AFROTURISMO E LUGAR DE FALA: A MEDIAÇÃO AFROCENTRADA DE GUIAS DE TURISMO NA PEQUENA ÁFRICA, RECUPERANDO DISCURSOS HISTORICAMENTE INVISIBILIZADOS

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
AFROTURISMO E LUGAR DE FALA: A MEDIAÇÃO AFROCENTRADA DE GUIAS DE TURISMO NA PEQUENA ÁFRICA, RECUPERANDO DISCURSOS HISTORICAMENTE INVISIBILIZADOS
Autores
  • Guilherme A P Malta
  • Vitória Camillo da Silva Maurício
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 12 - Outros olhares sobre o turismo: resistências possíveis a práticas hegemônicas
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/423471-afroturismo-e-lugar-de-fala--a-mediacao-afrocentrada-de-guias-de-turismo-na-pequena-africa-recuperando-discursos
ISSN
Palavras-Chave
Afroturismo, Lugar de fala, Pequena África, Afrocentrismo.
Resumo
AFROTURISMO E LUGAR DE FALA: A MEDIAÇÃO AFROCENTRADA DE GUIAS DE TURISMO NA PEQUENA ÁFRICA, RECUPERANDO DISCURSOS HISTORICAMENTE INVISIBILIZADOS Guilherme Augusto Pereira Malta Doutor em Geografia na Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte/MG. Professor vinculado ao Departamento de Turismo e ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) guilherme.malta@gmail.com Vitória Camillo da Silva Maurício Bacharelanda em Turismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora camillo.vitoria@gmail.com Introdução Principalmente após as manifestações do movimento Black Lives Matter no ano de 2020, realizadas em consequência do assassinato de George Floyd, se proliferaram iniciativas que denunciam o silenciamento das narrativas e memórias afrodescendesntes e refletem sobre o lugar de fala daqueles que se manifestam. No setor turístico, essas iniciativas tomam espaço por meio do afroturismo, sobretudo, no conteúdo transmitido pelos guias de turismo. Ao mesmo tempo, o conceito de “lugar de fala” se refere ao lugar social atravessado por relações de poder, ocupado por pessoas que são responsáveis por transmitir discursos. Nesse contexto, lugares que recuperam a história da população negra tornaram-se pontos importantes de difusão do conhecimento acerca dessa parcela populacional. Localizada próximo ao centro da cidade do Rio de Janeiro, a Pequena África é uma região onde se encontram, até os dias atuais, vestígios da migração forçada e do tráfico de escravizados africanos que durou mais de quatro séculos no Brasil. Assim sendo, a presente pesquisa, que ainda está em desenvolvimento, se dedica a entender de que maneira acontece a integração entre o afroturismo e o lugar de fala através da atuação de guias de turismo que recuperam discursos historicamente invisibilizados, em visitas à Pequena África. Além da urgência em mais pesquisas que se dediquem a entender o afroturismo como fenômeno, este estudo se justifica pelo esforço em revelar e divulgar a história de parte significativa da população brasileira, questionando as práticas hegemônicas do turismo e aproximando-se do que se entende como pensamento decolonial. Para tanto, a metodologia adotada foi a realização de uma revisão bibliográfica investigativa voltada para os eixos teóricos centrais - afrocentricidade, afroturismo, lugar de fala e guiamento turístico. Como principais autores abordados estão o Professor Doutor Molefi Kete Asante, a professora Doutora Nathália Oliveira, a filósofa Djamila Ribeiro e a professora Mestra Raquel Pazini. Na sequência, com natureza qualitativa, realizar-se-á uma entrevista semiestruturada com guias de turismo negras das agências de turismo “Sou+Carioca” e “Conectando Territórios”, pioneiras em oferecer visitas guiadas à Pequena África. O objetivo principal da entrevista é investigar como se dá a interação entre afroturismo e lugar de fala sob a visão das profissionais. Após a transcrição da entrevista, será feita a análise do conteúdo a partir dos conceitos teóricos centrais. 1. Fundamentação teórica Para abrir a seção, se faz necessária uma revisão sobre o conceito de “afrocentricidade”, a partir do professor doutor Molefi Kete Asante (2009), que se aproxima de pensamentos decoloniais, sobre os quais Silva (2020) disserta (2020). A concepção de afroturismo será feita partindo das considerações da professora doutora Nathália Oliveira (2020). Em sequência, compreende-se o conceito de “lugar de fala”, à luz das considerações da filósofa brasileira Djamila Ribeiro (2019). Já os conceitos de guia de turismo e guiamento turístico são consonantes com a definição de Pazini, Braga e Gândara (2017). Como conceito relativamente recente na academia, segundo Asante (2009), a afrocentricidade é um termo que coloca em evidência as perspectivas, vivências e saberes africanos e contesta a centralidade epistemológica européia. As perspectivas afrocêntricas assumem o protagonismo de membros da comunidade afrodescendente frente a processos políticos e econômicos, ideias e conceitos historicamente acreditados como contribuições somente europeias (ASANTE , 2009). Nesse sentido, a “afrocentricidade” se aproxima do pensamento “decolonial”, que, apesar de ter sua origem em países latinoamericanos, também se contrapõe ao eurocentrismo. Sendo contra hegemônico, o pensamento decolonial se opõe às tendências teóricas e epistemológicas modernas e pós-modernas “de cunho imperialista de construção do conhecimento histórico e social na América Latina. Em outras palavras, busca romper com a herança colonial que aflora até os dias atuais na forma em que produzimos conhecimento.” (SILVA, 2020). Segundo Silva (2020), o pensamento decolonial faz parte de um movimento de resistência tais tendências persistem até os dias