“É A HORA DAS PATROAS”: UM OLHAR SOBRE O FEMINISMO DE TERCEIRA ONDA NO SERTANEJO UNIVERSITÁRIO

Publicado em 14/03/2022 - ISSN: 2316-266X

Título do Trabalho
“É A HORA DAS PATROAS”: UM OLHAR SOBRE O FEMINISMO DE TERCEIRA ONDA NO SERTANEJO UNIVERSITÁRIO
Autores
  • Patricia Jeronimo Sobrinho
  • Bianca Correa Lessa Manoel
Modalidade
Comunicação Oral - Resumo
Área temática
[GT 09] Estudos de gênero, sexualidades e corporalidades
Data de Publicação
14/03/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/viiconinter2018/113358-e-a-hora-das-patroas--um-olhar-sobre-o-feminismo-de-terceira-onda-no-sertanejo-universitario
ISSN
2316-266X
Palavras-Chave
Sertanejo Universitário, Feminejo, Marília Mendonça, Feminismo de Terceira Onda.
Resumo
Introdução A música sertaneja existe, no Brasil, pelo menos há um século. No entanto, no início dos anos 2000, uma nova onda surge no cenário musical: o "sertanejo universitário”. Na época, as músicas de "Victor e Léo", João Bosco e Vinícius [...], Luan Santana, Jorge e Matheus, Fernando e Sorocaba [...], Cesar Menotti e Fabiano etc" (ALONSO, 2011, p. 22) eram as mais tocadas nas rádios, em programas de televisão e novelas. As composições do "sertanejo universitário" (que se chama assim em função de grande parte de seus seguidores serem jovens) têm como temas festas, mulheres, bebidas, relacionamentos amorosos etc. Nesse estilo musical, o “duo de vozes”, uma tradição na música sertaneja, continua até os dias atuais na maioria das bandas. Porém, o ritmo, a instrumentação e a melodia incorporaram elementos de outros gêneros musicais (axé, pagode, funk etc.). Ao fazer referência sobre a presença de mulheres na música sertaneja, vem à tona nomes como das “Irmãs Galvão”, que no auge da música sertaneja, nos anos de 1990, ganharam o Prêmio Sharp como "melhor dupla regional" (ALONSO, 2011). Isso demonstra que a participação de mulheres no meio sertanejo não é novidade. No entanto, na atualidade, muitas delas são compositoras, cantando situações que antes eram protagonizadas apenas por homens do sertanejo. Foi diante disso que surgiu o termo “feminejo”, mesclando o feminismo com o sertanejo. Nesse contexto, o presente artigo busca tecer reflexões sobre o "feminejo" como uma reafirmação da cultura feminista. A partir de algumas letras de música da cantora sertaneja Marília Mendonça, e de alguns estudos acadêmicos, pretende-se relacionar o "feminejo" com o feminismo de terceira onda. Como metodologia, propõe-se uma análise textual de quatro músicas da cantora Marília Mendonça, em que ela compôs sozinha: Alô Porteiro, Traição não tem perdão, Folgado e Saudade do meu ex, buscando identificar nelas uma nova imagem da mulher na música sertaneja, uma mulher como protagonista em um ambiente predominantemente machista, desconstruindo padrões denominados masculinos e exaltando o poder feminino. 1 Fundamentação Teórica Apesar da presença anterior das mulheres no "sertanejo", grande parte das músicas cantadas por elas destacavam o universo dos homens, seu comportamento galanteador, a bebedeira com amigos e o culto à mulher amada. Ou seja, era sempre o ponto de vista dos homens. Algumas poucas cantoras, como Paula Fernandes (nos anos 2000), retratavam em suas músicas o que as mulheres pensavam. Quando o “feminejo” ganha destaque, em meados de 2015, há não só um “aumento de mulheres que cantam a música sertaneja, mas também de uma nova imagem das mulheres representadas nas músicas, que passam a ser mostradas como protagonistas e empoderadas nas relações de trabalho ou afetivas” (SILVA; GARCÊZ, 2018, p. 1). Marília Mendonça, Maiara e Maraísa, Simone e Simaria reproduzem os anseios das mulheres em suas letras de música, narrando temas até então cantados quase que exclusivamente por homens, como traição, sofrência, chorar em bar e beber. Assim, fica evidente o “flerte” direto de algumas cantoras do “feminejo” com o que poderia ser considerado feminismo de terceira onda. Costuma-se dividir didaticamente o feminismo em três ondas: a primeira onda, cuja luta começou por volta de 1880, com as "Sufragistas", que objetivavam "denunciar a exclusão da mulher da possibilidade de participação nas decisões públicas" (ALVES; PITANGUY, 1981, p. 48); a segunda, surgida no final dos anos de 1960, concentrava-se em defender a igualdade de fato (sexualidade, família, trabalho e direitos reprodutivos); e na terceira, as mulheres se empenham ainda mais, segundo Costa (2009, p. 6), “em soluções destinadas a vencer ou atenuar tensões decorrentes do crescente trânsito das mulheres entre as esferas pública e privada, ampliadas na formidável presença feminina na vida social do século XX.”. De maneira quase direta, o "feminejo" relaciona-se com esta terceira onda do feminismo, uma vez que nota-se, nas letras das músicas das cantoras da atualidade, principalmente da Marília Mendonça, uma autonomia feminina "em relação à influência tradicional exercida pelos homens sobre as definições e significações imaginário-sociais da mulher” (LIPOVETSKY, 2000, p. 236). Ou seja, é uma mulher dona de si, uma mulher-sujeito, com poder de decisão e autonomia dentro das relações de gênero. 2 Resultados Alcançados Marília Mendonça reproduz os anseios das mulheres em suas letras de música. Ela traz temáticas que colocam em pauta demandas antes nunca observadas, do ponto de vista da mulher, nesse gênero musical: a) emancipação sentimental, como na música Alô Porteiro, em que o personagem dá um fim a um relacionamento abusivo; b) subversão de padrões qualificados como masculinos, como em Traição não tem perdão, quando a personagem trai, quebrando a premissa de que quem só trai é o homem, e em Folgado, cuja personagem mostra-se independente, que manda na própria vida; c) igualdade entre gêneros, como em Saudade do meu ex, em que a personagem realiza atividades (beber) antes reservados apenas para os homens. Considerações Finais Nas letras de música analisadas, da cantora Marília Mendonça, percebe-se a presença do feminismo de terceira onda, de uma mulher que é sujeita de si, autoconfiante e segura. Vários aspectos das lutas feministas podem ser evidenciados nas músicas da cantora em questão, como a defesa da autonomia e liberdade de ir e vir, a independência e o empoderamento afetivo. São músicas que buscam desconstruir e desarticular a opressão e subordinação das mulheres, dando voz às mulheres e às suas realidades.
Título do Evento
VII Coninter
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais VII CONINTER
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SOBRINHO, Patricia Jeronimo; MANOEL, Bianca Correa Lessa. “É A HORA DAS PATROAS”: UM OLHAR SOBRE O FEMINISMO DE TERCEIRA ONDA NO SERTANEJO UNIVERSITÁRIO.. In: Anais VII CONINTER. Anais...Rio de Janeiro(RJ) UNIRIO, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/VIIConinter2018/113358-E-A-HORA-DAS-PATROAS--UM-OLHAR-SOBRE-O-FEMINISMO-DE-TERCEIRA-ONDA-NO-SERTANEJO-UNIVERSITARIO. Acesso em: 02/08/2025

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