CONSTRUINDO GÊNERO NA INFÂNCIA: REFLEXÕES PARA UMA PARENTALIDADE NÃO-SEXISTA

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
CONSTRUINDO GÊNERO NA INFÂNCIA: REFLEXÕES PARA UMA PARENTALIDADE NÃO-SEXISTA
Autores
  • Tathiany Rezende de Moura
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 22 - Estudos de gênero, feminismos e interdisciplinaridade.
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/433330-construindo-genero-na-infancia--reflexoes-para-uma-parentalidade-nao-sexista
ISSN
Palavras-Chave
Educação, gênero, parentalidade
Resumo
Introdução A sexualidade é um elemento da configuração do ser humano que influencia e influenciará todo o seu comportamento desde o momento do nascimento até a morte do indivíduo e se relaciona muito mais com aspectos psicológicos e comportamentais do homem do que com sua organização biológica (CÂMARA NETO, 2002). O gênero não considera unicamente as características biológicas e, por consequência, físicas. É um termo com conotações muito mais psicológicas e culturais do que biológicas; se os termos usados para designar sexo são macho e fêmea, os termos correspondentes para gênero são masculino e feminino podendo ser bem independentes do sexo biológico (STOLLER, 1968). A palavra gênero foi incluída no contexto social em decorrência dos movimentos sociais feministas, que ganharam força na década de 1960 em função da desigualdade de poder entre o masculino e feminino (SCOTT, 1999) . Diante disso, o objetivo deste trabalho é encontrar ferramentas para refletir sobre como é possível exercer uma parentalidade ativa no sentido de construir uma educação que promova a igualdade de gênero e que propicie que os papéis sociais desempenhados pelos futuros adultos sejam menos associados ao biológico e mais respeitosos às identidades de gênero. 1. Fundamentação teórica A maioria das crianças adota uma identidade de gênero entre 2 e 3 anos de idade, ou seja, as crianças já conseguem se definir como pertencentes a um determinado gênero (CAHILL, 1986), mas ainda estão muito longe de ter uma noção do posicionamento social que implica pertencer a um determinado gênero, porém elas ainda não têm certeza sobre quais tipos de comportamentos são apropriados para membros desse grupo (CAHILL, 1986). Meninos e meninas desenvolvem seus comportamentos e potencialidades a fim de corresponder às expectativas de um modo singular e unívoco de masculinidade e de feminilidade em nossa sociedade (VIANNA; FINCO, 2009). Para os adultos, o gênero é uma categoria útil para classificar, dividir, seriar e juntar as crianças (THORNE, 1993), utilizando exteriorizações dos atributos de gênero, e trazendo marcas dessa construção que ocorrem por meio da linguagem (nomes, títulos, formas de tratamento e pronomes), de artefatos materiais (vestimentas, cosméticos, bijuterias e acessórios) e de gestos e atividades e uma vez que os definidores do pertencimento sexual – os genitais – não estão visíveis no cotidiano, as crianças vão reconhecendo e definindo o gênero nelas mesmas e nos outros, por meio de objetos, acessórios, cortes de cabelo, gestos, voz etc. (HIRSCHAUER, 1993). Adultos educam crianças definindo em seus corpos diferenças de gênero, reforçando, às vezes inconscientemente, características físicas e comportamentos esperados para meninos e meninas, de forma que o que é valorizado para a menina não é, muitas vezes, apreciado para o menino, e vice-versa (FINCO, 2003). Para promover uma educação igualitária e respeitosa às afinidades e habilidades da criança independente do sexo biológico e do comportamento social correspondente a ele e uma futura sociedade em que as desigualdades de gênero inexistam, pode-se começar a tratar o ato de brincar como ato das crianças, propiciando contato com diversos tipos de brincadeiras, brinquedos, cores, funcionalidades, narrativas e reproduções das funções sociais dos adultos sem que essas atividades sejam separadas e direcionadas a grupos de meninas e grupos de meninos mas a grupos de crianças. 2. Resultados alcançados O ato de brincar é importante pela relação com o prazer que dá ao indivíduo, mas também, no desenvolvimento de aspectos físicos, ligados ao sensorial e ao motor, correspondentes ao desenvolvimento de aptidões linguísticas, sociais e cognitivas e simbólicos, vivenciando algo que não podem ter no mundo real naquele momento e experimentando diferentes papeis sociais (CORDAZZO; VIEIRA, 2008). Os brinquedos demonstram o que se espera daquele sujeito quando ele se tornar adulto (GREGOVISKI; SILVA; HLAVAC, 2016) e, por isso, meninos e meninas demonstram comportamentos, preferências competências, atributos de personalidade mais apropriadas para o seu sexo, seguindo, desde crianças, as normas e padrões estabelecidos (FINCO, 2005). Segundo Belotti (1975), em estudo sobre as relações de gênero na infância, apresenta que brinquedos compostos por elementos perfeitamente identificáveis e estruturados, tornam bem clara a diferenciação de brinquedos para meninas e brinquedos para meninos e que brinquedos neutros, próprios para meninas e meninos, são, em geral, compostos de materiais não-estruturados, como jogo de construção, mosaico, quebra-cabeça, jogos de encaixar, instrumentos musicais (BELOTTI, 1975). A proposta desconstrutiva busca a desestruturação das dicotomias e problematiza a constituição de cada polo, demonstrando que cada um supõe e contém o