UMA ANÁLISE DISCURSIVA DO ETHOS FEMININO EM LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA INGLESA (PNLEM, 2018): IMAGEM, DISCURSO E PODER

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
UMA ANÁLISE DISCURSIVA DO ETHOS FEMININO EM LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA INGLESA (PNLEM, 2018): IMAGEM, DISCURSO E PODER
Autores
  • Rafaela Sepulveda Aleixo Lima
  • VICTOR RIBEIRO LIMA
  • Sérgio Arruda de Moura
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 34 - Estudos dialógicos do discurso e Ensino da Língua Materna e Estrangeira
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/432471-uma-analise-discursiva-do-ethos-feminino-em-livros-didaticos-de-lingua-inglesa-(pnlem-2018)--imagem-discurso-e-
ISSN
Palavras-Chave
Ethos; Mulher; Livro Didático; Língua Inglesa.
Resumo
Na pós-modernidade, pensar nos fluxos globais é pensar em negociações culturais possibilitadas pela língua inglesa como língua de comunicação interétnica e de agenciamento crítico. Assim, a língua inglesa deixa de ser “aquela vinda de fora”, “do outro”, e se torna um campo de poder cujos domínios de representação atuam sobre as identidades, os espaços e a cultura, assumindo seu status de língua franca (ILF) (BERNS, 2011). Essa mudança de paradigmas traz à tona discussões acerca dos sentimentos de não identificação com a língua e dos discursos de valores globalizantes nos livros didáticos de língua inglesa (LDIs). Sendo, pois, um instrumento mobilizador de forças eles têm o poder de atribuir propriedades às representações identitárias, naturalizando ou subvertendo discursos de dominação (VAN DIJK, 2018). Esta pesquisa tem como objetivo refletir sobre a constituição do ethos feminino através das representações imagéticas nas coleções de livros didáticos de língua inglesa mais e menos adotadas no Programa Nacional do Livro Didático (PNLEM, 2018) Way to go! (Editora Ática, 2016) e Voices Plus (Editora Richmond, 2016), tendo como ênfase a dimensão ideológica e os mundos éticos dos éthe (MAINGUENEAU, 2018). Desta forma, visa-se compreender qual mulher é discursivamente efetivada a partir das imagens e ilustrações apresentadas evidenciando o potencial da pesquisa em discutir os posicionamentos ideológicos que marcam questões sociais complexas no processo de ensino-aprendizagem e como essas discussões contribuem para intervir na práxis educativa. Esta pesquisa é de natureza discursiva com cunho bibliográfico pautando-se na noção de ILF (BERNS, 2011); na mulher como construção sociocultural (BUTLER, 1993); na concepção de ideologia, poder e discurso da Análise Crítica do Discurso (VAN DIJK, 2018); na noção de ethos (MAINGUENEAU, 2008, 2011, 2016) e na noção de LD como gênero do discurso (BAKHTIN [1979] 1997; MAINGUENEAU, 2008, 2015). Além disso, define-se o patriarcado a partir das discussões propostas por Bourdieu e outros autores; compreende-se o ethos como um elemento sensível da ordem discursiva; e analisam-se as coleções de LDIs Way to go! (FRANCO, 2016) e Voices Plus (TILIO, 2016). Não foi estabelecido um quadro fixo de critérios para todas as análises imagéticas dado que o ethos é um continuum instável que varia conforme as cenas englobante e genérica. Admitir, pois que “a palavra é um fenômeno ideológico por natureza” (BAKHTIN, [1979] 1997, p.36) implica tratar da constituição de sentidos estabelecidos na linguagem, superando o paradigma curricular tradicional – neutro, mecanicista, determinista –, e promover uma prática linguística crítica e reflexiva. Segundo Bakhtin no todo do enunciado (gênero do discurso) três elementos fundem-se indissoluvelmente. São eles: conteúdo temático, estilo e construção composicional. A partir de Maingueneau (1997) é possível definir o LDI como uma prática discursiva concorrente de ordem comunicacional escrita, reconhecida como “não investido” quando comparado à aula e “investido com diferentes coerções” quando comparado a outras obras didáticas visando à posição responsiva ativa de ação retardada. Para tratar a constituição do ethos feminino é preciso compreender de que modo o patriarcado atua com vistas a perpetuar a sujeição feminina. Embora não haja consenso em relação ao termo “patriarcado” adota-se nessa pesquisa a noção bourdiana de patriarcado como um sistema de dominação masculina, abrangendo dimensões simbólicas, inconscientes e as representações sociais mascaradas pela normalidade em que masculino se impõe como matriz de todas as percepções e fundamento indiscutível da reprodução social. O recurso ao patriarcado como categoria social e explicativa estimula uma percepção subjetiva e objetiva da hierarquia entre os gêneros na forma de predisposições sociais nos espaços de poder. Em suma, a subordinação direta fora substituída pelo prejuízo do gênero feminino capturando diferentes aspectos de desigualdade e sujeição, assumindo um papel normativo (OKIN, 1989; SAFFIOTI, 2004; SATTLER, 2019). Aceitando a prática discursiva como prática intersemiótica “[...] supõe-se que quaisquer manifestações simbólicas de uma sociedade estejam inseridas e condicionadas pelas condições de produção, que por hora são historicoideológicas” (MAINGUENEAU, 2011, p.25). Logo, é necessário encarar o ethos como um conceito que emerge da ordem sensível da comunicação verbal incorporando um fiador dotado de caráter e corporalidade. Maingueneau afirma que “o ethos implica uma forma de mover-se no espaço social, uma disciplina tácita do corpo, apreendida por meio de um comportamento que articula verbal e não-verbal” (MAINGUENEAU, 2006, p. 65) que integra as dimensões categoriais, experienciais e ideológicas ativando determinados mundos éticos. O discurso como forma de interação situada implica diferentes formas de poder. Entendendo poder como uma noção complexa (VAN DIJK, 2018), o exercício de manutenção do poder pressupõe uma estrutura ideológica formada por cognições fundamentais, compartilhadas e relacionadas aos interesses de um grupo por meio do discurso. Deve-se enfatizar que o poder precisa ser analisado em relação a formas de resistência advindas dos grupos dominados. O LDI é também uma forma de poder ideológico cujos conhecimentos e atitudes nele manifestados tendem a refletir o consenso dominante da sociedade sendo “as vozes alternativas, críticas, radicais comumente censuradas e mitigadas” (VAN DIJK, 2018, p.82). Partindo da premissa de que os LDIs constituem um todo enunciativo sequenciado, cada volume de uma coleção traz uma série de conteúdos específicos voltados para a formação linguística, social e identitária de determinado ciclo. Adotar apenas um volume poderia produzir uma análise parcial do ethos feminino e do projeto autoral. Assim foram considerados à nível de analise os volumes referentes a cada ciclo das coleções, resultando num total de seis volumes. Não se optou por uma categoria específica de análise como “trabalho”, “gênero” dado que o objetivo da pesquisa é fazer emanar de cada volume e, consequentemente, de cada coleção o ethos feminino global incorporado pelo discurso do LDI. Assim sendo, a pesquisa apresenta-se dividida na análise de cada volume e ao final de cada subseção há um quadro-resumo que apresenta o ethos efetivo. As nomenclaturas dadas a eles são apenas sugestões para incorporar as características gerais dos éthe mostrados. Dado o corpus da pesquisa, optou-se por traduzir-se os trechos citados para língua portuguesa e oferecer o link de acesso digital aos textos originais para que possam ser consultados. A estratégia utilizada foi a tradução cultural que é um processo de atuação linguística e social do tradutor frente a uma determinada situação linguística (BURKE; HSIA, 2009). Ao traduzir determinada palavra ou expressão vale-se da “coerência cultural” para adaptar, escolher e reescrever seus sentidos dando-lhe assim uma correspondência na língua estrangeira/materna. Nesse aspecto, a busca pela equivalência literal é substituída por uma perspectiva contextual, fluida e viva de língua. Após a análise da coleção Way to go! (FRANCO, 2016a, 2016b, 2016c), verifica-se que dimensões experienciais e categorias do ethos enfatizam os comportamentos femininos (eu te oriento, eu me irrito, eu não aceito, eu choro, eu me apaixono, eu me perco, eu ajudo) incorporando um ethos comportamental e apreciativo que reforça estereótipos. Além disso, há ausência de discussões temáticas críticas sobre os efeitos da globalização nas culturas, sobre a estrutura tradicional do mercado de trabalho, sobre a importância do esporte na escolarização e sobre a midiatização dos corpos. Soma-se a isso a predominância do ethos masculino que esboroa o ethos comportamental feminino. Já a coleção Voices Plus (TILIO, 2016a, 2016b, 2016c) aborda centralmente a dimensão ideológica do ethos frente a questões identitárias femininas (corporalidade, liberdade, gênero, envelhecimento, feminilidade, linguagem, igualdade), questões raciais, de violência e de preconceito. É possível perceber que o posicionamento discursivo dos éthe desconstruindo dimensões categoriais e experienciais estereotipadas das mulheres. Ao longo da coleção há também um grande volume de discussões, questões subjetivas e debates que interpelam o coenunciador a refletir, criticar e expor suas opiniões. A postura afirmativa dos discursos juntamente com o tom crítico, combativo e militante especificamente no que tange à questão das mulheres efetiva um ethos feminista, consciente e militante. Esta pesquisa demonstra que a coleção Way to go! traz uma série de imagens e ilustrações que reforçam os estereótipos femininos e efetiva um ethos comportamental e apreciativo. Já a coleção Voices Plus apresenta uma diversidade de imagens e ilustrações que pluralizam o gênero feminino e efetiva um ethos ideológico. A intersecção com diversas culturas, idades, raças/etnias, estilos e gêneros favorecem uma desconstrução de estereótipos, principalmente no que tange à identidade. Desta forma, destaca-se que o LD enquanto discurso pode contribuir para uma educação mais crítica e libertadora assim como ressalta-se a importância de uma formação inicial e continuada de professores que considere um modelo dialógico para desenvolver uma consciência crítica acerca da escolha determinado material didático. Mediante todo o exposto, conclui-se que essa pesquisa contribui para fornecer um olhar atento e crítico na escolha e no uso dos LDIs sob a perspectiva feminina. Trata-se de ouvir os silêncios e enxergar além das páginas. Os livros não são apenas uma escolha pedagógica, mas um posicionamento político a partir do qual professores e alunos podem promover uma prática emancipatória e transformadora da educação. Essa pesquisa não se encerra aqui, considera-se necessário continuar fomentando questionamentos e investigações sobre os materiais didáticos e a representatividade feminina no ensino de línguas e sua influência na formação das identidades. Esse tratamento crítico dado ao LD associado à função política e social da LI contribui para uma formação cidadã e consciente.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

LIMA, Rafaela Sepulveda Aleixo; LIMA, VICTOR RIBEIRO; MOURA, Sérgio Arruda de. UMA ANÁLISE DISCURSIVA DO ETHOS FEMININO EM LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA INGLESA (PNLEM, 2018): IMAGEM, DISCURSO E PODER.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/432471-UMA-ANALISE-DISCURSIVA-DO-ETHOS-FEMININO-EM-LIVROS-DIDATICOS-DE-LINGUA-INGLESA-(PNLEM-2018)--IMAGEM-DISCURSO-E-. Acesso em: 16/07/2025

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