OBSERVANDO-AS BEM: UM OLHAR PARA AS MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA EM CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
OBSERVANDO-AS BEM: UM OLHAR PARA AS MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA EM CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ
Autores
  • Isabella Leite Guzzo Cordeiro
  • Teresa de Jesus Peixoto Faria
  • Caterine Reginensi
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 15 - Diversidade, desigualdades e opressões no tempo presente
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/427389-observando-as-bem--um-olhar-para-as-mulheres-em-situacao-de-rua-em-campos-dos-goytacazesrj
ISSN
Palavras-Chave
Mulheres em Situação de Rua, Invisibilidade, Políticas Sociais
Resumo
Isabella Leite Guzzo Cordeiro Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro Bolsista da FAPERJ isabellaguzzo@gmail.com Teresa de Jesus Peixoto Faria Professora Associada da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro teresa.uenf@gmail.com Caterine Reginensi Professora Titular da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro creginensi@gmail.com Introdução A presença da população em situação de rua nas cidades, sobretudo na área central daquelas que possuem médio e grande porte, não é um fenômeno social recente. O seu surgimento acompanha a constituição do modelo excludente de sociedade baseada no capitalismo, e se intensifica no Brasil, especificamente, em meados da década de 1990 com o avanço do neoliberalismo (Silva, 2009). O trabalho em questão é parte dos resultados da minha pesquisa de mestrado realizada na cidade de Campos dos Goytacazes. A partir das análises de pesquisas e da literatura, foi possível perceber o menor quantitativo de mulheres em situação de rua e a importância de exercitar um olhar atento sobre a realidade de vida das mesmas. Elas aparecem representando 18%, enquanto os homens representam 82% do total de entrevistados I Censo e Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua (2009). Destarte, a pesquisa teve como objetivo, compreender as singularidades e particularidades da condição das mulheres em situação de rua. Adentrando o universo feminino nas ruas, nos deparamos com a questão das táticas e estratégias construídas pelas mulheres para sua própria sobrevivência nesse ambiente, socialmente reconhecido como hostil para homens e mulheres, mas de uma forma mais intensa para elas. A metodologia utilizada consistiu em pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. Foram realizadas observações de campo no centro da cidade, na Praça do Santíssimo Salvador, possibilitando o conhecimento deste fenômeno social em seu território. Além disso, foram feitas entrevistas com seis mulheres em situação de rua, sendo que quatro estavam morando em acolhimentos específicos ofertados pela Prefeitura Municipal, enquanto duas permaneciam nas ruas e acessavam os serviços do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP). Também foram realizadas entrevistas com a antiga coordenadora de um dos acolhimentos e com a fundadora de um grupo da sociedade civil que presta assistência à essa população. 1. Fundamentação teórica Os estudos existentes a respeito da população em situação de rua no país abordam as questões vivenciadas por esse público no contexto dos centros urbanos, pois esse é o espaço onde as maiores contradições do capitalismo estão visíveis. A presença de pessoas em situação de pobreza aumenta a diversidade sócio espacial da cidade, através do contraste entre as áreas urbanas, e pelas formas de trabalho e de vida dessa população (Santos, 2006). Para as pessoas que enfrentam essa condição, o ambiente urbano é o espaço de oportunidades, de recursos e auxílios, seja no âmbito público ou privado. Por outro lado, o mesmo espaço urbano que oferta esses tipos de serviços também exclui e segrega. Além disso, se torna palco de operações consideradas higienistas com relação a essa população. Entre as estratégias que buscam desenvolver para sua sobrevivência diária, essa população conta com o acesso as políticas sociais no atendimento as suas demandas, e entre essas, a política de assistência social. Esta política social atua como porta de entrada no atendimento à população em situação de rua por meio da proteção social especial de média complexidade, auxiliando na reconstrução de trajetórias de vida por meio do estímulo de potencialidades, talentos, desejos, capacidade dos grupos e segmentos sociais (Sposati, 2007). A articulação entre as políticas públicas, são de extrema importância no trabalho direcionado a esse segmento social. Esta categoria surge como necessária na administração de problemas sociais complexos, que extrapolam as competências de um só setor ou política social (Monnerat e Souza, 2014). As mulheres são minoria estatística nas pesquisas tanto em âmbito nacional, quanto na realidade de algumas cidades brasileiras. O motivo pelo qual elas aparecem com uma menor porcentagem nas pesquisas decorre de fatores diversos. Entre esses, destaca-se o papel atribuído a elas transmitido entre as gerações: o de serem responsáveis pelos cuidados com o lar, os filhos e manutenção da ordem familiar (Quiroga e Novo, 2009). O papel socialmente construído da mulher está voltado para o ambiente doméstico, enquanto ao homem atribui-se o papel de provedor da família, voltando-se para o ambiente social e do mercado de trabalho. Outro fator provém do próprio ambiente das ruas, tido como hostil, por ser permeado das diferentes formas de violência e preconceitos, se tornando um espaço perigoso para elas, por serem consideradas “menos adaptadas” e frágeis (Quiroga e Novo, 2009). As razões delas irem para as ruas são muitas, e entre essas estão o desemprego, o problema com álcool e drogas e a perda de moradia. 