MOVIMENTO DE MULHERES EM ORIXIMINÁ: UMA ANÁLISE SOBRE RACISMO AMBIENTAL E ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO DIANTE DA OMISSÃO DO PODER PÚBLICO

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
MOVIMENTO DE MULHERES EM ORIXIMINÁ: UMA ANÁLISE SOBRE RACISMO AMBIENTAL E ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO DIANTE DA OMISSÃO DO PODER PÚBLICO
Autores
  • Marina Marçal do Nascimento
  • Wilson Madeira Filho
  • Alba Simon
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 03] Conservação da natureza e inclusão social
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/113599-movimento-de-mulheres-em-oriximina--uma-analise-sobre-racismo-ambiental-e-estrategias-de-atuacao-diante-da-omissa
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Oriximiná, Amazônia, Movimento de Mulheres, Quilombolas, Racismo Ambiental
Resumo
A pesquisa é sobre atuação de movimentos de mulheres oriundas de comunidades tradicionais no Estado do Pará em Oriximiná, município do Baixo Amazonas, com população registrada de 62 mil habitantes, com uma área de 107.603 km2 (IBGE, 2018). As demandas geosociais locais envolvem desde a questão das disputas de terras até ao acesso à água potável. A estrutura fundiária historicamente desigual, em que a propriedade privada da terra se constituiu como ‘farsa’ – visto os estudos de Motta (2012) sobre a grilagem e falsificação de títulos de concessão de sesmarias, é uma agravante dessa complexidade brasileira. Desse modo, a desigualdade das relações no campo contribuiu para esse cenário com a opção política perversa de exclusão dos trabalhadores da terra, especialmente com a lei de terras de 1850, a que Martins (1998) denomina de cativeiro da terra, “em que os escravizados tornaram-se livres e sem-terras” (FERNANDES, 2000, p.18). Além da questão agrária, o impacto do colonialismo trouxe reflexos socioeconômicos e culturais para essa sociedade forjada na produção escravocrata tanto indígena quanto nos sequestrados do continente africano. Apesar da lei de terras ter fortalecido o mito da Amazônia inabitada e abandono dessas populações, a Constituição Federal de 1988 resguardou o direito de proteção aos povos primários estabelecendo um grande paradoxo e desafio em um regime democrático de direito. Assim, essas relações no campo, marcadas por múltiplas violências, o que segundo Tavares se configura como uma cidadania dilacerada (2007, p. 91), “resulta da tecnologia do poder que se exerce pelo suplício do corpo e das dificuldades de realização do contrato social na sociedade brasileira”. Por outro lado, em resposta a essa cidadania dilacerada e, principalmente, ao histórico de concentração de terras no Brasil, o espaço rural sempre foi palco de resistência, primeiramente indígena e depois quilombola. Somando-se a tantos outros povos como ribeirinhos, pescadores, etc., a atuação feminina no movimento quilombola é, sem dúvidas, merecedora de destaque nessa luta. O objetivo geral é analisar as narrativas das mulheres quilombolas e suas percepções sobre o poder público, verificando a atenção que este reserva às populações tradicionais, bem como as estratégias de atuação dessas mulheres frente ao racismo ambiental (BULLARD, 2004). Diante da representação social sobre as lideranças amazônicas, busco compreender os impactos da presença negra feminina e protagonista nesses movimentos para identificar como elas reagem diante da interseccionalidade de opressões (CRENSHAW, 2002). Uma das hipóteses trabalhadas até o momento, diante dos relatos colhidos em campo é a invisibilização da atuação feminina na luta das populações tradicionais. Ademais, apesar de se analisar as narrativas de participantes de movimentos de mulheres, as reações das entrevistadas quanto ao conceito de feminismo (RIBEIRO, 2018) vai de ligeiro incômodo até ao repúdio ao termo. Por outro lado, as ondas mundiais de visibilização da luta feminista têm atingido, em certa medida, inclusive as regiões não metropolitanas do país, como é o caso da Associação das Mulheres Trabalhadoras Rurais de Belterra - AMABELA que, em um dos encontros, constou inclusive em relatório da associação que “sem feminismo não há agroecologia” (GALVÃO, 2018). No entanto, os registros de entidades locais é possível perceber que iniciativas de mulheres na região são registradas desde longa data. A Associação das Organizações de Mulheres Trabalhadoras do Baixo Amazonas - AOMT-BAM, por exemplo, foi criada desde 1991 e para muitas lideranças populares como Lenivalda Silva, vice-presidente da Associação de Mulheres Trabalhadoras do Município de Oriximiná – AMTO, foi o começo de tudo. Em entrevista, Lene diz “desde 1991, a AOMT-BAM falava na reunião de mulheres para geração de renda. Hoje, a questão do emprego ainda é uma pauta presente no nosso movimento”. Outro aspecto interessante é que, apesar de as mulheres quilombolas serem heteroclassificadas como negras segundo nomenclatura nacional adotada pelo IBGE, os termos “negra” ou “preta” quase nunca são ouvidos. É muito comum, por outro lado que se ouça termos como “morena”. Desse modo, a possível negação do feminismo e da perspectiva racial em movimento de mulheres quilombolas que são heteroclassificadas como negras, precisa ser investigada sobre a fundamentação teórica de conceitos interseccionais tanto de raça, como de classe e gênero (DAVIS, 1981). Para o desenvolvimento da pesquisa foram entrevistadas lideranças femininas e participantes de associações de mulheres do município de Oriximiná. Para tanto, serão aplicados questionários semi-estruturados. As entrevistas serão gravadas e a análise de conteúdo temática será o meio pelo qual serão tratados os dados gerados nas entrevistas, com identificação e compreensão da conduta padronizada (DENZIN e LINCOLN, 2006). A pesquisa é qualitativa e buscará estabelecer relações entre os dados e o contexto, analisando as similaridades dos depoimentos. Nos registros de 2003 da AOMT-BAM, é possível identificar que a história da Associação começou na década de 1970, quando 19 trabalhadoras criaram a Associação das Empregadas Domésticas, marcando o início do movimento de mulheres no Pará (AOMT-BAM, 2002). Essas associações, desde o início, discutiam sobre a problemática da violência contra mulheres e da geração de renda. É perceptível o aumento da visibilização de entidades que versam sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no Brasil e, ainda, o reconhecimento da interseccionalidade como fator potência de ações. A experiência do vivido demonstra que há diferenças existentes no interior da categoria mulher e que cada especificidade pode significar uma maneira diferente de se criar políticas de ações em organização autônoma frente à ausência do Estado. Portanto, os resultados da pesquisa apontam que, se reconhecendo feministas ou não, negras ou não, é assim que a sociedade as percebe e por esses vieses que elas intrinsicamente se identificam (HALL, 2006) e promovem políticas de ações. Como essas mulheres traçam estratégias para geração de renda através da agroecologia com extração de óleo de copaíba e cumaru, por exemplo; como elas resistem ao solo e água superficialmente contaminados pela proximidade de lixões e ação das mineradoras da região; como superam a violência doméstica diante da ausência de centros especializados; e como atravessam as longas distâncias para ter acesso aos hospitais e escolas, são fatores que precisam ser analisados sob os aspectos de raça, classe e gênero no mapeamento de iniciativas de resistência.
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

NASCIMENTO, Marina Marçal do; FILHO, Wilson Madeira; SIMON, Alba. MOVIMENTO DE MULHERES EM ORIXIMINÁ: UMA ANÁLISE SOBRE RACISMO AMBIENTAL E ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO DIANTE DA OMISSÃO DO PODER PÚBLICO.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/113599-MOVIMENTO-DE-MULHERES-EM-ORIXIMINA--UMA-ANALISE-SOBRE-RACISMO-AMBIENTAL-E-ESTRATEGIAS-DE-ATUACAO-DIANTE-DA-OMISSA. Acesso em: 14/06/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes