APROPRIAÇÃO DO SLOGAN “VIDAS NEGRAS IMPORTAM” PELOS VEGANISTAS EM FAVOR DA LIBERTAÇÃO ANIMAL.

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
APROPRIAÇÃO DO SLOGAN “VIDAS NEGRAS IMPORTAM” PELOS VEGANISTAS EM FAVOR DA LIBERTAÇÃO ANIMAL.
Autores
  • Antônio Carlos de Souza
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 08 - Memória, Narrativas e Discursos
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/432563-apropriacao-do-slogan-vidas-negras-importam-pelos-veganistas-em-favor-da-libertacao-animal
ISSN
Palavras-Chave
Memória, comunicação, análise de discurso francesa (ADF), racismo.
Resumo
Introdução O objetivo deste artigo é debater a intertextualidade promovida a partir da ‘hashtag’ “Vidas negras importam” contra o racismo. A partir de fatos veiculados nos espaços midiáticos associado a luta contra o racismo e a violência policial em relação à comunidade negra. A ativista vegana Luísa Mell se apropriou da “hashtag” e concebeu o seguinte enunciado “Toda vida importa”, com o intuito de defender a libertação da vida animal. Dessa forma, atraiu visibilidade e arrecadação financeira para sua ONG, Instituto Luísa Mell, que cuida e resgata animais abandonados ou que sofreram maus tratos. Luísa Mell se envolveu em uma polêmica proporcionando um conflito nas redes sociais. Mell utilizou se da intertextualidade para defender a libertação animal com a ‘hashtag’, “Toda vida importa”, vinculado a imagem do logotipo da sua ONG de animais, fazendo uma referência direta ao movimento “Vidas negras importam”. Um grupo de pessoas a defenderam e não viram problemas algum, no uso da marca, entretanto, outros grupos, principalmente a comunidade afro, achou inapropriado, racista e de mal gosto, tratando se que a ‘hashtag’ “Vidas negras importam” é um manifesto contra a violência policial e o racismo contra pessoas negras. Na comunidade negra houve manifestações de repúdio e críticas acirradas pelo uso “inadequado do tema”, produzindo questionamentos relacionados ao conceito de “branquitude”. Estabeleceu-se uma disputa de sentidos e a palavra tornou-se lugar de lutas simbólicas. Uma disputa entre quem pode dizer, o que dizer e como dizer na arena discursiva. Como diz Brandão (2004, p. 9), “Por isso [a palavra] é o lugar privilegiado para a manifestação da ideologia; retrata as diferentes formas de significar a realidade, segundo vozes, pontos de vista daqueles que a empregam”. 1. Fundamentação teórica Para nossas análises utilizaremos os estudos da Análise de Discurso de Linha Francesa (ADF). Como principal referencial teórico aplicaremos os estudos Eni P. Orlandi (2020) em Análise de Discurso: Princípios & Procedimentos, apoiando-se também em outros autores da ADF entre eles Gregolin (2007) e Fiorin (2003). Partindo dos pressupostos definidos por Orlandi, “na análise de discurso, procura-se compreender a língua fazendo sentido, enquanto trabalho simbólico, parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua história” (ORLANDI, 2020, p. 13), e acrescenta-se que “o discurso é o lugar em que se pode observar essa relação entre língua e ideologia, compreendendo-se como a língua produz sentidos por/para sujeitos” (ORLANDI, 2020, p. 15).  E segundo Baccega (2007, p. 40), “ao falar, o indivíduo leva em consideração o que se pode e o que não se pode dizer”. Como dispositivo analítico consideramos estudar as enunciações discursivas de Luísa Mell, em sua posição sujeito — ativista vegana. Como apresentamos acima, em sua enunciação discursiva, Mell foi apontada como racista, preconceituosa. Proferiu ataques contra as religiões afro e aproveitou se da intertextualidade para criar a ‘hashtag’ “Toda vida importa”. Especulamos que um dos sentidos produzidos foi o desprezo com a luta da população negra contra a violência racista e policial. O contexto de  produção enunciativa de Mell ocorreu em, 3 de junho de 2020, exatamente um dia depois do caso de Miguel Otávio Santana da Silva, criança negra, de 5 anos, que caiu do 9.º andar de um prédio de luxo em Recife, enquanto estava sob os cuidados da empregadora da mãe, mulher branca, rica e com influência política em seu estado. Assim, o dispositivo teórico permite analisarmos o interdiscurso e a produção de sentido tendo em vista a historicidade, a ideologia e a identidade construída em relação ao negro no Brasil que diverge em muitos pontos na forma como essa imagem foi constituída nos EUA.  Nos apontamentos feitos por Orlandi (2020, p. 30) “a observação do interdiscurso nos permite, remeter o dizer a toda a uma filiação de dizeres, a uma memória, e a identificá-lo em sua historicidade, em suma significância, mostrando seus compromissos políticos e ideológicos”. A ativista Mell na posição sujeito — ativista veganista — produziu discursos racistas, preconceituosos e discriminatórios na enunciação textual “Toda vida importa”? Pretendemos analisar a discursividade enunciada, o interdiscurso (memória) e as condições de produção de sentidos materializado nas redes sociais. Considerando a nossa história relacionada ao passado de escravidão e a identidade simbólica e imaginada construída sobre o negro no Brasil. Segundo Jessé Souza (2003) identidade construída pela elite, a classe média do Brasil e através de escritores e sociólogos como Gilberto Freyre, Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso. Observaremos questões relacionadas a linguagem, metáforas, polissemias