TAMBOR TUPINIKIM E A INDÚSTRIA DE PAPEL E CELULOSE: ABORDAGEM DA LEI 11.645/2008 NO IFES ARACRUZ

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
TAMBOR TUPINIKIM E A INDÚSTRIA DE PAPEL E CELULOSE: ABORDAGEM DA LEI 11.645/2008 NO IFES ARACRUZ
Autores
  • Thiago Zanotti Pancieri
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 07 - Educação Profissional e Tecnológica: Espaços, Ensino e Tecnologias
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/429804-tambor-tupinikim-e-a-industria-de-papel-e-celulose--abordagem-da-lei-116452008-no-ifes-aracruz
ISSN
Palavras-Chave
Tupinikim; currículo; celulose
Resumo
Introdução Este estudo traz reflexões do projeto de tese em Cognição e Linguagem da Universidade Estadual Norte Fluminense, discutindo sobre a obrigatoriedade de incluir no currículo oficial da rede de ensino a temática História e Cultura Indígena, estabelecida pela Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008, tendo como referência os Projetos Pedagógicos de Curso (PPC) do Ensino Médio Integrado do Instituto Federal de Educação do Espírito Santo (Ifes) Aracruz, propondo possível abordagem dessa temática com base no perspectivismo indígena e no pensar “com” os indígenas, delimitando este estudo nos modos de vida tupinikim, principalmente na importância da produção do tambor para esse povo. Para desenvolver o estudo, utilizamos como metodologia a pesquisa bibliográfica. Realizamos análise dos PPCs Técnicos Integrados ao Ensino Médio ofertados no Ifes Aracruz e traçamos possíveis abordagens da temática indígena no currículo, a partir dos modos de vida do povo tupinikim, mais especificamente, nas discussões sobre a formação voltada para o mercado da indústria de papel e celulose dos cursos técnicos do instituto em diálogo com as disparidades do crescimento industrial e o processo de produção do tambor tupinikim. 1. Fundamentação teórica Este trabalho foi direcionado pela concepção do perspectivismo indígena, a partir da abordagem da temática do pensar “com” os indígenas de Eduardo Viveiros de Castro: "Pois não podemos pensar como os índios; podemos, no máximo, pensar com eles. E a propósito – tentando só por um momento pensar “como eles” -, se há uma mensagem clara do perspectivismo indígena, é justamente a de que não se deve jamais tentar atualizar o mundo tal como exprimido nos olhos alheios" (VIVEIROS DE CASTRO, 2001, p. 42). Nos orientamos também pela proposta de intersubjetivação de José Castiano, ao apresentar o povo tupinikim como sujeitos do conhecimento nos diálogos desse autor com a professora de origem indígena africana Xhosa, Ivy Goduka, que nos faz refletir que qualquer engajamento intelectual para com a cultura indígena: "[...] temos de estar conscientes do facto que, implicitamente, estamos a fazer uma confrontação com as experiências históricas individuais e colectivas que fizemos e fazemos com a supremacia dos sistemas colonialistas, capitalistas, imperialistas, racistas e opressores do passado e do presente. A dominação teria culminado com o aniquilamento do nosso direito de ser indígena, ou seja, com a negação da existência das nossas culturas, dos nossos valores espirituais, perda da nossa terra e das nossas identidades. A dominação negou sobretudo o direito das nossas crianças aprenderem hoje a nossa cultura, as nossas tradições espirituais e outras coisas nas escolas e nas universidades (CASTIANO, 2010, p. 163). A partir dessas prerrogativas, buscamos a referência de Ailton Krenak, estabelecendo diálogo no pensar “com” os indígenas e no entendimento das relações dos povos originários com os lugares onde vivem, reforçando a luta das populações indígenas em sobreviverem e manterem seus modos de vida, frente a ocupação de suas terras. "O que está na base da história do nosso país, que continua a ser incapaz de acolher os seus habitantes originais — sempre recorrendo a práticas desumanas para promover mudanças em formas de vida que essas populações conseguiram manter por muito tempo, mesmo sob o ataque feroz das forças coloniais (KRENAK, 2019, p. 21). Também recorremos a pesquisa de Pajehú (2018), para identificarmos como vem sendo apresentada as discussões sobre as relações dos modos de vida do povo tupinikim com o avanço da indústria de papel e celulose no município de Aracruz; e ao depoimento de Helena Pereira Coutinho, a Membyra em relação a intervenção no processo de produção do tambor tupinikim a partir da chegada da monocultura do eucalipto na região (TUPINIKIM VIDEOMAKER, 2012). 2. Resultados alcançados A Lei 11.645, de 10 de março de 2008, inclui a temática História e Cultura Indígena como obrigatória no currículo oficial da rede de ensino. Diante da legislação, buscamos analisar como vem sendo legitimada a obrigatoriedade prevista na lei no Ifes Aracruz, a partir dos PPCs dos cursos ofertados no instituto: Técnicos em Química e Técnico em Mecânica Integrados ao Ensino Médio. O primeiro ponto a se destacar nos referidos documentos, é a menção que é feita a escolha pela oferta dos cursos nas áreas de Mecânica e Química, em relação às principais bases de arranjos produtivos de Aracruz e Região. Nesse ponto, reportaremos, principalmente, a presença da empresa Suzano Papel e Celulose em Aracruz. Essa empresa, é a maior produtora global de celulose de eucalipto, e é também responsável pelo avanço do deserto verde de eucalipto sobre as terras indígenas, contribuindo com a poluição e destruição