2.Resultados alcançados Os dados obtidos na análise da realidade dessa população na pesquisa foram obtidos junto à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social (SMDHS). No ano de 2019, identificou-se 131 pessoas vivendo nas ruas da cidade de Campos dos Goytacazes. O perfil da população com relação ao sexo se equiparou ao cenário nacional, com a porcentagem de 18% de mulheres e 82% de homens (CAMPOS DOS GOYTACAZES, 2019). A pesquisa de campo nas ruas foi adotada segundo o método da Observação Flutuante (Pétonnet, 2009), e com o auxílio de Grades de Observação com aspectos relevantes sobre a população em situação de rua. Nas observações de campo, um dos aspectos referentes ao universo feminino que esteve frequentemente presente, foi o das mulheres que são mães. Durante algumas idas à campo na Praça São Salvador, foi possível notar em horários diferentes do dia, tanto na parte diurna, quanto noturna, a existência de mulheres que estão nas ruas com crianças pequenas. Na entrevista realizada no dia 22 de janeiro de 2021 com a antiga coordenadora de um abrigo, ela citou o caso de uma mulher de dezenove anos com um bebê de quatro meses que estava na condição de abrigada e que retrata a realidades das mulheres que vivenciam a maternidade nas ruas. A jovem mãe possui histórico de vida em abrigos e nas ruas, sendo marcada por diversas violações de direitos. Em uma das entrevistas realizada no dia 30 de outubro de 2019, uma mulher relatou as estratégias que elas utilizam nas ruas; as doenças psicológicas desenvolvidas geradas por esta vivência e as dificuldades de se viver em um abrigo. Nesta mesma entrevista também foi relatado questões que envolviam o desejo de sair da situação de rua, e ter acesso aos estudos. Outra questão que apareceu bastante nos relatos foi sobre a dificuldade que elas possuem de realizar a sua higiene pessoal e necessidades fisiológicas. A população em situação de rua feminina enfrenta aquilo que é chamado de pobreza menstrual, uma condição que assola muitas meninas e mulheres em idade reprodutiva (UNFPA/UNICEF, 2021). Conclusões A questão da mulher em situação de rua alerta para a necessidade de aprofundamento sobre suas particularidades e singularidades em estudos e pesquisas. Soma-se a importância da inclusão da população em situação de rua como num todo no Censo Nacional realizado pelo IBGE, ao qual ainda não é contemplado. Estas pesquisas podem auxiliar a respeito do quantitativo dessas pessoas no país, e além disso, no conhecimento dos modos de vida nas ruas. Sobretudo, com o que diz respeito a essas mulheres, é preciso conhecê-las para que haja a construção de políticas públicas direcionadas as suas demandas. Estas estratégias são de grande relevância para minimizar a “invisibilidade” dessa parcela de um dos segmentos sociais mais excluídos em nossa sociedade. Além do mais, estes processos precisam incluir a participação social e política ativa delas, por meios de espaços representativos como conselhos de políticas sociais, entre demais espaços de ampliação de sua cidadania. Referências bibliográficas BRASIL. Rua: aprendendo a contar: Pesquisa nacional sobre a população em situação de rua. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Brasília, DF: MDS: Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação, Secretaria Nacional de Assistência Social, 2009. CAMPOS DOS GOYTACAZES. Vigilância Socioassistencial. Relatório Técnico População em Situação de Rua Referência: 2019.1 QUIROGA, J; NOVO, M. Elas da rua: população em situação de rua e questão de gênero. In: Rua: aprendendo a contar: pesquisa nacional sobre a população em situação de rua. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009. MONNERAT, G. L.; SOUZA, R. G. Intersetorialidade e Políticas Sociais: um diálogo com a literatura atual. In: A intersetorialidade na agenda das políticas sociais. Campinas-SP: Papel Social, 2014. PÉTONNET, C. Observação flutuante: o exemplo de um cemitério parisiense. In: Revista Contemporânea de Antropologia — (n. 25, 2º sem. 2008, n. 1, 2. sem. 1995). Niterói: EdUFF, 2009. SANTOS, M. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. (Coleção Milton Santos) 4 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006. SILVA, M. L. L. Trabalho e População em Situação de Rua no Brasil. São Paulo: Cortez,2009. SPOSATI, A. Assistência Social: da ação individual a direito social. In: Revista Brasileira de Direito Constitucional – RBDC. n. 10. jul./dez. 2007. UNFPA/UNICEF. Pobreza menstrual no Brasil: desigualdades e violações de direitos. Relatório. 2021
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

CORDEIRO, Isabella Leite Guzzo; FARIA, Teresa de Jesus Peixoto; REGINENSI, Caterine. OBSERVANDO-AS BEM: UM OLHAR PARA AS MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA EM CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/427389-OBSERVANDO-AS-BEM--UM-OLHAR-PARA-AS-MULHERES-EM-SITUACAO-DE-RUA-EM-CAMPOS-DOS-GOYTACAZESRJ. Acesso em: 12/06/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes