FESTA DE SANTO AMARO: A LITERATURA COMO MANIFESTO MEMORIALÍSTICO E CULTURAL DOS SUJEITOS CAMPISTAS

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
FESTA DE SANTO AMARO: A LITERATURA COMO MANIFESTO MEMORIALÍSTICO E CULTURAL DOS SUJEITOS CAMPISTAS
Autores
  • Victor da Penha Miranda
  • Thalia Nogueira Mutuana
  • Analice de Oliveira Martins
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 08 - Memória, Narrativas e Discursos
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/432279-festa-de-santo-amaro--a-literatura-como-manifesto-memorialistico-e-cultural-dos-sujeitos-campistas
ISSN
Palavras-Chave
Santo Amaro, Memória coletiva, Crônicas
Resumo
FESTA DE SANTO AMARO: A LITERATURA COMO MANIFESTO MEMORIALÍSTICO E CULTURAL DOS SUJEITOS CAMPISTAS Victor da Penha Miranda Mestrando do Programa de Cognição e Linguagem - UENF victorpmiranda@hotmail.com Thalia Nogueira Mutuana Graduada em Letras - Português e Literaturas – IFF thaliamutuana@gmail.com Analice de Oliveira Martins Doutora em Estudos de Literatura - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro analice.martins@terra.com.br Introdução Este trabalho tem o objetivo de relacionar os vestígios relativos à memória coletiva dos sujeitos da cidade de Campos dos Goytacazes – RJ, em especial, os da Baixada Campista, região rural da cidade, por meio das crônicas autoficcionais Festa de Santo Amaro e A promessa, publicadas no livro Se não me trai a memória (2003), do memorialista Waldir Pinto de Carvalho, nascido em 1923, na região próxima que leva o nome do Santo Padroeiro da Baixada – Santo Amaro. A metodologia desta pesquisa está baseada na condição exploratória e na revisão de literatura acerca dos estudos da memória como expressão social e sua relação com a escrita cronística/ficcional. Objetiva-se, dessa forma, destacar a festividade como uma expressão cultural, histórica, religiosa e imaterial dos cidadãos campistas, evidenciando a linguagem literária como um mecanismo memorialístico da preservação da história e dos costumes locais. 1. Fundamentação teórica Maurice Halbwachs (2003) define, pelo prisma social, que toda memória possui sua essência na coletividade. Em relação aos grupos, o sociólogo indica que se destacam “as lembranças dos eventos e das experiências que dizem respeito à maioria de seus membros e que resultam de sua própria vida ou de suas relações com os grupos mais próximos, os que estiveram mais frequentemente em contato com ele” (HALBWACHS, 2003, p. 51). Amparadas pela coletividade do grupo social, as crônicas de Waldir Carvalho retratam, além da própria experiência do escritor em relação à festividade centenária e a fé, a participação dos demais sujeitos e a manifestação temporal que modifica a paisagem que compõe a localidade de Santo Amaro. Isso porque a crônica, gênero que transita entre os campos jornalístico e literário, propicia um processo de escrita capaz de registrar um “relato em permanente relação com o tempo”, de onde o seu autor resgata “como memória escrita, sua matéria principal, o que fica no vivido” (ARRIGUCCI JR, 1987, p. 51). O cronista consegue tecer uma “continuidade do gesto humano na tela do tempo”, o que faz da crônica “uma forma do tempo e da memória, um meio de representação temporal dos eventos passados, um registro da vida escoada” (ARRIGUCCI JR, 1987, p. 51). Então, por mais que tenha sido produzida a partir de uma definida situação social do olhar de seu autor, ela pode ser considerada atemporal porque a escrita, por intermédio das memórias individuais mescladas com memórias coletivas, faz com que tanto quem escreve quanto quem lê compartilhem memórias. Entre as principais teorias que sustentam este texto, além do já mencionado Halbwachs, destacam-se os estudos de Paula Sibilia em O show do eu: a intimidade como espetáculo (2008) em referência à sua análise da escrita como um manifesto, também, da interferência do outro, reflexo da manifestação polifônica e dialógica que constitui os discursos. Sobre tal prática interlocutora da ação comunitária, destaca o próprio memorialista: “parto do princípio de que as auto ou simples biografias são sempre fontes de outras histórias. O fato é, que sempre se aprende com a vivência dos outros” (CARVALHO, 2003, p.7). Apesar de as crônicas destacadas como corpus serem relatos autobiográficos e destacados pela primeira pessoa do discurso, não se trata de uma escrita diarista. São, sobretudo, agrupamentos memorialísticos narrados a partir dos vestígios passados das relações dos sujeitos e da paisagem local em relação à festividade que, ao contrário do diário, não “pressupõe a intenção de balizar o tempo através de uma sequência de referências” (LEJEUNE, 2014, p. 301). 