da biodiversidade na região. Nessa configuração, ressaltamos que Aracruz, configura-se como um dos principais complexos do mundo na produção de celulose. Atrelado a esse complexo, estão localizadas as Terras Indígenas Tupinikim-Comboios e Tupinikim-Guarani. Hoje, a Terra Indígena Tupinikim-Guarani está compreendida em uma área de 14.282 hectares, dividida entre as aldeias tupinikim de Amarelos, Areal, Caieiras Velha, Irajá e Pau-Brasil; e as aldeias guarani de Boa Esperança, Nova Esperança, Piraquê-Açu, Olho D’Água e Três Palmeiras. Já a Terra Indígena de Tupinikim Comboios, compreende as aldeias de Comboios e Córrego do Ouro, em uma área de 3.872 hectares. Antes dessa realidade, os tupinikim se estabeleceram em uma extensão territorial de aproximadamente 200 mil hectares. Na década de 1960, com as novas configurações do Império e da República, essas terras foram reduzidas a 30 mil hectares distribuídas em 36 aldeias. Com a chegada da Aracruz Celulose (hoje Suzano), o território foi reduzido a 40 hectares, substituindo a Mata Atlântica pelo monocultivo de eucalipto. Em 2005, as lideranças indígenas retomaram o processo de luta pela demarcação de suas terras. Em 2010, com a demarcação homologada pelo presidente Lula, as terras indígenas contavam com 18.579 hectares. No entanto, “o que restou para nós, da fauna e flora original, foram somente tocos de eucaliptos e pouca ou nenhuma forma de subsistência da Terra Mãe” (PAJEHÚ, 2018, p.18). O avassalador domínio do empreendimento das plantações de eucalipto sobre as terras indígenas, também afetou o processo de produção do tambor tupinikim, construído a partir da madeira de siriba, antes retirada do mangue presente nas terras indígenas e hoje substituído pelas plantações de eucalipto. Esse modo de vida era mantido originalmente pela ligação com os recursos naturais dos manguezais e da Mata Atlântica. Hoje, o tupinikim luta para mantê-lo vivo, uma vez que esses espaços foram devastados pelo deserto verde de eucalipto da empresa Suzano Papel e Celulose. Helena Pereira Coutinho ressalta a dificuldade de encontrar a siriba para fazer os tambores, já que no lugar da Mata Atlântica só se encontra eucalipto (TUPINIKIM VIDEOMAKER, 2012). Apesar dessa configuração, observamos nos PPCs que não há nenhuma referência a essa realidade. Reforça-se nos documentos as relações dos eixos tecnológicos dos cursos com a formação para o mercado de trabalho, principalmente na indústria de papel e celulose. No entanto, não há nenhum apontamento com as disparidades dos arranjos produtivos locais da região voltados para produção de celulose em relação aos modos de vida tupinikim. Destacamos nesse contexto, que os PPCs analisados são dos anos de 2016. No projeto do curso Técnico em Mecânica Integrado ao Ensino Médio, há referência a Lei 11.645/2008, informando que os cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio do Ifes Aracruz obedecem ao disposto nas legislações, dentre elas a referida lei. No PPC do curso Técnico em Química não há referência à Lei 11.645/2008. Conclusões Refletir sobre a Lei 11.645/2008 no Ifes Aracruz a partir das relações dos modos de vida tupinikim e a indústria de papel e celulose é uma temática que nos permite muitas formas de abordagem, tendo em vista a rica constituição cultural e histórica desse povo. No entanto, optamos em fazer essa abordagem por meio do tambor e seu processo de produção, ressaltando o tupinikim como sujeitos do conhecimento e reforçando a luta para manter vivo esse modo de vida, frente aos avanços da empresa Suzano Papel e Celulose. Desse modo, observamos na análise dos PPCs dos cursos de Ensino Médio Integrado do Ifes Aracruz que, ainda, é preciso ampliar a discussão sobre a temática História e Cultura indígena, com base na perspectiva dos povos originários, ressaltando a diversidade e diferenças regionais nos currículos e projetos pedagógicos e compreendendo a necessidade e aprofundamento da pesquisa para outros espaços de produção de conhecimento do Ifes Aracruz, para que outros estudos sobre a abordagem da História e Cultura Indígena nos currículos oficiais de ensino sejam alicerçados pela perspectiva dos próprios indígenas. Referências bibliográficas CASTIANO, José P. Referenciais da filosofia africana: em busca da intersubjectivação. Moçambique. Sociedade Editorial Ndjira, Ltda, 2010. PAJEHÚ, Cristiano Fraga. Organização da cadeia produtiva da aroeira nas comunidades indígenas Tupiniquins e Guarani no estado do Espírito Santo. 2018. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável) - Universidade de Brasília, 2018. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. TUPINIKIM VIDEOMAKER. O Valor do tambor tupinikim. Aracruz: Tupinikim Videomaker, 2012. 1 vídeo. (9m40s). VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A propriedade do conceito. In: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓSGRADUAÇÃO E PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS, 43., 2001, Caxambu (MG). Anais. Caxambu (MG): ANPOCS, 2001.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

PANCIERI, Thiago Zanotti. TAMBOR TUPINIKIM E A INDÚSTRIA DE PAPEL E CELULOSE: ABORDAGEM DA LEI 11.645/2008 NO IFES ARACRUZ.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/429804-TAMBOR-TUPINIKIM-E-A-INDUSTRIA-DE-PAPEL-E-CELULOSE--ABORDAGEM-DA-LEI-116452008-NO-IFES-ARACRUZ. Acesso em: 24/05/2025

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