APROXIMAÇÕES ENTRE COLONIALIDADE DO SER E A PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA DE PRIVAÇÃO DA ALTERIDADE

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
APROXIMAÇÕES ENTRE COLONIALIDADE DO SER E A PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA DE PRIVAÇÃO DA ALTERIDADE
Autores
  • Jéssica Cristina Alvaro de Oliveira
  • Prof. Dr. Giovane do Nascimento
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 38 - Contemporaneidade, interdisciplinaridade e tradições fenomenológicas e existenciais-humanistas.
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/422678-aproximacoes-entre-colonialidade-do-ser-e-a-perspectiva-fenomenologica-de-privacao-da-alteridade
ISSN
Palavras-Chave
Colonialidade do ser, Privação da Alteridade, Fenomenologia, Raça
Resumo
Introdução Este ensaio tem por finalidade apresentar algumas reflexões realizadas nas aulas da disciplina “Pós-Modernidade, Crise da Subjetividade e Fenomenologia”, ministrada pelo professor Crisóstomo Lima. Foi possível observar nas aulas, o adensamento de análises sobre a privação da alteridade do outro, a partir do ego do sujeito narcisista. Objetivo aproximar essas análises da colonialidade do ser a partir da invenção das raças nas américas apresentada pelo coletivo Modernidade/Colonialidade. Longe de vislumbrar quaisquer respostas, este ensaio resulta da reflexão sobre a privação da alteridade e sua incidência na construção do sujeito colonial, cujas consequências podem ser observadas na participação e, em alguns casos, na cumplicidade dessas pessoas ao extermínio das instituições criadas por seus ancestrais e no consequente semiocídio da pessoa colonizada. Por fim, as aproximações entre os temas apontam para a necessidade de pensarmos o efeito da colonialidade nas esferas da crise da subjetividade. 1. Fundamentação teórica Faustino (2015), um dos estudiosos dos fanonismos no Brasil, compreende a sociogênese apresentada pelo psiquiatra e filósofo Frantz Fanon como a necessidade de ir além da perspectiva psicoafetiva para compreender os indivíduos e os conflitos sociais em seu contexto histórico social e concreto. Para Fanon, “a sociedade, ao contrário dos processos bioquímicos, não escapa da influência humana. É pelo homem que a sociedade chega ao ser” (2008, p. 28). Em um mundo com tamanhas desigualdades resultantes de processos históricos de racismo, machismo, lgtbtfobia, xenofobia, capacitismo e tantas outras variantes da desumanização do “outro”, faz-se necessário investigar a importância e a influência das relações sociais na formação do indivíduo. A partir da sociogênese é necessário problematizar a organização das sociedades segundo lógicas de inferiorização do “outro” segundo classificações. Nos estudos do coletivo Modernidade/Colonialidade, observarmos como a “descoberta” da América é fundamental para este trabalho, já que é a partir desse momento que se estabelece a classificação da população de todo planeta em torno da ideia de raça que foi concebida de modo hierarquizante. Adotando uma abordagem interdisciplinar, compreendemos a impossibilidade de refletir sobre a questão “do outro” sem apresentar reflexões de diversos campos de estudos como das Ciências Sociais, da Antropologia, da Filosofia e da Psicologia, visto que juntas podem contribuir para um maior adensamento da reflexão sobre a colonialidade do ser, me possibilitando uma leitura mais completa da agência das pessoas sobre a sociedade; da influência dos valores e conhecimentos, já presentes na sociedade, na formação das pessoas; da relação entre pessoas em suas formações; da construção do outro por meio das diferenças existentes. Enquanto percurso teórico preferi contextualizar a crítica à modernidade e da colonialidade, visto que ambas são acusadas de ser faces de uma mesma moeda. Para membros do coletivo modernidade/colonialidade a modernidade foi concretizada escondendo seu outro lado, ou seja, a modernidade. Entendendo a raça como produto da modernidade, vamos apresentar as três dimensões da colonialidade desenvolvidas por Aníbal Quijano, ou seja, a colonialidade do poder, saber e ser. Além de constituírem o padrão mundial de poder, essas dimensões incidem diretamente na subjetividade objetivando imobilizar as pessoas colonizadas retificando-as ao lugar de subalternizados. Num segundo momento buscaremos compreender a construção do outro por meio da privação da alteridade. Partindo de uma leitura da Agonia do Eros de Byung Chul-Han, entendemos que a constituição de uma hierarquia racial da humanidade, realizada por sujeitos europeus, brancos e burgueses pode ser compreendida a partir de suas reflexões sobre o sujeito narcísico que compreende a si mesmo e seus iguais como sujeitos de amor-próprio, estabelecendo delimitações negativas frente aos outros, sujeitos colonizados no geral, em benefício de si mesmo. Por fim, vamos refletir como a abordagem de Chul-Han, bem como de autoras como Grada Kilomba, auxiliam a ampliar minha compreensão sobre o processo de hierarquização das diferenças proveniente das dimensões da colonialidade, bem como o pensamento de autores como Frantz Fanon podem contribuir para entendermos a subjetividade da pessoa colonizada a partir da privação da alteridade. 2. A construção do outro pelo sujeito narcisista O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han (2020), em seu trabalho intitulado Agonia do Eros, discute como o processo de narcisificação do si-mesmo em conjunto com a erosão do outro, em todos os âmbitos da vida, resulta no desaparecimento do outro. Evidenciando a atualidade enquanto inferno do igual, o filósofo diz que não nos encontramos mais com a experiência erótica, haja vista que ela pressupõe assimetria e exterioridade do outro. Discutindo o consumo, o autor compreende que a sociedade atual vem se tornando cada vez mais narcisista, pois a libido é investida na nossa própria subjetividade. O sujeito narcísico em si, não consegue delimitar-se nitidamente frente ao outro, o que resulta no desaparecimento dos limites entre ele e o outro. De modo que o mundo pareça para ele, sombreamentos projetados de si mesmo. Não conseguindo sentir o outro em sua alteridade, nem mesmo reconhecê-la. Pois, só consegue reconhecer a si mesmo. No tocante à discussão sobre a sociedade do desempenho, Han observa que esta está totalmente impregnada pelo verbo modal poder, diferente da sociedade da disciplina em que há o predomínio do verbo dever. Contudo, vez ou outra, em determinado ponto, o segundo verbo é substituído pelo primeiro com o objetivo de elevar a produtividade. Assim, o apelo à motivação, à iniciativa e ao projeto é muito mais efetivo para a exploração, à medida que o sujeito de desempenho é livre para explorar a si mesmo, de modo que seja explorado e explorador. Com essas contribuições do autor, algumas questões me inquietaram, visto que ele escreve sua obra analisando a sociedade neoliberal contemporânea, marcada pela corrosão das estruturas de proteção trabalhista e de mudanças drásticas na figura do trabalhador em termos históricos, que possui como representação o chão da fábrica e que protagonizou lutas em prol de direitos. Contudo, o sujeito narcisista responsável pela erosão do outro é o sujeito contemporâneo, ou está ele presente em todos os períodos vivenciados pela humanidade? Como a colonialidade do ser pode ser observada sob o prisma da erosão do outro? Dois trabalhos irão sulear alguns apontamentos sobre as duas questões apresentadas neste tópico, Peles Negras, Máscaras Brancas do Psiquiatra Frantz Fanon e Memórias da Plantação: episódios de Racismo Cotidiano da Psicanalista Grada Kilomba. Fanon (2008), vai discutir a construção do outro, seguindo um diálogo com a dialética do senhor e escravo proposta por Georg Wilhelm Friedrich Hegel, contextualizando-a segundo as relações raciais entre pessoas negras e brancas. É importante salientar que o autor, considerado pós-colonialista, está fazendo sua análise a partir do projeto de dominação europeia, baseado na raça. Conclusões O colonizador ao entender a subjetividade enquanto campo de disputa, ou em outros termos, ao pretender aniquilar as diferenças, tornou o sujeito colonizado seu cúmplice e é possível compreender isto no aumento significativo de cirurgias plásticas em países periféricos (na busca de um padrão estético), na reprodução de valores que estão em desacordo com as realidades sociais e consequentemente promovendo o extermínio de instituições (como a perseguição das religiões de matriz africana e a caça dos direitos das populações indígenas) e, em último nível, ns destruição de modos de vida que não condizem com o modelo de ser racional importado da europa. Com isto, pretendo dizer que o inferno do igual, no qual se refere Han (2020) é resultado de um processo histórico de eliminação de diferenças no campo das relações sociais que resvalam diretamente nas subjetividades. Ao aproximar a colonialidade do ser e a privação de alteridade do outro, observo que ambos se compõem e são indissociáveis, pois um precede o outro. O ser colonizado foi e é aquele destituído de sentido (semiocídio), ora não dotado de razão pela filosofia ocidental ora entendido como sem alma pelas religiões judaíco-cristãs. Essas instituições que estiveram de acordo com o projeto colonial de dominação europeu, refletiam sobretudo a interpretação do colonizador sobre aquelas pessoas. Desse modo, ainda que este trabalho tenha por finalidade apresentar minhas reflexões sobre a disciplina, e não quaisquer respostas, ele aponta para a urgência de pensarmos o efeito da colonialidade nas esferas da crise da subjetividade. Referências bibliográficas FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia (EDUFBA), 2008. 194 p. FAUSTINO, D. M. Por que Fanon? Por que agora? Frantz Fanon e os fanonismos no Brasil. 2015. 252 f. Tese (Doutorado em Sociologia). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2015. HAN, Byung-Chul. Agonia do Eros. Petrópolis, Rj: Vozes, 2017. KILOMBA, G. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Tradução de Jess Oliveira. 1. ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

OLIVEIRA, Jéssica Cristina Alvaro de; NASCIMENTO, Prof. Dr. Giovane do. APROXIMAÇÕES ENTRE COLONIALIDADE DO SER E A PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA DE PRIVAÇÃO DA ALTERIDADE.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/422678-APROXIMACOES-ENTRE-COLONIALIDADE-DO-SER-E-A-PERSPECTIVA-FENOMENOLOGICA-DE-PRIVACAO-DA-ALTERIDADE. Acesso em: 02/05/2025

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