atuais, advindas da produção europeia de conhecimento desde os tempos em que os países latinoamericanos eram colônias portuguesa, francesa ou espanhola. Como resultado do casamento do conceito de afrocentrismo e as atividades turísticas, tem-se o afroturismo. Oriundo do turismo étnico, o afroturismo valoriza o patrimônio material e imaterial do grande grupo étnico entendido como africano e/ou seus descendentes. Entretanto, Oliveira (2020) reconhece que não há definições oficiais sobre afroturismo e que geralmente as discussões acerca do tema são voltadas para as visitas em comunidades quilombolas. Para além de visitas às comunidades tradicionais, o turismo afrocentrado se apresenta como uma proposta subversiva aos paradigmas eurocêntricos que moldaram o Turismo ao longo dos anos, “ alterando os termos em que o próprio turismo se construiu, de maneira a ir além dos modelos atuais que o turismo alcança” (OLIVEIRA, 2020). Nesse sentido, os discursos dos guias de afroturismo são significativos e para entender a importância desses discursos, é preciso compreender noções de “Lugar de Fala”. Segundo Ribeiro (2019), entender “lugar de fala” significa considerar que todas as pessoas estão inseridas em contextos de relações de saber-poder. A exemplo, ainda que um homem branco possa refletir sobre mulheres e racismo, ele o fará a partir do lugar que ocupa socialmente, sendo beneficiado pela estrutura social na qual está inscrito e sua fala jamais será equivalente à de uma mulher negra. Guias de turismo são profissionais que atuam como anfitriões, segundo Pazini (et al, 2017), à medida em que recebem turistas, e atuam como mediadores e intérpretes ao passo em que apresentam o local a ser visitado. Nessa direção, é a partir do seu lugar de fala que os guias de turismo auxiliam e expandem as possibilidades de interpretação do atrativo visitado. 2. Resultados alcançados Esta seção é dedicada aos resultados esperados, visto que a pesquisa não foi finalizada. Como principal resultado, busca-se a compreensão de como a mediação das profissionais que são guias de turismo pretas, orquestra os conceitos de Afrocentrismo e Lugar de Fala; sendo ocasionada a recuperação de discursos historicamente invisibilizados, o que se aproxima significativamente do movimento de pensamento decolonial. Espera-se que as entrevistas contribuam para a pesquisa no sentido do entendimento de como o afroturismo dá visibilidade a sujeitos que há muito tempo, na sociedade brasileira, têm sua cultura, história e pensamentos ignorados e ocultados. Dessa forma, os resultados podem ser convergentes com a suposição de que à medida em que atuam em visitas à Pequena África, essas guias de turismo falam a partir de um lugar social que lhes permite fazer ecoar as histórias de seus antepassados. Em amplo sentido, será creditada a ideia de que o afroturismo utiliza-se de narrativas que divergem dos modelos de turismo eurocentrados, e são, portanto, contra-hegemônicas. Dessa maneira, o afroturismo será fortalecido enquanto corrente de pensamento da grande área de conhecimento “Turismo” e a sua contribuição para os futuros turismólogos e profissionais afins assume dimensões ainda maiores. Conclusões Por meio dos resultados da pesquisa será possível ter noção do nível de importância da compreensão do conceito de “Lugar de Fala” frente à ação dos e das guias de turismo que atuam na Pequena África. Desde o seu lugar social, os e as guias de turismo, constroem narrativas decoloniais ao mesmo tempo em que rompem com a herança de um país que desde a sua estrutura, privilegia padrões europeus de construção do conhecimento. Ademais, as visitas podem ser percebidas como fatores importantes para a visibilidade e relevância da Pequena África enquanto lugar de resgate da história da população negra em geral; elas equilibram, a partir da afrocentricidade, as relações de poder que operam sobre o conhecimento da história e dos atrativos turísticos do país. Ainda, poderá ser percebida a relevância do afroturismo na consolidação de atrativos turísticos que, para além da função de entretenimento, tenham a função de apresentar novas perspectivas sobre a história do Brasil. Referências bibliográficas ASANTE, Molefi Kete. Afrocentricity. 2009. Disponível em: <http://www.asante.net/articles/1/afrocentricity/>. Acesso em: 28 jun. 2021. OLIVEIRA, Nathália Araujo de. Turismo Afrocentrado: debates iniciais. In: MELLO, Roger Goulart et al. Novos olhares sobre turismo, patrimônio e cultura. Rio de Janeiro: E-Publicar, 2020. p. 305-315. PAZINI, R.; BRAGA, D. C.; G NDARA. J. M. G. A importância do guia de turismo na experiência turística: da teoria à prática das agências de receptivo de Curitiba-PR. Caderno Virtual de Turismo. Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 162-182, ago. 2017. RIBEIRO, D. Lugar de Fala (Feminismos Plurais). São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019. Edição Kindle, 89p. SILVA, Tatiane Regina da. GEOGRAFIA E PENSAMENTO DECOLONIAL: um diálogo necessário. 2020. 137 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2020.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MALTA, Guilherme A P; MAURÍCIO, Vitória Camillo da Silva. AFROTURISMO E LUGAR DE FALA: A MEDIAÇÃO AFROCENTRADA DE GUIAS DE TURISMO NA PEQUENA ÁFRICA, RECUPERANDO DISCURSOS HISTORICAMENTE INVISIBILIZADOS.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/423471-AFROTURISMO-E-LUGAR-DE-FALA--A-MEDIACAO-AFROCENTRADA-DE-GUIAS-DE-TURISMO-NA-PEQUENA-AFRICA-RECUPERANDO-DISCURSOS. Acesso em: 28/06/2025

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