A PEDAGOGIA DO ASSEDIADO COMO ENFRENTAMENTO AO ASSÉDIO MORAL NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR DO NORTE FLUMINENSE

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
A PEDAGOGIA DO ASSEDIADO COMO ENFRENTAMENTO AO ASSÉDIO MORAL NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR DO NORTE FLUMINENSE
Autores
  • Micheli Marques Borowsky
  • Yuri Costa Moraes da Silva
  • Rodrigo Castro Rezende
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 03 - Gênero, Violências, Cultura – Interseccionalidade e(m) Direitos Humanos
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/431786-a-pedagogia-do-assediado-como-enfrentamento-ao-assedio-moral-na-relacao-professor-aluno-nas-instituicoes-de-ensin
ISSN
Palavras-Chave
Assédio, IES, Norte Fluminense, UFF-Campos
Resumo
O presente ensaio pretende contribuir para a discussão acerca do assédio moral na relação professor-aluno no ambiente acadêmico, resgatando alguns fatos ocorridos em algumas instituições de ensino superior (IES) do norte fluminense. Dessa maneira, sendo um tema de abordagem sutil dentro das instituições de ensino superior, públicas ou privadas, a dimensão do assédio é uma preocupação latente por parte da comunidade acadêmica, sobretudo dos assediados, que podem variar, sendo que o mais recorrente e publicizado está na dimensão sexual do assédio. Abusos, brincadeiras e chantagens são algumas das formas com que esses assédios se reproduzem no cotidiano das IES. Isso é facilmente percebido nas buscas on-line e/ou em conversas com pessoas que frequentam esses ambientes, seja na condição de estudante ou de trabalhador. Nesse sentido, as redes sociais (twitter, instagram, youtube, facebook etc.) têm sido os canais mais utilizados para denúncias quando não resolvidos no âmbito institucional. É comum ver reclamações sobre morosidade das averiguações, negligência e demora na abertura de processos administrativos, ou mesmo, a desistência da denúncia mediante a ineficácia do processo, o que dá uma dimensão interessante da tragédia que são as práticas assediadoras nos ambientes de ensino superior brasileiros. Diversas universidades são expostas nas redes com denúncias sobre práticas, em relações laborais diretas e indiretas, através de movimentos orgânicos da comunidade acadêmica que, ocorrem de maneira organizada e com a finalidade de pôr um fim nessa prática. Para o desenvolvimento e estruturação da pesquisa percorremos as redes sociais buscando por notícias de assédio moral que ocorreram no âmbito das IES, assim como realizamos pesquisa bibliográfica, priorizando o assédio na relação professor-aluno. Também, elaboramos um questionário com questões abertas e uma questão estruturada, onde o estudante não precisou se identificar, ficando no anonimato, o que propiciou segurança para responder as perguntas. O formulário foi elaborado no Google Forms intitulado “Sobre Assédios...” e compartilhado na página do Facebook da UFF Campos, aos Centros Acadêmicos, a representantes dos Diretórios Centrais de Estudantes do Instituto federal Fluminense (IFF), da UFF e da UENF, em 19/08/2021. Até o momento, dezoito (18) estudantes responderam o formulário, que ficará disponível até o dia 31 de outubro. Em relação à pesquisa bibliográfica, observamos que a temática do assédio moral na relação professor-aluno é restrita, pois a discussão é vasta no âmbito das relações trabalhistas. Neste contexto, para conceituarmos assédio, do modo como queremos escapar ao entendimento jurídico que cabe ao juiz definir, buscamos os estudos de Kwame Anthony Appiah e suas discussões sobre racismo. Este autor define o racismo como intrínseco e extrínseco. No primeiro caso, o racista faz distinções morais entre as raças por acreditar que estas têm status diferentes. Em relação aos racistas extrínsecos, há distinções morais entre as raças do mesmo modo que os intrínsecos acreditam, mas há uma essência racial intransponível. Neste sentido, o intrínseco pode se relacionar com as ditas raças inferiores, por achar as características morais diferentes, algo naturalizado, mas não necessariamente tende a expurgar os tidos como inferiores. Já o extrínseco, compreende que as raças com características morais inferiores, do ponto de vista dele, é claro, devem dar lugar aos moralmente superiores. Assim, ele não apenas naturaliza a diferença, mas a coloca como um obstáculo intransponível e que deve ser exterminado (APPIAH, 1997, p.33-35). O assédio, do mesmo modo, poderia ser intrínseco e extrínseco. O intrínseco seria o ato de constranger alguém por entender a questão de forma naturalizada. O assediador, nesta classificação, não compreende que há uma relação algoz-vítima, pois não compreende o assédio em sua plenitude. Este indivíduo não tem a característica de se fechar em grupos para dar suporte a ele, por entender que seu ato não foi um assédio. O assediador intrínseco, inclusive, tem preconceito contra o assédio, embora possa ter praticado em alguma medida. Neste caso, percebe no outro (a vítima) as características inatas ou não que são motivos de comentários, mas pensa que é uma situação natural. O assédio extrínseco está motivado pelo deliberado ato de constranger o outro, aproveitando-se da sua posição de superioridade e de suas redes clientelares muito bem articuladas. O assediador extrínseco não apenas naturaliza o constrangimento, mas faz como natural o ato de constranger. Ele acredita que pode assediar por ser quem é e por ocupar determinada posição. Na verdade, ele se beneficia de sua posição. Estariam nesta classificação, todos os docentes que cometeram constrangimentos sexuais com os discentes; aqueles que xingam e ofendem pública ou particularmente os estudantes por maus resultados em avaliações; etc. É nesta lógica que entra a Pedagogia do Assediado. Conceito que nos debruçaremos agora. Adiantamos que, na luta incessante contra a prática de assédio, faz-se necessária a articulação institucional. Paulo Freire, ao escrever sua célebre obra “A Pedagogia do Oprimido”, demonstrou como a opressão é internalizada pelo oprimido, que no momento em que se liberta, transforma-se em um espelho deformado de seu algoz – no Opressor. Neste sentido, ocorre certa delimitação relacional em que só existe a dicotomia opressor-oprimido, i.e., ao oprimido liberto só lhe cabe a condição de ser opressor para não mais ser identificado como oprimido. Contudo, o assediado não se liberta e não necessariamente se torna um assediador. Ele internaliza o constrangimento e se reconhece como incapaz, inferior e sem acesso à justiça. Portanto, o assediado não se transforma em assediador de alguém, em boa parte das vezes, mas em uma espécie de algoz do próprio ego. Torna-se um expropriado de si mesmo, não se reconhecendo mais e, portanto, seu único sonho é o de se libertar. Tal liberdade nem sempre vem com a fuga do assediador, ou com a justiça, mas com a fuga de si – o suicídio. O assediado acaba por tentar conviver com estes problemas em ambiente acadêmico. Ele não se liberta da presença de seu constrangedor, mas apenas aprende a conviver com ela, do mesmo modo como uma pessoa com câncer, sabendo que não poderá vencer a doença, aprende. Nisto, ele não apenas se torna um dissimulado, mas tem a falsa impressão de ficar mais forte, sem, no entanto, entender que sua vida diária gira em torno do assediador e do seu ato de assediar. O assediado percebe o assédio e sempre o compreende como um ato de tempo cíclico e interminável em sua mente. Acordar e dormir pensando no que ocorreu e no que potencialmente poderá ocorrer. Assim, a vida do assediado é atemporal, pois ele não percebe os dias e as noites, a relação passado, presente e futuro. O assediado fica preso em loop temporal traumático. Toda a sua psiquê se restringe ao constrangimento assedioso de que foi vítima. Em alguns casos, sobretudo do assédio intrínseco, se libertar é simples. Porém, no caso do extrínseco, não é, pois a luta não é apenas contra o assediador ou contra o constrangimento em si, mas contra toda rede clientelar do constrangedor, podendo, em não raras ocasiões, ser alvo de perseguições das mais diversas e por pessoas que, a priori, não tinham relação direta com o fato. Nesta esteira, o assediado antes de se livrar do agente, deve-se libertar deste novo eu oprimido. Ele deve lidar com a questão de frente. O assediado liberto é antes de tudo um sobrevivente do assédio e ao que foi reduzido pelo assediador. Contudo, ele não consegue fazer isso sozinho. Não que o assediador continue a constranger, mas em função de viver em um possível ato constrangedor ou maléfico de quaisquer naturezas em potencial. Com isso, a pedagogia do assediado só se transforma em um ato libertador de fato, quando assediador(a) e assediado(a) se libertam das amarras dessa dicotomia. Apenas quando o assediado não se vê mais em condições de ser constrangido eventualmente e o assediador não conseguir mais fazer uso de suas redes clientelares, que sustentam seus atos. Para tanto, a pedagogia do assediado deve fazer mão de um instrumento institucionalizado, que seria, por exemplo, uma “Comissão Permanente para casos de Assédios de docentes sobre discentes”. Ressaltamos a importância de se construir coletivamente projetos socioeducativos com a finalidade de propiciar espaços de acolhimento, escuta e debate sobre a questão do assédio moral na relação professor-aluno. Referências Bibliográficas APPIAH, Anthony K. Na casa de meu pai: a África na filosofia da cultura. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. COLETA, José Augusto Dela; MIRANDA, Henrique Carivaldo Neto. O rebaixamento cognitivo, a agressão verbal e outros constrangimentos e humilhações: o assédio moral na educação superior. Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação, 26, Poços de Caldas, 2003. Anais... Poços de Caldas: ANPEd, 2003, p. 1-12. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 50. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

BOROWSKY, Micheli Marques; SILVA, Yuri Costa Moraes da; REZENDE, Rodrigo Castro. A PEDAGOGIA DO ASSEDIADO COMO ENFRENTAMENTO AO ASSÉDIO MORAL NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR DO NORTE FLUMINENSE.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/431786-A-PEDAGOGIA-DO-ASSEDIADO-COMO-ENFRENTAMENTO-AO-ASSEDIO-MORAL-NA-RELACAO-PROFESSOR-ALUNO-NAS-INSTITUICOES-DE-ENSIN. Acesso em: 04/08/2025

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