2. Resultados alcançados A pesquisa, desenvolvida, a partir das observações entre a memória de caráter coletivo e a escrita como mecanismo cultural e memorialístico dos sujeitos, analisa duas crônicas autobiográficas escritas pelo escritor Waldir Pinto de Carvalho que dialogam com a festividade de Santo Amaro, na Baixada Campista. A festividade centenária em homenagem ao santo padroeiro, comemorada anualmente no dia 15 de janeiro e caracterizada pela fé local e pelas inúmeras manifestações religiosas, como a Cavalhada, o levantamento do Mastro e as bandas, configura uma ação cultural e imaterial do cidadão campista. Dessa forma, a proposta foi, inicialmente, apresentar as crônicas e sua relação com os sujeitos campistas, resgatando vestígios da memória do escritor e suas relações com as fontes historiográficas como a descrição, apresentadas no texto memorialístico, da referência aos carros de bois, às bandas Apolo e Guarani e ao transporte ferroviário citados nas crônicas, mas que, atualmente, não configuram mais a paisagem da localidade e, consequentemente, da festividade. Entre tais documentos históricos que embasam as informações descritas pelo memorialista, é possível destacar as reportagens do já extinto jornal Monitor Campista, que, apesar de ter suas atividades desativadas no ano de 2009, mantém um reconhecido acervo histórico das memórias da cidade, como os manifestos da escravidão, das festividades religiosas, da economia, entre outros assuntos. A crônica brota de uma língua “casual, ora precisa e ora vaga, amparada por um diálogo rápido e certeiro” (CANDIDO, 1992, p.15), o que pode ser observado na clareza e simplicidade presente nas crônicas analisadas do escritor ao abordar temas cotidianos por vezes bem simples, como a festa em questão, em que se “pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas" (CANDIDO, 1992, p. 14). Para Candido (1992), a natureza intimista e descompromissada que o cronista introduz ao elaborar “uma linguagem que fala ao nosso modo de ser mais natural” que, mesmo em sua “despretensão”, “humaniza” (CANDIDO, 1992, p. 13), faz com que esse gênero consiga gerar identificação em seus leitores. A simplicidade, brevidade e graça próprias da crônica fazem dela um gênero oportuno para o exercício de uma escrita memorialística porque ela verdadeiramente parte do olhar: do olhar para si próprio, do olhar para o outro, do olhar para o mundo. Os textos de Waldir Pinto de Carvalho apresentam ao leitor uma outra face da comemoração ao Santo padroeiro, registrando, por meio da escrita, as mudanças constantes da festa e da localidade. Isso porque a crônica, ao retratar a memória coletiva de um determinado contexto social e temporal, está imune à “corrosão dos anos”, podendo sempre se renovar “aos olhos de um leitor atual” (ARRIGUCCI JR, 1987, p. 53). Conclusões A expressão literária das crônicas de Waldir Pinto de Carvalho assume o compromisso social de registrar as memórias dos sujeitos campistas, por meio da festividade em honra a Santo Amaro, padroeiro da cidade, e sua relação com a cultura local, como mecanismo de preservação do passado e sua relação com o presente das experiências comunitárias. Referências bibliográficas ARRIGUCCI JR, Davi. Fragmentos sobre a Crônica. In: Enigma e comentário. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 51-66. CANDIDO, Antonio. À guisa de introdução: a vida ao rés-do-chão. In: A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. São Paulo: Editora da Unicamp, 1992. p. 13-22. CARVALHO, Waldir Pinto de. Se não me trai a memória. Campos dos Goytacazes: GRAFISA – Gráfica São Salvador Ltda, 2003. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2003. LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à internet. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MIRANDA, Victor da Penha; MUTUANA, Thalia Nogueira; MARTINS, Analice de Oliveira. FESTA DE SANTO AMARO: A LITERATURA COMO MANIFESTO MEMORIALÍSTICO E CULTURAL DOS SUJEITOS CAMPISTAS.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/432279-FESTA-DE-SANTO-AMARO--A-LITERATURA-COMO-MANIFESTO-MEMORIALISTICO-E-CULTURAL-DOS-SUJEITOS-CAMPISTAS. Acesso em: 01/05/2025

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