INSTRUMENTOS DE CARÁTER COLETIVO NO SERVIÇO SOCIAL

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
INSTRUMENTOS DE CARÁTER COLETIVO NO SERVIÇO SOCIAL
Autores
  • Isabela Sarmet de Azevedo
  • Bárbara Carlos Souza
  • Carmen Rodrigues Ferreira Setta
  • Stefany Alvarenga Batista
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 14 - Movimentos sociais e o Contexto Econômico, Social e Político na América Latina
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/435642-instrumentos-de-carater-coletivo-no-servico-social
ISSN
Palavras-Chave
movimentos sociais, instrumentos, caráter coletivo, Serviço Social
Resumo
Introdução O objetivo desse estudo é refletir sobre os instrumentos de caráter coletivo do Serviço Social, com ênfase nas publicações teóricas sobre análises e relatos de experiências de intervenção com os sujeitos coletivos, que nesta profissão são irrisórias. Para tanto, realizou-se pesquisa, através do Google Forms, a quarenta e oito assistentes sociais atuantes nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense, cadastrados no Conselho Regional de Serviço Social/ 7ª Região e pesquisa bibliográfica. 1. Fundamentação teórica Segundo o CFESS Manifesta (2018, p.2), os movimentos sociais são “parte integrante do exercício profissional” (BRAVO, MATOS, 2010, p.158) e objeto de estudo, no entanto, menos de 8% das publicações totais em eventos da categoria profissional lhes dizem respeito e as publicações teóricas sobre análises e relatos de experiências de intervenção com estes sujeitos coletivos são ainda irrisórias. Diferentes autores/as atribuem a retração deste debate à conjuntura de refluxo do movimento de massas, ameaça às garantias sociais e a intensa criminalização/judicialização das lutas sociais. Soma-se a isso o fenômeno de institucionalização dos movimentos sociais, seja por meio da adequação de parte dos/as militantes em gestores/as da estrutura democrática estatal por meio da inserção nas secretarias e conselhos de direitos; ou do movimento de cooptação e apassivamento próprio dos primeiros quinze anos do século 21 neste país. Logo, o desafio contemporâneo para atuação profissional junto aos movimentos sociais é o de, cada vez mais, superar o subsídio ao exclusivo “participacionismo” democrático e representativo, com vistas a um trabalho de caráter político-pedagógico de fortalecimento à organização autônoma dos/as trabalhadores/as, sua formação e capacidade de mobilização/organização. (Idem, p.2) Autores como Cardoso e Lopes (2009), Abreu e Cardoso (2009), Bravo e Mattos (2010), Marques e Dal Moro (2012), Marro (2011), Marro e Duriguetto (2016) oferecem contribuições importantes sobre o trabalho profissional junto aos movimentos sociais, que são resumidas pelo CFESS Manifesta (2018, p.2) em três tendências: 1) O trabalho profissional realizado nas instituições de organização autônoma dos/as trabalhadores/as, ao que se destaca o movimento sindical. A “organização autônoma dos/as trabalhadores/as diz respeito aos seus instrumentos privados de hegemonia – sindicatos, centrais sindicais, associações, etc., nos quais os/as assistentes sociais são empregados/as. Cabe destacar a pesquisa e produção de conhecimento por meio de estudos socioeconômicos, com o objetivo de conhecer as condições de vida e trabalho dos sujeitos, suas necessidades e reivindicações, a fim de subsidiar a sua organização; bem como a orientação de demandas próprias ao cotidiano da base dos movimentos sociais, enquanto portadores de múltiplas refrações da “questão social” – orientação e articulação da rede de serviços da previdência, assistência, saúde, educação, infância e juventude, bem como de políticas sociais específicas, a exemplo da agrária (financiamento a moradia e produção) e urbana (habitação popular). (CFESS Manifesta, 2018, p.2-3) 2) A assessoria/ consultoria junto a organizações da classe trabalhadora, com expressiva presença da extensão universitária em movimentos sociais urbanos, rurais e de saúde. Bravo e Mattos (2008) definem assessoria/ consultoria como a ação que é desenvolvida por um/a profissional com conhecimentos na área, estudioso/a e permanentemente atualizado/a e que toma a realidade como objeto de estudo, com a intenção de alterá-la. O/A assessor/a não intervém ou substitui o protagonismo do sujeito assessorado, devendo propor caminhos e estratégias ao coletivo e este tem a autonomia em suas escolhas. Em geral, as experiências de assessoria são desenvolvidas com os seguintes movimentos sociais: movimento sindical, rural (com destaque maior ao MST, sindicatos rurais e associações de produtores rurais), urbano (movimento sem teto, associações de moradores/as e ocupações urbanas), o movimento popular de saúde e junto ao MAB (Movimento dos Atingidos por Barragem), organizações ribeirinhas e de pescadores. Este trabalho realiza-se, na maioria dos relatos, por meio de programas integrados de ensino, pesquisa e extensão efetivados por universidades públicas. (Idem, p.3) Marro e Duriguetto (2016) afirmam que os/ as assistentes sociais podem desenvolver, principalmente, ações de formação política, através de cursos oficinas e seminários; ações de assessoria e acompanhamento técnico para a elaboração de projetos de assentamento e moradias urbanas; estímulo à auto-organização das famílias em assentamentos, acampamentos e ocupações urbanas, e auxílio à formação de cooperativas; formação/ capacitação de lideranças para intervir nos Conselhos de Direitos e Políticas Públicas. 3) O trabalho desenvolvido pelo/a assistente social junto às organizações e movimentos sociais a partir de outras instituições. Esta atuação é transversal aos diversos espaços sociocupacionais (saúde, educação, moradia e planejamento urbano, assistência social, etc.), podendo incidir diretamente no auxílio à organização da população usuária por meio do impulso ao seu viés coletivo e organizativo. A atuação com os movimentos sociais também se dá como desdobramento do intermédio do acesso da população usuária aos serviços e/ou políticas sociais em caráter coletivo. A aproximação aos movimentos sociais deve constituir-se como parte do fluxo de trabalho, através da “rede” com a qual nos articulamos e através de uma ação profissional capaz de estimular na população usuária o reconhecimento do que é comum e coletivo em suas demandas, a sua identidade de classe e a sua organização política, com aproximação aos movimentos existentes e às pautas com as quais se identifica. (CFESS Manifesta, 2018) De modo contraditório à pauta dos movimentos sociais, a atuação profissional pode servir de força auxiliar na repressão e criminalização dos movimentos sociais. 2. Resultados alcançados A pesquisa abordou quarenta e oito assistentes sociais na Região Norte e Noroeste Fluminense, que responderam ao questionário do Google Forms. Em relação à participação em algum movimento social, 89,6% responderam que não; e apenas 10,4% afirmaram que participam. Indagamos para os que responderam sim, que participavam de movimentos sociais, quais eram. Obtivemos as seguintes respostas: Conselho da Mulher, Fórum de Economia Solidária, Núcleo CRESS, Movimento LGBT, Fórum Municipal de Trabalhadores do SUAS. Perguntamos aos/às assistentes sociais sobre qual é a dificuldade do profissional para realizar ações de caráter coletivo e político junto à população usuária: 37,5% afirmaram ser “outra” a dificuldade; 27,2% afirmaram ser ausência de espaço físico adequado no local de trabalho; 16,7% ausência de compreensão da dinâmica dos movimentos sociais; 10,4% afirmaram ser a aceitação das demandas pontuais e burocrático-administrativas, decorrentes de acordos sobre o cumprimento da carga horária; 6,3% afirmaram ser baixa experiência política; 2,1% afirmou ser a jornada de trabalho reduzida. Aos que responderam “outra” na questão anterior, indagamos qual seria sua dificuldade para realizar ações de caráter coletivo e político junto à população usuária. Entre as respostas, nos chama atenção é a identificação dos movimentos sociais com trabalho em rede; e com a realização de congresso, seminários, encontros com diversos temas. Todas as demais dificuldades aparecem relacionadas a condições subjetivas (não se sentir emocionalmente preparado para o trabalho em grupo, a ausência de formação profissional, restrições provisórias da vida pessoal) ou objetivas de trabalho – acesso do usuário ao equipamento, a natureza da intervenção no Poder Judiciário, a sobrecarga de trabalho, o pouco tempo para planejamento profissional, a falta de mobília (cadeiras) para a realização de atividades em grupo, a falta de adesão dos usuários e desinteresse da população; o fato de ser RPA que faz com que o profissional abstenha-se de ações políticas e coletivas), excesso de demanda de benefícios eventuais e de programas de transferência de renda e território muito extenso para cada profissional, por ser um ambiente militar, espaço institucional bastante controlado e vigiado e grande demanda a ser respondida no cotidiano. Conclusões A pesquisa revela uma dificuldade do Serviço Social em tomar a sua inserção junto aos movimentos sociais como trabalho profissional. De um lado, os assistentes sociais podem desenvolver ações de formação política, ações de assessoria e acompanhamento técnico, estímulo a auto-organização das famílias, formação de lideranças para intervir nos Conselhos de Direitos e Políticas Públicas. De outro lado, de modo contraditório à pauta dos movimentos sociais, a atuação profissional pode servir de força auxiliar na repressão e criminalização dos movimentos sociais. Referências bibliográficas ABREU, M. M.; CARDOSO, F. G. Mobilização social e práticas educativas desempenhadas pelo assistente social. In: CFESS/ABEPSS. (Org.). Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009. BRAVO, M. I. S.; MATOS, M. C. (Orgs.). Assessoria, Consultoria e Serviço Social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2010. CARDOSO, F. G.; LOPES, J. B. O trabalho do assistente social nas organizações da classe trabalhadora. In: CFESS/ ABEPSS. (Org.). Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009. CFESS Manifesta. Encontro Nacional de Pesquisadores/as em Serviço Social (ENPESS), 16. O trabalho de assistentes sociais junto aos movimentos sociais. Vitória (ES), CFESS – Gestão É de batalhas que se vive a vida! 2 a 7 dez. 2018. Série: Conjuntura e impacto no trabalho profissional. MARQUES, M. G.; DAL MORO, M. A Relação do Serviço Social com os movimentos sociais na contemporaneidade. Revista Temporalis. Brasília, 2012. MARRO, K. I. Serviço Social e movimentos sociais: reflexões sobre experiências de extensão universitária. Revista Temporalis. Brasília, 2011. MARRO, K. I.; DURIGUETTO, M. L. Serviço Social, lutas e movimentos sociais: a atualidade de um legado histórico que alimenta os caminhos de ruptura contra o conservadorismo. In: SILVA, M. L. O. (Org.). Serviço Social no Brasil: história de resistências e de ruptura com o conservadorismo. São Paulo: Cortez, 2016.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

AZEVEDO, Isabela Sarmet de et al.. INSTRUMENTOS DE CARÁTER COLETIVO NO SERVIÇO SOCIAL.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/435642-INSTRUMENTOS-DE-CARATER-COLETIVO-NO-SERVICO-SOCIAL. Acesso em: 09/06/2025

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