SEXISMO NA ACADEMIA? UMA ANÁLISE DAS RELAÇÕES DE GÊNERO NO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS/MG

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
SEXISMO NA ACADEMIA? UMA ANÁLISE DAS RELAÇÕES DE GÊNERO NO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS/MG
Autores
  • Júlia Gomes Zuba
  • Mayra Paula Bispo de Moura
  • Maria da Luz Alves Ferreira
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 15 - Diversidade, desigualdades e opressões no tempo presente
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/435654-sexismo-na-academia-uma-analise-das-relacoes-de-genero-no-curso-de-engenharia-civil-da-universidade-estadual-de-
ISSN
Palavras-Chave
Gênero, Trabalho, Engenharia Civil
Resumo
ZUBA, Júlia Gomes Bacharel em Ciências Sociais e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social da Universidade Estadual de Montes Claros/UNIMONTES - MG julia.zuba@yahoo.com.br MOURA, Mayra Paula Bispo Bacharel em Serviço Social e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social da Universidade Estadual de Montes Claros/UNIMONTES - MG mayrabispomoura@gmail.com FERREIRA, Maria da Luz Alves Doutora em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Professora lotada no Departamento de Política e Ciências Sociais e no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social da Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES – MG mluzferreiraalves@gmail.com Introdução A sociedade atual nos apresenta cotidianamente transformações que se objetivam nas novas formas de ser e estar no mundo. Dessa forma, as mulheres vêm ocupando cada vez mais espaço no campo produtivo brasileiro, inclusive em funções antes reconhecidas como predominantemente masculinas. Esse entendimento orientou a construção do objetivo da presente investigação, que é compreender como se estabelecem as relações de gênero no Curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Montes Claros/Unimontes. Desta forma, o foco analítico da nossa investigação foi centrado nas mulheres em um contexto de formação profissional predominantemente masculino, tratando das configurações de gênero e trabalho estabelecidos na sociedade contemporânea. Na direção deste objetivo, esta pesquisa está estruturada numa abordagem qualiquantitativa, tendo como instrumento de coleta de dados um questionário semiestruturado, aplicado a 81 estudantes do primeiro ao último ano do Curso de Engenharia Civil. As análises foram realizadas com 18 questionários devolvidos. As estudantes, sujeitos da pesquisa foram escolhidas de forma aleatória. Os resultados mostram avanços no que concerne ao espaço das mulheres na engenharia civil, espaço compreendido social e culturalmente como masculino. É possível perceber que mulheres e homens estudantes de engenharias constituem-se num contexto repleto de simbolismos sobre masculinidades e feminilidades que se perpetuam no Ensino Superior. 1. Fundamentação teórica As discussões acerca das relações sociais entre mulheres e homens em coletivos profissionais majoritariamente masculinos, constituíram objetos de pesquisa, análises e discussões, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, associada à construção do conceito de gênero. Em nossa pesquisa, propomos uma discussão sobre esta temática, relacionada também ao mundo do trabalho em que utilizamosos estudos de vários estudiosos do assunto como Scott, Butler, Focault, Grossi, Lombardi, Bruschini, Kergoat, dentre outras(os) para compreendermos e adotarmos em nossos estudos um conceito de gênero. As diferenças entre homens e mulheres, conceituadas de gênero, foram inicialmente efetuadas na sociologia com Simmel (2006), que considerava que estas diferenças expressariam uma distinção entre a cultura feminina e a masculina. A masculina trata-se de uma cultura objetiva que se baseia no desenvolvimento complexo de produtos idealizados e executados pelo homem, sendo estas atividades complexas, heterogêneas, desvinculadas de interesses e valores pessoais. Por conseguinte, a cultura feminina é pontuada como subjetiva sendo a forma pela qual o indivíduo assimila os referendos produtos para seu crescimento próprio, pessoal, havendo uma integração entre atividades e personalidade. Nesse estudo, adotamos o conceito de gênero baseando-nos nas ideias de Scott (1998, pág2) ao afirmar que gênero “[...] na~o se refere apenas às ideias, mas tambe´m a`s instituic¸ões, a`s estruturas, a`s pra´ticas cotidianas, como tambe´m aos rituais e a tudo que constitui as relac¸o~es sociais [...]”. A distinção existente entre funções atribuídas a homens e mulheres é fruto de construções sociais e não biológicas. Infelizmente, a mulher ainda não obteve êxito no reconhecimento social e financeiro, considerando as exceções, podemos dizer que de maneira geral, a mulher ainda é vista com desconfiança no exercício profissional. Apesar de desempenharem as mesmas tarefas e ocuparem os mesmos cargos, há uma enorme diferença de salários entre homens e mulheres. Um dos setores profissionais que vem apresentando aumento da atividade feminina é a engenharia que tem se tornado menos heterogenia, não mais se restringindo apenas ao público masculino (LOMBARDI, 2004). No contexto específico da formação nos cursos de engenharia, a transição para o campo de trabalho apresenta particularidades significativas, especialmente para as mulheres egressas. Para essa autora, a engenharia moderna surge primeiramente no ambiente militar, com aplicações na construção de armamentos, fortificações e pontes, na abertura de estradas, entre outras atividades. Este elemento militar contribui para que, historicamente, a engenharia seja associada ao campo de atuação do sexo masculino. A inserção das mulheres em funções da engenharia deve ser considerada inicialmente como evento positivo, pois, é ponto marcante da abertura de áreas de trabalho que historicamente foram reservadas aos homens (LOMBARDI, 2004). As atividades militares e as atividades produtivas sempre se caracterizaram como pertencentes ao sexo masculino, até mesmo porque realizadas na esfera pública, eram destinadas majoritariamente aos homens. Entendemos que mesmo com as conquistas das mulheres no mundo do trabalho, ocorridas principalmente após o movimento feminista (segunda metade do século XX), no campo de trabalho das engenharias, a presença de mulheres apresenta uma minoria significativa, são espaços profissionais em que as mulheres encontram grandes obstáculos para atuação e afirmação enquanto engenheiras. Essas mulheres estão expostas a uma situação duplamente desafiadora. 2. Resultados alcançados Os resultados da pesquisa ao tratar das relações de gênero, nos apontam a partir das teorias que o gênero é fruto de uma construção social. Foi possível perceber que mulheres e homens estudantes de engenharias constituem-se num contexto repleto de simbolismos sobre masculinidades e feminilidades que se perpetuam no Ensino Superior, reafirmando assim, as relações de gênero. A engenharia civil é uma profissão reconhecida como masculina, no entanto, a mulher brasileira vem abrindo espaço nesse meio. O aumento de mulheres nos cursos superiores e atuação na engenharia tem ganhado representatividade. Contudo, o espaço de formação profissional continua predominantemente masculino. A investigação revelou que o percentual de acadêmicosdo sexo masculino (62,5%) e feminino (38%), confirmam que um número significante de mulheres tem procurado o curso de Engenharia Civl, mas continua com o predomínio masculino. Nas entrevistas constatamos ainda que no ambiente da universidade e estágios, é possível verificar uma quantidade significante de mulheres que se sentiram intimidadas ao ouvir comentários desconstrutivos, como exemplo a fala de uma das entrevistadas que alega ser “[...] nítido o preconceito ainda de muitos professores que fazem piadas e deboche em relação à capacidade de mulheres exercerem a engenharia civil”,fato que evidencia o quanto as mulheres sofrem com o preconceito e machismo desde o ambiente acadêmico. Os depoimentos de discriminação de gênero dentro do Curso foram abordados e admitidos por algumas estudantes. Cabe ressaltar que nem todas perceberam indícios de discriminação. Conclusões A pesquisa demonstrou que muitos desafios foram encontrados pelas estudantes no ambiente acadêmico e no campo profissional ao fazerem estágio ou participarem de eventos na área. Elas quase que por unanimidade acreditam que as mulheres enfrentam mais dificuldades na Engenharia Civil do que os homens, elas ainda sofrem com desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres, o que pode causar um sentimento de insatisfação com a profissão. Esta dificuldade se revela nos diversos pontos observados, como tarefas que não são aconselhadas de serem executadas por mulheres, pelo motivo de fragilidade. Para elas, é preciso realizar um esforço extra em suas trajetórias para compensar as desigualdades geradas pelas questões de gênero para minimizar o descrédito que é dado ao profissional pelo simples fato de ser mulher, a necessidade de estar constantemente se provando, a desigualdade salarial, a questão do assédio e a múltipla jornada de trabalho. Contudo, é preciso ressaltar que a maior presença de mulheres engenheiras hoje, comparativamente a três décadas atrás, trouxe modificações que vêm contribuindo para quebrar arraigados padrões de gênero que expressam a masculinidade do campo profissional. Acreditamos que por meio de uma formação que não seja somente técnica, mas também que direcione as(os) academicas(os) para outras questões de formação geral, é possível que as(os) mesmas(os) tornem-se sujeitos ativos, éticos e críticos, que percebam que existem microrrelações de poder, políticas, sociais, culturais que influenciam em suas formações acadêmicas. Esta investigação nos direciona para o entendimento de que a área da Engenharia é, ainda hoje, predominantemente masculinam, mas, é certo que aos poucos as mulheres estão conquistando espaços e aumentando em número. Referências bibliográficas BRUSCHINI, C.; LOMBARDI, M. R. Instruídas e Trabalhadeiras: Trabalho feminino no final do século XX. Cadernos pagu (17/18) 2001/02: pp.157-196. LOMBARDI, Maria Rosa. Perseverança e resistência: a engenharia como profissão feminina. 2004. 292f. Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. Campinas, 2004. SCOTT, Joan. Gênero, uma Categoria Útil de Análise Histórica. Publicado em português in: Educação e Realidade. Porto Alegre, v. 16, n. 2:5-22, dez., 1998. SIMMEL, Georg. Filosofia do amor. 3ªed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

ZUBA, Júlia Gomes; MOURA, Mayra Paula Bispo de; FERREIRA, Maria da Luz Alves. SEXISMO NA ACADEMIA? UMA ANÁLISE DAS RELAÇÕES DE GÊNERO NO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS/MG.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/435654-SEXISMO-NA-ACADEMIA-UMA-ANALISE-DAS-RELACOES-DE-GENERO-NO-CURSO-DE-ENGENHARIA-CIVIL-DA-UNIVERSIDADE-ESTADUAL-DE-. Acesso em: 16/06/2025

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