A HISTÓRIA DA FEIURA E A NÃO DIVERSIDADE MUNDIAL QUANTO AOS SEUS MOVIMENTOS EXPRESSIVOS

Publicado em 23/12/2021

DOI
10.29327/154029.10-123  
Título do Trabalho
A HISTÓRIA DA FEIURA E A NÃO DIVERSIDADE MUNDIAL QUANTO AOS SEUS MOVIMENTOS EXPRESSIVOS
Autores
  • PRISCILA BARBOSA BRUNELLI
  • Shirlena Campos de Souza Amaral
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 25 - Direitos Humanos, Diversidade e Ações Afirmativas
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/430697-a-historia-da-feiura-e-a-nao-diversidade-mundial-quanto-aos-seus-movimentos-expressivos
ISSN
Palavras-Chave
Feiura, Movimentos Expressivos, Diversidade
Resumo
INTRODUÇÃO A história da feiura é carente de relatos e testemunhos e teve de buscar seus próprios documentos nas representações visuais ou verbais de coisas ou pessoas que eram consideradas de alguma forma como “feias”. Os termos, beleza e feiura, mudaram de sentido no decorrer da história, sendo relativos ao tempo e às culturas, o que não afastou a tentativa de defini-los, desde sempre, em padrões em relação a um modelo estável. Mas Darwin (2009), já demonstrava que a expressão em relação ao nojo e ao feio, eram imutáveis em diversas culturas, mesmo ao longo do tempo. Assim, interessa-nos aqui, recuperar a história da feiura, a partir de uma análise qualitativa, mediante referenciais teóricos que embasam a temática, especialmente Humberto Eco, que nos oferece o refletir sobre a questão de “vida ou morte” que circunda o feio, assim como compreender o motivo de tanto buscar fugir desse esteriótipo. 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Muitas vezes, ao longo do tempo e da cultura, a definição de beleza e feiura eram atribuídas a conceitos políticos, sociais e não estéticos. Uma passagem de Marx na obra (Manuscritos econômico-filosóficos, de 1844), trazido por Eco, recorda como a posse do dinheiro pode suprimir a feiura: Sou feio, mas posso comprar a mais bela entre as mulheres. Logo, não sou feio, na medida em que o efeito da feiura, seu poder desencorajador, é anulado pelo dinheiro. Sou, como indivíduo, manco, mas o dinheiro me dá vinte e quatro pernas: donde, não sou manco...Meu dinheiro não transforma todas as minhas deficiências em seu contrário? (MARX apud ECO, 2007, p. 12) Dizer que beleza e feiura são relativas ao tempo e às culturas, não significa que não se tentou, desde sempre, vê-los definidos em padrões em relação a um modelo estável. Nietzsche, no Crepúsculo dos ídolos, sugeriu que o ser humano considera belo tudo que lhe devolve a imagem dele próprio. [...] e que o feio é entendido como sinal e sintoma de degenerescência. Cada indício de esgotamento, de peso, de senilidade, de cansaço, toda espécie de falta de liberdade, como a convulsão, como a paralisia, sobretudo o cheiro, a cor, a forma da dissolução, da decomposição, tudo provoca a mesma reação: o juízo de valor feio. O que odeia aí o ser humano? Não há dúvidas: o declínio do seu tipo. (NIETZSCHE apud ECO, 2007, p. 15). Karl Rosenkrantz, 1853, na primeira e mais completa Estética do feio, faz uma analogia entre o feio e o imoral. Colocando como o inferno do bem, o mal e o pecado, assim, o feio é o inferno do belo. Desse modo, Karl Rosenkrantz, retoma a ideia de que “o feio é o contrário do belo, um possível erro que o belo contém em si, de modo que toda a estética, como ciência da beleza, é obrigada a enfrentar também o conceito de feiura.” Mas, justamente quando ultrapassa das definições abstratas do feio que ele nos faz perceber uma certa autonomia do feio, que o transforma em algo bem mais rico e complexo que apenas ser a negação da beleza. O autor analisa, minuciosamente, a feiura na natureza, a feiura espiritual, a feiura das obras de arte, a ausência de simetria e forma, o desfigurar, o desarmônico, o disforme (o mesquinho, o débil, o banal, o vil, o casual, o arbitrário, o tosco) as diversas formas de repugnante (o morto, o desajeitado, o vazio, o horrendo, o insosso, o criminoso, o demoníaco, o satânico). Isso foi demais para apenas classificar o feio como o oposto do belo, que era entendido como harmonia, proporção, clareza ou integridade. Para Eco (2007, p. 16), se examinarmos os sinônimos de belo e feio, veremos que, enquanto se considera belo, aquilo que: É bonito, gracioso, prazenteiro, atraente, agradável, garboso, delicioso, fascinante, harmônico, maravilhoso, delicado, leve, encantador, magnífico, estupendo, excelso, excepcional, fabuloso, legendário, fantástico, mágico, admirável, apreciável, espetacular, esplendido, sublime, soberbo... É feio aquilo que é repelente, horrendo, asqueroso, desagradável, grotesco, abominável, vomitante, odioso, indecente, imundo, sujo, obsceno, repugnante, assustador, abjeto, monstruoso, horrível, nojento, terrível, aflitivo, fétido, apavorante, ignóbil, desgracioso, desprezível, pesado, deformado, desfigurado. Nota-se que para todos os sinônimos de belo, seria possível uma reação de apreciação desinteressada, enquanto para os sinônimos de feio implica uma reação de nojo, repulsa, horror e susto. Darwin (2009, p.146), no seu ensaio sobre A expressão dos sentimentos no homem e nos animais, demonstra que a aversão causada pelas coisas em uma dada cultura não é a mesma em cultura distinta, no entanto, conclui dizendo que “[...] parece que os diversos movimentos descritos como expressivos do desprezo e do nojo, são idênticos em grande parte do mundo”. Nesse sentido, questionava-se quanto ao juízo estético da feiura, visto que o feio provoca reações passionais como a aversão descrita por Darwin. 2. RESULTADOS ALCANÇADOS A partir das leituras estabelecidas em diálogo com Eco, sobre a feiura no curso da história, ficou claro que deveríamos distinguir as manifestações do feio em si (como uma carcaça em decomposição) do feio formal, ou seja, desequilíbrio orgânico das partes. Como quando se julga feio um indivíduo que não conhecemos, cuja feiura não nos envolve passionalmente, mas nos sentimos autorizados a dizer, por exemplo, que um rosto é feio por faltar nele alguns dentes. “Por isso, uma coisa é reagir passionalmente ao nojo provocado por um inseto pegajoso ou uma fruta apodrecida, outra é dizer que uma pessoa é desproporcional ou feia no sentido em que é malfeito.” (ECO, 2007, p.19). Eco ainda esclareceu, em entrevista que concedeu em Frankfurt (2001), que ao longo dos séculos, a feiura tem sido questão de vida e morte e dá vários exemplos, mas dois muito fortes, que são as bruxas, mulheres que por serem feias, eram perseguidas e levadas à forca e, recentemente, no século 20, os Judeus. Há livros que os descrevem fisicamente para que seja possível reconhecê-los, persegui-los e matá-los. Quando questionado o quanto fomos moldados ao longo da história para essas definições, esclareceu que, na sua opinião, temos dois problemas: o primeiro é “tornar feio o inimigo”, o outro é “quem é feio é inimigo”. E exemplifica quanto às bruxas, que provavelmente por serem velhas e de aspecto desagradável, já gerava desconfiança e o sentimento de “não gostamos de pessoas feias”. E elas eram chamadas de bruxas. Se fossem belas senhoras, de pele clara e bem cuidada, bem vestidas e perfumadas, certamente não teriam sido queimadas. Com os Judeus é um pouco diferente, é a transformação do inimigo em feio. Primeiro nasce a desconfiança, o racismo, contra os judeus, contra o inimigo, e então ele é representado como feio. Segue dizendo que um autor francês, durante a primeira guerra mundial, relatou que os alemães produziam o dobro de fezes que os franceses. O inimigo era tão feio que fazia mais cocô. Seria isso o “enfeiamento” do inimigo. Trazendo para a contemporaneidade, Eco dedica todo um capítulo para o que chamou de o triunfo da feiura, e traz duas razões para explicar o excesso de feiura nos dias de hoje: A primeira é que a vanguarda do início do século 20, como se propôs a ir contra todos os padrões existentes, e combater a burguesia, voluntariamente produziu coisas feias. A outra é que, hoje em dia, os conceitos de bonito e feio são muito confusos. Em “História da beleza” já dizia que vivemos em um politeísmo da beleza. No período neoclássico, o modelo de beleza era o das estátuas de Canova. Hoje, uma garota acha mais bonito um garoto cheio de piercing e todo tatuado como o Marilyn Manson, com todo aquele aspecto horrível, que o George Clooney ou Brad Pitt. E veem filmes de terror, mas decoram a casa com proporções quase renascentistas e colocam um quadro de Picasso, de uma mulher feia, ou seja, nós misturamos com muita desenvoltura as duas coisas. Perdeu-se essa diferença patente. Com exceção dos casos limites, como um rato morto, um cadáver em putrefação, há certas experiências fundamentais que consideramos feias, tudo bem. Mas um cirurgião pode abrir uma barriga e dizer: “que beleza de câncer” e achá-lo interessante do seu ponto de vista. (ECO, 2001, entrevista para o repórter Edney Silvestre, em Frankfurt). Ante o exposto, Eco nos faz concordar que as coisas que nos enojam ainda são muito constantes ao longo do tempo mesmo em distintas culturas. CONCLUSÕES Diante desses movimentos expressivos mundiais, não diversos, em relação ao feio, culpados ou não por esse legado histórico de aversão à feiura, é compreensível querer distanciar-se do que for considerado feio e buscar a beleza, até mesmo, como forma de segurança e aceitação social.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
DOI

Como citar

BRUNELLI, PRISCILA BARBOSA; AMARAL, Shirlena Campos de Souza. A HISTÓRIA DA FEIURA E A NÃO DIVERSIDADE MUNDIAL QUANTO AOS SEUS MOVIMENTOS EXPRESSIVOS.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/430697-A-HISTORIA-DA-FEIURA-E-A-NAO-DIVERSIDADE-MUNDIAL-QUANTO-AOS-SEUS-MOVIMENTOS-EXPRESSIVOS. Acesso em: 27/05/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes