A FEMINIZAÇÃO DO CUIDADO NO PROGRAMA DE ATENÇÃO DOMICILIAR

Publicado em 23/12/2021

Título do Trabalho
A FEMINIZAÇÃO DO CUIDADO NO PROGRAMA DE ATENÇÃO DOMICILIAR
Autores
  • Gabriella Guimarães Castilhos
Modalidade
Resumo Expandido e Trabalho Completo
Área temática
GT 22 - Estudos de gênero, feminismos e interdisciplinaridade.
Data de Publicação
23/12/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/xc22021/418787-a-feminizacao-do-cuidado-no-programa-de-atencao-domiciliar
ISSN
Palavras-Chave
Programa de Atenção Domiciliar; gênero; feminismo e cuidado.
Resumo
A FEMINIZAÇÃO DO CUIDADO NO PROGRAMA DE ATENÇÃO DOMICILIAR CASTILHOS, Gabriella Guimarães Estudante de mestrado do Programa de Política Social da Universidade Federal Fluminense ng.gabriella@gmail.com Introdução O tema a ser tratado refere-se ao Atendimento Domiciliar (Home Care) que vem sendo uma alternativa utilizada pelas operadoras da saúde suplementar para a continuidade ou substituição de cuidados hospitalares. O cerne do atendimento domiciliar está na questão econômica e permanece como principal motivação para a implantação e manutenção desta modalidade de atenção à saúde, associada também na possibilidade de evitar uma internação hospitalar. O cuidar de pessoas que necessitam de algum tipo de atenção domiciliar foi intensificado e percebe-se que as famílias estão sofrendo diversas alterações, de forma que seus papéis adquiriram novos contornos, conforme especificidades econômicas e culturais. Diante disso, o tema justifica-se pelo fato de ampliar a discussão sobre o cuidado, família e gênero no Programa de Atenção Domiciliar. Com relação a metodologia foi realizada uma revisão da literatura de artigos científicos, extraídos nas bases de dados Scielo (Scientific Eletronic Library Online), no período compreendido entre 2000 e 2020, bem como a leitura de teses e dissertações. Além das autoras que apresentam uma discussão de gênero, interseccionalidade, família e cuidado. A seleção das autoras, se justifica por serem mais próximas à perspectiva feminista. 1. Fundamentação A presença da mulher com a atribuição no ato de cuidar de outros membros da família está relacionado ao processo histórico. No período Colonial Brasileiro, entre os séculos XVI e XIX, a educação da mulher era realizada em casa onde aprendiam a ser uma boa esposa e a cuidar do lar Segundo Rocha-Coutinho (1994), a organização patriarcal no Brasil não se restringia apenas à família mas também dava conta da política, da sociedade e da economia monocultura e latifundiária, baseada no trabalho escravo. A casa-grande não podia ser imaginada sem a figura da mulher-mãe, companheira de sofrimentos e experiências de opressão dos filhos, pessoa em que vários deles buscavam refúgio e consolo em seu terror ao pai patriarcal, sádico em seu comando a escravos, mulheres e crianças (ROCHA-COUTINHO, 1994). Segundo Rago (1985), a mulher cabia, atentar para os detalhes da vida cotidiana dos membros da família, vigiar seus horários, estar atenta aos fatos do dia-a-dia e prevenir doença e desvio. Em termos da economia capitalista, as atividades de cuidado doméstico constituem trabalho não remunerado, sendo assim, pode-se concluir que sob as instituições capitalistas da proteção social, isto é, sob o Estados de Bem-Estar, a oferta de bens e serviços sociais se apoia em uma dada composição de trabalho remunerado e trabalho não remunerado, cabendo à mulher a realização deste último. (DRAIBE, 2007). Posto isto, destaca-se que a característica desse período o foi a permanência da mulher brasileira no interior da casa, junto a seus filhos, escravos e agregados. Este fato deveu-se à sua função econômica e por ser dependente jurídica, moral, econômica e religiosamente do marido, era ela quem devia zelar pelo patrimônio doméstico do homem, organizar a casa e supervisionar o trabalho escravo (ROCHA-COUTINHO, 1994). No século XIX com os problemas ocasionados pela Revolução Industrial e pelo capitalismo, as mulheres passaram a lutar pelo voto, ou seja, para elas, a conquista do voto feminino poderia resolver questões como o direito à propriedade e as liberdades sexuais. Com isso, destacamos que apesar do processo de luta por melhores condições, as atividades das mulheres, são ainda hoje, representadas como secundárias, "de apoio", de assessoria ou auxílio, muitas vezes ligadas à assistência, ao cuidado ou à educação. É possível perceber que ainda existe uma exclusão da mulher da esfera pública e a fragilidade da mulher na esfera privada, marcada pelo trabalho doméstico. Em outras palavras, é possível perceber que a igualdade civil, através de leis, não é suficiente para acabar com a subordinação de gênero. 2. Resultados alcançados Trata-se de uma pesquisa quantitativa realizada no período de janeiro a agosto de 2021, onde os dados acerca do cuidador(a) foram extraídos das informações dos responsáveis ao ingressarem no Programa de Atenção Domiciliar e ratificadas com a empresa de Home Care, visto que o cuidador(a) poderia ter mudado no decorrer desse período. Com isso, destaca-se que das sete empresas de Home Care credenciadas, foram escolhidas as três, com maior número de participantes, inscritos na modalidade Internação Domiciliar (onde o técnico permanece 24horas ou 12horas no domicílio), com intuito de identificar se o cuidador é da família (informal) ou contratado pela mesma (formal), assim como se é do sexo masculino ou feminino. Com relação aos resultados obtive que o perfil da pessoa que cuida do(a) participante no Programa de Atenção Domiciliar é: uma pessoa do sexo feminino e contratada pela família, ou seja, uma cuidadora formal, onde destaca-se que dos aproximadamente 80 participantes das três empresas, 90% são cuidadoras. Diante disso, para (GUEDES e DAROS, 2009), a análise dessas políticas destinadas às mulheres, destacam que estas devem possibilitar a ampliação das condições de autonomia e autosustentação das mulheres de forma a romper com os círculos de dependência e subordinação; promover a capacitação profissional; ampliar o acesso à escolaridade; possibilitar a revisão das funções do cuidado familiar e da divisão do trabalho doméstico; combater a violência sexual e doméstica; garantir o exercício dos direitos reprodutivos e sexuais; combater a pobreza das mulheres; fortalecer espaços de democracia como o controle social. Sendo assim, de acordo com Guedes e Daros (2009), superar a atribuição do papel de cuidador de seres humanos em situação de fragilidade às mulheres é uma perspectiva ética a ser construída. Sabe-se que reconstrução de valores, não se dá por saídas e descobertas individuais. Escolhas e valores cotidianos são carregados de sociabilidade e, entender este caráter é fundamental para construção de uma causalidade que não se imponha como determinista, mas traga, em seu cerne, a possibilidade de valores que concorram para uma sociabilidade fundada na igualdade do gênero humano. Segundo Ramos (2016), o gênero é uma construção social que define qual comportamento é adequado para um homem e uma mulher. Os atributos considerados femininos, como a falta de violência, a vocação para o trabalho doméstico e o cuidado dos filhos. Diante disso, o feminismo, para a autora, busca denunciar as desigualdades de gênero existentes na sociedade. O movimento feminista vem percebendo que o gênero influencia na configuração cultural. Devido aos atributos socialmente considerados femininos e a capacidade natural reprodutora, as mulheres são as principais encarregadas das tarefas da espera privada, como o trabalho doméstico e a criação dos filhos. Assim, o estudo de gênero possui uma grande importância para na luta por igualdade proposta pelo feminismo e uma grande importância também para problematizar a questão dos cuidados de forma a desnaturalizá-los enquanto atividade essencialmente feminina. Isto posto, destaca-se a importância da mulher na compreensão desse processo e em reavaliar a dinâmica própria da estrutura familiar, possibilitando sua reorganização e a busca de estratégias de sobrevivência, assim como a distribuição de tarefas de forma justa entre os envolvidos nos cuidados. Com isso, depreende-se a necessidade de desnaturalizar os papéis atribuídos ao feminino e ao masculino, ou seja, questionar os padrões socialmente prescritos, para propiciar uma sociedade mais justa e igualitária em termos de gênero. Sendo assim, destaca-se a importância da interseccionalidade que pode ser compreendida uma abordagem teórica que tem como objetivo compreender as desigualdades sociais e ser um instrumento de luta política para o avanço do conhecimento. Conclusão Com isso, depreende-se que as atividades das mulheres, são ainda hoje, representadas como secundárias, "de apoio", de assessoria ou auxílio, muitas vezes ligadas à assistência, ao cuidado ou à educação. É possível perceber que ainda existe uma exclusão da mulher da esfera pública e a sua fragilidade na esfera privada, marcada pelo trabalho doméstico, por isso a importância de trabalhos para dar visibilidade a opressão sofrida pelas mulheres e lutar pela igualdade entre gêneros, raça e classe. Em outras palavras, para escrevermos outra história é preciso também a presença do Estado, através de políticas sociais e o acesso a uma rede de apoio efetiva. Referências bibliográficas ? DRAIBE, S. M. Estado de Bem-Estar, Desenvolvimento Econômico e Cidadania: algumas lições da literatura contemporânea. In.: HOCHMAN, G.; ARRETCHE, M.; MARQUES, E. (Orgs.). Políticas públicas no Brasil. R.J., Editora FIOCRUZ, 2007. ? GUEDES, O.S E DAROS, M. A. –O Cuidado como Atribuição Feminina: Contribuições para um Debate Ético, 2009. ? RAGO, M. Epistemologia Feminista, Gênero e História. Campinas-SP: Ed. Da Unicamp, 2013. ? RAMOS, J.C. O gênero dentro da perspectiva feminista e sua relação com o direito, 2016. ? ROCHA-COUTINHO, Maria Lúcia. Tecendo por trás dos panos: a mulher brasileira nas relações familiares. Editora Rocco, Rio de Janeiro, 1994. Págs. 66-125.
Título do Evento
10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Título dos Anais do Evento
Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

CASTILHOS, Gabriella Guimarães. A FEMINIZAÇÃO DO CUIDADO NO PROGRAMA DE ATENÇÃO DOMICILIAR.. In: Anais do 10º CONINTER - CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES. Anais...Niterói(RJ) Programa de Pós-Graduação em, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/xc22021/418787-A-FEMINIZACAO-DO-CUIDADO-NO-PROGRAMA-DE-ATENCAO-DOMICILIAR. Acesso em: 04/09/2025

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