O PROCESSO DE ESCOLHA PELO CURSO SUPERIOR ENTRE COTISTAS EGRESSOS DOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA UENF

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
O PROCESSO DE ESCOLHA PELO CURSO SUPERIOR ENTRE COTISTAS EGRESSOS DOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA UENF
Autores
  • Amanda Leal Castelo Branco
  • Shirlena Campos de Souza Amaral
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 25 - Direitos Humanos, Diversidade e Ações Afirmativas
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/436758-o-processo-de-escolha-pelo-curso-superior-entre--cotistas-egressos-dos-cursos-de-graduacao-da-uenf
ISSN
Palavras-Chave
processo de escolha pelo curso superior, politica de cotas, egressos
Resumo
CASTELO BRANCO, Amanda Leal Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Cognição (PPGCL) da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) Bolsista CAPES amandalealcb@gmail.com AMARAL, Shirlena Campos de Souza Professora dos Programas de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem (PPGCL) e Políticas Sociais (PPGPS) da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) shirlenacsa@gmail.com Introdução O tema dessa pesquisa é a politica de cotas, especificamente o processo de escola pelo curso superior entre cotistas egressos dos cursos de graduação da UENF. A justificativas para essa pesquisa reside no fato de que “ é exatamente como elemento constitutivo cada vez mais demandado no processo de expansão do ensino superior que o acompanhamento dos egressos do sistema torna-se objeto de pesquisa ” (BARBOSA, 2015, p.251). Nesse sentido, a pergunta que norteou a construção desta pesquisa foi: como se deu o processo de escolha do curso superior entre os cotistas egressos dos cursos de graduação da UENF? Esses egressos se envolveram em atividades extracurriculares durante a graduação? Metodologicamente, esta é uma pesquisa de abordagem qualitativa. Quanto ao procedimento, foi adotado o método survey, que busca informações que se quer obter diretamente com o grupo de interesse. O recorte desta pesquisa privilegia os egressos negros e os oriundos de escolas públicas, uma vez que estes são quantitativamente mais representados no conjunto de egressos que se graduaram nos anos de 2008 a 2018. Todos os 17 cursos de graduação na modalidade presencial foram pesquisados. O questionário foi enviado durante um ano, do dia 17 de maio de 2019 ao dia 17 de maio de 2020, uma vez ao mês, a um total de 266 sujeitos que constavam na base de dados da Secretaria de Graduação. Dos 266 questionários enviados, 17,7% (n=47) foram respondidos. Destes, 70,2% (n=33) são cotistas oriundos de escolas públicos, e 29,8% (n=14) são cotistas negros. 1. Fundamentação teórica Um dos objetivos centrais das políticas afirmativas é contribuir para que jovens e adultos partes fundamentais da diversidade populacional alcancem, por meio da educação superior, postos de poder e de decisão que só podem ser ocupados a partir desse nível de escolaridade (LÁZARO, 2016). A política de cotas, ao lado de outras políticas públicas de inclusão dos grupos historicamente excluídos do ensino superior, já começou a alterar o perfil socioeconômico do estudante de graduação das diversas instituições de ensino brasileiras. É possível observar, em todos os cursos, sejam eles mais ou menos competitivos, a redução do número de estudantes ricos que ingressam na educação superior. Ademais, diminui gradativamente a quantidade de alunos filhos de pais com essa escolaridade, indicando que as classes populares começam a ter oportunidades de acesso (RISTOFF, 2014). O que, nos dizeres de Bourdieu e Champagne (2015), evidencia a entrada no jogo escolar universitário de categorias sociais historicamente excluídas do ensino superior. No que se refere à cor, embora muito lentamente, o curso de Medicina desde sempre branco e elitizado, torna-se menos branco a cada edição do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Contudo, para além do acesso, outros desafios se apresentam! A permanência e a conclusão dos cursos por parte desse novo público, especificamente os cotistas, são demandas a serem atendidas pelas instituições, pelos atores envolvidos no processo de escolarização desses estudantes e por eles próprios. É preciso ressaltar que as políticas de assistência estudantil ainda engatinham e, mesmo quando existem, não alcançam todos os estudantes que as solicitam. A inserção dos cotistas egressos no mercado de trabalho também precisa ser acompanhada, pois os estudantes provenientes das famílias mais desprovidas culturalmente têm todas as chances de obter, ao fim de uma longa escolaridade, muitas vezes paga com pesados sacrifícios, um diploma desvalorizado (BOURDIEU; CHAMPAGNE, 2015; HERINGER, 2018). Assim, passado o período de consolidação, o momento atual é de avaliação do alcance das políticas de ação afirmativa para acesso ao ensino superior, sobretudo para as pesquisas acadêmicas. Referindo-se ao acesso ao jogo escolar por parte de categorias sociais até então excluídas, na França dos anos de 1950, Bourdieu e Champagne (2015) afirmam que após um período de ilusão e até mesmo de euforia, os novos beneficiários começaram a perceber que o acesso aos mais altos níveis de escolaridade não significava alcançar o êxito e tampouco as posições sociais. Nas palavras dos autores, o sistema de ensino tornou-se amplamente aberto a todos e estritamente reservado a alguns. Tudo isso sob a “[...] façanha de reunir as aparências da ‘democratização’ com a realidade da reprodução que passou a realiza-se em um grau superior de dissimulação, e, portanto, com um efeito acentuado de legitimação social” (BOURDIEU; CHAMPAGNE, 2015, p. 250). Trata-se do efeito de excluídos do interior, que mascara as desigualdades sociais, sob o pretexto de que o ensino se tornou atingível por todos. Esse efeito manifesta-se de diferentes maneiras e, em um país como o Brasil, ocorre antes mesmo do acesso ao ensino superior, já que a escolarização básica realizada no ensino público de baixa qualidade dificulta a aquisição de credenciais para acessar cursos e/ou instituições de reconhecido prestígio social. No entendimento de Bourdieu e Passeron (2014, p. 16), configuraria uma “[...] forma mais oculta de desigualdade. De acordo com Nogueira e Nogueira (2017), o efeito dos excluídos do interior revela-se nas escolhas entre os diferentes percursos no interior das universidades. 2. Resultados alcançados Um percentual de 78,6% (n=37) foi aprovado no primeiro processo seletivo para ingresso no ensino superior e 21,3% (n=10), no segundo ou terceiro. Para 83% (n=39), os cursos nos quais se graduaram foram as primeiras escolhas. Um percentual de 42,6% (n= 20) respondeu que gostaria de ter cursado outros cursos. Os cursos que apareceram como desejados por esses egressos são categorizados a partir da relação candidato-vaga no processo seletivo e do rendimento no mercado de trabalho, em níveis como alto, alto/médio e médio prestígio (VARGAS, 2008). São eles: Direito, Engenharia Elétrica, Engenharia Civil, Medicina, Farmácia, Psicologia, Jornalismo e Bacharelado em Química. Sobre o processo de escolha por um curso superior, a premissa básica da Sociologia da Educação é de que “[...] os indivíduos não se distribuem aleatoriamente pelos cursos em função de supostas preferências ou interesses de natureza idiossincrática” (NOGUEIRA, 2012, p. 7). Para Nogueira e Nogueira (2017), é possível falar de um processo de adequação das preferências individuais às condições objetivas de escolha dos candidatos, ou mesmo de um processo de autosseleção. Os três tipos de autosseleção são: a autosseleção acadêmica, a autosseleção socioeconômica e aautosseleção relacionada ao gênero e à etnia do candidato. Um dos efeitos esperados com a política de cotas é justamente a diminuição da autosseleção. Nesse estudo depreendemos que os percentuais de aprovados no primeiro processo seletivo e de egressos que afirmaram ter ingressado nos cursos que eram suas primeiras escolhas são altos. Da mesma forma, é alto o número de egressos que disseram que gostariam de ter ingressado em cursos mais prestigiados. Essa constatação não nos permite afirmar que os cotistas egressos fizeram uma escolha pelo curso possível em detrimento do curso desejado. Contudo, pesquisas importantes analisam que mesmo com a reserva de vagas, o acesso aos cursos mais seletivos permanece bastante limitado para estudantes com perfil social e escolar menos favoráveis. A concorrência e as notas de corte continuam a variar muito entre os cursos, mesmo dentro das cotas. Para um aluno que teve uma formação precária na educação básica, o acesso a determinados cursos se mantém interditado mesmo quando ele tem direito às cotas, e o ajustamento de suas preferências fica condicionado às possibilidades reais de aprovação, conforme as simulações do Sisu, sendo o caminho mais viável (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2017). Por último, ressaltamos que, dos cursos apontados como desejados, apenas Engenharia Civil é oferecido pela UENF. É preciso considerar que nem todos os estudantes têm os recursos necessários para se deslocar pelo país. Conclusões Nesse estudo averiguamos que os percentuais de aprovados no primeiro processo seletivo e de egressos que afirmaram ter ingressado nos cursos que eram suas primeiras escolhas são altos. Da mesma forma, é alto o número de egressos que disseram que gostariam de ter ingressado em cursos mais prestigiados. Essa constatação não nos permite afirmar que os cotistas egressos fizeram uma escolha pelo curso possível em detrimento do curso desejado. Pesquisas importantes da área da Sociologia da Educação apontam que esmo com a reserva de vagas, o acesso aos cursos mais seletivos permanece bastante limitado para estudantes com perfiis social e escolares menos favoráveis como é o caso dos estudantes cotistas. A realização de pesquisa de caráter microssociológico é importante para elucidar o processo de escolha pelo curso superior entre cotistas egressos. Referências bibliográficas BOURDIEU, P.; PASSERON, J. C. Os herdeiros: os estudantes e a cultura. Florianópolis: Editora da UFSC, 2014. BOURDIEU, P. A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura. In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A. (orgs.) Escritos de Educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015ª BOURDIEU, P.; PATRICK, C. Os excluídos do interior. In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A. M. (orgs.). Escritos de Educação. Petrópolis: Vozes, 2015. p. 71-79
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

BRANCO, Amanda Leal Castelo; AMARAL, Shirlena Campos de Souza. O PROCESSO DE ESCOLHA PELO CURSO SUPERIOR ENTRE COTISTAS EGRESSOS DOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA UENF.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/436758-O-PROCESSO-DE-ESCOLHA-PELO-CURSO-SUPERIOR-ENTRE--COTISTAS-EGRESSOS-DOS-CURSOS-DE-GRADUACAO-DA-UENF. Acesso em: 02/08/2025

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