS-CoV-2, a ebulição de uma cultura androcêntrica e machista revela um cenário obscuro, que infelizmente ainda atordoa a condição sanitária brasileira e coloca a saúde e o bem-estar dos homens em risco. Referências bibliográficas BRASIL, Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: princípios e diretrizes. Brasília, DF: MS, 2008. Disponível em: http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2008/PT-09-CONS.pdf. Acesso em: 16 set. 2021. BURILLE, Andrea; GERHARDT, Tatiana Engel. Conexões entre homens e saúde: discutindo algumas arranhaduras da masculinidade. In: Athenea Digital, v. 13, n. 2, p.259-266, jul. 2013. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/117435/000965476.pdf?sequence=1. Acesso em: 10 set. 2021. COUTO, Marcia Thereza; DANTAS, Suellen Maria. Gênero, masculinidades e saúde em revista: a produção da área na revista Saúde e Sociedade. In: Saúde & Sociedade, v. 25, n. 4, out./dez. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sausoc/a/JX6bK3MKGb5gpbY9T8y4S6m/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 16 set. 2021. MEDRADO, Benedito et al. Homens e masculinidades e o novo coronavírus: compartilhando questões de gênero na primeira fase da pandemia. In: Ciência e Saúde Coletiva, v. 26, n. 1, jan. 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/MXY3bz4DbzsTLqsMRr5PmGf/?lang=pt. Acesso em: 16 set. 2021.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
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Como citar

VARELA, João Pedro do Valle et al.. ANDROCENTRISMO E MACHISMO CULTURAL: OS ENTRAVES NA PROMOÇÃO DA SAÚDE DO HOMEM EM CONTEXTO PANDÊMICO.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/437051-ANDROCENTRISMO-E-MACHISMO-CULTURAL--OS-ENTRAVES-NA-PROMOCAO-DA-SAUDE-DO-HOMEM-EM-CONTEXTO-PANDEMICO. Acesso em: 23/06/2025

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