outro, o que pode ser um dos primeiros passos no questionamento das relações de gênero (LOURO, 2000). A linguagem utilizada pelos adultos ao se comunicar com as crianças também pode ser uma ferramenta para uma educação não-sexista, que respeite, mas que não as separe e caracterize grupos de acordo com o sexo. A linguagem utilizada principalmente pelos professores, que tem convívio diário com grupos maiores de crianças do que o contexto familiar, suas expectativas e incentivos oferecidos em torno de um gênero, expressas por falas e gestos, e as atividades propostas durante as aulas podem marcar e produzir diferenças entre eles e elas (MARIANO, ALTMANN, 2016). Durante aulas de educação física para educação infantil, Mariano e Altmann (2016) identificaram como a linguagem utilizada e o planejamento das aulas oferecia autonomia e liberdade às crianças frente às escolhas e à organização do grupo para as atividades. As pesquisadoras observaram uma situação em específico em que o professor utilizava constantemente o termo “crianças”, tanto para explicar as atividades, quanto para resolver qualquer outro tipo de situação durante a aula, como desentendimentos. A linguagem por ele utilizada não determinava uma separação de gênero e, nessas situações, observa-se que as escolhas, relações e práticas construídas pelas crianças não traziam marcas de separação entre meninos e meninas (MARIANO; ALTMANN, 2015, p. 419). A linguagem e os brinquedos infantis tanto podem ser uma forma de reforçar a dualidade entre meninos e meninas e comportamentos esperados de acordo com os papeis de gênero, como podem ser ferramentas de acolhimento e estímulo para que as crianças desenvolvam a autonomia e as interações entre os grupos sem criar expectativas ou frustrações acerca do desempenho esperado como consequência do sexo biológico que nasceram. Conclusões O objetivo deste texto foi trazer reflexões sobre como exercer uma parentalidade ativa para promover a igualdade de gênero entre as crianças, entendendo como a linguagem utilizada e as atividades propostas para grupos de meninos e meninas tem potencial para que desenvolvam habilidades e se relacionem entre si de acordo com suas afinidades. A ideia central do texto foi construída após reflexões da autora enquanto não apenas mãe, mas mãe de menina e que vivencia no dia a dia algumas situações relacionadas a gênero que trazem questionamento próprio, mas também por parte dela. A dualidade entre meninos e meninas imposta pela sociedade pode gerar uma expectativa nas crianças à respeito do que os adultos esperam do comportamento dela, e uma frustração quando essas expectativas não são alcançadas porque a criança não apresenta o desempenho esperado para exercer, no futuro, seu papel de gênero construído pela sociedade e atribuído ao seu sexo biológico. Permitir que as crianças participem das atividades propostas, sejam atividades de concentração, raciocínio, habilidades domésticas, cuidado com os outros, esportivas e/ou que demandem movimento, desempenho físico e coordenação motora, em grupos mistos pode possibilitar que as crianças entendam que algumas vão ter mais afinidade e melhor desempenho em determinadas atividades e que terão dificuldades em outras e que elas podem ser cooperativas entre si, sem atribuir vantagens ou desvantagens relacionadas ao gênero. Exercer uma parentalidade que não imponha à criança um comportamento que seria o socialmente esperado e permitir que desenvolva sua personalidade e seu posicionamento de gênero com o qual se identifique exige uma desconstrução por parte dos pais ou de quem exerça a parentalidade de uma educação recebida enquanto crianças e uma reconstrução de uma nova forma de educar com base no respeito e no estímulo ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de habilidades de acordo com as afinidades da criança na escola e no contexto familiar. Referências bibliográficas BELOTTI, E. G. Educar para a submissão. Petrópolis: Vozes, 1975. 163 p. CÂMARA NETO, F. O desenvolvimento da sexualidade infantil e a importância da orientação sexual na escola. 2002. 49p. Monografia (Bacharelado em Pedagogia) – Centro de Ciências Humanas, Universidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002. FINCO, D. Educação infantil, gênero e brincadeiras: das naturalidades às transgressões. In: 28ª REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 2005, Caxambu. Anais... Caxambu, 2005. p. 1-18. Disponível em: https://anped.org.br/biblioteca/item/educacao-infantil-genero-e-brincadeiras-das-naturalidades-transgressoes. Acesso em: 18 ago. 2020. MARIANO, M.; ALTMANN, H. Educação Física na Educação Infantil: educando crianças ou meninos e meninas? Cadernos Pagu, v.46, p. 411-438, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1590/18094449201600460411. Acesso em 18 ago. 2020. SCOTT, J.W. Gender and the politics of history. New York: Columbia University Press; 1999. STOLLER, R. Sex and gender: the development of masculinity and femininity. New York: Science House; 1968.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MOURA, Tathiany Rezende de. CONSTRUINDO GÊNERO NA INFÂNCIA: REFLEXÕES PARA UMA PARENTALIDADE NÃO-SEXISTA.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/433330-CONSTRUINDO-GENERO-NA-INFANCIA--REFLEXOES-PARA-UMA-PARENTALIDADE-NAO-SEXISTA. Acesso em: 24/06/2025

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