e ilações possíveis a partir das mudanças textuais na ‘hashtag’ matriz e os efeitos ideológicos acionados pela historicidade. Resultados alcançados Em nossas análises uma das interpretações possíveis do texto “Toda vida importa”, vinculada a imagem dos animais é que as únicas vidas que importam são as vidas representadas pela ONG. Na imagem do logotipo da ONG temos a imagem dos seguintes animais: cão, gato, pássaro, urso e leão, representando 'pets' e animais selvagens. Estabelecendo o elo com a versão matriz “Vidas negras importam” e problematizando a ilação podemos apontar algumas produções de sentidos. Vidas negras, valem menos que a vida destes animais. Podemos especular que determinadas “vidas” no Brasil estão em melhores condições de acesso a bens de consumo, do que boa parte de pessoas excluídas e invisibilizadas na sociedade. Logo, acionando uma rede de sentidos, subjetivada por uma produção colonial e racista. Outra questão interpretada são os gatilhos psicológicos acionados pela enunciação discursiva de Mell, onde pessoas negras, serão afetadas pelas imagens e pela apropriação da sua causa sendo associada a vida dos animais. Uma proposta de variação do texto metaforicamente encontrada nas redes sociais foi “Toda vida animal importa”. A palavra animal estabelece um efeito de polissemia e conexões com ideologias associadas ao racismo e ao colonialismo. Formações ideológicas quando vidas negras em determinado momento da história foi associada a animalização. “Esse jogo entre paráfrase e polissemia atesta o confronto entre simbólico e o político. Todo o dizer é ideologicamente marcado. É na língua que a ideologia se materializa. Nas palavras dos sujeitos. Como dissemos, o discurso é o lugar do trabalho da língua e da ideologia” (ORLANDI, 2020, p. 36). Acionamos esses sentidos até mesmo em formas de elogios estabelecendo relações com o racismo institucional. São textos que ressaltam os negros com habilidades físicas, que não necessitam de esforços intelectuais. Gregolin (2007, p.15) aponta que “como o interdiscurso não é transparente nem, muito menos, o sujeito, o sujeito é a origem dos sentidos, ninguém consegue enxergar a totalidade significativa nem compreender todos os percursos de sentido produzidos socialmente”. Essas circunstâncias colocam o negro como um indivíduo desprovido de intelecto, mas, agraciado de um instinto animal. Essa formação discursiva aciona uma rede de sentidos, vinculados ao tempo da escravidão e do colonialismo. Conclusões Este trabalho é uma contribuição e um esforço esforços para a desconstrução do imaginário constituído a partir da ideia de igualdade racial desenvolvida em trabalhos como o de Casa-Grande e Senzala escrito por Gilberto Freyre e por autores basilares da literatura brasileira. Nossas análises reafirmam a produção de um discurso contra hegemônico reafirmando haver preconceito e discriminação racial no país. Podemos afirmar que os estereótipos se perpetuam a cerca da identidade dos negro e indivíduos periféricos. São preconceitos e discriminações raciais, que envolvem cultura, religião. São processos violentos que atingem a autoestima a confiança de maneira violenta. Acionando gatilhos psicológicos associados a escravidão e a colonialidade. Reproduzindo interesses de uma sociedade escravocrata que destrói crenças, rituais prejudicando a construção de uma estrutura familiar e cultivo de cultura própria, estabelecendo o direito de resistência e existência. É importante frisar que a ‘hashtag’ “Vidas negras importam” foi apropriado em outras ocasiões e em outras circunstâncias, mas não entrou em nossa perspectiva estudar e levantar todas as ocorrências que aconteceram nos espaços virtuais. Estabelecendo um recorte pontual nesse trabalho e temporal do caso. Nosso trabalho como apresentado está embasado na Análise de Discurso de Linha Francesa que em sua dimensão permiti métodos de seleção e observação empírica. Contudo, a ADF atribui que um mesmo ‘corpus’ selecionado possa ser analisado, interpretado por outros analistas e que os mesmos possam realizar outras análises e chegar a outras e novas conclusões.   Referências bibliográficas BACCEGA, Maria. Palavra e discurso — História e literatura. São Paulo, Ática, 2007. FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. São Paulo. Editora Ática, 2003. GREGOLIN, Maria do Rosário. Análise de discurso e mídia: a (re)produção de identidades. Revista comunicação, Mídia e Consumo. São Paulo, vol. 4, n. 11, p. 11–25, novembro. 2007. MOREIRA, M.; DIAS, T. “O que é ‘lugar de fala’ e como ele é aplicado no debate público”. Nexo Jornal, 15 janeiro, 2017 atualizado em 24/11/2020. Disponível em: <https://goo.gl/KgMHZQ>. Acesso em: 10 agosto. 2021. ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso: Princípios & Procedimentos. 13.ª Edição, Pontes Editores, Campinas, SP. 2020. SOUZA, Jessé. A construção social da subcidadania: para uma Sociologia Política da modernidade periférica. Belo Horizonte: UFMG. 2003.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SOUZA, Antônio Carlos de. APROPRIAÇÃO DO SLOGAN “VIDAS NEGRAS IMPORTAM” PELOS VEGANISTAS EM FAVOR DA LIBERTAÇÃO ANIMAL... In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/432563-APROPRIACAO-DO-SLOGAN-VIDAS-NEGRAS-IMPORTAM-PELOS-VEGANISTAS-EM-FAVOR-DA-LIBERTACAO-ANIMAL. Acesso em: 08/05/2025

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